quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

É preciso ser machista pra ser macho?



Coisas asquerosas, como a "Constrituição do Homem Livre" da Playboy, me fazem colocar de novo essa pergunta: lutar para deixar de ser machista é uma repressão à minha sexualidade ou à minha condição de homem?

Com esse texto, convido a um diálogo profundo todos os homens. Acho necessário que a gente reflita se de fato o macho machista é o verdadeiro homem em nós, se de fato a nossa natureza é opressora, se de fato a nossa sexualidade só pode se expressar objetificando o corpo feminino. Será que realmente precisamos negar a homossexualidade das outras pessoas para ser heterossexuais? Será mesmo que deixamos de ser homens quando desejamos sexo com outros homens, quando comemos os cus de outros homens, quando outros homens comem nossos cus, quando chupamos paus ou mesmo quando beijamos as bocas de outros homens? Será mesmo que precisamos mexer com as mulheres nas ruas para sermos homens felizes e plenos?

Mexer com mulher na rua: em primeiro lugar, nos encastelamos no mito de que "tem tanta mulher que gosta quanto mulher que acha ruim", ou de que "a maioria das mulheres gostam, só as chatas e recalcadas acham ruim!", variações destes dois temas estão disseminadas por aí. MITO! Se eu, homem, mexo com uma mulher que passa por mim, e nunca mais a vejo, eu não imagino quantas outras cantadas além da minha, ela receberá nos próximos quinze minutos da caminhada dela. Não são poucos os relatos que já ouvi, li, ou cenas que presenciei, sobre os desagrados e o nojo que as mulheres sentem com as abordagens cotidianas dos homens. Se alguma criação machista me fez achar normal e prazeroso mexer com mulheres, eu preciso ignorar esse desagrado para ter a MINHA "liberdade". E essa mesma criação machista faz a mulher se sentir mal por reclamar, ou mesmo achar que uma cantada é um "elogio".

Não posso olhar para uma bunda? Pelo amor de Deus, gente! Pessoas olham para partes dos corpos umas das outras, e há pessoas com quem a gente tem intimidade para olhar, falar e tocar nas partes do corpo. Mas ficar virando o pescoço para olhar a bunda duma desconhecida que passa, como se fosse necessário mostrar pra ela e pro mundo que temos um desejo viril... Onde foi que a gente aprendeu a ser assim? Alguém realmente acredita que isso tá na nossa genética, que Deus ou o Big Bang iriam ficar gastando tempo com aquele monte de encaixes no genoma humano para nos fazer imbecís intimidadores?

A idéia de que a mulher pode protestar contra o machismo, mas que seria melhor se protestassem nuas, mostra apenas que a mulher está sendo resumida a um produto a ser exibido em uma vitrine. Me recuso a acreditar que as relações amorosas e sexuais que o destino me destina estão condicionadas a essa relação de posse e de uso vazio. Não podemos ver as pessoas como parceiras de vida e de sexo, ao invés de vê-las como corpos a serem usados?

Tem homem babaca que acha que sabe o que a mulher sente, e que portanto tem mais direito do que as mulheres de falar sobre machismo e feminismo. A gente nunca sente na pele o que a mulher sente. E pra ser sincero, a gente nem sabe o que nós próprios homens sentimos na pele, porque a gente ignora a nossa própria condição pra continuar usufruindo desses privilégios mesquinhos que o machismo nos dá, ao invés de aprendermos com as muitas boas lições que o feminismo tem a nos dar, e conseguirmos, junto com a libertação das mulheres, nos libertar também dessa condição de "sou livre se for escroto". Não é essa liberdade que eu quero pra mim! E o feminismo me liberta!

beijinhos de maracujá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário