sábado, 29 de setembro de 2012

João Paulo, moleque atentado (ou Para quem acha que não existe esquerda e direita)



As pessoas acham que o socialismo é um mundo mágico, país das maravilhas da Alice, e que as pessoas serão boas, belas e verdadeiras, 100% do tempo, vinte e quatro horas por dia, 100% das pessoas nas quatro estações do ano. Não, o socialismo não é a substituição de seres humanos por santos cristãos. A luta entre o capitalismo e o socialismo não é uma luta entre o mal e o bem. Não é a sociedade capitalista do mal contra a sociedade socialista do bem. No capitalismo, os homens convivem com o bem e com o mal, que não são características naturais deles, mas duas possibilidades de qualquer ser humano (inclusive na sociedade socialista). Por isso mesmo, acho necessário resolver alguns mal-entendidos.

Olha só, se você acha que não existe esquerda e direita, ou que essa divisão não deveria existir, vou tentar te ajudar a sair dessa confusão aí: esquerda é quem quer que a sociedade atual se transforme em outra sociedade, direita é quem quer que a atual sociedade permaneça, ou que seja melhorada. Você tem duas possibilidades para discordar que exista esquerda e direita: a primeira é discordar do uso das palavras (neste caso, a sua discordância é chatice, não custa nada você substituir na tua cabeça essas duas palavras por outras duas, que você acha que melhor representem o grupo das pessoas que querem reformar/manter essa sociedade, e o grupo das pessoas que querem acabar com ela e criar outra); a segunda e discordar que esses dois grupos de pessoas existam (e neste caso, você precisa olhar com mais atenção pro mundo ao seu redor, porque a existência dessas duas intenções opostas e inconciliáveis é óbvia, e a realidade pode te provar isso com mais eficiência do que as palavras que eu poderia usar, basta que você olhe para a realidade sem os preconceitos teorico-ideológicos que demonizam a existência destas duas intenções).

Há ainda uma terceira possibilidade, que é você achar que não deveria existir esquerda e direita, e ela também se divide em duas: a primeira possibilidade é você achar que não deveria haver interesses diferentes porque todo mundo deveria querer transformar essa sociedade em outra (e neste caso você é de esquerda, mas é iludido e utópico, porque não vê que há interesses por trás das opiniões de direita que não vão permitir que as pessoas de direita mudem suas opiniões, nem que parem de tentar convencer novas pessoas quanto a elas); e a segunda possibilidade é você achar que não deveria haver interesses diferentes porque todo mundo deveria querer manter a atual sociedade ou reformá-la (e neste caso você é de direita, e está defendendo interesses óbvios de manutenção da atual sociedade, o que explica que você queira que a esquerda não exista).

Percebam que, mais uma vez, não estou dizendo que a esquerda é o bem e a direita é o mal. Não estou falando que a direita tem interesses e que a esquerda é pura e desinteressada. Estou falando de interesses opostos, nem bons nem maus. A esquerda quer acabar com a atual sociedade porque seu funcionamento se sustenta na exploração da maior parte da humanidade, em benefício da menor parte, e há pessoas que acham outras explicações, um pouco diferentes desta, mas que no final de contas, sempre têm a ver com esta explicação, mas ainda assim, querem acabar com a atual sociedade e criar outra. Esse é um interesse, e do outro lado da luta de classes, há outro interesse, que é o interesse da menor parte da humanidade, da outra classe, e que é o interesse de continuar dominando, e explorando a maior parte da humanidade, tirando benefícios daí. Não se trata de um outro mundo, de um paraíso, em que nos livraremos dos pecados mundanos do capitalismo. O capitalismo e o socialismo são duas formas de sociedades diferentes, mas ambas no mesmo mundo. Assim como o feudalismo, por exemplo, não aconteceu em outro mundo. Então a acusação de que os socialistas têm um projeto de reino dos céus não passa de uma piada mal contada.

Perceba que você, que acredita ou não no reino dos céus, pode tanto querer ficar no capitalismo, quanto destruí-lo e construir uma alternativa para ele. Não precisa ser o socialismo, pode ser o país das maravilhas, mas eu acho que construir o país das maravilhas, ou a sociedade descrita por Skinner em Walden II, são alternativas inviáveis. Os socialistas são pessoas que, assim como eu, acham que a única alternativa viável ao capitalismo é o socialismo. E apesar de as instituições religiosas terem um papel de manutenção da sociedade, dentro delas pode haver pessoas com interesses opostos a esse papel, porque o animal humano é um bichinho muito do contraditório!

Mas o socialismo não é algo pronto, os socialistas não sabem exatamente como vai ser, porque se não, não seria uma sociedade, e sim um novo condomínio de luxo. Uma sociedade é construída no presente, e o socialismo vai ser como a humanidade quiser, vai ser cheio de defeitos, porque não vai ser construído por santos, e sim por seres humanos. Se você acha que deve existir uma sociedade sem classes, uma sociedade em que todas e todos trabalhem (de acordo com suas condições e possibilidades), e em que todas e todos tenham acesso aos frutos do trabalho coletivo (de acordo com suas necessidades e seus desejos), mas acha que essa sociedade não é a socialista, eu acho que a gente quer a mesma coisa, e você só tá implicando com o nome. Pode chamar o socialismo de reino das laricas, se você quiser, ignore o nome se o nome é mesmo algo tão importante pra você, mas não se preocupe que não estamos com um projeto pronto de condomínio fechado, onde decidirão por você onde vai ser o seu quarto, o que você vai ter que comer, qual será a sua religião e a sua profissão. Mas fica uma dica: talvez a sua implicância possa não ser só com o nome, e sim também com o excesso de individualismo que você e eu e todos nós engolimos no capitalismo desde que nascemos. Socialismo não é tirania da sociedade contra o indivíduo, mas também não pode ser tirania da individualidade contra as outras individualidades. Socialismo (ou Reino das Laricas) é buscarmos juntos uma mediação entre os interesses sociais e coletivos, para que todas e todos possam ter o que precisam, oferecendo o que podem oferecer para isso dar certo.

Por fim, a luta de classes não é a luta entre as duas únicas classes, sendo uma a classe da direita, e outra a classe da esquerda. As classes são muitas, mas ao longo da história, nas várias sociedades (cada uma com seu formato diferente de luta de classes), sempre teve uma coisa em comum: entre as muitas classes, duas tinham mais condições de disputar a hegemonia (manter a atual sociedade, ou mudá-la e criar outra), e as várias outras classes sempre estarão capitulando (seguindo o caminho tomado por) uma dessas duas classes em luta. No feudalismo, a classe burguesa era a classe contra-hegemônica, e ela não era o bem nem o mal, era a classe revolucionária. Mas depois de vencer essa luta, a classe burguesa se tornou a nova classe hegemônica, no novo sistema social inventado. A única diferença do capitalismo pra todas as outras sociedades anteriores, é que pela primeira vez a classe contra-hegemônica (o trabalho) não é uma outra classe querendo se tornar dominante, e sim uma classe que quer o fim de todas as classes (que não haja mais as classes que trabalham e as que lucram sem trabalhar). A alternativa viável ao capitalismo é uma sociedade sem classes, porque todas e todos seremos uma classe só, a classe trabalhadora. Não é uma questão religiosa, é uma questão material e política, é uma questão de trabalho e de decisão.

Para quem quiser lutar pelo bem, foi em nome dele que Bush invadiu o Iraque, o Afeganistão, o caralho a quatro. Recomendo que desconfiem de qualquer esquerda que ache que o socialismo é um paraíso, ou que ache que a luta de classes é uma luta do bem contra o mal. Há quem ache que a luta de classes é o mal, e que lutar contra ela é o bem. A essas e esses, deixo meus pêsames. E às demais pessoas, só tenho uma coisa a dizer: Viva o Reino das Laricas!

beijinhos de maracujá!

Ramificações enxadristas da Psicologia do Artifício


Xadrez é um jogo muito bom. A vida é exatamente daquele jeito, só que com muito mais casas, muito mais peças e muito mais enxadristas numa mesma partida. Um xadrez repleto de jogadoras e jogadores tem uma vantagem: você pode escolher parceiras e parceiros, aliadas e aliados, adversárias e adversários, inimigas e inimigos, e nisso fazer pactos de não-agressão com algumas pessoas, pra se unir no ataque a outras, você pode trocar com alguém peças que uma pessoa tenha e a outra precise, o xadrez vira um jogo de equipe, com uma infinidade de casas, uma infinidade de peças que a gente nem sabe que tem, e com o tempo ainda vamos descobrindo peças novas, com formatos engraçados e movimentos que nunca imaginávamos. Do dia em que nascemos até a morte, ficamos descobrindo novas peças, novas casas, novas e novos enxadristas.

Xadrez não é apenas um jogo de tabuleiro, é um jogo de dedução: o que essa pessoa é capaz de prever em meus movimentos? O que ela pode fazer, com sua capacidade de análise? Quais serão seus próximos passos e como devo jogar para que eles não sejam capazes de me aniquilar? Quais são meus equívocos, e como posso evitar que continuem ocorrendo? Depois de algum equívoco, o que fazer para contorná-lo e continuar vivo no jogo? Qual é a hora de admitir que não dá mais, que já perdi? Essas e uma infinidade de outras perguntas, se respondidas, permitem a quem joga uma compreensão do que fazer. Quem se limita a ver o jogo como tabuleiro e peças, está ignorando que elas se movem de acordo com uma certa pessoa, que opera as peças, e assim presentifica sobre o tabuleiro a sua mente em funcionamento. Xadrez é um modo mental de territorialização, em uma determinada situação, controlada.

Na vida, cada ação é um lance em um jogo de xadrez, só que com mais pessoas, mais casas, mais peças, mais movimentos e mais tretas. A vida é uma sucessão de tretas. Assim como um poema é uma sucessão de versos. Treta é um evento que tatua, que cicatriza, no corpo, na retina da memória, uma marca de si. O corpo vai acumulando marcas de tretas, sucessivas, e vai se transformando a cada nova treta, apesar de haver momentos em que resistimos às cicatrizes que a vida nos dá, aos tapas que as ondas da vida dão: tapas são ótimos efeitos das tretas.

Tapa está ligado ao aprendizado que a vida pode promover ao ser vivo, em especial ao ser humano, diante de tretas, principalmente aquelas provocadas por ondas. Onda é um movimento constante de vai-e-vem da vida, categoria facilmente entendida quando paramos diante do mar. As ondas do mar são um exemplo físico do que estamos chamando de onda, mas não se trata disso, há também ondas de épocas, e pode haver também a onda dos alimentos, das substâncias, principalmente daquelas consideradas drogas. Elas põem o organismo num outro estado de funcionamento, e isto é a onda, que pode ter como efeito colateral, um tapa.

Essa teoria das tretas, dos tapas e das ondas, é uma teoria enxadrista sobre as relações humanas, e sobre a vida. Há idéias ainda a serem desenvolvidas neste tema, quaisquer colaborações serão bem vindas. Estamos procurando pessoas dispostas a construir a Psicologia do Artifício conosco, de fato. Pessoas interessadas, se manifestem!

E no mais, tente ver cada pessoa ao seu redor, enxadristas bons e péssimos, e confirme se a hipótese aqui apresentada, sobre a vida como grande e infinito tabuleiro, faz sentido. Talvez nada tenha a ver, e as pessoas não estão vivendo como se estivessem jogando contra alguém, mas sinceramente, eu acho que sim, e a pergunta com a qual eu gostaria de terminar esse texto é: em que toda essa teorização pode ajudar luta pela construção de outra sociedade?

beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Precisamos de outras formas de avaliar a educação!


Quero dizer algo muito simples:

Precisamos de formas eficientes de saber como nossos cursos de psicologia têm funcionado. Saber onde estão os problemas, e onde estão as grandes vantagens. Saber quais são as formas mais eficientes de democracia, quais são as que mais estão dando errado, e onde esta democracia falta, pra saber onde é preciso melhorar e de onde tirar inspiração para isso. Saber quais prédios estão inadequados, onde estão faltando prédios, e onde a estrutura física é exemplar, e pode servir de modelo para os casos anteriores. Saber que tipo de laboratório vale ou não vale a pena ter, e quais as dificuldades para mudar os atuais laboratórios problemáticos. Saber quais conteúdos são indispensáveis, quais podem ser facultativos, quais são mais convenientes às diferentes realidades regionais, e às demandas e vontades coletivas de cada localidade. Saber como deve ser a relação professor-estudante, como ela está sendo, e onde é preciso reinventá-la para que seja proveitosa para ambos os lados. Saber quais livros faltam nas bibliotecas, e quais não podem faltar, saber quais são dispensáveis, mas ainda assim seria bom que tivessem. Saber o quão acessível cada curso é para pessoas com deficiências, dificuldades especiais, ou mesmo com dificuldades financeiras que, infelizmente, ainda existem. Saber onde está havendo opressão machista, racista, homofóbica, manicomial, etc., e buscar caminhos para enfrentá-las. Saber as condições de trabalho nestes cursos, se são dignas, se dão gosto de trabalhar, se são humilhantes, se são insuficientes, se dão condições materiais, se dão direito de as trabalhadoras e os trabalhadores opinarem suficientemente sobre seus próprios processos de trabalho. Saber se a população para quem este conhecimento é produzido está satisfeita, se está tendo acesso, se este conhecimento está de fato sendo produzido pra ela, e caso não esteja, como fazer com que passe a ser. Saber como esta população pode opinar e participar da vida destas universidades e destes cursos. Enfim...

Precisamos saber tudo isso aí em cima. No entanto, para isso, precisamos de dispositivos para avaliar estes cursos. Eu estou afirmando: o ENADE é INCOMPETENTE para cumprir este papel, e só cumpre o papel de colocar os cursos num ranking mercadológico que vai contra todos os interesses acima (afinal, um curso com Conceito 5 no ENADE consegue se vender, como produto, sem precisar resolver os problemas listados acima e outros infinitos que existam). Precisamos dizer não ao ENADE, e construir outras formas de avaliação. Algumas já existem, outras ainda precisam ser inventadas, e as idéias para a invenção destas novas formas de avaliação, costumam surgir justamente durante as campanhas de boicote ao ENADE. Por isso eu defendo o boicote ao ENADE, e convido você, que estiver perto da UFES na noite da quinta que vem, 27 de setembro, para o debate que o CALPSI-UFES vai fazer, com o tema "ENADE ou Outras Formas de Avaliação?". Será às 19h no pátio interno do CEMUNI VI, prédio da psicologia. Façam debates parecidos em suas faculdades também. Qualquer um pode organizar um debate desses, passe nas salas de aula chamando, pesquisem sobre o assunto na internet, leiam documentos e textos de opinião sobre isso, permitam o diálogo de opiniões opostas, isso também é uma forma de avaliar a educação.

E eu avalio que o ENADE não avalia NADA! Como você avalia o ENADE?

beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cometa


Querer você não como uma meta,
Que eu não te quero desafio,
Não quero ter que te alcançar,
Ter que dar dez a fio.


Não quero que você cometa
O deslize de me esperar,
Como se eu fosse um cometa,

E você, meu orbitar.

Não quero ser um ousado,
E você, um presente,
Não quero ser premiado,
Quero você diferente.

Te quer como um dilúvio,
Pra causar destruição,
Eu quero ser teu mergulho,
Teu olhar de sedução.

Te quero como uma ilha
Que um dilúvio isolou,
Mas não pra ser seu cativo,
Quero ser agricultor!

beijinhos de maracujá!

RESISTIR, a hora é agora!!!



RESISTIR, a hora é agora!!!


Por uma UFES segura, democrática e sem repressão!

Estamos apresentando essas palavras como um convite para vibrarmos juntos numa mesma sintonia. Não a sintonia do conformismo, da acomodação, da aceitação. Nem a sintonia do jeitinho, do tentar o que é possível, da luta que vai só até onde dá pra ir. O nosso convite é para a sintonia da grande luta, da luta que não se contenta com as regras do jogo que estão postas, da luta que reinventa as regras do jogo. Nossa luta é por uma universidade de fato para o povo, para as trabalhadoras e os trabalhadores dessa cidade, desse estado e desse país. Por isso mesmo nossa luta é contra as idéias retrógradas que estão ensaiando crescer na Universidade Federal do Espírito Santo. Queremos uma UFES que seja espaço de produção e troca de idéias, de cultura, de lazer, de arte, de opiniões, de conhecimento, de saberes, de posicionamentos. Queremos uma UFES que forme pessoas perigosas, e não pessoas mansas e acomodadas. E para construir essa UFES, precisamos desde já ser perigosas e perigosos.

Estamos convidando vocês a serem perigo junto conosco! Somos um perigo adormecido! Somos a velha nova ameaça!!! RESISTIR, a hora é agora!!!

Se vocês estão vibrando conosco, na sintonia da resistência, se aproximem, porque nos tempos nebulosos que estamos vivendo cada vez mais, vai ser necessária a energia de quem resiste!!!

Resistindo, na boca da noite, um gosto de sol...


beijinhos de maracujá!

Fanpage do blog Artifício Socialista! Quem diria! Isso vai dar repercussão?


Eu definitivamente não entendo nada dessas modernidades! Conforme a idade vai chegando, a gente vai deixando pros mais jovens essa habilidade de lidar com as tecnologias.


No entanto, no afã de divulgar a minha indignação contra a reitoria repressora e antidemocrática da UFES, criei uma fanpage pro blog! Você sabe o que é uma fanpage? Eu não sei. Mas sei que deve ser uma página para fãs, e que dá pra curtir. Então a missão de vocês é essa, clicar aqui neste link e curtir até o cu fazer bico, ok? http://www.facebook.com/ArtificioSocialista

Quem souber como isso funciona, peço ajuda, vai dizendo pra que é que serve, o que eu devo fazer pra usar as funcionalidades que isso me oferece, e tal. E no mais, compartilhem aí tudo o que eu postar, e peçam pra mais gente curtir, eu quero ser um astro da blogosfera comunista, oh yes?

beijinhos de maracujá!

Por uma frente contra a repressão e por segurança democrática na UFES, JÁ!



Me assusta o nível profundo de repressão em que a UFES se afunda.

Pouco importa se você, que está lendo isso, concorda ou discorda com a luta do acampamento, ou com seus métodos, assim como de qualquer outro movimento. Quero chamar atenção para o fato de que uma sociedade que aceita a violação do direito de manifestação, está caminhando numa direção ameaçadora.

Primeiro chamam a Polícia Militar para desocupar o acampamento, que estava com barracas instaladas nas marquises da Biblioteca Central, sem nenhum dano ao patrimônio e sem nenhum prejuízo ao funcionamento da universidade. Não havia necessidade de polícia, ao meu ver sequer havia necessidade de desocupação. Me espanta porém que tenham deixado para efetuar a desocupação apenas no domingo. Já fazia uns dias que haviam pedido a desocupação e obtido resposta judicial, mas escolheram o domingo justamente para que não tivesse ninguém vendo.

Segundo, os manifestantes reinstalaram o acampamento em outro lugar da universidade, no prédio chamado Elefante Branco, perto do Centro de Ciências Humanas e Naturais, e na noite de terça-feira, madrugada de terça para quarta, a vigilância patrimonial DESTRÓI as barracas dos manifestantes, com a presença do Aníval Luiz, chefe de segurança da universidade, segundo relatos. Na madrugada? Por que não agir na luz do dia, com pessoas passando pelos corredores? Por que agredir manifestantes, por que destruir pertences dos mesmos? E desde quando é atribuição da vigilância patrimonial inibir manifestações políticas?

A permanência de Anival Luiz no seu cargo será interpretada como um sinal de Reinaldo Centoducatte e Cida Barreto de que eles assinam embaixo dessa política repressora. Eu não duvido disso, mas é preciso denunciar que eles encontraram na figura do chefe de segurança alguém que se dispôs a dar a sua cara para a repressão da UFES, blindando as imagens da reitoria. Por isso eu venho através deste post convidar todas e todos a pedirem a deposição de Anival Luiz do cargo de chefia da segurança da UFES.

Na verdade toda a política de segurança da nossa universidade precisa ser reinventada. Nossos laboratórios e nossas salas têm sido assaltadas, nossas festas têm sido prejudicadas por assaltos, estupros, espancamentos, e outras violências, e ao invés de incentivar ocupações planejadas do campus, iluminar adequadamente os ambientes, e atender a outras tantas reivindicações que temos feito há anos. Reinaldo prefere REPRIMIR, REPRIMIR, e REPRIMIR.


O que mais me assusta, porém, é ver pessoas se calando diante disso, como se não se tratasse de uma grave situação. Espero ouvir posições dos sindicatos de Técnicos e Docentes, do DCE, e dos Centros e Diretórios Acadêmicos. Qualquer posição de omissão neste momento é conivência com a política repressora, e gostaria de lembrar que recém saímos de uma greve, mas ainda temos muitas lutas a tocar. Se a corja de Reinaldo se sentir autorizada a fazer o que tem feito, vai fazer muito mais contra nós em breve. Não importa, insisto, não importa em NADA se discordamos ou concordamos de um determinado movimento político, ainda assim devemos ser intransigentes na defesa do direito deste movimento se expressar, por isso estou convidando todas e todos, inclusive o Centro Acadêmico do qual faço parte, pra organizar uma grande FRENTE CONTRA A REPRESSÃO NA UFES, e por segurança democrática, eficaz e de qualidade. Espero o contato de pessoas, coletivos, centros e diretórios acadêmicos e demais entidades que aceitem este convite.

Pela deposição de Aníval Luiz!!! NÃO À POLÍTICA REPRESSORA DE REINALDO E CIDA!!!

RESISTIR, a hora é agora!

beijinhos preocupados e indignados de maracujá!

domingo, 16 de setembro de 2012

URGENTE: Reintegração de Posse e Entrada da PM na UFES!



Gente, a surrealidade é profunda!

Não sei se todas e todos sabem, mas está rolando há algum tempo um acampamento na UFES, de um grupo de estudantes lutando por moradia estudantil. Acontece que hoje chegou o documento de pedido de reintegração de posse, dizendo que tinham três horas pra desmontar as barracas, e caso contrário haveria multa de cem reais por dia, para cada pessoa citada na reintegra
ção (ou algo assim, recebi informes por telefone).

Acho um absurdo que a Universidade tenha tomado essa atitude, não faço parte do acampamento mas tenho frequentado a universidade durante a greve, e posso perceber o quanto o acampamento está sendo tranquilo, no sentido de não oferecer ameaça nenhuma ao patrimônio, e que ainda gera uma circulação no Campus que o torna mais seguro para nós, estudantes, trabalhadores e comunidade não universitária que não fazemos parte do acampamento. Há ameaça de entrada da Polícia Militar para retirar o acampamento, postura intolerável, e acho que o movimento estudantil e os movimentos docente e técnico-administrativo devem responder a este sinal de Reinaldo/Cida mostrando suas garras.

No entanto, eu queria chamar atenção para uma curiosa piada. As pessoas do acampamento que me ligaram noticiando da notificação, ligaram por um motivo no mínimo constrangedor. Quatro estudantes foram notificados, dentre estes, dois fazem parte do acampamento, e os outros dois são o João Paulo Valdo e eu. Detalhe, eu não faço parte do acampamento, e o João Paulo, acredito que sequer pisou lá, desde que o mesmo começou (ainda quando estava perto da portaria norte da UFES, porque hoje ele está na marquise direita da Biblioteca Central).

Estou escrevendo essa mensagem pra avisar a todas e todos, o pessoal do acampamento está pedindo para as pessoas interessadas no assunto (sejam do acampamento ou não), para aparecerem lá ainda hoje, pra decidir o que fazer nesta situação. Infelizmente eu tenho compromissos hoje ligados à LAM, que me impedem de aparecer lá, mas no que ainda for possível amanhã, estarei presente, e espero que mais gente apareça.

Independente das diversas posições políticas acerca dos métodos do acampamento, esta é a hora da decisão. Ou a gente fica a favor da repressão na UFES, ou a gente luta contra ela. Omissão é optar pela primeira opção.

Peço que divulguem e manifestem suas opiniões publicamente.

beijinhos de maracujá!
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Encher os corpos de amor (ou Sobre as palavras e as encenações)


"Eu te amo" é uma frase quase que totalmente desnecessária. Com o tempo, fui aprendendo que o corpo humano fala de muitas outras formas além das palavras, justamente porque entende muitos outros modos de falar, para além da palavra. Olhares, gestos, sorrisos, testas franzidas, ombros contraídos, corpos inclinados, uma infinidade de coisas. Chega uma hora em que só de ver alguém de canto, você já sabe exatamente a posição da pessoa no universo, e ainda há quem ache que, pra sacar qual é a de cada pessoa num ambiente, seria necessário ir a uma por uma, perguntando: "qual é a sua?", "e você, qual é a sua?", "e você?". Não: o corpo humano é capaz de sentir qual é a do outro corpo humano, e a palavra é só uma dessas vias, inclusive nem é a mais aperfeiçoada, mas a que a gente mais consegue usar em transmissões consensuais. Ainda assim, a palavra enche as transmissões consensuais de ruído, o que resulta em muito sofrimento pra humanos acostumados à falsa idéia de que a palavra é instrumento perfeito de trocas.

"Eu te amo" é uma frase quase que totalmente desnecessária, porque o amor de uma pessoa por outra, é algo que o corpo consegue sentir com muito menos engano com a ausência da via da palavra. São três palavras muito prazerosas de se ouvir, mas quando o corpo demonstra o que elas dizem sem elas, é mais prazeroso ainda. Eu quase não digo mais que eu amo, raramente eu digo, digo cada vez menos. Mas eu amo, amo demais, eu sou o amor da cabeça aos pés.

Demonstrar amor amando, deixando escapar do corpo a declaração gestual do amor, é extremamente necessário. Quase que totalmente, ou mais do que isso. Encenar o amor é imperativo para que a vida siga, e a gente tá mais preocupado em verbalizar o amor do que em transformá-lo em ação, em atuá-lo. A demonstração é uma encenação, é uma atuação, mas não necessariamente uma mentira. O corpo mente mais facilmente com palavras, mas sem elas também pode mentir. No entanto, há encenações verdadeiras, e que não deixam de ser encenações. Toda vez que a gente age, na presença de outras pessoas, percebendo ou sem perceber, querendo conscientemente ou sem ter consciência do querer, a gente está mostrando pras pessoas o que a gente acha que deve mostrar. O corpo é um grande palco de encenações sociais, viver é encenar, e não precisamos sentir culpa nisso. O segredo para parar de atuar é ficar parado como uma estátua, mas isso acaba sendo uma forma de demonstrar, pra si e pras outras pessoas, que não é alguém que atua: isso é uma atuação.

O amor não é a única coisa que devemos atuar, mas eu defendo que ele deva ser atuado. A partir das atuações alheias, saber quem merece e quem não merece receber de nossos corpos o amor. E em casos extremos, as três palavras da declaração de amor. Palavras de amor podem ser uma prisão, é possível falar que ama sem amar. Mas corpos abertos e atentos vão aprendendo a saber, nas encenações do corpo, quando o amor (ou qualquer outra coisa atuada) é de verdade.

E ainda assim, tem hora em que deixar de dizer que ama é o maior erro possível. Declarações de amor podem ser uma tomada de decisão de dimensões esfincterianas. Corpos abertos e atentos, sabem a hora em que devem usar palavras pra declarar o amor. Mas não basta saber: é preciso coragem.

E por fim, é preciso aprender a reconhecer (com ou sem palavras), as demonstrações e declarações de amor, e conseguir tomar a decisão de responder (aqui a coragem é mais importante do que o saber, muitas vezes não sabemos o que dizer em resposta, mas responder já é o bastante). Amor nunca é unilateral, é reciprocidade. Se você acha que quem você ama te ama, não tem como saber sem antes ter coragem. Se conseguir prosseguir nessa conversa sem palavras, é mais soft do que verbalizar verborragias. Mas se o caso for extremo, por que não tentar as palavras?

Mas não deixemos de colocar amor no corpo não. Palavras sozinhas são vazias, mofam, apodrecem, gangrenam. Enchamos os corpos de amor!

beijinhos de maracujá!

sábado, 15 de setembro de 2012

Substituir a sociedade manicomial é a velha nova ameaça!



Sobre os serviços substitutivos de atenção em saúde mental.

Eles se chamam substitutivos porque vêm para substituir os manicômios. Em três momentos: inventaram os manicômios para tirar as loucas e os loucos da convivência com as trabalhadoras e os trabalhadores, porque eram maus exemplos, e porque incomodavam os cidadãos de bem; depois inventaram essa tal de doença mental, pra justificar a prisão manicomial e dar ao médico psiquiatra o poder de dominar os corpos loucos; por fim foi ficando evidente que o manicômio como serviço de saúde mental era uma farsa, e surgiu a necessidade de substituí-lo por outros serviços, que de fato cuidem da saúde das pessoas.

A internação se mostrou um dos dispositivos possíveis para o cuidado em saúde mental, mas longe de ser o único ou o principal, notamos ao longo dessa história, que ela é apenas um dispositivo para casos extremos, como forma de trazer pessoas em surto ou em quadro muito instável, de volta para a estabilidade, e assim permitir que ela use os outros dispositivos substitutivos.

Então vamos falar do primeiro serviço substitutivo: leitos de internação psiquiátrica em hospital geral. É uma forma de mostrar que a internação não é prioridade, mas dispositivo para uso em casos extremos, e que ela não deve acontecer em um hospital especializado apenas em mente (a farsa do manicômio, que se travestiu de hospital psiquiátrico só pra poder continuar sendo manicômio). O hospital geral vai ter internação psiquiátrica, e ali o paciente psiquiátrico vai poder ter atenção por inteiro, e não apenas no aspecto mental. Afinal, uma doença mental nunca nasce só na mente, ela vem do corpo inteiro, vem da vida inteira, vem da condição de vida, e se solidifica na mente, virando a chamada doença mental. Quando um hospital geral tem leitos em várias especialidades, sendo uma delas a psiquiátrica, isso diminui o estigma e a discriminação com o paciente do hospital psiquiátrico (aqui no ES, Adauto Botelho e Santa Isabel são sinônimos de "local para doidos").

Ainda sobre internação, vou falar de um segundo serviço substitutivo: CAPS III. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), é um tipo de serviço, de dispositivo, em saúde mental, que vai atender as pessoas considerando diversos âmbitos (medicamentoso, atendimento individual, atendimento em grupos, oficinas, atividades artísticas, de educação física, geração de rendas, atendimento familiar, etc., cuidando dos diversos âmbitos ligados à doença). Existem CAPS I (para cidades de população pequena), CAPS II, (para cidades com população um pouco maior), CAPSi (voltado para crianças e adolescentes), e CAPS AD (voltados para usuárias e usuários de álcool e outras drogas). Mas todos esses funcionam apenas de segunda a sexta, nos turnos da manhã e da tarde. O CAPS III é, originalmente, para cidades com população ainda maior do que as cidades que têm CAPS II, e tem uma peculiaridade: funciona 24 horas, e tem alguns leitos para internações de curta duração. A pessoa vai ter ali naquele serviço, tanto o leito para internação em casos extremos, como também o atendimento psicossocial (esses diversos âmbitos ditos acima), mesmo que não esteja internada. Mesmo que esteja.

Eu acho que não deveriam existir CAPS I e CAPS II, acho que todos os CAPS (sejam eles voltados pra i, pra AD ou pra transtornos mentais), deveriam ser CAPS III, 24h e com leitos de internação. Mas isso depende de aumentar o financiamento pra saúde, o que por sua vez depende de diminuir o dinheiro do povo indo pra dívidas, banqueiros, empreiteiras, copas, olimpíadas, corrupção, políticas privatistas, etc. Tudo se interliga, e nenhuma luta isolada se basta. Mas prossigamos.

Outro exemplo de serviço substitutivo, o terceiro: Residências Terapêuticas. O esquema é ter uma casa para que possam morar as pessoas que receberam alta dos antigos hospitais psiquiátricos, e que não têm casa pra morar, nem família que queira acolher a pessoa de volta depois da internação, nem condição de se sustentar sozinha. Algumas pessoas podem, depois de um tempo na casa, desenvolver autonomia e sair da Residência Terapêutica pra ir pra sua casa própria, outras pessoas não, vão viver pra sempre numa RT, porque as sequelas de um manicômio podem ser irreversíveis. Mas o importante é que a casa não seja um minimanicomiozinho, e sim um local onde a moradora e o morador possam exercitar sua autonomia. Não mora uma pessoa sozinha numa RT, e sim um grupo entre três e oito pessoas.

Um quarto serviço substitutivo em saúde mental se chama: Equipe de Redução de Danos. São profissionais, que têm experiência não só com usuárias e usuários de drogas, mas também com travestis, profissionais do sexo, moradoras e moradores de rua, populações LGBT, que possam ter danos resultantes do uso de drogas, ou de práticas sexuais (por exemplo, feridas causadas por agulhas ou cachimbos, e DST's). Esses profissionais, por já terem sido (ou ainda serem) usuários de droga, profissionais do sexo, etc., sabem exatamente a realidade que aquelas pessoas vivem, e qual a melhor linguagem para acompanhá-las. Ao invés de uma política repressora, baseada na imposição da abstinência (o que espanta a pessoa), usam da redução de danos, ajudando a cuidar da saúde mesmo das pessoas que queiram continuar o uso de drogas, e outras práticas "de risco". Esse tratamento pode até mesmo ajudar as pessoas a tentarem a abstinência, mas não é a sua finalidade. A finalidade é sim, o atendimento integral da saúde da pessoa (não só a saúde sexual/mental), a dignidade, o respeito, o direito à liberdade de escolha, e condições para promover a cidadania de qualquer cidadã ou cidadão, sem nenhuma exceção. O vínculo entre as redutoras e redutores de danos, e a população atendida, é o principal objeto deste trabalho, e muitas pessoas que, por preconceito social, por medo, por se sentirem inferiores, etc., não buscam normalmente os outros serviços de saúde mental, podem passar a ter contato a partir da abordagem das equipes de reduçaõ de danos.



Existem outros serviços substitutivos que poderiam ser tratados aqui, mas vou ficar só com esses, por ora. Essa rede ainda precisa ser inventada. Não queremos acabar com os manicômios para deixar as pessoas largadas nas ruas, mas também não adianta acabar com os manicômios desumanos para inventar "manicômios mais humanizados", uma farsa, um eufemismo. Por exemplo: capixabas antimanicomiais acham que só derrubar o império da Clínica Santa Isabel já é suficiente. Mas não, existem várias outras clínicas "menos piores" querendo tomar o lugar dela no mercado. Então não basta apenas derrubar Santa Isabel, é preciso erguer serviços substitutivos.

Mais uma coisa importante: Não basta apenas derrubar o manicômio (o prédio, a instituição, o hospital psiquiátrico), é preciso derrubar também a manicomialidade (a prática social, o valor social, que considera o louco ou o usuário de drogas como pessoas menos aptas a decidir os rumos da própria vida, e portanto, que devem ser tuteladas por outros humanos mais aptos por serem "normais"). A manicomialidade está por todo canto na nossa sociedade (assim como o machismo, o racismo, e a homofobia, por exemplo), e deve ser combatida, mesmo quando não chega ao seu caso extremo (internação das pessoas em manicômios). Uma sociedade manicomial produz loucas e loucos, usuárias e usuários de drogas, que não conseguem lidar com sua loucura, ou com seu uso de drogas, e ainda assim ter autonomia para decidir o que fazer de suas próprias vidas, e isso causa sofrimento pra elas e pras pessoas ao redor (família, comunidade, trabalho, escola, sociedade, etc.). Não basta derrubar o manicômio, é preciso derrubar a manicomialidade. E não é possível derrubar a manicomialidade sem derrubar a sociedade manicomial em que vivemos: lutar contra os manicômios é uma das vias necessárias para lutar contra a atual sociedade, e construir uma sociedade sem exploração e sem opressões.

Por isso mesmo, nós estamos inventando serviços substitutivos (já inventamos alguns e continuamos inventando outros), pra substituir o manicômio. E enquanto isso, inventamos outra sociedade, pra substituir essa sociedade manicomial que aí está. Toda luta antimanicomial deve ser anticapitalista e toda luta anticapitalista deve ser antimanicomial. Mais do que isso, eu diria que além de anticapitalista, também socialista, mas isso é um debate interno para nós, diversos segmentos anticapitalistas. Por uma sociedade sem manicômios! E viva a Luta Antimanicomial!

beijinhos de maracujá!

domingo, 9 de setembro de 2012

COMUNICADO IMPORTANTE: Para a alegria das baratas, Beck Power está de volta!



COMUNICADO IMPORTANTE

Em decorrência dos últimos episódios ocorridos nas ruas de nossa cidade, o Instituto Larica's Nation para a Promoção da Auto-Consciência Enfumaçada (ILN-PACE) vem, através deste, comunicar a todas e todos que a sua principal iniciativa político-cultural, a Orquestra Sinfônica Beck Power (OSBP), está retomando as suas atividades.

Este comunicado pretende alertar as elites conservadoras da Grande Vitória, quanto aos riscos que ora se apresentam para as mesmas, já que a sintonia da sinfonia da OSBP costuma fazer despertarem perigos adormecidos, e convocar baratas a saírem dos bueiros.

Cidadãos de Bem, sabemos que lhes causará pavor no início, mas não se assustem com o excesso de baratas com as quais cruzarão nas ruas, a partir de agora: elas são tão humanas quanto vocês, são o que vocês são, é apenas uma questão de admitir.

Nós, do Instituto Larica's Nation para a Promoção da Auto-Consciência Enfumaçada, agradecemos ao espaço a nós fornecido pelos blog Artifício Socialista, e solicitamos ampla divulgação deste comunicado. Eis que a nação desperta!

A Diretoria


(Para quem ainda não entendeu: as diferenças entre baratas e cidadãos de bem não são substanciais, mas formais. Não são seres de espécies distintas, como ambos costumam pensar, e sim perfis comportamentais distintos dos mesmos seres, sendo que qualquer um deles está apto a ser tomado, a qualquer momento, pelo perfil comportamental pertinente ao outro. Com isso queremos dizer que as baratas devem deixar de se envergonhar pela sua forma barata, ligada à implosão das regras do sistema capitalista, e que os cidadãos de bem devem deixar de se sentir seres superiores às baratas, afinal, são os mesmos seres, com o mesmo conteúdo, e a única e verdadeira diferença de conteúdo consiste no nível maior ou menor de aceitação das regras do jogo. Por isso o blog Artifício Socialista entende a importância de publicar o comunicado do ILN-PACE.)

beijinhos de maracujá!

Contra a farsa das urnas: Partidos Socialistas são a Velha Nova Ameaça!


Neste período de eleições, muita gente me pergunta sobre o meu partido, como se o fato de eu ser filiado a um partido fosse sinônimo de acreditar que esse partido vai fazer revolução (ou melhorar o país) através das urnas. Então vamos lá:


PRIMEIRO PONTO: eu não acredito nas urnas como via de transformação, muito menos como via revolucionária. Não acho que é pra isso que um partido serve.

Claro que sei o quanto uma candidatura eleitoral pode fazer diferença para o bloco dos que querem fazer a revolução. Quando bem utilizada, é claro. E tenho vários exemplos, em todo o Brasil, de gente que faz uso de campanhas eleitorais, do meu partido e da frente de esquerda (PSOL, PCB, PSTU), para travar debates extremamente importantes em suas cidades e em seus estados (e a nível nacional, lembram do Plínio? http://www.youtube.com/watch?v=uFaB9SsL6Io). Postei esse vídeo, não pra pedir voto pro Plínio (que nem é mais candidato), e sim porque ele é paradigmático: mostra como os espaços de uma campanha podem ser utilizados como polo aglutinador, para aproximar as pessoas que querem lutar por mudanças, por transformação.

Claro que sei que um mandato de um partido socialista, um mandato popular e com perspectiva revolucionária, pode fazer profunda diferença na conjuntura da luta contra as opressões e contra a exploração capitalista. Olhe, por todo canto, onde há mandatos do PSOL, e compare com todo o resto da política parlamentar brasileira. Não se trata de campanha eleitoral, se trata de explicar o motivo de eu acreditar que o PSOL, o PCB ou o PSTU numa câmara de vereadores, numa assembléia legislativa ou no congresso federal, não são a mesma coisa do que os outros partidos aí. Achar que é a mesma coisa é tolice, transformar a crítica numa perda de referências besta.

Partido não é tudo igual, mas nós, da frente de esquerda, que somos diferentes dos partidos burgueses, não vamos fazer a revolução por dentro da via parlamentar, e é justamente sobre o lado de fora da lógica da urna que eu quero falar com vocês, que ainda estão me acompanhando neste texto.

SEGUNDO PONTO: um partido socialista deve ser um polo aglutinador. Pessoas (indivíduos e grupos), com histórias de vida singulares, únicas, estão percebendo certas coisas, e deixando de perceber outras, na atual realidade de suas cidades, de seus estados, do Brasil e do Mundo. Essas pessoas estão sofrendo em consequência da atual condição do capitalismo, mas algumas estão iludidas de que isso é viver bem, outras estão perdidas quanto à estratégias de luta (apostando em vias estéreis para atingir a revolução), outras estão achando que as lutas reformistas são mais eficazes que as revolucionárias (mas o capitalismo transforma reformas em formas de se auto-fortalecer, o reformismo não tem eficácia), e há ainda as que estão achando que não tem mais esperança, de que o capitalismo vai ficar assim mesmo. São diversas posições, na dinâmica do plano político em que vivemos.

O motivo da existência de um partido socialista é ocupar uma posição neste plano, que permita deslocar essas diversas posições em direção à posição de luta revolucionária. Queremos ganhar pessoas (indivíduos e grupos) para a convicção de que pessoas podem transformar a realidade, quando unidas e coletivamente organizadas. Para isso, basta que elas tomem partido, que elas se decidam. Hoje há pessoas em condição material de miséria ou de dificuldades pra viver, e pessoas em condição material de luxo, de esbanjamento, sustentando-se na miséria dos primeiros (não tem como fechar os olhos e mudar isso só com energias positivas, só o poder da imaginação). Isso é um dado da realidade, quem quiser olhar para o mundo tal como está hoje, não pode questionar isso a não ser que tenha más intenções em negar a realidade. Negar isso é favorecer o grupo dos que esbanjam. Ponto.

Fazer parte de um partido socialista é tomar partido pelo lado de cá, pelo lado dos que não querem continuar na miséria. Queremos acabar com essa divisão, mas quem está esbanjando não quer perder essa bocada, então acabar com a divisão só é possível através da luta. Insisto mais uma vez ao bonde dos neutros: a posição de vocês favorece quem esbanja, o lado de cima do muro faz parte do lado de lá, então tomem partido logo de uma vez. Qual é o lado de vocês?



TERCEIRO PONTO: a inflexão. Mas se partido socialista não quer dizer tentativa de chegar ao poder pelas urnas, igual aos partidos burgueses, porque é que vocês disputam eleições? Basta ler o primeiro ponto. As eleições não são uma finalidade, são uma estratégia. Mas prestem atenção: os nossos partidos (PSOL, PCB e PSTU) estão por toda parte, nos movimentos sociais, fora do período eleitoral, lutando apaixonadamente por mudanças.


Vocês erraram: nós não estamos nos movimentos tentando fortalecer nossos candidatos pros processos eleitorais, é o contrário. Nós estamos nos processos eleitorais tentando usar nossos candidatos pra fortalecer os movimentos dos quais eles fazem parte, e dos quais nossos militantes fazem parte. Nosso interesse não é a urna, nosso interesse é a luta!

Claro que há interesses eleitoreiros no seio de nossos partidos, nós lutamos contra isso dentro dos partidos. Por isso mesmo, vocês que estão aí fora, e que concordam conosco, poderiam estar aqui dentro dos nossos partidos, ajudando a gente a fazer as lutas internas, para que esses partidos sejam cada vez mais coerentes nas lutas externas, contra os que esbanjam. Derrotar o peleguismo dentro dos partidos socialistas é a velha nova ameaça! Se isso faz um mínimo sentido pra vocês, tomem partido, filiem-se a um partido socialista (e nem pedi filiação necessariamente ao meu partido, como vêem). Construam a Frente de Esquerda!



QUARTO PONTO: esse é o mais polêmico, e é especificamente sobre o PSOL. Por que você tá em um partido que tem mais briga interna do que externa? Por que um partido de correntes? Por que um partido que aceita opiniões tão diferentes?


A última pergunta começou a responder a si mesma e às duas perguntas anteriores. Eu construo o PSOL porque aposto na convivência de opiniões diferentes, construindo sínteses necessárias na atual conjuntura da classe que quer a revolução.



PSOL, PCB (atenção, não é o pelego do PC do B não! Não é o partido do código ruralista, nem o partido da máfia do ministério do esporte, muito menos o partido da UNE corrompida e burocratizada! O PCB é outro, não entra qualquer partido na Frente de Esquerda não!) e PSTU são três partidos muito diferentes. Se eles estão separados, se não são um mesmo partido, é justamente porque há discordâncias quanto à organização do partido (são normais, afinal, ocupamos posições próximas, mas diferentes, no atual plano político em que vivemos). Ao contrário do PCB e do PSTU, o PSOL tem uma peculiaridade, que é a existência de muitas correntes, que pensam diferentes em muita coisa (inclusive no próprio modelo organizativo). Mas as correntes socialistas divergentes ficam mais forte quando, apesar das divergências, coexistem num mesmo espaço, do que quando ignoram as convergências e acham que só têm motivos pra estarem separadas. Quando um partido permite a coexistência de muitas idéias diferentes, e inclusive de indivíduos que não concordam com nenhuma corrente, mas ainda assim querem se filiar a um partido socialista, a nossa classe fica mais forte. Se o PSTU não existisse, PCB e PSOL estariam mais fracos diante da burguesia. Se o PCB não existisse, PSTU e PSOL estariam mais fracos diante da burguesia. Da mesma maneira, a existência de um partido com essas características do PSOL favorecem não só ao PSOL, mas a toda a classe, e a todos os verdadeiros partidos socialistas.


Em um partido de correntes, é possível haver disputas que geram sínteses. Isso fica mais forte quando esse partido não decide as coisas na conversa entre as correntes, mas sim a partir de Núcleos de Base, em que cada filiado pode intervir ativamente na vida partidária. E convido a militância do PSOL a entender, ou a se lembrar, da urgência e importância desta pauta. Núcleos de Base ativos no PSOL já!

Por fim, acho que o partido de correntes não é o modelo de partido perfeito para qualquer conjuntura na história da humanidade não. A Revolução Russa talvez não fosse possível sem o modelo de partido que Lênin propôs. Um partido bem centralizado, pra aguentar a luta contra um czarismo perverso. Se os russos tentassem a revolução de 1917 com um partido com o formato organizativo do PSOL, eu ponho minha mão no fogo (apesar de não ter bola de cristal) que não teria nenhuma chance de sucesso.



Acho que o formato do PSOL é necessário HOJE, depois da fragmentação da classe causada e aprofundada, entre outros fatores, pela traição petista, e pelo fim do ciclo PT na esquerda brasileira (PT virando um partido burguês que confunde a classe). Muita gente vai sendo deslocada, vai acordando da confusão, e com muitas opiniões diferentes sobre tudo isso. Neste momento, ter um partido que aceite opiniões diferentes, é muito necessário.


Mas eu não sou bobo de achar que o PSOL sozinho vai salvar a esquerda do atual momento difícil em que vivemos nas últimas décadas, por isso eu faço aqui mais uma vez a defesa que fiz durante todo esse texto: a Frente de Esquerda é urgente e necessária. A Frente de Esquerda é a velha nova ameaça!

PONTO FINAL: Espero que este texto tenha ajudado a dirimir as dúvidas das pessoas que não entendem a importância do partido socialista como polo aglutinador que aumente cada vez mais a hegemonia da classe trabalhadora na luta. Frente de Esquerda (e não apenas nas urnas, mas nas lutas cotidianas dos movimentos sociais); combate ao peleguismo nos partidos socialistas (e no PSOL, Núcleos de Base são a velha nova ameaça, podes crer!); quanto à urna, candidaturas e mandatos como armas, mas não como solução; autonomia para os movimentos sociais (os partidos fortalecem os movimentos, mas não devem se apossar deles, e apesar de deverem estar a serviços dos movimentos, a autonomia tem mão dupla: movimentos também devem respeitar a autonomia dos partidos!); fim do mito de cima do muro.

Tome partido!


beijinhos de maracujá!

sábado, 8 de setembro de 2012

Estréia da coluna "Militose" no Blog "Psicoquê?"



Camaradas, uma notícia feliz:

Desde o ENEP Cuiabá, em Julho deste ano, o camarada Dann, de Vilhena-RO, me convidou para escrever uma coluna no blog que ele edita. Depois de algumas conversas com ele e de pensar muito no assunto (e enrolar até mandar o primeiro texto), finalmente temos um post de estréia: http://psicologia-ro.blogspot.com.br/2012/09/militose.html



Como podem ver, a coluna se chama "Militose: Psicologia e Movimento Estudantil". O texto já está circulando por aí, muita gente já veio falar sobre ele comigo, tô feliz de saber que tá contribuindo de alguma forma. E não posso deixar de recomendar às pessoas que lêem este blog Artifício Socialista, que leiam o psicoquê, cujo projeto me soa interessantíssimo. Um blog, construído coletivamente e gerido com muito amor e trabalho, no sentido em que essas duas palavras se confundem. Um blog pra fazer coexistirem diversas compreensões desta profissão psicologia, pra divulgar esse jeito jovem, novo e arejado de fazer psicologia que emerge por aí, em todo canto, jeito ao qual eu adiro incondicionalmente, jeito do qual o blog Artifício Socialista é apenas mais uma pequena expressão, jeito que nos faz estar, nas lutas do movimento estudantil, buscando construir a contra-hegemonia nos rumos da psicologia brasileira. Surge uma juventude sedenta por mudanças. Essa sede pode dar em nada, mas essas articulações que a blogosfera nos apresenta, me fazem apenas ter certeza de que essa sede vai dar em tudo. Total reinvenção, transformação da totalidade dessa realidade que está aí.

É bom estar tão bem acompanhado lá no Psicoquê, no meio de uma equipe tão boa, e digo aqui desde já pra todo o povo de lá, que o Artifício Socialista sempre estará de portas abertas pra todas as contribuições que quiserem colocar aqui.

Insisto, pra concluir, numa idéia que já disse há alguns meses, e que mantenho como convicção: blogs são velharia, as novas redes sociais são mais modernas, mas justamente as carências e pobrezas das novíssimas ferramentas é que fazem o blog ser um instrumento tão rejuvenescido (o que é um perigo e tanto pra quem quer manter as coisas como elas estão). Resumindo essa idéia em uma frase singela: blog é a velha nova ameaça!

E viva o Psicoquê! Acompanhem a coluna "Militose: Psicologia e Movimento Estudantil"! Acompanhem a nova psicologia brasileira!

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Questão de Utilidade Pública (ou Quem boicota o ENADE forma ou não forma?)

clique na imagem para ampliá-la.
beijinhos de maracujá!

O ataque de um lindo gato (ou Perigosa metodologia para destruir o adultocentrismo)



Tem um gato me avisando pra não escrever esse post! Ele sobe no computador, pisa nas teclas, já desligou o computador uma vez, e eu não tenho coragem de o trancar lá fora, de o colocar ao relento. Mas ele não me deixa escrever, ele fica me rondando, e eu não quero deixar de escrever, não agora!


Lá vem ele de novo... Está aqui, miando, sentado do meu lado! Acabei de derrubá-lo no chão, pulou no meu braço tentando subir de novo da mesa... Derrubei, ele caiu em pé, voltei a digitar e ele agora está debaixo da mesa.

Mas ele já vai voltar de novo, veio várias vezes... Por duas ou três vezes, ele foi arremessado e, ao invés de insistir mais uma vez (como agora fez de novo, está em meu colo, se esfregando nos meus braços), foi pro sofá...

Ai meu Deus, agora está quietinho no meu colo, ronronando! Ele é lindo, tem uma penugem no focinho e nas patas que parecem de filhote de felino selvagem. Lindo! Tá de olhos fechados! Acho que agora eu terei um pouco de paz e poderei escrever! Eu sabia que ele viria me atrapalhar quando ele vinha de novo em direção à mesa, e miava antes, comunicando uma insatisfação profunda com algo no ambiente que eu, das profundezas de minha limitada percepção humana, não estava presenciando. Mas agora dorme, ronrona, entre minhas mãos digitantes, sob elas, sobre meu colo, sob a mesa. Encostado na minha barriga.


Pode ser que uma vela ponha fogo em tudo, pode ser que haja queima de estoque, pode ser que um gato, ou um banco multinacional ponha fogo na rede elétrica de nosso QG, e o maior estoque de produtividade acadêmica da psicologia capixaba seja queimado, carbonização do que Morais chama de "time dos sonhos" (2012). Por isso, como eletricista que sou, gostaria de deixar um recado: tomem cuidado com gatos. Eles são fofinhos, seduzem, oferecem carinho, oferecem oportunidades de oferecer carinho, mas são territoriais, adoram impôr suas vontades, muitas vezes se tornam inconvenientes, na busca pela satisfação de alguma de suas necessidades básicas (atenção e carinho são duas delas), e ainda podem colocar a sua rede elétrica em risco, além subverter o princípio sagrado da natureza: a propriedade privada da energia.


Quando Marx fala da extração da força de trabalho, através do processo de trabalho tal como ele ocorre na particularidade da exploração alienadora capitalista (aquela que gera a "mais valia", que é a libido econômica em função da qual somos ensinados a desejar, libidinosamente, o consumo e a comercialização da satisfação de todas as nossas necessidades básicas, lúdicas ou supérfluas), ele está falando de um processo no qual a energia humana se torna propriedade privada. É energia do corpo, isso que valoriza a natureza através do trabalho, e que permite a produção de mais valia. É através do trabalho do corpo, investindo energia em algo, que o homem transforma ao mundo e a si mesmo, transforma à natureza e também ao transformador da natureza (que é uma parte da natureza que adquiriu a capacidade de transformá-la, de transformar a si própria). O homem é a natureza inventando um jeito novo de se transformar. Nem bom nem mau, um jeito novo. Deu curto circuito?

Tem humanos lá fora. Ouço vozes. Gritam por uma Ester... Meu Deus, quem seria Ester? Fico sobressaltado, e acho que transmito isso pro gato, que acordou. Mas continua quieto, só mexe a cabeça (o que me deixa mais sobressaltado, apesar de achar que ele está se acalmando). Um mosquito me pica o rosto, um percevejo verde caminha sobre a mesa. Outro mosquito zune em meu ouvido esquerdo, e na verdade eles já estão me picando as pernas há muito tempo, imagino que estejam também se deliciando no gato. Medo de que os mosquitos acordem o gato, o computador e os ventiladores fazem uma sinfonia eletrônica ensurdecedora, tanto que a gente se ensurdece dela. Parece que está silêncioso aqui, mas se eu desligar cada uma dessas coisas, eu vou perceber o som alto que estavam fazendo.

Minhas mãos no teclado estão fazendo barulho. Mais cedo cogitei que talvez fosse o som de meus dedos no teclado, o motivo de o gato estar subindo tanto na mesa, passando sobre o teclado, parando na minha frente, tirando minha visão da tela. Ou talvez fosse alguma presença sobrenatural, que eu não conseguiria ver com minha percepção humana, cética, viciada em materialismos e insensível às outras dimensões. Que por sua vez, os sentidos dos gatos (muito mais intuitivos do que nós), podem captar. Eu não percebo o que o faz miar, subir na mesa e, quando insistentemente impedido, ainda assim procurar um lugar mais alto, no sofá ou na cômoda. Transformo tal motivo em uma explicação materialista ilusória, como o som de teclas, o movimento de dedos. Talvez meu materialismo seja a visão limitada, cega e burra de uma outra realidade, que o materialismo me esconde. Uma realidade que os gatos, muito mais inocentes e espertos, conseguem entender. Ou talvez minha crença na intuição felina, e em sua percepção feiticeira, fosse uma visão limitada, cega e burra da verdadeira realidade materialista, que o misticismo me esconderia. Duas hipóteses, tudo é possível, uma questão de fé?

Com fé na teoria mística, eu poderia acreditar que o motivo de o gato pular sobre a mesa e parecer tentar me atrapalhar no uso do computador, era uma mensagem? Um aviso para eu não escrever esse post? Mas eu tô escrevendo! E se eu continuar escrevendo, estou desafiando a teoria mística? Posso ainda deixar de postar, preciso apertar um botão laranja para ter de vez rompido com o misticismo e feito mais uma aposta no materialismo, mas essa hipótese está colocada apenas para mim, enquanto escrevo. Se você está lendo isso, é porque já decidi.

O problema de fazer gatos não é o roubo de energia, e sim os riscos de acidente que as ligações clandestinas causam. Se você tem competência técnica pra roubar sem oferecer risco à integridade da vida humana, faça a ligação, não obedeça às represas da propriedade privada.

Por favor, só não se esqueça que, no capitalismo, a mais valia é roubada da propriedade privada de quem trabalha, não pra eliminar de vez a propriedade privada nesta relação, mas pelo contrário, pra virar propriedade privada de quem a rouba, através da sua forma lucro. Não há poética pós moderna que justifique esse tipo de gato. A exploração capitalista é uma ligação clandestina por nós indesejada, que não pode oferecer nenhum tipo de via rumo a liberdade. No circuito metabólico do capital, não há via nenhuma com abertura de fato à liberdade. Há, isso sim, vias metabólicas análogas ao exercício da liberdade, que confundem certas moléculas de libertação, e as alienam da sua função bioquímica. O metabolismo do capital promete caminhos alternativos que não possuem, em termos bioquímicos, nenhuma eficácia. O metabolismo do capital é uma rede sem chance de saída, sem chance de qualquer ruptura de dentro pra fora. De dentro pra fora, só há chance de ser cooptado e integrado ao sociometabolismo do sistema, virar engrenagem de sua manutenção. Não é nenhuma privação de liberdade, proibir esse complexo projeto metabólico (civilização capitalista) de operar neste organismo (sociedade humana). É a própria estrutura metabólica que deve ser cortada. Sistema do Capital: eis um gato que oferece risco, sinal de mau presságio.

Gatos, apenas quando forem sinal de libertação. Libertar quem quer que seja da privação de acesso à energia. Toda energia é de todas e todos nós. Inclusive a energia de transformar, então que o mundo inteiro tenha a oportunidade de sair deste circuito atual e construir um circuito novo, fundado nas energias de transformar, que desde quando éramos crianças foram em nós caladas. Crianças privadas do direito de amar, de saber como amar.

Chega de silêncio e segredo sobre o que é a vida. A criança não deve ser privada por adultos, do acesso ao que a humanidade inventou, só é preciso ter o cuidado de dar esse acesso considerando a condição atual dessa humanidade, o quanto ela está preparada pra respeitar e suportar crianças que tenham acesso a tudo o que ela inventou. Mais respeitar do que suportar, pra não dar à humanidade o direito de ser intransigente com as crianças que questionam a humanidade. Esse é um direito que não tem legitimidade nenhuma, nem nunca teve nem nunca terá. Isso nem é um direito, é um abuso. Essa torção nas relações de saber entre adultos e crianças, que estamos aqui propondo, é um projeto de transição baseado na mudança de programação metabólica. Projeto de transição, mas sem os meio-termos reformistas. É roubar a energia revolucionária que roubaram de nós, e fazer com ela crianças implicantes, questionadoras, artistas, cientistas, livres, maravilhosas.

Um novo projeto de infância, e um outro projeto de adultos que vão lidar com essa nova infância. Dois novos projetos que não podem funcionar separados, que dependem um do outro pra obter sucesso, e dependem de um terceiro componente, do componente que os forma: a luta antiadultocentrista.

O adultocentrismo tem duas faces principais, uma é a deformação da relação entre o adulto e a criança (tratada como ainda não adulta), e outra é a deformação da relação entre adultos idosos e não idosos (sendo os primeiros vistos como uma versão mais endurecida ou madura demais, apodrecida, dos segundos). A segunda face, que muitos problemas nos trás e que deve ser combatida, pode gerar a deslegitimação das falas tanto de um quanto do outro subgrupo de adultos. Mas a face do adultocentrismo que quisemos, por ora, nos deter neste texto, é a que fala das crianças, de quem se engendra, se torna ser humano, sobre esse substrato rico construído pela experiência acumulada dos idosos (que podem ou não saber utilizá-las), e de gerações e gerações passadas e presentes. Precisamos, de maneira protetiva por enquanto, permitir aos corpos das crianças o acesso à verdade. Bastarão algumas gerações dedicadas a essa transformação, a essa liberdade, e as crianças estarão cada vez mais capazes de decidir por elas próprias o que fazer com esse conhecimento que a gente inventa. O ser humano, que transforma o mundo e se transforma, pode transformar essa parte do mundo e de si mesmo que é a relação entre adultos e crianças? Quando falo o ser humano, não estou falando apenas de adultos, mas também de crianças. Durante TODO esse texto! A compreensão das crianças como tão humanas quanto o adultos, e portanto como tão legítimas quanto estes na construção dos projetos coletivos da humanidade, é um princípio metodológico primordial e inegociável da psicologia do artifício. Afinal, como pode haver qualquer democracia de fato se a vida das crianças ainda é decidida pelos adultos? Se ainda achamos que isso é natural e biológico?

Como podemos fazer psicologia, fazer revoluções moleculares, entender o ser humano como ser social, como podemos fazer ciência ou cartografia, se nós ainda naturalizamos a incapacidade de crianças exercerem a democracia? A capacidade de loucos, drogados e criminosos exercerem a democracia? Como decidir que a liberdade individual não é um critério digno, e que só os critérios científicos e/ou filosóficos, como os jurídicos, os religiosos e os biomédicos, (no final das contas, todos tendendo a se consolidarem como critérios morais) podem contar na construção democrática de uma opinião da sociedade? Claro que isso não implica em decidir que os critérios científicos e/ou filosóficos são inimigos, e devem ser banidos. Muito pelo contrário, estou falando de escrever um projeto coletivo, ao invés de falar uma coisa da boca pra fora e ter outro projeto dentro do coração. Se dentro do coração, criança ainda é menos que adulto, e se numa analogia, pessoas infantilizáveis (por qualquer relação social) são inferiorizadas dentro desta mesma relação, qualquer discurso de liberdade dito da boca pra fora é natimorto. A VITÓRIA SOBRE O ADULTOCENTRISMO É A PRIMEIRA DAS LIBERDADES!!!!!!!

Mas isso não implica (e preciso dizer logo e concluir, antes que o gato acorde) que tenhamos um projeto de imediata abolição das mediações entre as crianças e a verdade. Não mesmo! Afinal, a psicologia do artifício é vigotskiana, e sabemos que todo ser humano precisa de uma zona de mediação social com outros seres humanos mais rodados, pra sentir em seu corpo aquilo que já marcou o corpo desses outros seres humanos, nas suas andanças por aí. E além disso, não ignoramos a história, sabemos que a condição atual da humanidade é tão grave, que a ruptura com o adultocentrismo pede, ainda assim, um projeto de transição, que considere as determinações objetivas (e consequentemente, as subjetivas) de nossas atuais circunstâncias. Neste projeto de transição, repito pra terminar, duas coisas precisam ser cuidadas com atenção redobrada: a segurança de que as crianças terão acesso à verdade, inclusive às suas verdades, de poder compreender seus corpos, sua sexualidade, sua tribo, sua comunidade, seu chão, seu território, seu mundo, sua história, sua tecnologia, sua cultura, sua arte, seu lazer e seu prazer; e a segurança de que todo esse acesso será oferecido considerando a forma como os adultos de hoje foram tratados, quando crianças, em relação a todas essas verdades. Afinal, toda criança tem também suas andanças, e Vigotski não ignorou em momento algum essa sutil verdade. Se há hoje adultos que não sabem lidar com crianças tão livres, precisamos enfatizar para estas crianças o acesso a verdades que as tornem aptas a se defender de adultos que as vêem como ameaças (e também aptas a se defender de adultos que a vêem como frágeis e usáveis, principalmente em campos hoje oficialmente ocultados às crianças, como o da sexualidade e o da política). Essa é a perigosa mensagem que a psicologia do artifício tem a oferecer para todas e todos vocês. Isso pode destruir um sistema social inteiro, por isso tenho que pensar duas ou três vezes antes de apertar neste botão laranja.

Mas vocês, que estão lendo isso, sabem muito bem que eu cliquei sem pensar duas vezes!

beijinhos de maracujá!