Arma sentimental de um psicólogo comunista e compositor popular. À luta prazerosa, e ao prazer lutador!
domingo, 18 de agosto de 2013
Quem guardou o meu futuro?
"Eu não gosto desses dedos que me apontam
Eu não gosto dessas frases que me dizem
'O futuro deles está nas suas mãos'!
Pois é, seu Zé! Sei não!"
(Ednardo)
I
Não existe solução mágica
Nem estado de felicidade
Não existe momento crucial
Como o cabo da boa esperança
Em que tudo muda
E nada é como antes...
A vida de cada pessoa
Assim como a de todas elas
As que existem, as que já se foram,
E as que ainda estão por vir,
Sempre será permeada pela história
E não adianta a gente fingir que é diferente
A história sempre estará afogando a gente
Nunca nos deixará em paz...
O mais gostoso disso
É que, se existe história,
Nada está pronto e nada disso é pra sempre...
Eu gostaria de ser um traficante de almas,
Ter clientes capetas, vender pra deuses e deputados,
Anjos e demônios,
Inocentes e culpados...
Ter uma clientela fiel,
Anotar o nome de todo mundo
Em bloquinhos de papel:
As almas vendidas
E as almas que compram...
Mas as almas não podem ser vendidas
Nem compradas,
Porque não podem ser paralisadas
As engrenagens da história em que se movem...
No final das contas,
Tudo se resume a aprender...
Nada como um dia após o outro,
Escolher a carne certa num almoço
Se errou no anterior...
Ou escolher carne nenhuma...
Ou não escolher...
Tem dia em que não há o que comer...
Mas a história nunca para,
Nunca vai parar...
Ao menos até o dia
Em que a humanidade se acabar...
E enquanto houver gente,
Haverá história,
E enquanto houver história,
Haverá luta,
E enquanto houver luta,
Haverá vida...
E enquanto houver vida,
Insurreição!
II
O que não dá,
É pra gente ficar sonhando,
Se enganando,
Que a solução pros nossos problemas
Virá de alguma superstição...
Hoje eu acordei meio ateu,
Sem saco algum pra superstição!
Tem tanta coisa por aí para ser feita,
E tantos braços fortes e zelosos,
Que podem muito mais que melancias...
Estou cansado de futilidades!
Não há mágica que nos salve o mundo...
Nem tradição nem mesmo intervenção
Terão respostas prontas para nós...
Ou nós nos engajamos nessa estrada,
De peito aberto e prontas pro fracasso,
Ou nunca inventaremos o sucesso...
Tem tanta coisa aí, para ser feita,
Que não nos cabe o luxo de receita,
Ou fórmula pra se fazer perfeita...
Nos cabe o imperativo do futuro:
Me crie novo, não me faça igual...
Eu sou a sua morte se repito
O presente lamentável e lamaçal...
Me façam novo, grita o futuro
Num grito tenebroso como um urro...
Não tem caminho certo pra viver
A vida é um constante recomeço
E cobra de nós um pesado preço:
O preço é nunca parar de lutar...
A vida ainda é tomar partido
Não tem caminho mágico, mas digo:
Sem luta, nem caminho haverá!
beijinhos de maracujá!
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