quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

É preciso ser machista pra ser macho?



Coisas asquerosas, como a "Constrituição do Homem Livre" da Playboy, me fazem colocar de novo essa pergunta: lutar para deixar de ser machista é uma repressão à minha sexualidade ou à minha condição de homem?

Com esse texto, convido a um diálogo profundo todos os homens. Acho necessário que a gente reflita se de fato o macho machista é o verdadeiro homem em nós, se de fato a nossa natureza é opressora, se de fato a nossa sexualidade só pode se expressar objetificando o corpo feminino. Será que realmente precisamos negar a homossexualidade das outras pessoas para ser heterossexuais? Será mesmo que deixamos de ser homens quando desejamos sexo com outros homens, quando comemos os cus de outros homens, quando outros homens comem nossos cus, quando chupamos paus ou mesmo quando beijamos as bocas de outros homens? Será mesmo que precisamos mexer com as mulheres nas ruas para sermos homens felizes e plenos?

Mexer com mulher na rua: em primeiro lugar, nos encastelamos no mito de que "tem tanta mulher que gosta quanto mulher que acha ruim", ou de que "a maioria das mulheres gostam, só as chatas e recalcadas acham ruim!", variações destes dois temas estão disseminadas por aí. MITO! Se eu, homem, mexo com uma mulher que passa por mim, e nunca mais a vejo, eu não imagino quantas outras cantadas além da minha, ela receberá nos próximos quinze minutos da caminhada dela. Não são poucos os relatos que já ouvi, li, ou cenas que presenciei, sobre os desagrados e o nojo que as mulheres sentem com as abordagens cotidianas dos homens. Se alguma criação machista me fez achar normal e prazeroso mexer com mulheres, eu preciso ignorar esse desagrado para ter a MINHA "liberdade". E essa mesma criação machista faz a mulher se sentir mal por reclamar, ou mesmo achar que uma cantada é um "elogio".

Não posso olhar para uma bunda? Pelo amor de Deus, gente! Pessoas olham para partes dos corpos umas das outras, e há pessoas com quem a gente tem intimidade para olhar, falar e tocar nas partes do corpo. Mas ficar virando o pescoço para olhar a bunda duma desconhecida que passa, como se fosse necessário mostrar pra ela e pro mundo que temos um desejo viril... Onde foi que a gente aprendeu a ser assim? Alguém realmente acredita que isso tá na nossa genética, que Deus ou o Big Bang iriam ficar gastando tempo com aquele monte de encaixes no genoma humano para nos fazer imbecís intimidadores?

A idéia de que a mulher pode protestar contra o machismo, mas que seria melhor se protestassem nuas, mostra apenas que a mulher está sendo resumida a um produto a ser exibido em uma vitrine. Me recuso a acreditar que as relações amorosas e sexuais que o destino me destina estão condicionadas a essa relação de posse e de uso vazio. Não podemos ver as pessoas como parceiras de vida e de sexo, ao invés de vê-las como corpos a serem usados?

Tem homem babaca que acha que sabe o que a mulher sente, e que portanto tem mais direito do que as mulheres de falar sobre machismo e feminismo. A gente nunca sente na pele o que a mulher sente. E pra ser sincero, a gente nem sabe o que nós próprios homens sentimos na pele, porque a gente ignora a nossa própria condição pra continuar usufruindo desses privilégios mesquinhos que o machismo nos dá, ao invés de aprendermos com as muitas boas lições que o feminismo tem a nos dar, e conseguirmos, junto com a libertação das mulheres, nos libertar também dessa condição de "sou livre se for escroto". Não é essa liberdade que eu quero pra mim! E o feminismo me liberta!

beijinhos de maracujá!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Robocop do Casagrande: Sou um delirante ou um idiota?



A imagem que ilustra essa postagem faz com que o autor do blog se pergunte: estou delirando ou sou um imbecil? Se estou entendendo bem, estamos tendo mais uma vez o descontrolado do Renato Casagrande investindo altas divisas de dinheiro público em uma SUPOSTA segurança, que na verdade não tem o papel de proteger nada, a não ser os interesses dos poderosos, através da repressão a todo e qualquer tipo de organização coletiva que ameace tais interesses. Eu tô delirando e não tem nada de Robocop, ou tem Robocop mesmo e o meu delírio é de não aceitar isso como normal? Sou idiota em reclamar e isso é hora de ficar calado, ou realmente idiota eu seria se aceitasse isso passivamente?

TUMULTOS: O que A Tribuna quis dizer com tumultos? Esse termo veio dela ou do governo do Estado? Esse governo, em menos de três anos, fez três quartos dos presídios existentes em solo capixaba, segundo informações que circulam no ar. Preciso confirmá-las, mas caso seja verdade, isso mostra apenas que prender é uma prioridade desse governo. E o mais impressionante é o quanto a prisão ajuda a aumentar as taxas de criminalidade, cumpre um papel completamente avesso ao de "ressocialização", tão propagado por governantes, e ainda assim, sem nunca ter consultado democraticamente a população, o governo Casagrande opta por investir aí. É uma política de segurança completamente doentia. Enquanto o mundo inteiro caminha progressivamente na desvinculação das políticas de drogas do seio da segurança, tratando como questão de saúde pública, e tendo bons resultados com tais mudanças, Casagrande prefere ir na contramão do que já havia sido melhorado por aqui, e para conseguir apoio eleitoral dos políticos evangélico-conservadores, que usam da fé das pessoas pra conseguir muitos votos, cria no bojo de seu gabinete, ou da secretaria de segurança pública, uma SEGUNDA coordenação sobre drogas, paralela à já existente na saúde mental da secretaria de saúde, mas com MUITO MAIS VERBA, e entrega tal pasta para o Ledir Porto, queridinho de Magno Malta e Neucimar Fraga. É daí que nasce a aberração da Rede Abraço, e esse governo não está preocupado nem com a saúde de quem usa drogas, nem com a segurança da população. O objetivo é conquistar votos no ano que vem.

É na lógica dessa política de segurança degenerada que os Robocops vêm, pra combater "tumultos". Se não está claro, tumulto é todo e qualquer tipo de manifestação que desagrade ao governo. Já vivemos, desde 2011, diversas e crescentes provas de que a Polícia Militar do ES está disposta a mentir e a violar todo tipo de prescrições do tal e falacioso "Estado Democrático de Direito", para impedir que manifestações questionem seriamente a ordem vigente. Se a Rodosol, a ong Espírito Santo em Ação ou a popularidade de Casagrande forem atingidas, vale tudo. Mas o véu que o "jornal" A Tribuna joga sobre tal verdade, faz parecer que se trata apenas de mais um material adquirido pelo governo para garantir que desordens não sejam toleradas. Manter a ordem, a lei, a paz. O problema é que a atual ordem é de desordem, de exploração, de governantes corruptos, atrelados ao empresariado, que definem os rumos da nossa sociedade sem se importar com a opinião da população, a não ser no nível mínimo da "opinião pública" (que visa apenas à reeleição, ou à eleição de seu sucessor). Legislativo, Executivo e Judiciário não são vias possíveis para que a população possa ter o poder de controlar a sociedade, muito pelo contrário, servem para tirar esse poder do povo e concentrar nas mãos de uns poucos, que só ficam com tal poder se se adequarem às regras da ordem vigente. E impedir que o povo se manifeste é uma das formas de manter esses privilégios.

PROTEGER OS POLICIAIS MILITARES: só quem já esteve em um protesto e já viu de perto, sentiu na pele, o absurdo do abuso policial contra as manifestações, o desespero e o ódio deles, é que sabe o quão risível é esse papo de "proteger os policiais militares". Eles têm imensa vantagem em relação aos manifestantes em conflitos. Em geral, quando manifestantes TENTAM atacar policiais, é em auto-defesa, porque foram atacados primeiro, e mesmo nos casos em que os manifestantes partem primeiro para a agressão, as condições de se defender são muito maiores por parte dos policiais. Proteger os policiais militares, nas palavras de A Tribuna/Governo Casagrande, quer dizer na verdade aumentar a desvantagem da população em relação à polícia, para que o governo tenha menos motivos para ter medo de perder o poder que usurpou. É um absurdo que esteja havendo investimento de DINHEIRO PÚBLICO para comprar este tipo de material. É como se a gente desse o dinheiro pra comprar o chicote que vai nos flagelar. E como se a população assistisse às chicotadas, e aplaudisse, sem perceber que serão as próximas pessoas amarradas no tronco do pelourinho.

Só pra termos idéia do nível da coisa: policiais de grupos como BME, ROTAM, etc., se sentem em um jogo de video game quando estão atirando balas de borracha e bombas de gás nas pessoas e na massa de manifestantes. São treinados para sentir aquilo como uma diversão, adoram a adrenalina e acabam não sentindo nenhuma empatia pelos seres humanos que agridem. O fato de estarem lutando por direitos não faz com que recebam mais compreensão ou menos ódio desses policiais, e isso não é porque eles são maus, é porque o estado os treina para isso. E para receberem ordens vindas de cima, de um comando hierarquizado e de um governo covarde e obediente aos interesses de quem paga mais. Ou ficamos com medo e deixamos de protestar, ou nos defendemos da agressão sofrida. E é absurdo que estejam comprando chicote novo com o nosso dinheiro! Fica até difícil de acreditar...

Não! Não é delírio! É a dura realidade, o estado cumprindo seu papel de defender os interesses do capital, os interesses dos que lucram muito, os interesses dos poderosos, enquanto o trabalho (quem vive do trabalho e quem vive em desemprego) só paga mais privilégios, através da exploração de seu trabalho e através de seus impostos, e leva mais e mais e mais chicotadas. Os de baixo não têm sequer o direito de reclamar, que haverá um exército de Robocops, pronto para os calar.

Mas NÃO! NÃO NOS CALAREMOS! Não somos idiotas, somos o povo nas ruas, somos o povo na luta, e não pararemos de lutar! Fecharemos as ruas da cidade, faremos rebelião por todos os cantos, faremos uma grande revoada, um grande verão repleto de andorinhas, uma grande primavera, fazemos uma grande arruaça, não deixaremos de jeito nenhum que mais esse absurdo se concretize! Não é a primeira vez que esse governador patético tenta coisas do tipo, quem não lembra do tanque de jatos d'água que ele tentou comprar, e que teve que recuar por causa da crítica da opinião pública? Nosso dinheiro não deveria estar indo para esses brinquedinhos patéticos e ditatoriais, deveria estar indo para a cultura, educação, saúde, assistência social, moradia, alimentação de qualidade. Não nos calaremos nem daremos paz a quem nos pisoteia!  Casagrande, esteja avisado: seu Robocop não passará!

beijinhos de maracujá!


sábado, 31 de agosto de 2013

Particular


Seu segredo fica aqui, 
Entre nós, 
Entregue ao mundo dos segredos, 
De onde pouca coisa sai, 
Pra onde muita coisa vai... 

Eu sou seu segredo mais profundo, 
O mistério que você quer desvendar, 
A verdade que ninguém mais vai saber... 
Talvez um dia você queira até contar, 
Mas dificilmente contará... 

Eu sou o teu canal para o infinito, 
O caminho que você sonha em seguir 
(E estou aqui 
A sua disposição)... 
Eu sou feito de sussurros 
Arrepios e flashes de emoção... 

Eu sou feito assim, 
Um pedaço pro sim, 
Outro pro não... 

Eu sou feito de sorrisos 
De negação 
E de entrega... 
Eu sou a tua paixão 
Mais cega, 
O teu desejo 
Mais intenso 
E os gemidos 
Mais macios... 

Vou guardar nossos segredos 

Num abraço 
De feras no cio 
E em um beijo 
Desvairado e sutil... 

(quinta-feira, 12 de outubro de 2006, 15:05:00)

beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Canção de segunda-feira


Se eu não fosse escravo,
Eu deixaria tudo ruir
Por mim, largava tudo
Só pra ter você aqui
Trancada no meu quarto
Só comer, beber, dormir...

Em todos os sentidos!
Só comer, beber, viajar...
Morando em minha cama,
Nós dois ficando sem ar,
Sem ter segunda-feira
Capaz de nos fazer parar...


beijinhos de maracujá!

O amor tem seus estilos


Eu, definitivamente, não consigo mais digerir nem metabolizar a monogamia. Não é que eu seja completamente contra a produção de vínculos afetivos e amorosos fortes, estáveis, ou como o povo prefere dizer “sérios”. Muito pelo contrário. Apesar de gostar muito da ideia de amores poderem coexistir sem a obrigação de serem grandes ou pequenos, sérios ou ocasionais, e apesar de defender que mesmo a transa mais ocasional pode ter uma profunda e intensa seriedade, eu realmente gosto de pensar meus amores se constituindo em solidez, em parceria, em companheirismo, e pessoalmente prefiro um único amor sério a dez mil em que eu não me sinta intensamente envolvido com nenhum. Não acho que a única forma de se comprometer com um relacionamento é seguindo a cadeia compulsória que vai do flerte à ficada, da ficada ao estado de ficante, deste estado ao namoro, do namoro ao noivado e deste ao casamento, com a necessidade arquetípica de ter filhos, plantar árvores e escrever livros. Mas esse comprometimento é suficiente pra fazer um amor fazer sentido, e não sou do tipo que acha que um amor depende de mais amores pra fazer sentido, caso contrário, é naturalmente incompleto.

No entanto, eu definitivamente não consigo mais digerir nem metabolizar a monogamia. Ou seja, não sou capaz de voltar a dar sentido à minha vida afetiva e amorosa dentro da lógica “se comprometer com um amor é naturalmente se comprometer com um só amor”. Isso porque são tantas as pessoas neste mundo que mexem comigo, dessas tantas desconhecidas transeuntes, outras tantas familiares ao meu cotidiano, e no caminho entre essas e aquelas, as incontáveis com a qual ocasionalmente me encontro ou posso encontrar, que seria loucura eu fingir que amo apenas a uma pessoa e que pra sempre amarei apenas a essa pessoa, fingindo cinicamente que nunca amei a outras antes, e que nunca amei a mais de uma pessoa simultaneamente, e que o amor paralelo a mais de uma pessoa é antinatural.

Mas a grande verdade é que, se são tantas as pessoas que mexem comigo, há algumas poucas que me sacodem por inteiro, e ser sacudido de tal forma é uma aventura tão difícil de manter a estabilidade, mas em muitos trechos tão deliciosa, que eu sou incapaz de digerir ou metabolizar a monogamia. São aquelas pessoas que a gente vê pelo caminho e ou finge que não viu por medo de ficar olhando bobamente, ou inventa uma bobeira qualquer pra falar, só pra parar um pouquinho roubar um bom papo, aquelas que a gente sente vontade de chegar em casa, deitar na nossa cama, sentir o cheiro dela, e lembrar que ela ficou dormindo quando a gente saiu de manhã.

E a gente não enxerga que pessoas diferentes têm estilos diferentes de amar e de se relacionar afetivamente. A gente quer que todo mundo reproduza o nosso estilo, faz julgamentos morais e perde a chance de apreciar a beleza das diversas formas de amar. Isso faz do amor em nossa sociedade mais mesquinho, e eu realmente acho que nós podemos ter uma sociedade em que não seja normal empobrecer o amor. Não estou dizendo que cada estilo de amor deve ser meramente aceito tal como é. Muito pelo contrário. Estou dizendo que só uns com os outros, aprendemos a amar, e precisamos entender que esse aprendizado não é um processo de clonagem de estilos de amar. Por mais que nossos amores hoje se originem de processos que infectam tudo em nossas vidas, infectam todas as relações, e não apenas as afetivas, a necessidade de reinventar nossos amores sem amarras (e em rompimento com o capital) não pode ignorar a necessidade de deixar esses amores serem livres para tomar mil estilos. Os estilos de hoje são infectados e condicionados pelas exigências do atual sistema de desigualdade, mas não podemos acabar com este sistema de desigualdade, nem com os amores mesquinhos e possessivos infectados por tal sistema, se não nos dedicarmos criativamente a inventar novos estilos.

Mas no final, o que importa é entender isso: cada uma e cada um tem seu jeito de amar, cada um se afeta de um modo diferente... Tem gente que a gente nem liga, tem gente que mexe com a gente, tem gente que sacode a gente por inteiro. E eu, definitivamente, não consigo mais digerir nem metabolizar a monogamia!

beijinhos de maracujá!

domingo, 18 de agosto de 2013

Quem guardou o meu futuro?


"Eu não gosto desses dedos que me apontam
Eu não gosto dessas frases que me dizem
'O futuro deles está nas suas mãos'!
Pois é, seu Zé! Sei não!"

(Ednardo)

I


Não existe solução mágica
Nem estado de felicidade
Não existe momento crucial
Como o cabo da boa esperança
Em que tudo muda

E nada é como antes...

A vida de cada pessoa
Assim como a de todas elas
As que existem, as que já se foram,
E as que ainda estão por vir,
Sempre será permeada pela história
E não adianta a gente fingir que é diferente
A história sempre estará afogando a gente
Nunca nos deixará em paz...

O mais gostoso disso

É que, se existe história,
Nada está pronto e nada disso é pra sempre...

Eu gostaria de ser um traficante de almas,

Ter clientes capetas, vender pra deuses e deputados,
Anjos e demônios,
Inocentes e culpados...

Ter uma clientela fiel,

Anotar o nome de todo mundo
Em bloquinhos de papel:
As almas vendidas

E as almas que compram...

Mas as almas não podem ser vendidas
Nem compradas,
Porque não podem ser paralisadas
As engrenagens da história em que se movem...

No final das contas,

Tudo se resume a aprender...
Nada como um dia após o outro,

Escolher a carne certa num almoço
Se errou no anterior...
Ou escolher carne nenhuma...
Ou não escolher...

Tem dia em que não há o que comer...

Mas a história nunca para,

Nunca vai parar...
Ao menos até o dia

Em que a humanidade se acabar...

E enquanto houver gente,
Haverá história,
E enquanto houver história,
Haverá luta,
E enquanto houver luta,
Haverá vida...

E enquanto houver vida,
Insurreição!

II

O que não dá,

É pra gente ficar sonhando,
Se enganando,
Que a solução pros nossos problemas
Virá de alguma superstição...

Hoje eu acordei meio ateu,

Sem saco algum pra superstição!

Tem tanta coisa por aí para ser feita,

E tantos braços fortes e zelosos,
Que podem muito mais que melancias...

Estou cansado de futilidades!
Não há mágica que nos salve o mundo...
Nem tradição nem mesmo intervenção
Terão respostas prontas para nós...

Ou nós nos engajamos nessa estrada,

De peito aberto e prontas pro fracasso,
Ou nunca inventaremos o sucesso...

Tem tanta coisa aí, para ser feita,

Que não nos cabe o luxo de receita,
Ou fórmula pra se fazer perfeita...

Nos cabe o imperativo do futuro:
Me crie novo, não me faça igual...
Eu sou a sua morte se repito
O presente lamentável e lamaçal...

Me façam novo, grita o futuro
Num grito tenebroso como um urro...
Não tem caminho certo pra viver
A vida é um constante recomeço

E cobra de nós um pesado preço:
O preço é nunca parar de lutar...

A vida ainda é tomar partido
Não tem caminho mágico, mas digo:

Sem luta, nem caminho haverá!

beijinhos de maracujá!

sábado, 17 de agosto de 2013

Entender as tretas dentro do PSOL é necessário para quem quer transformar a realidade brasileira


Se você concorda com a afirmação no título deste post, leia este texto. Se não concorda, leia também e deixe seu xingamento nos comentários! =)



Já falei aqui no blog algumas outras vezes sobre a importância dos partidos socialistas, e sobre o cenário do partido socialista ao qual sou filiado desde abril de 2011, o Partido Socialismo e Liberdade - PSOL. Hoje quero apresentar e divulgar um texto, e espero receber opiniões das pessoas que o lerem. É o manifesto recentemente lançado pelo Bloco de Esquerda do PSOL.

Antes de apresentar o manifesto, gostaria de fazer um comentário. O PSOL não é um partido que nasce das demandas das massas, como entendo que foi o nascimento do PT. Infelizmente, um partido com tão bela origem, nascido de um momento de ascenso (uma palavra da qual sentíamos tantas saudades, que eu nem sei direito como se escreve), mas que passou por um processo de institucionalização, mudança de prioridades, e por fim aderiu a projetos de conciliação de classes (ou seja, ao invés de ser um partido dos trabalhadores, da classe trabalhadora, pra lutar pelos interesses desta classe, interesses inconciliáveis com os interesses da classe burguesa, nossa classe antagônica, preferiu a ilusão de conciliar os interesses dos trabalhadores com os da burguesia, num projeto neo-desenvolvimentista, ou social-desenvolvimentista, que se resume a dar desenvolvimento para a burguesia, inclusive com seu salvamento em momentos de crise, e migalhas para a classe trabalhadora, através de reunis, prounis, bolsas-família, e bombas para a classe trabalhadora que não se cala com migalhas nem aceita cooptações). Logo que o PT se tornou Governo Federal, alguns setores da esquerda combativa, presentes dentro do PT e do PSTU, sentiram que isso levaria a um aumento da fragmentação da esquerda que não aceitava a conciliação, e que era necessário criar um novo partido, pra unir essas tradições diversas da esquerda combativa, pra diminuir os impactos da fragmentação que a traição petista causaria. Assim nasceu o PSOL.

Porém, poucos anos depois, o PSOL vive um momento crucial na definição de sua história. Existem dois grupos antagônicos em seu seio, dois grupos fortes (o que faz com que a disputa não esteja ganha para nenhum dos dois lados). Um deles, capitaneado por Randolfe Rodrigues e Ivan Valente, vem tentando converter o PSOL em um partido "mais eclético", acham que o PSOL se fecha demais em alianças apenas com outros partidos socialistas, da esquerda antigovernista, e defendem no discurso e nas ações, que ampliemos nossos arcos de aliança tanto com setores governistas (PT, PC do B, PMDB), quanto com os partidos nanicos de aluguel (que eu nem sei as siglas de cabeça), e até mesmo com os partidos da direita tradicional (PSDB, DEM). O outro grupo é o que chamamos de Bloco de Esquerda do PSOL. Este é o lado do qual faço parte, e estamos lançando o manifesto que pode ser lido no seguinte link: http://csolpsol.org/psol/bloco-de-esquerda-do-psol-lanca-manifesto-para-disputa-do-4-congresso/

Quero falar principalmente com as pessoas que acham que o PSOL é necessário para as lutas no Brasil hoje, que querem destruir o sistema do Capital, acabar com o capitalismo e construir uma alternativa socialista para o Brasil e para a humanidade, que acham que o PSOL ainda não está bom o suficiente, que precisa melhorar, que acham que o PSOL não pode seguir o mesmo caminho do PT, nem abandonar a luta contra as políticas petistas de aliança com a burguesia e de defesa de seus interesses, e que querem ter um lugar para a militância coletiva, dentro de um partido cada vez mais coerente, radical, de massas e sem rebaixamento de sua política. Se você se identifica com essa descrição, e se concorda com o teor do manifesto, ou quer conversar mais sobre o assunto, eu faço esse convite: chega mais perto, vem ver se faz sentido se juntar com a gente, que eu acho que faz sentido sim, viu!

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 23 de julho de 2013

A psicologia da UFES está dormindo?



Primeiro, quando eu ouvi pela primeira vez "O Gigante Acordou", achei babaca, mas vi tanta gente se empolgando com isso, e se animando a ir para as ruas, que até simpatizei um pouquinho... Mas achei tão artificial... Depois descobri que foi um termo utilizado pelos "anti-comunistas" (na verdade pelo gado de manobra, classe média conservadora, ou termo que o valha), no período pré-golpe de 64. Ou seja, o gigante que acordou na década de sessenta. Me perguntei quem foi que ressuscitou este termo. Como eu via as lutas deste ano como um desdobramento das lutas que vínhamos tocando há anos (aqui em Vitória desde 2005), achei apropriado entrar no coro dos que diziam: "se vocês acordaram, nós nunca dormimos".

E digo mais, eu me identifico com o Quilombo dos Palmares, acho que já estava acordado lá, por exemplo, então quem foi em um ato pela primeira vez em 2013 pode se considerar parte deste mesmo sujeito coletivo que tá acordado na luta há tanto tempo.

Dito isso, segundo: defendo o direito de todo mundo de se manifestar, inclusive o meu de me manifestar quando me incomodo com a manifestação de alguém. Tinha um cartaz ontem na teia de intervenções do Coletivo Planta, lá no CEMUNI VI, Psicologia UFES, falando que a graduação da UFES dormia. Eu me perguntei "DORME ONDE?".

Estamos acordadíssimas e acordadíssimos, em efervessência, fomos às ruas, às assembléias populares do movimento, moramos na assembléia legislativa do início ao fim da ocupação, estamos lutando contra o HEAC/Adauto Botelho, contra a Rede Abraço, contra a Clínica Santa Isabel, por segurança, cultura e vivência na universidade, construindo o movimento estudantil estadual e nacional de psicologia. Se tinha alguém dormindo, convido a se juntar à gente, tem gente acordada há muito tempo neste curso.

Estamos há meses pautando a questão da contratação de professores, a questão dos dois currículos do curso, estamos vendo o currículo novo vivendo as dificuldades de uma transição em que se inventa um curso novo, um novo projeto de curso completamente desconhecido, mal se sabe o que é estágio básico, e quem está vivendo isso está sofrendo, e temos um currículo velho deixado de lado, não temos optativas nem estágio, os mesmos problemas se repetem semestre após semestre. E não conseguimos fazer assembleias nas últimas semanas, pra discutir currículos e eleger novas e novos representantes discentes nos departamentos, porque as atividades acadêmicas são mais importantes do que as atividades do CALPSI. Qual é a graduação que está dormindo?

Convido todas e todos a participarem da reunião do CALPSI nesta quarta feira, 18:30 horas, na sede do Centro Acadêmico. Tem uma galera acordada lá! Talvez funcione a gente parar de resolver apenas nossos problemas pessoais ou de turma, quando eles emergem, e depois de resolvidos os problemas, voltar ao nosso cotidiano, como se fosse verdade essa farsa pós-moderna de "tudo é militância". Talvez funcione se a gente fortalecer os espaços coletivos que existem para dar mais força às demandas estudantis. Se nós temos professoras e professores que se recusam a participar de seus sindicatos e esvaziam os espaços de luta, eu acho que, nesse sentido, eles são o melhor exemplo do que não seguir.

beijinhos de maracujá!

domingo, 7 de julho de 2013

Por que o Governo trata a Luta como Crime?


GOSTARIA QUE TODAS E TODOS LESSEM ESSE TEXTO!

1) A polícia não é um instrumento de segurança da população, e sim de segurança das elites contra a população. Isso porque os interesses da população são diferentes dos interesses das elites. Para uma elite continuar sendo elite e ter cada vez mais poder, é preciso ter uma população cada vez mais explorada, com cada vez menos direitos, e em alguns casos é preciso calar a boca dessa população, através da violência. Para isso serve a polícia. A segurança das pessoas é uma função meramente ilusória, para que as pessoas aceitem pagar para que funcione a polícia que vai calar a sua própria boca.

2) Não temos hoje uma democracia. Temos um sistema político em que as pessoas "escolhem" políticos através das urnas, e esses políticos participam das decisões sobre a vida das pessoas que os elegeram. Porém quem escolhe esses políticos na verdade não é a população que vota, e sim a elite que financia as campanhas. As campanhas com mais dinheiros mobilizam mais massas de votos. As elites ocupam os executivos (Prefeituras, Governos e Presidência da República) e têm maioria absoluta nos legislativos (maioria de Vereadores, Deputados e Senadores), no Judiciário, as elites têm ainda mais facilidade em colocar seus nomes. O modelo eleitoral não é suficiente para a população decidir como vai funcionar a sociedade, o país, suas vidas. Não estou defendendo o fim das eleições, nem a volta de uma ditadura militar. Mas quero propôr uma verdadeira democracia, e falarei sobre isso no tópico três.

3) Acho que precisamos urgentemente começar a EXERCER UMA VERDADEIRA DEMOCRACIA, baseada em núcleos de base que se articulem em forma de rede. Como assim? Exemplo. Cada bairro terá um núcleo que se reúne, para discutir assuntos relativos ao bairro, e relativos também à cidade, ao estado, ao país. Nas ruas terão sub-núcleos para pensar coisas mais específicas de uma vizinhança. Esses vários núcleos de bairros se reunirão para pensar uma mesma cidade. Essas várias plenárias de cidade se reunirão em núcleos estaduais, e assim sucessivamente. Ao invés de cada cidadão ir na urna de dois em dois anos pra votar em quem tem poder de decidir, cada cidadão passará a decidir cotidianamente. Essa idéia é perigosa, e eu apenas fiz um esboço caricatural aqui. Mas eu quero que essa caricatura fique como um fantasma na cabeça das pessoas que estão lendo isso aqui, pensem nisso. Esses núcleos podem ser por locais de moradia (como bairros, ruas, prédios, etc.), por locais de trabalho (fábricas, repartições, categorias sindicais, etc.), por locais de estudo, (grêmios, Centros e diretórios acadêmicos, DCE's, etc.) por condições de existência (mulheres, lgbt's, negras e negros, pessoas com deficiência, usuárias e usuários de drogas, loucas e loucos, usuárias e usuários dos serviços de saúde e assistência, etc.).

4) Já passamos da hora de DESMILITARIZAR A POLÍCIA. Sugiro até a leitura de um texto pra iniciar o debate: http://blogueirasnegras.wordpress.com/2013/07/04/a-desmilitarizacao-da-policia-nao-pode-ser-racista-machista-e-cissexista/ O Brasil é um dos poucos países no mundo que ainda têm polícia militar. Militares são aqueles que protegem o país contra os inimigos da nação. Quando a polícia militar reprime manifestação, o recado que estão nos dando subliminarmente é que os manifestantes são inimigos da nação. Quando a polícia dá batida numa pessoa por suspeita de portar drogas, a mensagem subliminar é que uma pessoa, por fumar maconha, seria uma inimiga da nação. Como já disse Marcelo Yuca, "Resquício de Ditadura". Precisamos apagar esse resquício de ditadura, por uma polícia cujos profissionais tenham direito de pensar criticamente sobre sua própria prática.

5) Esse sistema capitalista desigual, cruel, explorador e opressor, sistema que favorece as elites, precisa acabar. A polícia se torna "necessária" quando a desigualdade produz a violência. E a gente ao invés de acabar com a desigualdade que causa a violência social que temos hoje, prefere interferir com a polícia sobre a consequência, sobre a violência. A gente não, quem prefere isso são as elites. Precisamos combater essas elites, a existência delas. Não matando burgueses, mas sim acabando com a desigualdade de classes. Pelo fim dessa divisão em que poucos são elites e onde a grande maioria da população não tem direito ao que essas elites têm. TUDO PARA TODAS E TODOS, sem exploração, sem opressão. Eu defendo que a luta pelo socialismo, por um sistema democrático, como descrito no tópico três, deve ser nosso objetivo. Mas precisamos saber que pra alcançar isso, teremos que lutar contra muitas polícias, sofreremos muitas violências por parte do estado que obedece às elites. Vou fazer uma pergunta só pra saber se posso me sentir sozinho ou se posso me sentir bem acompanhado: quem está na mesma luta que eu?

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 2 de julho de 2013

Pequeno exemplo de carta não enviável


Minha querida,

eu não deveria estar aqui, escrevendo esta carta. Há tantas coisas a fazer, e no entanto essa é uma forma que eu tenho de me sentir um pouquinho mais junto de você, depois que a gente se separa. É como se ao te escrever, eu ainda estivesse falando comigo, e como se ao final desta carta, uma resposta tua fosse vir de bate pronto. Não deveria estar escrevendo esta carta, mas ultimamente eu tenho feito tantas coisas que não deveria fazer, que essa carta é grão de areia no deserto.

Você está me fazendo fazer tudo errado. Cada vez que uma moça bonita como você passa diante de meus olhos, eles ardem. A beleza faz meus olhos arderem, de tanto que incomoda ver a beleza, desejá-la e não tê-la. Mas é um ardor que passa tão rápido, afinal, são tantas as belas deste mundo, que se meus olhos ardessem ardentemente por todas, eu viveria o tempo inteiro a chorar de tanto ardor.

São pequenos ardores, mas ardores que distraem. E é tanta coisa que eu tenho a fazer, que as distrações não são bem vindas. Ainda mais essas belas e admiráveis, essas que falam e causam vontade de a gente ouvir o que está sendo falado. Cada pessoa tem seu estilo, e eu não acho que haja estilo melhor que estilo, mas é claro que há os estilos que me agradam mais.

E de repente, me vem uma moça de estilo inquietante. Bela, muito bela, irritantemente bela, apaixonantemente bela, estonteantemente bela. E chata, muito chata, irritantemente chata, apaixonantemente chata, estonteantemente chata. Não é uma chatice como outra qualquer. Gente chata no mundo tem aos montes também, e ao contrário da beleza, a chatice não é normalmente vista como qualidade, e sim o contrário disso. Mas quando a personalidade de uma pessoa se apresenta temperada pela chatice de não abaixar a cabeça, de não aceitar passivamente as idéias, de colocá-las sob o crivo da crítica, dá até um medinho, mas um medinho intrigado. Na verdade dá vontade de muito mais.

Preciso me explicar melhor: a primeira vez em que nos dirigimos a palavra, eu gaguejava como se tivesse nascido gago. Eu estava era impressionado com a sua presença. Parecia uma divindade dessas do panteão africano, uma daquelas bem guerreiras, mas numa embalagem de mocinha acanhada. Isso que mais me intrigou, e muito ainda me faz os olhos arderem. Arderem muito!

Mas eu deveria era estar fugindo de você, como um operário que foge do aguardente que tem atrapalhado no seu desempenho na obra. Ou melhor, como um operário apaixonado, que tem suspirado tanto sem resposta, que isso até tem atrapalhado seu desempenho na obra. Suspiros sem resposta... Quando essas respostas vêm?

Se eu pudesse, eu parava tudo e ficava o resto da vida te escrevendo cartas. É o mais perto de você que eu posso chegar neste momento. Mas eu não escreveria carta nenhuma, se eu pudesse chegar mais perto. Na verdade, eu até escreveria mil cartas na tua pele, como naquele livro do Chico, te cobriria o corpo todo de versos, de frases soltas, de divagações e desabafos de amor. Histórias de amor são sempre tortas. O melhor seria que elas nunca acontecessem. Mas a gente não escolhe entrar em uma delas, algo nos destina a isso. Que seja o acaso, Deus, as leis da física. Algo nos destina às histórias de amor que vivemos.

Mas como todo esse magnetismo que você provoca em mim, toda essa inexplicável atração, pode acabar de uma vez por todas? Cansei de ficar morrendo de vontade de te procurar, de correr atrás de ti, de largar tudo o que eu deveria estar cuidando pra cuidar de te encantar, no mínimo o tanto que você me encanta. Cansei desse encanto, quero o antídoto, quero a cura. E no entanto, quando eu te pergunto, você me diz que não me dará a chave dessa gaiola, que algum hedonismo ou algum egoísmo te fará me segurar. A pergunta que eu tenho a fazer é: já que é assim, por que é que é que você não entra nessa gaiola junto comigo? Acredite, com o tanto de bem querer que eu tenho sentido, a vida aqui dentro dessa gaiola, comigo, vai ser muito mais interessante do que aí, do lado de fora, sem mim.

Mas eu gostaria de terminar dizendo que essa não é uma carta de amor. Poderia até ser, pode ser que um dia se torne, mas é apenas uma carta de admiração, e eu vou terminar esse parágrafo, pra voltar ao meu ofício. Operário que sou, não posso continuar suspirando por você... Não sem respostas.

Como se eu tivesse escolha! Não posso suspirar, mas as respostas não vêm... E eu suspiro!

beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Pra que serve um ato de rua?



Não existe unidade de idéias. Mesmo com uma só pessoa, já há divergências de idéias, se você juntar duas ou mais pessoas então, aí sim é que a unidade de idéias se torna impossível. Para além de nossos conflitos internos, individuais, intrapsíquicos, há diferenças naturais: cada pessoa é diferente de cada uma das outras pessoas desse universo.

No entanto, não devemos olhar a inexistência de unidade como um problema, e sim como uma riqueza. A inexistência de unidade não quer dizer uma incompatibilidade das diferentes idéias. Existem idéias que são incompatíveis, mas existem idéias diferentes que podem se encontrar, dialogar, podem gerar novos processos.

Mas não é só de idéias que estamos falando. Estamos falando de gente, de corpos, de ações. Não existe unidade de gente, de corpos, de ações, mesmo numa coreografia aparentemente "perfeita", há minúcias de movimentos que só um olhar muito atento percebe. Nossa percepção tende a fechar gestalts, e a gente vê harmonia a mais, se a coisa for bem ensaiada, mas é impossível que dois corpos façam exatamente a mesma coisa. Mesmo uma coreografia tem minúcias.

E ainda assim, insisto, não devemos olhar as minúcias como defeitos. Corpos diversos, gentes diversas, ações diversas, são pontos que contam a nosso favor. E é exatamente sobre isso que eu vim falar:

No último sábado, 15 de junho, lá nas ruas de Cachoeiro, durante o SEGUNDO ATO Antimanicomial contra a Clínica Santa Isabel, eu olhava para cada pessoa, e via ali, na diversidade e nas minúcias dos gestos, a riqueza que nos fazia mais fortes. Algo nos unificava e algo nos diferenciava, não era uma manada de robôs, cada pessoa com sua singularidade, nas vestimentas, nos modos de andar, nos entendimentos sobre o que estavam fazendo ali, nas vozes que cantavam, nas formas de panfletar e abordar a população. E eu ficava prestando atenção na reação das pessoas que assistiam o ato e eram mobilizadas por ele. Era contagiante! As pessoas acolhiam quase sempre o que estava sendo colocado. Em um certo momento, já chegando no Centro de Cachoeiro, a gente cantava "A COPA, A COPA, A COPA NÃO ME ILUDE! EU QUERO É DEZ PORCENTO DO PIB PRA SAÚDE!", e eu via na cara das pessoas uma aprovação, uma satisfação, como se dissessem: "o que essa gente tá pedindo faz sentido". Vi diferentes abordagens de manifestantes a populares, algumas muito rápidas, outras mais conversadas. Me esforcei por escutar essas mais conversadas, pra saber o que minhas e meus colegas estavam dizendo pras pessoas na rua. Vai que eu descobria que estava no ato errado, que aquelas pessoas tão diferentes de mim, que marchavam comigo, não estavam lutando pela mesma coisa que eu!

A surpresa que eu tive foi a surpresa de me encontrar com o óbvio! Todo mundo dizia, com palavras muito diferentes, que queríamos fechar a santa isabel, quais o motivos para o seu fechamento, e quais serviços tínhamos a propôr para a sua substituição. Muita gente que a princípio queria nos dizer que era contra o fechamento da clínica porque "tem que ter um lugar pra essas pessoas ficarem", depois se davam conta de que a gente tinha propostas muito melhores do que um manicômio, diante desse problema. Nossas e nossos manifestantes, apesar de suas singularidades, tinham algo que dava unidade àquela marcha tão diversa: nós queremos uma REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, nós queremos O FIM DA SANTA ISABEL, e contagiamos mais gente a querer essas coisas, ou ao menos a pensar sobre o assunto. Não é que mais gente vai pensar igual a gente. É que mais gente vai pensar diferente da gente, mas numa mesma sintonia.

É disso que se trata, no final. Pra que é que serve um ato de rua, pra criar afinidade entre os que marcham (ou seja, uma AFINIDADE INTERNA, entre as diversas pessoas do ato), e pra criar afinidade do ato com quem assiste (ou seja, uma AFINIDADE EXTERNA, com transeuntes, com quem recebe um panfleto, com quem escuta uma palavra de ordem, com quem assiste a cobertura da matéria na TV ou com quem lê um texto sobre atos, como este texto aqui!). A desmobilização tem desafinado muita gente, afinado muita gente em outros tons... Nós queremos achar uma afinação musicável pra instrumentos muito diversos. A metodologia do ato de rua é pedagogicamente muito eficaz. Claro que atos podem ser mal-feitos, podem ser irresponsáveis, podem mais atrapalhar do que ajudar. Mas só quem viu o sucesso do SEGUNDO ATO neste sábado que passou, sabe o que é um ato bem sucedido. Quem não foi porque não pôde ir, a energia de vocês estava lá conosco, obrigado pelo bom sentimento! Quem não foi porque não quis, perdeu, e eu só posso ter dó! Quem foi, teve uma oportunidade singular e linda de aprender a fazer história.

A micropolítica não é, de forma alguma, uma proposta esquizoanalítica de substituição da macropolítica. Se você acha que é isso, você ou não entendeu Guattari e Deleuze, ou está utilizando equivocadamente os conceitos deles pra justificar sua covardia. Não sou esquizoanalista, mas acho que o conceito de micropolítica tem muito a contribuir. Inclusive lutas macropolíticas que consideram a micropolítica são muito mais fortes! E no nível macropolítico, eu estou à esquerda, porque estar em cima do muro é estar do lado de quem oprime, de quem explora, é estar do lado de lá.

Fim da tergiversação sobre a micropolítica, vamos voltar para a psicopedagogia dos atos de rua. Por que eu escrevi tudo isso que você leu aí em cima? Porque, no Brasil inteiro e em várias cidades do mundo todo, tem gente indo pras ruas, fazer atos contra aumentos de passagens nos transportes públicos, contra a baixa qualidade nestes transportes, contra a lógica de lucro que impera neles, e contra a violência usada para conter quem luta por direitos, quem faz atos. Uma das canções que cantamos lá em Cachoeiro, dizia que "LUTAR POR DIREITO NÃO É CRIME! DEMOCRACIA DE VERDADE NÃO REPRIME!". Essa canção era tanto uma homenagem a Nercinda e Zulmira (se não sabe quem são, procure pelas histórias de Nercinda Heiderich e Zulmira Fontes, vale a pena!), quanto uma homenagem a toda a juventude que está indo às ruas, sendo reprimida e voltando às ruas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em todo o Brasil.

Nesta segunda-feira, Vitória, a cidade que teve centenas e até milhar de vidas divididas entre ANTES E DEPOIS DE DOIS DE JUNHO DE DOIS MIL E ONZE, voltará a ter suas ruas tomadas pela juventude. E o blog Artifício Socialista não poderia deixar de contribuir com este texto aqui, para que os próximos tempos de luta sejam de bom aprendizado. Não paramos de escrever história. Estamos afinadas e afinados com o time da liberdade. Nossa humilde luta #AbaixoSantaIsabel vem deixar parte do nosso acúmulo para o novo ciclo de lutas que agora se abre! Muitas e muitos militantes antimanicomiais também estarão nas ruas contra a repressão e por qualidade no transporte público. Assim como a Luta Antimanicomial, estas também são lutas por direito de acessar a cidade, de gerir a cidade, de viver a cidade. POR UM MUNDO SEM ROLETAS, POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS, PARA ALÉM DO CAPITAL! Amanhã às dezessete horas, a concentração na UFES é para mais um ATO.

E como eu já disse acima, atos não geram unidades de idéias, nem de corpos, nem de gente, nem de ações. Atos afinam diversidades, geram um ente coletivo, um sujeito coletivo, com o poder de contagiar. Um poder ampliado, muito maior do que a mera somatória dos poderes de contágio que cada um desses corpos teriam se separados. A gente só se junta por causa disso! Se fossem corpos iguais, seria uma mera somatória, mas só fica mais forte porque são corpos diversos.

Claro que para um ato ter poder de contágio, a democracia interna é fundamental. Daí a importância da afinidade interna, sobre a qual eu já falei, para o sucesso da afinidade externa. E é necessária sim uma unidade. Unidade das diversidades. Como já disse o poeta Gonzaguinha, é dela que a diversidade nascerá! UH, TERERÊ!

Mas preciso dizer, por fim, mais uma coisa: que esse ente coletivo, chamado ato, não é uma garantia de sucesso. Como eu já disse, um ato não é uma garantia de contágio e de afinidade externa. Não existe ato perfeito. O ato de Cachoeiro não foi, e o ato de amanhã não será. Cada ato tem suas qualidades e seus defeitos, seus ganhos e suas perdas. Mesmo que o ato de amanhã seja um sucesso, ele terá defeitos. Mesmo que ele seja um fracasso, poderemos tirar aprendizados dele. Mas não devemos nos contentar com isso e deixar que ele seja qualquer coisa, é preciso haver um cuidado coletivo para que ele seja bem sucedido e nos dê um aprendizado mais potente. Isso faz parte da afinidade interna, e se cada uma e cada um de nós se sente co-responsável pelo sucesso do ato, ele tem mais chances de ser um sucesso! E que seja!

Franco, pode ser que o nome disso seja paixão, mas eu prefiro usar a palavra amor, pra definir isso que nos une na luta! É O AMOR QUE NOS LEVA ÀS RUAS! E com amor, voltaremos às ruas então!

"É GRAVE! É SÉRIO! É URGENTE!
DESPERTAR O PERIGO QUE HÁ NA GENTE!"

beijinhos de maracujá!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Grandes aprendizados para grandes construções (ou Sobre o SEGUNDO ATO antimanicomial contra a Clínica Santa Isabel)



Minha vida está completamente entregue a três construções: a de uma psicologia contra-hegemônica, a de uma sociedade sem manicômios, e a uma mobilização classista de trabalhadoras e trabalhadores para construir o socialismo, combater todo tipo de opressão e exploração. Não se trata de uma santíssima trindade, mas acho que essas três construções são uma só. A sociedade sem manicômios que a Luta Antimanicomial almeja não pode ser outra se não a sociedade socialista. O manicômio se tornou instrumento do Capitam em sua hegemonização, e a luta contra os manicômios e as manicomialidades fortalece a luta socialista. Além disso, mudar a correlação de forças e derrotar a atual hegemonia da psicologia hoje, como ciência e profissão, é algo que só pode acontecer em paralelo (em relação de mútua ajuda) com as lutas Socialista e Antimanicomial.

E de repente eu me vi nascendo no estado do Espírito Santo, onde há um manicômio para derrubar. E me alegra ver que, por estar entregue a essas três construções trinas e unas, eu tenho me visto cada vez mais rodeado por pessoas que estão lutando essas lutas junto comigo, que seja apenas uma ou duas delas, que seja as três! E o ápice disso tudo está no evento que divulgarei neste post:


Para quem tem facebook, aí está o link. Vou postar também uma coletânea de vídeos. O primeiro é a emocionante apreciação da moção que apresentamos no oitavo congresso nacional de psicologia (CNP), congresso do Sistema Conselhos de Psicologia... Vale a pena ver o vídeo até o fim:


Os outros três vídeos são do guerrilheiro FrancoRebel, na minha opinião um dos soldados mais perigosos do nosso exército guerrilheiro. Perigoso para nossos inimigos, é claro:




Além disso temos um formulário, que pedimos que você, que está lendo isso agora e quer participar do ato, preencha e divulgue para mais pessoas: https://docs.google.com/forms/d/11qT7TXYj4Hu9MMASWODb9hQrXaIKUsFsZbWa0DZq-qo/viewform

O ato começará em frente da Clínica Santa Isabel (Rua Gilceu Machado, bairro Amaral, Cachoeiro do Itapemirim - ES) e marchará com intervenções artísticas, palavras de ordem, cartazes, batuques, panfletagem e outras estratégias de diálogo com a população cachoeirense. Encerraremos com um piquenique antimanicomial, então pedimos a todas e todos que levem algum tipo de alimento para o nosso banquete.

Teremos três oficinas de confecção de cartaz. Uma ocorrerá em VITÓRIA, no prédio CEMUNI VI, na UFES, na quinta-feira 13 de junho às 17 horas; outra ocorrerá em VILA VELHA, na UVV, na sexta-feira 14 de junho às 14 horas; e queremos também fazer uma terceira oficina na cidade de CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM, também na sexta-feira 14 de junho às 14 horas. Tente participar de uma das três oficinas, leve materiais, frases, ajude na confecção e faça parte desta história.

É como se cada novo passo desta luta (cada novo ato, debate, reunião, audiência, oficina, redação de panfleto, moção ou mesmo texto de blog) fosse uma nova aula, e a luta contra a Santa Isabel está sendo a minha maior e melhor disciplina, na minha formação em psicologia, e na minha formação como ser humano que nem pensa em parar de lutar por liberdade.

"Meu corpo é feito disso, de carne, sangue e memória...", e para quem já está compondo esta luta comigo, é um prazer ser companheiro de batalha de vocês! Fico feliz de ver que a cada nova aula, a nossa disciplina tem um número maior e maior e maior de alunas e alunos! Ou melhor, de ESTUDANTES! Mesmo que sejam profissionais, familiares, ou usuárias e usuários.

E para quem ainda não pegou nenhuma aula com a gente, nem precisa de matrícula. Se der pra preencher o formulário, é até bom, mas basta vir com a gente nesta luta!


beijinhos de maracujá!

sábado, 18 de maio de 2013

Felicidade, Destino e uns lindos problemas (ou Sobre o Rock-Protesto de 17 de maio)



Essa noite, costurada pelas mãos do destino, destino que é um trio sapequinha de fiandeiras, aranhas engenhosas que adoram fazer estrepolias, essa noite me fiou felicidade.

Sim, fui a felicidade e até agora não entendi como isso pôde acontecer. Mas eu fui a felicidade, e foi um prazer dar e receber felicidade, para e de tantas pessoas, e de tantas formas diferentes... Naquela multidão saborosa, tinha gente pra quem eu gostaria de ter dado felicidade e não dei, e também gente que gostaria que eu desse felicidade e eu neguei, mas no final das contas, todo tipo de felicidade a gente recebeu uns dos outros, naquela linda celebração da vida que foi essa última madrugada na UFES.

A Administração Central da UFES precisa perceber que nunca proibiu nada, que os rocks na UFES já estavam liberados, e que era apenas questão de a gente pegar e fazer, que eles não iriam conseguir impedir a gente de nada... A gente pode mais do que imagina, estudante não sabe o que pode. E a minha maior felicidade, de verdade, nessa madrugada, foi ver a galera sentindo que pode muito mais do que imagina, que a gente pode, junto, fazer noites incríveis acontecerem, noites de bons encontros, de matar saudades. Não poderia haver noite melhor para o destino me fiar felicidade.

Gostaria de avisar à reitoria que já passou da hora de ela chamar a gente pra negociar, de igual pra igual, sobre os assuntos de segurança e cultura na universidade, assim como sobre os de repressão a movimentos e sobre democracia na universidade. Se continuarem tentando tratar esses quatro assuntos de forma meramente burocrática, em espaços onde a nossa voz soa desigual, onde os interesses conservadores e empresariais falam mais alto que os interesses do povo capixaba e da comunidade universitária, nós estudantes continuaremos IMPONDO a nossa voz de forma MUITO MAL EDUCADA, como fizemos essa madrugada, e como não pararemos de fazer. Abram negociação em pé de igualdade, se não quiserem ter dores de cabeça cada vez maiores. Se querem realmente dormir, parem de tentar nos impedir de sonhar.

A luta é desigual pra vocês, porque se vocês têm o poder da burocracia e da mídia vendida, nós temos o poder da ousadia, e o da felicidade!

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 14 de maio de 2013

Ode ao Ódio!



Eu detesto vocês, seres humanos, seus desprezíveis!

Não tenho compreensão alguma pelos defeitos ignóbeis de nenhum exemplar entre vocês, nem mesmo comigo eu tenho parcimônia. Somos uma espécie mesquinha, detesto profundamente esta espécie. No meu peito não tem lugar para amor, não tem lugar para nenhuma tentativa de dar outro rumo para essa humanidade falida e vergonhosa.

Também não tem lugar para vontade alguma de te beijar, nem para nenhuma vontade de te abraçar apertado, nem para nenhuma vontade de ficar para sempre contigo, montando trilha sonora para a eternidade, nem para nenhuma vontade de te morder deliciosamente e me perder no meio dos teus cachos. Eu te detesto como detesto todos os seres humanos.

Seres humanos fazem guerra, seres humanos matam crianças, seres humanos transformam doença em dinheiro e saúde em privilégio, transformam conhecimento em raridade e desinformação em regra, transformam fome em ponto de partida e vida digna em campo avançado, acessado só por quem tem mérito. Eu odeio todos os seres humanos, sem exceção de nenhuma, de nenhum. Eu me odeio, eu te odeio, eu nos odeio. Odeio seres humanos porque eles não admitem que amam. E porque eles mentem. E porque eles fazem do ódio uma religião, e batem no peito com orgulho dela...

...mas não odeiam tanto assim, a ponto de dormir em paz todo dia.

Todo mundo tem seus demônios, mesmo que não saibam porque estão tão infelizes.

Vamos mudar nosso rumo?

beijinhos de maracujá!

sábado, 11 de maio de 2013

Na luta, tentando e sentindo.



Estou na luta, estou tentando. E gostaria muito de não ter que dizer tudo o que sinto e tudo o que quero, para que as pessoas estabeleçam parcerias comigo baseadas em explicações introspectivas cansativas e sem charme algum. Acho muito mais interessante quando a gente sente, pelo que o outro faz, o que a gente deve fazer. Mas pra isso rolar, a gente tem que fazer coisas que sinalizem o que a gente quer, e eu acho muito desagradável quando minhas insinuações parecem não ser entendidas. Mas nem sempre é isso, acredito que tem vezes em que apenas foram recusadas as propostas que eu insinuei. As pessoas podem estar entendendo o que os meus atos querem dizer, e simplesmente dizendo "não quero compôr esta parceria contigo neste momento", ou podem mesmo não estar entendendo nada.

Eu quero é ser artista, cantar na televisão. Estou na luta, estou tentando. Quero fechar manicômios e quero trazer mais gente pra luta. Tem muita gente boa por aí, completamente tomada pela lógica neoliberal. Vou continuar tentando, "que tenha pressa quem quiser me alcançar, eu também tenho"!

Mas o que mais me incomoda é a falta de entendimento do que já está entendido. Eu me pergunto inclusive por que eu também faço isso. Quase todo mundo faz. Eu entendi, e quero forçar a pessoa a dizer o que eu já entendi, então eu finjo que não entendi e pergunto. Por que fazer isso, Jesus? Por que eu faço isso? Por que vocês fazem isso? Por que a nossa espécie humana ainda faz isso? Estamos realmente, todas e todos nós, tentando!

Eu tenho umas músicas, componho, toco, treino, ensaio, invento arranjos, faço versões de músicas dos outros também. Esses dias alguém chamou de remix, e eu até que gostei bastante. Seria tão bom se eu fosse artista... Queria fazer show, gravar disco, tocar na rádio, cantar na televisão. Como "canções de amor se parecem porque não existe outro amor", precisamos de gente que componha e que cante canções de amor diferentes, porque esse amor que existe aí, hoje, tá foda! Precisa existir outro amor! Precisa existir também outro mundo, eu quero ver os manicômios deste mundo de hoje caindo, e levando ele todo junto, e canto e componho pra que isso aconteça, acho que ser artista nos obriga a escolher de que lado estamos. E eu, que quero ser artista, já escolhi meu lado. Estou tentando, estou na luta. Acho que a música pode sacudir mais gente que, apesar de não estar gostando do que tá rolando hoje, ainda não se jogou na luta pra que outra coisa role. Acho realmente que precisa muita música pra sacudir tanta gente do lugar. E acho realmente que precisa sacudir do lugar essa gente toda.

E a música não precisa explicar racionalmente, verbalizar tudo. Não é apenas a letra da música que pode contribuir para as lutas políticas.  É ela também, não estou desmerecendo as letras incríveis das grandes composições, principalmente as que falam de lutas. Mas uma coisa precisa ser dita: a música faz muito mais do que apenas explicar, e os efeitos da música, ao provocar as pessoas às lutas, vão muito além apenas da sua compreensão, do seu entendimento. Não basta entender, é preciso sentir. As pessoas poderiam se relacionar, fazer parcerias, e inclusive amar, assim como fazem e apreciam música: indo para além da mera técnica e da mera racionalização, indo para além do entendimento e sentindo. Está faltando sentir. Se eu sinto em você os seus incômodos, por que fingir que não senti, e perguntar "algo te incomoda? me conta o que te incomoda?". Por que que a gente é assim? Acho que sentir é o caminho que nos levará além. Viver a vida como fazemos música e como ouvimos música. E que a vida seja uma delícia, uma música boa.

E quando não estiver sendo, que a gente peque instrumentos, e toque em cima do som ruim, pra fazer ficar bom. Práxis! "Ela nem sabe, até pensei em cantar na televisão..."!

beijinhos de maracujá!

domingo, 5 de maio de 2013

Corpinho Violão


Não precisa de muita coisa, basta um violão!

Seria legal se tivesse uma bandinha muito esperta, sagaz e louca, junto, fazendo umas turbinagens, uns funks, uns rock'n'rois... Mas só com um violão, já dá pra fazer um estrago tremendo. Ele é uma arma, e com ele dá pra colocar em xeque muita coisa, e muitas delas em xeque mate.

Em primeiro lugar, ser feliz. Tocar violão é bom, e a vida hoje está uma merda nessa cidade feita pra máquinas que andam sobre rodas, e para moedas e notas. Assim sendo, temperar a vida com canção é sempre bom, colocar os dedos para doerem. Por que é que não se toca violão nas praças públicas? Por que é que não se ocupa as praças públicas com violões? Na fila do banco não dá, mas na do terminal, sim. E acho, de verdade, que isso precisa ser feito. Em primeiro lugar, está faltando música, não só para quem ouve, mas para quem faz. Fazemos música para ser felizes, e sendo felizes, sentimos vontade de espalhar felicidade pelo mundo. Sentimos assim, vontade de transformá-lo. Ser feliz.

Em segundo lugar, amor. Música é amor, quem está fazendo música está amando, e se quem está escutando, também se conecta ao fazer de quem está sendo feliz fazendo música, também está amando. Toda relação mediada pela música é uma relação de amor. Ou de luta, mas isso é daqui a pouco, e além disso, quem disse que amor e luta não têm tudo a ver? Faz sentido viver quando há música por perto, quem nunca quis levar pra cama uma Nara leão, um Sérgio Sampaio, um Paul McCartney ou uma Marisa Monte? De noite na cama, eu fico pensando... Acho apropriado colocar a importância da música nos rituais de acasalamento de seres humanos. Somos como passarinhos, que cantamos para demarcar terreno, e para convidar nossos pares românticos para fazer filhotinhos. Ou ao menos para fazer o que se faz para fazer filhotinhos. E eu acho que tá precisando de muito mais músicas, pra chamar as pessoas pra fazer filhotinhos a dois, a três, a quatro, a cinco. Entendo a importância do sexo a dois, mas não existe outro motivo para uma incidência tão baixa de práticas grupais no sentido carnal do amor, que não seja a falta de mais pessoas musicando seus cotidianos. Quem ama musica.

Em terceiro lugar, luta. Música é agressão. Se eu quero te dar um recado, ou seja, te dar um tapa na cara, eu preciso ter no meu repertório, músicas para dar tapa. Se eu quero destruir um exercito inteiro, preciso lançar mão daquele setor do meu repertório onde estão as músicas que não se toca a todo momento, só nas guerras mais sangrentas. Música é violência. Violência necessária, violência de não passividade. Pessoas passivas não fazem música, pessoas passivas escutam música e reclamam, porque a música provoca nelas uma vontade imensa de sair da passividade, e a resistência à mudança é o principal inimigo de toda e qualquer pessoa humana sobre a face da terra que use as duas mãos e faça acordes. Para fazer a revolução, para tomar o poder, para que o feminismo vire parte fundante de todas as culturas humanas e para que todas as drogas sejam legalizadas, fazer música é urgente e indispensável.

Assim sendo, quero parcerias na luta, no amor e na felicidade. Pessoas que fazem música, saiam dos bueiros, não tenham medo de ser como eu sou e não tenho medo de ser, irmãs. Música, irmãos, música!

beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Manifesto pelo Impossível





Não estamos ganhando. Estamos perdendo. Mas não paramos de lutar, e se tem lutadora nossa e lutador nosso morrendo, tem gente nascendo pra ser lutadora nossa e lutador nosso.

No meio do caminho entre esses dois mistérios, nascimento e morte, temos uma luta a reorganizar. Não estamos ganhando, estamos perdendo, mas ainda estamos lutando, e é apenas por isso, que essa gente nascendo poderá retomar a luta, hoje tão combalida, para tempos melhores.

Eu gostaria ter nascido no auge de uma revolução, mas "sou só um compositor popular", não posso fazer mais do que o impossível. Mas sou de uma geração que tem feito o possível. Nossa tarefa é ir para além e fazer o impossível, para que aquelas e aqueles que ainda virão possam fazer o que a gente não pode. Que o futuro possa ir além do impossível. 

Se ainda não ficou claro, me explico: nós só podemos ir até o impossível, mas se ficarmos no possível, aquelas e aqueles que ainda virão só poderão ir até o impossível. Se a gente vai para além do presente, o futuro poderá mais. E se a gente for para além do presente, no futuro certamente as nossas lutadoras e os nossos lutadores quererão mais. 

Juventude, vamos apagar da nossa memória as lembranças de pessimismo, vamos deletar dos últimos vinte anos essa mania de aceitar, de se conformar, de sedimentar. Vamos segurar entre os dentes a primavera, regar as flores do deserto, sabendo que daí um amanhã brotará. 

Toda a minha esperança no futuro se concentra no presente. E o presente precisa querer não apenas um futuro melhor, mas também um presente melhor. 

Não pode haver socialismo construído por infelizes. Hoje a gente vive a ascese: infelicidade presente para lutar por felicidade futura. Amor opressor no presente para lutar pelo amor livre futuro. Não, minhas amadas e meus amados. Não somos donas nem donos de ninguém. Nem de nada. Precisamos ser donas e donos apenas de nossas armas, porque essa vontade de não perder o que temos é o que mais nos faz feliz. Ter apenas o necessário para lutar e para viver com prazer. 

Socializar o prazer não pode ser tarefa pós-revolucionária, precisamos de prazer agora. No campo e na cidade, nas favelas e no senado, por todo lado. Corpos que não sentem prazer têm menos condições de converter a derrota em vitória, de inventar a contramola que resiste. 

Por isso escrevi esse manifesto! Pelo prazer. 

Militantes comunistas, eu lhes imploro: vivam suas vidas com prazer! Pelo avanço da nossa luta, por um futuro mais potende para a Classe Trabalhadora, não se afundem apenas na ascese, não reproduzam em suas vidas aquilo que queremos combater, amem amores livres, apreciem a beleza do mundo em contradição em que vivemos. Essa beleza é a nossa inspiração maior para superar o que ainda não há de belo. 

Que as nossas lutadoras e os nossos lutadores que estão morrendo, e aquelas e aqueles que estão nascendo para ver grandes lutas, e com isso querer fazer lutas ainda maiores, nos tenham no meio do caminho: travando grandes lutas, e vivenciando o prazer e a liberdade. 

AO PRAZER LUTADOR E À LUTA PRAZEROSA! 

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 2 de abril de 2013

Estrepolia


"Canções de amor se parecem porque não existe outro amor"

Avisa pra esse seu namoradinho
Que ele é afobado demais
E que eu te ensino a ensinar pra ele
Como é que se faz.

Não tem porque ele ter medo de mim,
Se ele te ama, quer te ver feliz,
E eu confesso que a tua felicidade
É tudo o que eu sempre quis.

A gente bem que podia fazer
Um lesbianismo gostoso...
Pode se pendurar no meu pescoço,
Deixa de lado essa timidez,

Bora ofegar sinfonia,
A gente a gargalhar feito umas trouxas.
Eu sonho teu cabelo em minhas coxas,
Se joga nos meus braços de uma vez.

A dúvida é o prelúdio da certeza,
Se tu tá com medo, é porque quer.
Me acolhe entre teus seios, sem receio,
Deixa eu te fazer mulher.

Eu sei morder sem arrancar pedaços
Avisa pra esse seu namoradinho
Do imperativo que me une a ele:
Te encher de carinho.

Te quero em estrepolia, injeta
Atrevimento na cuca,
Me deixa mastigar a sua nuca,
Deixa de lado essa timidez.

Bora ofegar sinfonia,
A gente a gargalhar feito umas trouxas.
Eu sonho teu cabelo em minhas coxas,
Se joga nos meus braços de uma vez.

beijinhos de maracujá!