domingo, 23 de dezembro de 2012

Meditar pra fora



Esse foi o meu terceiro fim de mundo, quantos mais vocês estão esperando? Se não ficou claro, me explicarei melhor:

Eu não tenho nada a lhes dizer. Digo por incapacidade de ficar calado.

O ideal seria que eu fizesse silêncio, e que todo mundo o fizesse, e que ficássemos todas e todos em silêncio contemplando nosso interior, em meditação. E eu posso até fazê-lo, seria muito prazeroso pra mim, encontrar essa paz. Mas enquanto isso, há milhares e milhões e bilhões de pessoa que não podem fazê-lo porque estão sendo exploradas e lutando pra sobreviver, e no meio disso tudo, pessoas infelizes mas poderosas, que estão presas na obrigação de explorar as demais, lucrando em cima da necessidade que estas têm de sobreviver. Se nós conseguíssemos partilhar tudo o que inventamos nesses tantos anos e séculos e milênios em que estamos sobre a face da terra, todas e todos poderíamos meditar e procurar a paz. Mas com tanta injustiça e com tanta gente flagelada por isso tudo, eu não conseguiria jamais meditar no interior do meu coração, degustando uma paz de espírito que se cala diante das injustiças concretas e materiais deste mundo.

Já que o mundo não acabou, é hora de a gente acordar, descobrir: (1) em que mundo estamos hoje; (2) o que ele tem do mundo de ontem; e (3) o que podemos fazer com isso pra construir o mundo de amanhã. É óbvio, não estou falando nada de novo. Digo por incapacidade de ficar calado, enquanto o mundo de amanhã ameaça, na esteira do mundo de hoje e do que ele acumula do mundo de ontem, ser ainda pior do que o de ontem e o de hoje. Se alguém de vocês consegue meditar apenas para dentro, parabéns. Eu me recuso. A minha meditação é também para fora, e assim sendo, ela se chama luta, e quer construir transformação. Eu me junto com outras pessoas que, assim como eu, meditam para fora, e a gente tenta juntar mais gente nessa meditação coletiva, pra construir revolução. Se alguém tem alguma dúvida, é normal, porque esse mundo é tão complicado, que mudá-lo não é algo simples de fazer nem de explicar, mas vou tentar contar como essa meditação pra fora pode dar certo:

Hoje existe no mundo muitas relações humanas, e por causa delas, muitos interesses diferentes entre os seres humanos. Destes, dois são inconciliáveis, e como tais, se tornam polos magnéticos em torno dos quais todos os outros gravitam. Um interesse é o de acumular mais poder e mais valor explorando o trabalho de outras pessoas (esse é o interesse de quem não trabalha). O outro interesse (o de quem trabalha), é o de não sofrer mais a exploração. Existe uma coisa chamada ideologia, que visa a manter os que não trabalham interessados em explorar, e a manter os que trabalham sendo explorados. O principal exemplo disso é o que faz alguns explorados que trabalham desejarem que o trabalho deles continue sendo fonte de poder e valor que eles não podem usufruir senão na forma de migalha. Há quem diga que a ideologia não exista, mas basta olharmos para o mundo de hoje, ao nosso redor, e veremos exatamente o que eu falei.

Esses interesses opostos estão em conflito, e quem tem o poder tem a vantagem no conflito, a vantagem que mantém o mundo como está. O outro time (o meu time), quer que essa situação acabe, e alguns de nós reparamos que o único caminho para isso acabar, é acabar com a existência dos times. Por isso os socialistas lutam por uma sociedade sem classes. No meio desse bagulho, existe uma máquina social de manter os explorados obedecendo os exploradores, e o nome dessa máquina é Estado. Há quem ache que revolução é tomar o estado, mas eu acho que revolução é acabar com as classes e com o Estado.

Mas uma coisa importante precisa ser dita: acabar com o estado não é privatizar tudo, como os liberais e neoliberais defendem. Eles defendem isso, mas as empresas deles são salvas com dinheiro do estado toda vez que alguma crise pega eles. E o dinheiro que salva as empresas deles na crise, vem dos trabalhadores que se ferram na crise ainda mais do que já se ferram normalmente.

Por fim, a questão é: como acabar com as classes e com o estado? Como fazer a revolução? A resposta não está pronta, mas já temos muitas idéias, nos unimos, pensamos sobre isso, agimos para construir isso, e já acumulamos muita boa experiência a partir destes pensamentos e destas ações. Inventamos movimentos sociais, inventamos partidos, inventamos teorias, e tudo isso funciona como ferramenta para a revolução. Funciona com problemas, mas estamos precisando de mais pessoas para arrumar os problemas destas ferramentas. Se você puder nos ajudar meditando pra dentro, reze por favor para nossas lutas construirem revolução, para nossos partidos, nossas teorias e nossos movimentos sociais funcionarem cada vez melhor.

Mas se você quiser também meditar para fora, saia de cima do muro, tome partido, lute.

Ou espere o próximo fim do mundo!

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