quinta-feira, 22 de março de 2018

ATO I - Despedida do Casulo (Juntando as Forças)

Novos tempos,
Novo futuro,
De dentro pra fora,
Forçando o casulo,
Sinto a chegada
Dum novo momento,
Me tome, mudança,
Como monumento.

Eis que se aproxima
Um momento monumental,
Como risco de liberdade,
De vôo amadurecido.
Do que tenho me nutrido?
Essa força, de onde vem?
Realmente existe essa força?
Quem me responde? Ninguém!

De dentro do casulo,
Um jogo de vetores,
Um cálculo nulo.

Quem eu sou, encolhido,
Nessa posição fetal?
Por que me impus retiro?
E de onde que eu tiro
Energia
Pra abertura final?

Acho que já deu,
Já deu pra mim,
Nessa escuridão sem fim.
Quero sair daqui,
Quero a luz do sol,
Romper este casulo,
Pocar a linha do anzol,
Serrar feito cerol
E voar, voar, voar...

Daqui a pouco este casulo
Vai deixar de ser meu lar!

beijinhos de maracujá!

domingo, 8 de janeiro de 2017

Elisiário na mata!



Dizem que ele tá lá,
Até hoje ele tá lá,
Vivendo nas matas do morrão,
Esperando um bonde bom,
Cheio de disposição,
Pra ir pros polo industrial
Armado de facão
Obrigar a burguesia
A assinar a carta de alforria
De toda a população...

Elisiário fugiu,
E até hoje, ainda esta lá,
Conspirando insurreição,
Organizando a população
Pra se libertar...

Lá da mata do Mestre Álvaro,
Duma vista surreal,
Se preparando pro dia
Em que a gente, em alegria
Vai tocar fogo na capital...

Vitória na vila nova,
É derrota do povo oprimido
Que venceu na Vila Velha,
Que não se rendeu à guerra
E nunca teria se rendido,
Vitória sobre tapuias,
Vitória sobre insurreições...
Mas há um grito calado
Que o espírito de Queimado
Arde em nossos corações...

E nosso quilombo aldeia,
Nossa comuna radical,
Com Elisiário da mata,
Se prepara pra hora exata
De tocar fogo no capital...


beijinhos de maracujá!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A Manicomialidade está pedindo revanche contra a Organização Popular Revolucionária! POIS VAI TER!!!!!!!




Não digo que tem sido uma luta fácil, na qual só batemos e vencemos sem nunca perder nem apanhar... Mas nós, movimento antimanicomial ousado, radical, profundamente ciente de que a manicomialidade é gêmea siamesa do capital, vínhamos derrotando a cada dia mais os manicòmios e a manicomialidade, com a força de nossas vitórias! Aqui no Espírito Santo, apesar de uma morte com grandes evidências de ter sido criminosa (precisa ser provada, espero que consigamos garantir que dessa vez não haja artimanhas da impunidade como Nercinda já denunciou), relacionada a um convênio com a cidade de Governador Valadares, apesar de o Legislativo (ALES aparentemente articulada por Theodorico Ferraço) e não sei até que ponto o executivo estadual, estarem aliados ou no mínimo omissos em relação à clínica Santa Isabel, apesar de todas essas questões, nossa luta organizada, popular e de espírito anticapitalista radical impôs derrotas: tudo sinaliza que o CNPJ da Clínica de Repouso Santa Isabel fechará.


È pouco pra quem quer o fim de todo e qualquer manicômio, e não digo que tem sido uma luta fácil, mas podemos dizer que o manicômio vem apanhando muito de nós, apesar de no geral estarmos apanhando como todo o povo brasileiro diante de ajustes fiscais, apesar dos juros e das amortizações que o cofre público paga todo ano, mas já foram pagos, apesar da desvinculação de receitas da união (DRU), que rouba 20% de cada um de nossos direitos mais básicos pra pegar dívidas já pagas, apesar da porra do superávit primário, vários palavrões que vale pesquisar na internet (pra gente conhecer nossos inimigos), apesar disso tudo temos dado muitas surras nos manicômios.

Pois o governo federal deu, pra tentar salvar dilma há alguns meses na negociata, alguns ministérios pro aliado de longa data PMDB... Essa aliança e essa negociata estão custando a Reforma Psiquiátrica e a RAPS! Isso quer dizer que todo o processo de conquistas (ainda imcompletas, imprecisas e pouco financiadas) e toda a materialidade prática desse processo estão sendo entregues na mão de um manicomialista clássico e padrão. É um amigo do Ministro da Saúde que já foi por dez anos diretor de um manicômio fechado pelos GRAVES crimes, pelas graves violações de direitos humanos. As artimanhas da impunidade de que você falava, Nercinda, estão sentando na cadeira da coordenação nacional de saúde mental, dentro do ministério da saúde!

Eu, que sou contra o impeachment, fico com nojo de ouvir até meu amado pai falando em ir às ruas defender Dilma... Dilma deveria, na verdade DEVE intervir na nomeação desse Valencius Wurch Duarte Filho, mas não sei se terá coragem! Respeito o anterior, Roberto Tykanori Kinoshita, mas não é em nome dele que defendo seu retorno, é em nome de um projeto que ele, eu e tantas outras pessoas, tantos outros grupos e movimentos, reivindicamos!

A nomeaão de Valencius Wurch por parte do governo Dilma, que se mostra um governo INIMIGO DA LUTA ANTIMANICOMIAL, e não faz esforço nem em migalhas mais pra provar o contrário, é um fôlego oportunista da Manicomialidade, se aproveitando da profunda crise que o petismo e quem com ele ainda se mistura sofrem, se aproveitando dessa crise pra enfrentar a Organização Popular Revolucionária!

Quer revanche, vai ter! A Luta Antimanicomial tá mais louca, descontrolada e perigosa do que nunca, nossa luta contra a tortura e pela vida é a resistência mais intransigente que você pode encontrar pela sua frente, Manicomialidade! Faz parte desse jogo dizer ao mundo todo que todo manicômio vai cair! Achou que a gente tava dormindo! A gente tava se guardando pra quando o carnaval chegar! Chegou a hora de te destruir de vez!

[Sugiro a leitura do texto "as artimanhas da impunidade" escrito pela Nercinda, mãe de Ana Caroina Heiderich, morta impunemente dentro da Clínica Santa Isabel... Procurando no Google é fácil achar o texto e detalhes desse caso notório!]

Vem pra cima, manicômio!

beijinhos de maracujá!

domingo, 13 de dezembro de 2015

Consciência negra revolucionária: Luto e Luta




Escrito originalmente com a intenção de publicação no Guest Post do site Geledés, no dia primeiro de dezembro de 2015, revisado em 6 de dezembro de 2015 para segunda tentativa de publicação no portal Geledés e agora publicado aqui diante da ausência de respostas e da urgência de divulgar seu conteúdo.

Fanzine é um rolê que não não podemos nos dar ao luxo de deixar de fazer!


A alma da juventude negra anticapitalista está em luto e em luta.

Não é apenas com o fuzilamento de 5 jovens (
Roberto de Souza Penha, 16 anos, Carlos Eduardo da Silva de Souza, 16 anos, Cleiton Correa de Souza, 18 anos, Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos e Wesley Castro Rodrigues, 25 anos), que levaram 50 [depois que esse texto foi escrito, um laudo comprovou que foram, na verdade, cento e onze! SIM! 111] tiros de Policiais Militares na chacina de 28 de novembro de 2015 em Costa Barros, na cidade do Rio de Janeiro. Nossa luta é constante porque nosso extermínio é constante! Não se trata apenas de um desvio de caráter de alguns policiais, que têm coragem de praticar tal ação. É também e principalmente um desvio no caráter do sistema em que vivemos, ou seja, há uma cultura de violência baseada no consumismo e na defesa da propriedade acima da vida, e também numa indústria de guerra e lucros exorbitantes, uma guerra contra as drogas que alimenta a cultura de violência. A guerra na verdade é contra a juventude negra e pobre brasileira. É quem mais morre, é quem o Estado mata.

A alma da juventude negra anticapitalista está em luto e em luta.

A Polícia Militar que no Rio, em São Paulo e em todo o Brasil mata, é a mesma que ataca estudantes em luta no final de 2015 lá em SP, é a mesma que atacou professoras e professores em luta no início de 2015 no Paraná. Quando o capitalismo neoliberal ataca as escolas que temos, as universidades que temos, e os negros acabam sendo os mais prejudicados pelo fechamento de instituições de ensino, justamente no momento em que lutamos pra ter mais acesso à educação formal, é a nossa alma que é atacada. Mas ela não se satisfaz no extermínio indireto. Para a juventude negra do Brasil o assassinato precisa ser da alma e do corpo. A lama que mata um rio é constante na vida da negritude brasileira. Nossas almas e nossos corpos são alvo de uma cultura de violência racista, tão destrutiva para nós quanto a mineração para o planeta em que vivemos.

E quando uma irmã ou um irmão tomba nessa cultura de violência lucrativa, seu corpo é assassinado, mas também é assassinada a alma de toda pessoa negra que pensa no racismo brasileiro.

E nós, mesmo sofrendo, não paramos de pensar nisso, porque nossa consciência é uma questão de sobrevivência. Precisamos todos os dias estar conscientes do racismo, da condição negra, dos privilégios das pessoas brancas e da nossa opressão, porque sem isso não sabemos como acabar com essa cultura de violência racista que nos mata a alma não a conta-gotas, mas a talagadas!

Consciência negra no Brasil precisa ser consciência da cultura de violência, e isso é um sintoma de que o capitalismo brasileiro é uma doença muito grave.

A alma da juventude negra anticapitalista precisa ser o antídoto para a doença que nos mata todo dia, A consciência negra é esse instrumento, mas ela não pode ficar só na consciência, precisa ir à ação.


A alma da juventude negra anticapitalista está em luto e em luta.

Precisamos nos defender de um genocídio, e não é a cultura de violência que vai nos tirar dele. Precisamos de um tratado de paz, e isso nos impõe algumas tarefas.

Uma delas (nossa alma clama por isso) é o fim da estrutura assassina polícia militar. Toda polícia existe contra nós, povo negro, em todo lugar em que o racismo amadureceu capitalista, sobre a face da terra. Mas aceitar a Polícia Militar é dizer que sim, no Brasil está autorizado o extermínio da negritude.

A desmilitarização e o fim da polícia militar são um sinal pra humanidade de que estamos começando a mudar o sistema, a desmontar essa máquina de triturar corpos e almas de pessoas negras.

Outra tarefa para um tratado de paz é romper com a lógica da vingança intrínseca à cultura da violência. Ela é SEMPRE contra nós, e pratica racismo institucional, ou seja, aquele racismo oficial do Estado e das organizações da sociedade, praticado individual e grupalmente através da seletividade penal.

Pra quem não sabe, é quando a justiça trata pessoas negras de um jeito e brancas do outro. Como a PM é treinada pra prender, matar, abordar e constranger pessoas negras, com certa aparência física, com certas vestimentas, andando por certos bairros de maioria negra, ou ao menos expressando traços de cultura ligados à pretitude, também a Justiça é uma instituição estruturada para o julgamento diferenciado de pessoas consideradas do universo da branquitude ou da negritude. A simples cor da pele faz a pessoa identificar a outra como criminosa ou inocente, e isso lota as cadeias de corpos negros, assim como as balas da PM lotam corpos negros.

Uma terceira tarefa é legalizar e regular coletivamente a produção, distribuição e consumo de TODAS as drogas. Precisamos de um tratado de paz, mas as pessoas que pegam em armas nessa guerra apenas o fazem porque o comércio de psicoativos é ilegal. Manter a ilegalidade em nome da vida é uma hipocrisia. Os governantes racistas que dão lucro às indústrias de armas racistas, que calculam nossas almas em suas contabilidades financeiras e orçamentárias, utilizam de um discurso moral contra a liberdade para o uso de drogas, e em nome disso colocam os recursos do orçamento público em uma guerra racista.

Eu insisto muito no adjetivo racista porque ele é um elemento da consciência negra que intervém nas relações de poder raciais que, como negritude anticapitalista, queremos desmontar. Não é a toa que nos proíbem essa palavra, ainda mais do que o substantivo racismo. Elas (as palavras “racismo” e “racista”) têm capacidade de expor e denunciar o caráter assassino desse sistema e as necessidades de mudança. A negritude anticapitalista, ou seja, aquela que quer acabar com o racismo e também quer uma revolução contra o poder destruidor do capital, é a única força coletiva da sociedade que pode unificar os interesses necessários para o fim da cultura de violência, para esse tratado de paz, para a criação de outra sociabilidade que abandone a segregação, seja por raças ou classes. Denunciar o racismo é proibido assim como denunciar o capitalismo, nossas palavras são condenadas, nossa consciência negra é condenada, ainda mais nossa ação.


A alma da juventude negra anticapitalista está em luto e em luta.

Audre Lorde nos falava insistentemente da necessidade de escrutinar nossa vida de modo integral, ou seja, avaliar em todos os seus níveis todos os tipos de opressão. É preciso uma coerência inteira, uma totalidade de coerência, um escrutínio integral. O fim do capitalismo é o pacto perfeito para que se defina o fim da tolerância a todo tipo de opressão. Não aceitaremos mais! É nossa alma que grita. Audre Lorde, Franz Fanon, e tantas outras pessoas pretas tinham certeza de que a negritude anticapitalista é a coletividade capaz de acabar com o racismo.

A quarta tarefa do nosso tratado de paz, negritude anticapitalista, é disputar a cultura, a consciência, o sentido das palavras. É elencar as outras tantas tarefas que nos cabem. É mobilizar gente, divulgar boas ideias, construir redes sólidas (ou mesmo fluidas e temporárias) de luta vigilante contra o racismo. Precisamos educar a nós mesmas e mesmos, que não somos o lixo que nos ensinaram, que nossa vida vale, que os nossos danos psicológicos não são naturais, enfim, desconstruir o embranquecimento que sofremos e tudo que o racismo tatuou em nós desde que nascemos. Precisamos educar também as pessoas brancas (não podemos fugir dessa tarefa, prometo que falo disso em outro texto em breve), desconstruir nelas o racismo deve ser dedicação delas, mas isso jamais acontecerá sem protagonismo nosso. Precisamos sim intervir na mentalidade branca. É questão de sobrevivência.

Denunciar o papel assassino e racista do Estado e do capital, em todas as suas nuances, e como isso se sustenta em cada comportamento de quem reproduz o racismo (vivenciando privilégios a partir disso ou não). Educar as pessoas brancas a parar de produzir o racismo e as negras a parar de reproduzi-lo, é a principal função dessa ARMA que é a consciência negra. Esse é o caminho através do qual a desmilitarização da PM, a legalização das drogas e a deslegitimação do punitivismo vingativo podem ser difundidas.

A consciência negra é a arma para a negritude anticapitalista acabar com o racismo, contribuir para uma revolução que acabe com o capital e dê outro sentido para as nossas vidas, sem a cultura da violência. A consciência negra é um instrumento para um novo pacto, que ponha fim à hegemonia da branquitude, como um universo de privilégios.

É nossa alma que está em jogo. Eu adoeço cada vez que uma nova chacina acontece. Perder vizinhos e familiares, ou pessoas de outros estados, não é a alegria de ter sido o sobrevivente. É cruel que eu precise comemorar por não ter sido assassinado hoje.

A alma da juventude negra anticapitalista está em luto e em luta.

Constante.

Vigilante.

Racistas, não passarão!

A juventude negra vai fazer revolução!


beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O doloroso amor livre




Só posso falar por mim.

Poderia fazer um esforço de fala representativa, e mapear quais setores da sociedade de fato poder ser considerados como setores que minha fala representa. Isso implica toda uma adesão a pensamentos identitários, e eu, que não sou nem anti-identitário, nem anti-representativaidade, poderia começar esse texto por este percurso. Mas não quero aqui falar pelos jovens, nem pelas pessoas negras, nem por gente da psicologia, nem por homens em desconstrução de machismo, nem por bissexuais, nem por gente oriunda da psicologia, ou por capixabas, ou por pessoas latinoamericanas.

Quero falar do doloroso amor livre de uma perspectiva muito intimista, porque sei que as pessoas saberão utilizar da minha experiência aquilo que for adequado, para reavaliar nas intimidades de suas próprias vidas e experiências, a relação entre a liberdade e o amor. Ressaltar a dor na experiência do amor livre não é de forma alguma um esforço de convencimento para que as pessoas se distanciem dos experimentos de amor livre. Acho que a experimentação precisa ser lúcida em relação aos seus principais elementos constitutivos, e o primeiro deles é: sofremos nas relações amor livristas tanto quanto se sofre em relações do amor mercantil.

Vou contrapôr o amor livre ao amor mercantil porque não quero usar a desgastada palavra monogamia. Vejam bem, escutem bem, leiam bem: o paradigma da monogamia vai muito para além de relações exclusivas entre duas pessoas. É um paradigma de negacionismo do combate às opressões, de minimização do machismo, do racismo, das lgbtfobias, como se fossem partes naturais do verdadeiro amor. É um paradigma que, sim, ainda prossegue com elementos estruturais do modelo de amor inaugurado pelo ideário burguês, desde quando a burguesia era classe ascendente, buscando lutar contra as opressões da classe dominante que a antecedeu. Ou seja, o amor romântico tem toda uma rede de valores e elementos que o legitimam. O nome monogamia fala exatamente disso, mas por ser facilmente confundido com uma questão meramente quantitativa ("um só, ou vários parceiros?"), eu prefiro enfatizar o caráter radical do paradigma do amor romântico/monogâmico dessa etapa burguesa da sociedade, em que vivemos: a mercantilização das relações. Relações estabelecidas sob o exemplo do funcionamento da sociedade mercantil capitalista.

O ciume é elemento, a culpa é elemento, o descuido cumpre uma função, a polarização entre o volátil e o rígido/engessado não nos permite ir à raiz desse paradigma, que é o fato de que todos esses elementos servem à arregimentação destes amores como mercadorias. Seja para consumo direto ou para fazer funcionar a circulação das demais mercadorias da sociedade. Para falar em palavras exatas, toda a lógica de valores que estrutura o chamado amor monogâmico funciona de forma a fazer do amor algo análogo à mercadoria, e por isso podemos chamá-lo aqui de amor mercantil.

Mas o amor romântico ou amor mercantil está constantemente ligado à questão da dor. Dor, sofrimento, tristeza, nós amorlivristas estaríamos oferecendo uma nova forma de amar, como se fosse uma mercadoria mais evoluída, livre desses indesejáveis componentes? Não, isso não é o que diferencia o amor livre do amor mercantil. Isso já foi dito em outros textos deste blog, e é justamente a partir daí que esse texto quer tratar da questão do sofrimento amoroso.

O amor livre é um experimento. Toda a legitimidade das expressões do amor em nossa sociedade exige condições mercantis, e não é a toa que vemos tanto as pessoas tentando praticar amor livre ou ideias de amor afins, e caindo na lógica mercantil. Tudo nessa sociedade nos pressiona ao socialmente autorizado. Por mais que eu não queira ser machista, isso é cobrado de mim a todo momento, porque o homem que desconstrói o machismo em suas práticas não está autorizado a existir e a se comportar desta forma, pra citar outro exemplo. Eu experimento viver fora do socialmente legitimado. Esse experimento pretende ser a base experimental para construção do amor de uma outra sociedade.

Em práticas experimentais, uma postura possível é a de tratar tudo como acerto. Afinal, é experimentação, tudo que fazemos é válido, toda tentativa é louvável. Não é a minha posição em relação ao amor livre como prática experimental. Acho que os erros são importantes, precisam ser identificados, com humildade e capacidade de recondução de comportamentos. Corrigir o experimento a cada passo. É um compromisso ético-político com a construção de novas experiências, é um compromisso com a revolução, com a transformação, não diz respeito apenas à minha vida, nem mesmo apenas com as vidas das pessoas com quem me relaciono! Então aqui adiro a outra postura possível em práticas experimentais, que é a avaliação constante e a busca pela excelência. O amor mais livre, sempre!

Isso implica, como já dito em outros textos do Artifício Socialista, que saibamos lidar com a presença da culpa, uma arma de escravidão psicológica sempre presente nas relações amorosas em uma sociedade mercantil, seja nos amores mercantis ou mesmo nos experimentos de amor livre. A culpa é uma forma de você se lembrar constantemente que você deve obedecer à lógica mercantil, então não devemos tratar os erros através da lógica da culpa, devemos buscar a superação dos problemas que aparecem nos nossos experimentos sempre com tranquilidade, com paciência pedagógica. Não devemos nos autoflagelar. Mas não é fácil.

Outro elemento também já abordado em textos anteriores é o ciume. Ele é o próprio código de barras, que regula tais relações de trocas mercantis, enquanto a culpa funciona como coleira, fazendo analogia da pessoa amada como um animal mercadoria, uma cabeça de gado ou um bichinho de pet-shop. Nós que sentimos o ciume e o tratamos como natural, o transmitimo de gerações em gerações, na nossa educação amorosa, como se aquilo tivesse sido herdado geneticamente. Acreditamos no mito do ciúme biologicamente programado, porque ele garante privilégios. Principalmente pra nós, homens.

E aderir a um experimento de amor livre implica em um compromisso de ser uma nova pessoa em TUDO no amor, como já dito acima. Um compromisso ético-político. Isso faz com que nos tornemos pessoas que sofrem ao perceber que sentem ciúmes. A culpa sempre à espreita. Quando uma de nossas pessoas companheiras diz que vai passar a noite com outra pessoa, e isso nos causa um estranho incômodo, perceber o incômodo duplica a dor, ao invés de resolvê-la. Perceber que somos profundamente feitos do oposto do que queremos experimentar. Fundamental é entender que não somos naturalmente feitos pro ciúme. Entender que esse sentimento é forte demais nessa sociedade (ou seja, estranho é quando ele NÃO está presente) e que ninguém é um monstro por senti-lo. Mas a saída então seria abafá-lo e fingir que não sente?

Não há fórmula pronta. Aqui esse clichê é verdadeiríssimo! Cada relação vai se constituir no jeito que as pessoas envolvidas encontram para lidar com isso, de acordo com o que aguentam. Esse momento de pactuar formas de lidar com o ciume realmente existente, esse é um momento muito perigoso, porque quem tem privilégios na relação acha aqui um momento riquíssimo para sua manutenção e mesmo para seu aprofundamento. O desafio aqui, para quem está buscando desconstruir privilégios, é não se sentir no prejuízo por ceder. E não exigir grandes cessões da pessoa tradicionalmente oprimida nessa relação. É uma lógica de equidade, se é um casal interracial, a sociedade hierarquiza a função das duas pessoas nas relações amorosas. Então a pessoa branca da relação tem que saber que pacto de relação é libertador numa sociedade em que sua parceira é vista como um corpo a ser usado pra satisfazer o prazer, hipermercantilizado. Em alguns casos, cabe sempre haver uma instância em que as pessoas envolvidas possam manifestar quando sentem o ciúme, para que possam administrar isso juntas. Outra forma é literalmente ocultando o mesmo para que este não interfira, e manejando internamente com ele.

Dessas duas e de várias outras, o que eu posso garantir é: todas envolvem sofrimento. O objetivo, ao que me parece, é não nos importarmos mais de saber que uma pessoa que amamos ama outras pessoas, transa com outras pessoas, gargalha com outras pessoas, assiste filmes, passeia pela cidade, inventa novos pratos com outras pessoas. E de repente você se pega fingindo que tá tudo bem, enquanto tudo que você pensa é que está sendo trocada por outra pessoa, que vai ser mais amada que você, que tem mais aver com a pessoa que você ama do que você, que deve ser muito mais interessante no sexo do que você, provavelmente as suas músicas são muito mais chatas do que as daquela outra pessoa, e o seu cabelo não é tão bom quanto o daquela outra pessoa. Nós introjetamos demônios, e a nossa facilidade, socialmente legitimada, de introjetar valores machistas, racistas, lgbtfóbicos, etc., contribuem muito na formatação dessas crises.


Muitas vezes o caminho do meio, o mais equilibrado, é remoer desses sentimentos o que é besteira e o que é importante, e não deve ser silenciado na relação, e falar francamente com a pessoa parceira. Um bom esforço para atingir esse equilíbrio é lembrar que a culpa nunca é bem vinda, inclusive quando a outra pessoa é quem se sente culpada. Então tentar relatar as dores de uma maneira que não intencione fazer a pessoa amada se sentir culpada é muito importante. E isso não implica deixar de dizer quando a pessoa erra. Ela precisa ter a capacidade autocrítica para que a relação atinja cada vez mais a excelência na busca por presentificar a liberdade.


E como já foi dito, o cerne da questão entre o amor livre e o amor mercantil não é uma polarização quantitativa, como na questão monogamiaXpoligamia, ou na questão relacionamento abertoXrelacionamento fechado. É uma questão qualitativa, é uma mudança histórica na qualidade do modo de amar socialmente autorizado. Cabe tranquilamente na relação mercantil relações entre várias pessoas, afinal, a promiscuidade e a traição são elementos presentes no paradigma monogâmico, efeitos inevitáveis do amor romântico/mercantil. A promiscuidade é algo a que qualquer pessoa em qualquer momento da história pode aderir. Mas a traição só existe quando há contratos de exclusividade. E a hipocrisia de relações mercantis que se dizem amorosas tende a levar as pessoas a quebrarem com contratos incondizentes com seus desejos. O amor livre não é colocar os desejos acima dos contratos. É um experimento de contratos condizentes com a realidade. Eu sei dos teus outros desejos. Mesmo que seja alguém que eu não gosto, você gosta, não cabe um contrato que te impeça de estar com essa pessoa.

Mas se a distinção entre amores livre e mercantil é qualitativa, e não quantitativa, isso não quer dizer que não haja implicações no âmbito quantitativo, afinal, a liberdade é também para que possam existir contratos como as pessoas envolvidas bem queiram. Sejam contratos em que cabem várias relações, ou mesmo contratos apenas a dois. O importante é estar livre das imposições do modo mercantil de amar.O importante é não haver possessividade e não haver opressões. O experimento é pelo fim dessas duas coisas.


No entanto, se um determinado casal opta por acordar outros relacionamentos, muitas vezes acontecem de pessoas nessas redes relacionais não se gostarem. Esse é outro aspecto marcante do doloroso amor livre. Pessoas que se provocam ou pessoas que se evitam, pessoas que usam uma terceira, amante comum, como corda num cabo de guerra. Ás vezes apenas um dos lados na relação entra nesse jogo, às vezes os dois, às vezes a própria corda alimenta a relação em que se vê puxada por dois lados e disso tira possíveis privilégios. São incontáveis os exemplos de triangulações assim que se conhece, quem experimenta o amor livre e/ou convive com pessoas que o experimentam. O compromisso ético-político não é feito apenas com as pessoas que eu amo, mas com a humanidade inteira, em especial com as pessoas amadas pelas pessoas que eu amo. Não que eu precise também amá-las, que sou obrigado a fazer amizade com elas. Mas por que não? De qualquer forma, mesmo que eu não simpatize com a pessoa, que sinta muitos ciúmes, até que ponto não estou agindo de forma a causar sofrimento pra essa pessoa que aparentemente me faz sofrer? Até que ponto não quero causar nessa pessoa a culpa que me esforço pra não causar nem na pessoa com quem me relaciono diretamente?

Outro aspecto doloroso do amor livre vem da própria banalização, e também das calúnias. Gente! Precisamos saber lidar com isso! Não podemos assumir a culpa por quem utiliza do discurso de amor livre pra manter e aprofundar privilégios, como homens que querem "relacionamento aberto" pra transar com outras mulheres. Esses casos inclusive, comumente vêm acompanhados de ciúmes profundos do cara em relação à mulher com outros caras. Coisas bizarras como caras que só aceitam se a mina ficar com outras minas, ou que só aceitam outros relacionamentos da mina se ele também participar. Ou mesmo a cultura do oba-oba, em que o "uhul! Vamo se pegar!", festivo e alegre, vira uma busca desesperada por sexo, de forma doentia e insensível, muitas vezes pra lidar com vazios que nada têm a ver com a solução encontrada. Acho que as pessoas têm mesmo que fazer de suas práticas sexuais produtoras de alegria, não acho que a promiscuidade é em si condenável, mas sem o compromisso radical com a desconstrução da propriedade e das opressões, não podemos falar em experimentos de amor livre. E temos dois cenários que muitas vezes são confundidos: de um lado nossos erros em nossos experimentos de amor livre, politica, estética e éticamente comprometidos; e de outro lado relações que reivindicam o amor livre mas na verdade são apenas instrumentalizações da pauta. Não devemos nos culpar pelos primeiros, nem aceitar os segundos como algo que nos desmente.


É comum então que aconteçam as calúnias. Muita gente vai falar mal da gente pelo que a gente vive e faz, julgar sem saber, ou pior, julgar sabendo. Pessoas que têm contato com todo o debate, entendem o porquê da busca pelo fim do império do amor mercantil, mas ainda assim praticam a calúnia a nossos experimentos, calúnia essa que, em última instância, defende a manutenção do amor mercantil como paradigma dominante. Muita gente readere à lógica mercantil do amor graças a essas investidas. Elas não acontecem de graça, elas são tão monogamia quanto o clássico "namoro a dois", vêm no mesmo pacote, em bloco. E quando chamamos o paradigma de monogamia, perdemos isso de vista, que a chamada monogamia, pra além do namoro a dois, é também a calúnia a todo namoro que não seja a dois. Então quando as pessoas dizem que têm direito a ser monogâmicas, e eu digo que não, é disso que eu estou falando: não acho que devemos aceitar a ideologia que nos deslegitima em nossos experimentos. A cultura monogâmica não diz "amor livristas, fiquem a vontade aí, só nos deixem em paz aqui!", ela diz "vocês são estranhos, o amor de vocês não deve existir, se adequem!"... Obviamente isso é dito apenas nos níveis suficientes para a monogamia não perder a sua legitimidade, mas me cansa a calúnia de que nós, militantes do amor livre, somos nessa sociedade os opressores de quem ama de forma monogâmica, quando na verdade o oposto é INCOMENSURAVELMENTE mais comum.

Precisamos começar a fazer essa defesa, porque a confusão é de que somos aqueles que querem acabar com o casamento tradicional. E isso é mentira mas é verdade.

É mentira porque não queremos tirar o direito das pessoas que, convencidas pela lógica atual mercantil, querem vivenciar as relações desta forma. Elas não são culpadas por terem sido criadas nessa sociedade, têm parte no modo como aderiram às determinações sociais, mas são fruto desse processo, num nível considerável. Não é inocência plena, mas também não é culpa plena. Nós, amorlivristas, não saímos por aí invadindo igrejas e cartórios, para que os casamentos acabem. Mas sofremos muito (não são poucos os relatos que conheço de gente que também tá no experimento) pelo hábito comum das pessoas monogâmicas, de ameaçadas pela nossa simples presença em seus círculos de convivência, fazerem fofocas sobre nós, nos isolarem, proibirem suas pessoas parceiras de falar conosco, ou mesmo vir às pessoas com quem nos relacionamos para "contar nossas traições". Se por um lado existe uma certa reação sectária de amorlivristas com as práticas monogâmicas de quem "escolhe" o amor mercantil, que eu concordo que é um sectarismo que devemos evitar, por outro lado esse sectarismo é bem menos comum que as calúnias que sofremos da galera que reivindica o "direito à monogamia".

Mas também é verdade que queremos acabar com o casamento tradicional, em longo prazo, porque ele parece um desejo natural e genuíno das pessoas, mas essas escolhas são profundamente determinadas por processos sociais que legitimam esses modos mercantis de amar como os únicos corretos, com pouca variação. Queremos deslegitimar o amor mercantil, e às vezes nos querem calados, como se falar mal do casamento tradicional fosse uma ofensa. Se as críticas que fazemos a esse tipo de instituição fossem mentiras, tudo bem, mas não são. E a verdade nunca deve ser silenciada. Nós temos críticas aos experimentos de amor livre, quem leu este texto aqui já sabe disso, mas as fazemos sem nunca distorcer e caluniar. Ninguém deve sentir culpa por ainda estar em adesão ao amor mercantil. Mas é fundamental reconhecer a verdade sobre esse modo de amar, que ele não é natural como a ideologia dominante busca nos convencer, que ele é hierarquizante, opressor, que ele é ensinado de berço desde a formação binária dos gêneros, desde a submissão de pessoas não brancas, nos mínimos detalhes da nossa conformação identitária, nos forçam a "escolher" o amor mercantil. E no mínimo, isso tem que ser tratado de forma aberta e nítida. Porque sei que vocês nos atacam porque sabem que a nossa existência interfere no modo de amar de vocês. Pois bem, não achem que o fato de vocês no presente praticarem e legitimarem o amor mercantil não atravessa constantemente os nossos experimentos de amor livre.


Devemos nos respeitar, mas estamos no mesmo mundo, em que nossas existências distintas coexistem, e nos respeitar não é silenciar nossas diferenças. Nós, amorlivristas, temos muito a ensinar, e se vocês aderem ao nosso experimento, também temos muito a aprender. Acreditem, não queremos mais gente sendo amorlivrista pra ter mais gente para pegar. Nada contra esse objetivo, mas por mais que seja legítimo, não é nem o único, nem o principal. O amor mercantil faz parte do bojo de valores suicidas que temos levado adiante desde que ascendeu a classe burguesa à dominância da atual sociedade, e desde que isso assumiu parâmetros globais. Estamos fazendo das nossas vidas militância por um novo mundo pra nós e pra vocês! Esse experimento é tão sofrido quanto o esforço desesperado de vocês pra manter as engrenagens da monogamia em funcionamento. No mínimo, respeitem nosso sofrimento.


E para quem vem chegando nesse movimento, acho que os principais recados, por hora, estão dados. Aqui no blog Artifício Socialista há outros textos buscando aprofundar o debate sobre o assunto, aceitamos relatos, críticas, comentários, contribuições de diversos tipos, estamos à disposição pra ajudar no que for preciso (como disse, aqui falei só por mim, por mais que fale sempre de um coletivo de experimentação!), e em suma o recado é esse: não se trata de um modo de amar que seja uma bolha livre de sofrimento, o amor livre é um compromisso profundo com a revolução.

Mas há fronteiras nos jardins da razão!

beijinhos de maracujá!

domingo, 14 de junho de 2015

HEY! (ou Entre as Contribuições Para Uma Teoria dos Abraços e Para Uma dos Atrasos, uma Para Uma Teoria do Fim da Hierarquização Racial)



HEY, NÃO FOI A GENTE QUE CRIOU A SEPARAÇÃO RACIAL NÃO!!!!!!!

Pessoas brancas, se vocês quiserem o fim dessa coisa de separar as raças, não cobrem isso da gente! NUNCA! Foram vocês que criaram isso e isso nunca vai parar se vocês não pararem de reafirmar isso em suas práticas, de reconstruir isso mais profundamente a cada dia, fingindo que não tem nada acontecendo, ou fingindo que são inocentes vítimas das circunstâncias que lhes fizeram racistas.

Vocês protagonizam privilégios nas relações raciais, portanto VOCÊS SÃO RACISTAS, e o primeiro passo pra desconstruir esse racismo é admitir isso entendendo o que implica esse protagonismo implica!

Porque sem isso não dá pra entender a importância de largar o osso, e sem largar o osso NÃO EXISTE DESCONSTRUÇÃO DE OPRESSÃO NENHUMA, só tem RACISMO!

Eu fiz minha parte e fui didático de forma carinhosa, agora diante disso façam bem a parte de vocês e APRENDAM ISSO de forma carinhosa também, ok?

beijinhos de maracujá!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Para uma Teoria dos Abraços (ou Sobre a Alegria de Encontrar Gente Amada que Causa Alegria!)




Sabem o que é começar um dia da pior forma possível e terminá-lo de uma maneira ótima?

A gente é um animal estranho, a dinâmica de funcionamento da gente é alterada por pequenas coisinhas, que vão interferindo nos nossos rumos de forma louca. De forma louca. E tem gente que faz toda diferença na vida da gente só de aparecer! Até dá vontade de fichar Nobert Elias! É como se eu tivesse mandado algum psicoativo que me faz sentir vontade de fazer qualquer coisa, mas eu só vi uma pessoa muito querida, que eu estava há muito tempo querendo muito ver!

Eu acredito no poder do abraço! Um dos primeiros posts deste blog rendia homenagem a esse evento fenomenal da natureza! O abraço humano pode se dar de diversas, infinitas formas, mas eu realmente tenho uma coleção de crenças que podem ser até mesmo consideradas ortodoxas, sobre abraços:

1) Há um abraço correto, e ele é forte, firme, de corpo inteiro, envolvente e no mínimo razoavelmente duradouro. Todas as demais modalidades, abraços meio de lado, com parte do corpo, fracos, distantes, só com o braço, aligeirados, e até mesmo tapinhas nas costas, tudo isso são versões do abraço verdadeiro, não têm o poder que o abraço verdadeiro tem;

2) O abraço correto tem poder, ele transmite energia, ele conecta, ele regula a vibração das pessoas, promove uma maior aproximação e cria uma sintonia entre as pessoas, através da troca de calor, mas também através da proximidade de peles, da intimidade ali envolvida, do encontro de pulsações cardíacas, uma infinidade de outras coisas que são forçadas a se aproximar e a se sintonizar quando ocorre entre duas pessoas um abraço com qualidade plena;

3) O abraço verdadeiro está isento de transmitir energias negativas! É isso! Tudo o que o verdadeiro abraço pode passar é bom, quando as duas pessoas estão entregues àquele momento, a chance de plenitude é maior, mas mesmo quando um dos lados consente sem empolgação e entrega plena, ainda há alguma forma possível de contagiar esta pessoa a partir do desempenho da outra parte envolvida em, com o modo de agir de seu corpo, chamar a outra pessoa à dimensão verdadeira do abraço. Isso quer dizer que mesmo que uma pessoa não ponha força e energia, mas apenas seja abraçada, ela já está recebendo aquilo que ela não está disposta a oferecer, só de ser bem abraçada. E isso implica receber uma energia disposta a oferecer! Bons abraços abrem campo, é como se viesse com um anti-vírus natural embutido!

Gente! Vamos abraçar de verdade, espalhar bons abraços por aí! Abrace alguém assim que terminar de ler esse texto, e quando a pessoa já estiver entre teus braços, avise-a: "Vou te reter aqui por alguns segundos, porque meu abraço tem muitas boas energias e eu vou ficar me sentindo meio desalinhado se eu não passá-la toda pra você, então aguarde um instantinho aqui, nos meus braços!"... Conta até vinte, troca uma ideia, ou mesmo só fica um tempo em silêncio... A coisa ganha contornos mais profundos quando ambas as pessoas buscam sincronizar suas respirações!

Abraços de verdade com três ou mais pessoas costumam ser mais difíceis, mas não conheço na literatura científica sobre o tema nada que comprove a impossibilidade de que isso ocorra! De qualquer forma, os abraços a dois são a forma mais simples e barata de produzir saúde e bem estar, bem estar biopsicossocial, pra deixar a OMS feliz! =)

Vou dormir com a alegria que eu não tinha quando acordei! Tem gente que a gente tem prazer de ter por perto até vendo filme ruim! Tem gente que inspira a gente a redigir teorias sobre o abraço! Tem gente que a gente ama, ama muito, muito muito muito!!!

beijinhos de maracujá!

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Parlamentares de Esquerda: Podem Não Ser A Revolução, mas que Tão Fazendo Falta... Tão!




O objetivo desta postagem é simples, defender a ideia de que o abandono da tática eleitoral por parte de pessoas progressistas, de esquerda, anticapitalistas, mesmo que não se identifiquem com esses nomes, mas que são coerentes com tais posições, contribui para o chamado crescimento do conservadorismo. Ao menos nas coisas aprovadas no congresso.

É isso! A correlação na Câmara dos Deputados e no Senado influencia DE VERDADE na forma como se aplica o controle das vidas da coletividade. O petismo foi por um bom tempo esperança de muita gente, e fez crescer no Brasil a opinião pública progressista, favorável a uma forma mais arejada de ver o país e o mundo. Era um dos principais espaços políticos que reunia pessoas ativamente preocupadas com os direitos de mulheres, LGBT's, pessoas loucas, negras, enfim. O PT ocupa o governo, a subjetividade crítica se sente traída, muita gente passa a pensar de maneira conservadora, muita gente abandona as urnas, é pequeno o grupo de pessoas que procura outros partidos, mais radicais e coerentes com a visão crítica. Há até quem abandone as urnas mas respeita esses partidos radicais.

Pois acho que tá ficando nítido pra todo mundo, que não dá pra gente dizer "deixa esse congresso pra lá e vamos anular nossos votos, e ponto!"... Nós precisamos usar esses partidos críticos, fazer deles nossos instrumentos pra reacender a esperança nas pessoas críticas, no povo pobre, em quem sofre opressões. Precisamos fazer crescer aos olhos do povo brasileiro alguma alternativa de esquerda, verdadeiramente de esquerda, que não seja apenas eleitoral, que esteja no dia-a-dia dos movimentos sociais.

Precisamos convencer a galera que tá abandonando as urnas por ser de esquerda, a vir para as urnas derrotar a direita, a falsa esquerda e a falsa terceira via! Como já disse em outros textos, não há o lado de cima do muro!

Não quero dizer que as pessoas que anulam votos, ou que não vão às urnas, são as culpadas desse cenário. Longe disso! Nem que não é legítima tal posição, acho que a política institucional é ótima em convencer as pessoas a perderem a crença nela! Eu não tenho essa crença! Nas duas últimas eleições presidênciais nem fui votar no segundo turno! Mas se minhas candidatas tivesses ido pro segundo turno eu votaria nelas novamente, mesmo não acreditando na eleição como forma de transformar A ESTRUTURA dessa sociedade. Porque há transformações ocorrendo o tempo inteiro, e precisamos superar a decepção profunda que o PT causou no psiquismo brasileiro, pra conseguir reestruturar alternativas! Não tô pedindo voto no PSOL, tem outros partidos de esquerda que respeito, com quem fecho! Nenhum desses partidos são perfeitos, nem o meu, mas mais importante do que o voto é a unidade na luta, que se faz desde já! Só quero defender essa simples tese: quando além de todas as outras coisas, a gente TAMBÉM vota em boas pessoas de bons partidos, a gente tem MAIS FORÇA no dia-a-dia das lutas do que esse cenário conservador horroroso do primeiro congresso pós Junho de 2013!

Vamos continuar conversando sobre este assunto?

beijinhos de maracujá!

Não Quero Voltar Pra Caverna!




Não quero voltar pra dentro da caverna! Gosto do sol na minha pele! Mas há sentimentos que me guiam, eles são contraditórios e eu não tenho conseguido desobedecê-los, então eu sou uma bolinha de pingue pongue, pingue pongue, pingue pongue, no jogo de meus próprios sentimentos... A autonomização destes fenômenos, que deveriam se dar em mim (e não eu neles) é um desafio pra ciência, mas no momento eu estou tão à mercê que sequer estou sendo capaz de ser cientista! Não estou capaz de ser nada!


A caverna é um convite à ruptura completa e violenta com o mundo e com tudo que ele me pode oferecer, é a negação absoluta, guiada por sentimentos cuja natureza não domino, mas que agem como coquetel, e entre os quais estão a tristeza, o desânimo, a vergonha, a carência, a baixa auto-estima, uma série de outras coisas estranhas. Variam as doses!

Eu não sei muito bem quais são os meus sentimentos! Eu tô me perguntando se eu amo alguém! Até se eu me amo! Qual o caráter que o amor tomou? Será que eu achei esse tempo inteiro que amava e desde dezoito de fevereiro de mil novecentos e oitenta e oito eu nunca na vida soube sequer o que é a sensação verdadeira do amor? Estou em crise também com as minhas escolhas! Mas mesmo quando eu tinha certeza eu estava com essa crise aí, na verdade eu nunca tenho e nem quero saber se tenho certeza das minhas escolhas!

Eu também estou sem vontade alguma de cozinhar! Até roubei uma sardinha duma amiga, mas não sei bem o que fazer pra conseguir operar o fogão! Eu adoro cozinhar, sempre me faz bem, mas eu teria que cozinhar pra me sentir bem a ponto de ter ânimo pra cozinhar!

Eu não quero que o interjogo que me disputa resulte em meu encavernamento! Eu quero ver gente, estar feliz, fazer ciência e dissertação! Eu quero saber o que é o amor, e ser amado, e amar, e fazer amor! Eu quero querer isso! Mas não tô querendo!

Não me sinto mais em casa em Jardim da Penha! Toda vez que ando pelas ruas imagino "como seria essa situação se os justiceiros da patrulha do bairro estivessem aqui"? Me incomoda o modo como pedestres e motoristas reagem à minha existência quando eu passo! Não consigo mais ignorar como fazia antes! O Centro de Vitória tem escrotidões, mas ontem de manhã e no início da tarde dei um rolé por lá, e foi a sensação de "É melhor estar fora da caverna!"... Feu Rosa também não é um lugar perfeito, não tô querendo romantizar Feu Rosa, mas é muito mais gostoso de andar pelas ruas, de ver as pessoas, de ser visto por elas, e as coisas são MUITO MAIS BARATAS! Como é caro viver aqui neste lugar!

E a concentração? Esse Salama, esse Borón, esse Portelli, esse Mandel, esse monte de homem branco que eu tenho que fichar, e a minha mente divaga, viaja! Eu quero escrever poema, eu quero escrever no blog, eu quero fazer vídeos que nem aquela Jout Jout, eu quero ser bajulado e bajular, eu quero trocar carícias e ouvir muita música! Mas eu tenho que me concentrar! O valor em Marx, o controle em Mészáros! E ficar na caverna é lutar contra o TDAH, essa doença inventada! Oh! Tem doença mental que não seja inventada?

Não sei, vamos ver?

Tô entre a maconha e a ritalina! E as pessoas ao meu redor são mais boladas de eu usar ritalina do que cannabis! Mas eu tô sem vontade de música, de fichamento, de sexo, de maconha, de nada! Nem de ficar sem vontade eu tô com vontade! Nem com vontade de caverna eu estou!

ALGUÉM ME TIRE DAQUIIIIIIII!!!!!!! (dizia alguém da TV Colosso)

beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Paródia do Poema Eterno (Parte ZERO e Parte I)


Dia desses fiquei
Vinte minutos
Vendo você dormir,
A minha dúvida era
Se eu ainda te conhecia,
E acabei tendo certeza
Absoluta
De que sim,
E que a dúvida era
Um erro justificável.

Mas um erro.

Duas vezes finquei
Cinco charutos
Vendo você dormir,
Ouvia música brega
Enquanto me conhecia,
E, pondo as cartas na mesa,
minha conduta
Diz que em mim
Você dorme e faz guerra
(A guerra é o sono instável).


Mas faz guerra.


beijinhos de maracujá!