segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Promessas de fim de ano para engendrar um xeque-mate! (ou Projeto Artifício Socialista 2013)



0 - RETROSPECTIVA 2012 DO BLOG ARTIFÍCIO SOCIALISTA

0.1 - Apesar de a minha primeira postagem aqui ter sido no dia 28 de janeiro, eu considero que tenhamos chegado sim, a doze meses de vida, com essa véspera de ano novo que é o dia 31 de dezembro. O fato de o mundo não ter acabado, e de eu ainda estar tendo o prazer de continuar escrevendo aqui, e tendo este delicioso feedback de vocês, que nos lêem, é uma dádiva, e eu me sinto no direito de fazer uma retrospectiva, até senti muita vontade de fazê-la.

0.2 - Sim, eu gostaria muito de fazer essa retrospectiva 2012 do blog artifício socialista, mas minha preguiça de revisar esse ano todo é maior do que essa vontade. Então me basta encerrar o ano de 2012 neste blog falando um pouco sobre a imagem acima, sobre o que foi escrever este blog durante este ano, e sobre o que espero de 2013, em relação ao blog, mas não apenas.

1 - SOBRE A IMAGEM QUE ILUSRA ESTE TEXTO

1.0 - Achei no facebook, não sei de quem é, não sem se foi feita pra algum contexto especial, e apenas roubei como roubo todas as imagens que ilustram textos neste blog. Um camarada de São Mateus postou no grupo da UFES no facebook.

1.1 - Para pessoas leigas no xadrez, a imagem mostra uma nítida vantagem material das brancas sobre as pretas. Isso quer dizer que com as peças que o velhinho tem, o jogo está na iminência do xeque mate dele sobre o policial, ou seja, de vitória das brancas. Poderíamos até nos ater a uma rasteira análise sobre o que acontece dentro do tabuleiro (rasteira, porque a vantagem é tão grande que o velhinho só teria uma chance de não ganhar rapidamente: errando!), mas o que nos interessa é o que a imagem ilustra.

1.2 - A imagem ilustra que, por mais que tentemos derrotar o capital através das "regras do jogo", as armas do capital sempre reagirão contra nós, quando estivermos vencendo. A imagem é um tapa na cara das teses reformistas ("construir o socialismo por dentro do estado, disputando-o, vencendo, e fazendo a reforma da sociedade até que o capitalismo reformado deixe de ser injusto, deixe de ser capitalista e se torne socialista", "não dá pra construir o socialismo porque o capitalismo é indestrutível, então o que podemos fazer é entrar na máquina, mudar por dentro, e humanizar o capitalismo, tornando-o menos injusto com as nossas contribuições espertas e genialmente traiçoeiras", entre outras variantes igualmente imbecís dessa grande tese da "disputa por dentro das regras do jogo"), que é o reformismo. A imagem ilustra, resumindo, que junto às ações de disputa dentro da regra do jogo, devem estar conjugadas ações prioritárias na disputa fora do universo do tabuleiro. A imagem comete erros, porque em tese, e de fato é verdade, a vantagem matemática no jogo está com as brancas, por terem o primeiro lance, e começarem o jogo um passo na frente das pretas, e o sistema capitalista não só não coloca os trabalhadores um passo à frente do capital, como também não nos coloca apenas um passo atrás, como é o caso da vantagem inicial do xadrez. É como se começássemos com as pretas e sem a dama, pra quem conhece as regras do jogo (pra quem não conhece, a dama ou rainha é a peça mais poderosa do jogo, e se um dos lados a tem e a outra não, a vantagem costuma ser gritante!). Mas apontar esse erro é um preciosismo de enxadrista, ignorem, porque a imagem é muito boa.

1.3 - Outra coisa que a imagem mostra, e talvez seja a sua principal intenção, é o papel do estado, do seu braço militar, da polícia, diante das circunstâncias em que o trabalho surpreende o capital ameaçando vencer. Exemplos simples e rápidos disso, só aqui na América Latina, são o Brasil em 1964, Chile em 1973, Nicarágua durante a década de oitenta.

1.4 - Assim sendo, amadas e amados, no ano de 2013, vamos parar com a porra da peleguice reformista, e entender a importância de mantermo-nos como alternativa de esquerda aos projetos do estado burguês, por favor?

2 - PROMESSA PARA DOIS MIL E TREZE, MUNDIÇA!

2.0 - Diante de tudo o que foi dito acima, ou seja, de um miguezinho de viciado em xadrez para introduzir o verdadeiro assunto da postagem, vamos à lista de promessas!

2.1 - O blog Artifício Socialista, no ano de 2013, vai continuar se posicionando, cada vez mais, como oposição de esquerda ao Governo Dilma e todos os seus aliados, na atual gestão do estado burguês em favor do capital, vai continuar combatendo a direita aliada do petismo e a direita que lhe faz oposição, e vai continuar combatendo a esquerda que está namorando alianças com o petismo e com a direita tradicional, esteja essa esquerda recuada dentro ou fora do PSOL.

2.2 - O blog Artifício Socialista vai continuar buscando a construção de um projeto contra-hegemônico para a psicologia brasileira, latino-americana e internacional, e vai aprofundar essa construção, sobre as bases que foi possível formular ainda de maneira muito incipiente e confusa nesse ano de 2013. Quer ser um núcleo de debates teóricos e práticos sobre a psicologia e seu caráter revolucionário, e espera não ser o único núcleo, portanto pretende incentivar a criação de mais e mais espaços de escrita e leitura daquelas e daqueles que acham que a psicologia deve ser um instrumento de luta. Esse diversismo barato da psicologia só nos enfraquece, e a unidade desta ciência-prifissão-chamecomoquiseressaporra só pode se dar em torno das psicologias verdadeiramente críticas e revolucionárias, ou seja, anti-capitalistas.

2.3 - O blog Artificio Socialista insistirá, em 2013, no combate às opressões (que não são todas invenções do capitalismo, mas que se converteram, todas elas, em armas do capital para sua expansão e para deter nossa luta, e cujo combate pode, cada vez mais, se unificar a um combate ao capital). Ou seja, as diversas lutas contra as opressões continuarão tendo, para este humilde blog que vos escreve, caráter revolucionário!

2.3.1 - Aqui continuará sendo um porto seguro para a luta feminista, e a produção deste blog continuará atenta, buscando aprender com tudo o que o feminismo produz. Inclusive, continuaremos levando adiante a bandeira do Amor Livre, afinal faz parte do princípio fundante deste fanzine virtual a injunção dialética "Ao Prazer Lutador e à Luta Prazerosa!". A luta contra a possessividade nas relações amorosas, lição que o feminismo deu a este blog, continuará sendo um dos carros-chefe de nossas formulações, mas não deixaremos de combater toda e qualquer outra forma de apropriação do corpo da mulher por parte dos homens, direta ou indiretamente.

2.3.2 - Abriremos uma frente ainda mais enfática de luta pela compreensão do ser humano como ser diferente mas igualmente humano, e aumentaremos (isso mesmo, podem cobrar depois!), AUMENTAREMOS nossa formulação acerca do debate antirracista, de negritude, desde as cotas raciais até as ações extrajudiciais da polícia, passando pela formação da identidade diante do racismo contra a população de pele preta.

2.3.3 - Seremos em 2013 um dos maiores, se não o maior (ambicioso, cobrem também!) veículo de comunicação virtual sobre a Luta Antimanicomial, apontando seu caráter revolucionário e comunitário. Com isso, traremos também as demais lutas em defesa de um SUS 100% público, mas também contra toda e qualquer forma de manicomialidade, defendendo o direito ao enlouquecimento e à drogadicção, acompanhado do direito à devida assistência necessária diante dos sofrimentos que esse enlouquecimento e essa drogadicção possam trazer, seja à saúde, seja em qualquer outro campo. A perspectiva da autonomia é não tutelar a loucura nem criminalizar o uso de drogas, dando a ambos a responsabilidade que lhe é devida, porém sem silenciamento nem perseguição. O antiproibicionismo e a luta por serviços substitutivos, contra o comércio da saúde encampado pela psiquiatria conservadora, serão uma das principais frentes de formulação deste blog em 2013.

2.3.4 - Traremos aqui outros debates como o fim dos ataques diretos ou indiretos à população LGBT, os absurdos da falta de acessibilidade a pessoas com todo e qualquer tipo de deficiência, a questão da mobilidade urbana, do transporte coletivo e do direito à cidade. Esperamos que outras discussões sejam trazidas para que possamos tecer neste blog, isso aqui não se constrói na mera solidão.

2.4 - O blog Artifício Socialista promete: a luta do Movimento Estudantil, a luta dos movimentos sociais que se erguem pela educação que forma para a emancipação, continuará sendo uma de suas grandes tarefas. O movimento estudantil comprometido com tudo o que está acima prometido, terá neste blog seu lar e seu quartel general. A universidade que temos hoje será irritantemente posta em questão, e a universidade que queremos será irresponsavelmente lapidada, planejada, desejada, formulada e registrada aqui. Seremos uma voz das lutas que o movimento estudantil toma para si, não só acerca da educação, mas acima de todas as outras que coloquei nas outras promessas, e de muitas lutas que esqueci ou omiti. Enfrentaremos sempre as perspectivas de organização revolucionária que colocam o movimento estudantil abaixo de seu papel, e com isso não pretendemos endeusar o ME, pretendemos apenas denunciar o erro que muitas vezes é cometido por camaradas que, ao diminuir o ME, e fazer uso dessa diminuição em favor de suas compreensões teorico-práticas de luta, acabam por enfraquecer o conjunto da esquerda socialista combativa. Aqui, no blog Artifício Socialista, esteve, está e em 2013 certamente ainda estará presente o Movimento Estudantil!

2.5 - O blog Artifício socialista continuará sendo um espaço artístico, e continuará sendo um espaço da arte. A revolução estética e cultural que precisamos viver e aprofundar, ainda está muito incipiente, e a criação deste blog é causada pela minha constatação dessa incipiência. Ainda há muito a fazer, e é por isso que estou aqui, nesta noite de segunda, último dia do ano, prometendo que no ano que vem, tudo isso continuará.

2.6 - Por fim, esse blog é o lugar do amor. Mas isso ainda precisa ser desvendado.

3 - CONCLUSÃO

Foi um prazer viver essa experiência, passar por tudo o que eu passei com este blog até aqui, e que eu comentaria se tivesse feito a retrospectiva que não fiz. Esse blog me ajudou em momentos muito difíceis e ilustrou muitos bons momentos. Eu espero continuar tendo os segundos e força pra encarar os primeiros. As mudanças virão, nem as prometo porque tenho certeza delas. Como serão, não sei, mas serão com muita luta, com muito aprendizado, e com muita amizade, porque a luta, o aprendizado e a amizade são os três pilares que me fizeram chegar até aqui com este blog. Portanto eu não poderia concluir o último texto de 2013 agradecendo a cada uma e cada um de vocês, que acompanham o blog, ou que o lêem ocasionalmente. Eu não sou o autor, eu sou o sistematizador, tudo isso aqui é obra de vocês. Obrigado demais por tudo. Fim de ano é besteira, mas é um bom motivo pra fazer esse agradecimento. Amanhã o mundo estará imerso na mesma ordem social injusta de hoje. E amanhã, você e eu e o blog Artifício Socialista continuaremos dizendo não a tudo isso, e conspirando desordens!

Ao prazer lutador, e à luta prazerosa!

beijinhos de maracujá!

Não quero amores!



Em 2013, não quero amores. Quer dizer, não esses amores de filme, quero amores sim, mas nada que se pareça com Jack e Rose. Em 2013 não quero romances, paixões, rostinhos colados na dança, nada que se pareça com Chimbinha e Joelma. Espero amizades, gente de todo tipo, parcerias inexplicáveis, e sem explicações para elas, por favor. Espero conhecer gente nova, ir por todo tipo de canto, compor em parceria, ler novos blogs, travar boas lutas com gente nova ao meu lado. Mas nada daqueles amores "que podem estragar amizades".

Nada de sentimentos que me façam tolerar conservadorismos. 2013 não é tempo deste amor de novela. 2013 é tempo de outro amor. De um amor nutrido pela luta, e que a nutre. Um amor por toda a humanidade, vontade de seguir em frente e de fazer o chão de cristal se converter em outro solo, firme para que nossos pés possam pisar... Não quero me ver vacilando diante de sentimentos fúteis. Quero o mais sublime amor, que é o amor revolucionário...

Aos que querem amar o amor clichê, que consigam! E espero que me desejem distância desse amor que vocês buscam. Ele é viciante, ele me consome, ele me tira do sério, ele é uma droga que eu não quero mais usar. Prefiro a abstinência!

beijinhos de maracujá!

sábado, 29 de dezembro de 2012

Sou sua ceia!



(para ser cantada pelo Erasmo Carlos!)

Vem
Visitar meu edredon,
Vem
Descobrir o que é bom,
Vem
Rir de alegria e de amor,
Vem
Descobrir como é que eu sou...

Vem logo, besta,
Mata essa curiosidade,
Não sou do tipo
Que pede exclusividade,
Não sou coleira,
Nem te quero qual cadela...
Se é seu desejo
Me aproveita, a vida é bela...

Vem logo, boba,
Que eu tô bobo por você,
Se joga logo,
Tu vai te surpreender!
Degusta um pouco
Se gostar, tu pede bis,
Perde esse medo
De ir com fome e ser feliz!


Vem
Visitar meu edredon,
Vem
Descobrir o que é bom,
Vem
Rir de alegria e de amor,
Vem
Descobrir como é que eu sou...


beijinhos de maracujá!

Manicomialidade versus Organização popular revolucionária: uma batalha sangrenta!


Eu não costumo falar muito sobre lutas aqui no blog, não sou do tipo que curte muito o MMA, sei do Anderson Silva por causa do clipe da Marisa Monte, mas hoje eu decidi encarar o clima de coluna de esportes, e vou falar um pouco sobre essa que promete ser uma grande luta. Vou falar um pouco sobre cada uma das lutadoras, e depois comento sobre o que nos aguarda neste grande combate.

MANICOMIALIDADE

Ela é uma verdadeira máquina de guerra! Uma espécie de Golias, cruel e sanguinolenta, gosta de esmagar as cabeças de suas adversárias e de seus adversários. Sozinho, ninguém pode contra ela, a cabeça de um ser humano cabe em sua mão, e ela gosta de socá-las contra o chão como se fosse um coco cujo recheio só se alcança depois de quebrá-lo. O seu modus-operandi é muito simples: classificar as pessoas como anormais, graças à diversidade de seu modo de funcionamento, e nomear essa anormalidade como "doença mental". A partir disso, domina-se o corpo da pessoa "doente" sob o argumento de que este controle é necessário para a cura, e também sob o de que uma pessoa mentalmente doente não tem condições de definir seu próprio destino. Com isso este corpo se torna fonte de lucros, pelas mais diversas vias, que vão desde a comercialização de remédios em grande escala, até o recolhimento de fortunas através de manicômios lotados e desumanos. A manicomialidade é uma forma de fazer dinheiro sobre preconceito, e nada tem a ver com saúde. Também é uma forma excelente de calar vozes destoantes, e não é à tôa que o reitor Rodas, da Universidade de São Paulo, buscou firmar convênio com clínica particular para atender à comunidade universitária que esteja sofrendo de transfornos mentais e vício em drogas. A manicomialidade facilmente esmaga a cabeça de quaisquer estudantes, docentes e técnico-administrativos que ousem ser voz destoantes dentro do império uspiano, não é difícil argumentar que um manifestante é um doente mental, e portanto deve ser, para seu próprio bem, compulsoriamente internado.

Na lógica individualista de sociedade em que vivemos, e ainda mais com as dificuldades que as famílias vivem para atender financeiramente aos desejos que lhes são provocados todo dia pela publicidade, não é de se espantar que as famílias queiram se livrar das doenças, e que se interne doentes mentais. Mas nem sempre é assim, e muitas internações são tentativas de cuidar da saúde do paciente. A manicomialidade faz parte de uma lógica maior de saúde, em que a causa da doença é BIO-médica, ou no máximo, biopsicossocial (onde o social é apenas mais um dos vários fatores genéricos e abstratos), uma lógica em que um lado é paciente, e o outro lado é agente da saúde do paciente. Lógica em que, de preferência, o médico é o agente e os demais profissionais de saúde devem auxiliá-lo em sua missão superior de cura. Nessa lógica, uma pessoa doente é paciente, é passiva, não tem voz sobre o destino de seu próprio corpo, de seu próprio tratamento, quem manda são os profissionais de saúde, em especial o médico. A manicomialidade, não à toa, ficou identificada com a psiquiatria, e existe uma psiquiatria conservadora, que de fato é manicomial.

O seu nome vem justamente dos já citados manicômios, que são casas de horror, feitas para trancafiar os loucos, cujos corpos estão inadequados ao mercado de trabalho, e transformá-los em dinheiro de alguma forma, ou calá-los quando suas vocês são inconvenientes. Com o tempo o manicômio começou a inventar que era um hospital, e claro que o nome dele tinha que reivindicar a autoridade de uma especialidade médica, aí ele virou "hospital psiquiátrico". Ganhou uma inimiga chamada Luta Antimanicomial, que às vezes dorme no ponto e luta contra os manicômios, como se a queda das paredes de um manicômio fosse derrotar a manicomialidade. A manicomialidade é um valor social, é um sentimento que é colocado no peito de cada um de nós desde o nascimento, convencendo a uns de que devem temer ou controlar os loucos e drogados (ou temer e controlar ao mesmo tempo!), e convencendo a outros de que são inferiores por ser loucos ou drogados, e que como doentes mentais que são, devem se deixar controlar, abrir mão da posse de seus corpos. Quando a Luta Antimanicomial está esperta, ela enfrenta a Manicomialidade, e não se restringe apenas ao nível da desconstrução civil (luta contra os manicômios, contra os prédios, contra as paredes). A Luta Antimanicomial quer que os manicômios acabem, que sejam substituídos por "serviços substitutivos", formas de atendimento à saúde das pessoas que, de fato cuidem da saúde, sem aprisionar. Mas é preciso lutar para que fora dos muros dos manicômios, seja nos serviços substitutivos, seja na cidade e na sociedade, não haja manicomialidade.

É uma grande luta, e a Manicomialidade não tem facilidade em esmagar a cabeça da Luta Antimanicomial, mas ela tenta. E com a cooptação de militâncias antimanicomiais por parte do governo petista (considerando que o PT outrora já foi um partido que combateu a manicomialidade, e que hoje no poder finge jogar dos dois lados pra conseguir favorecer os interesses econômicos dos empresários da psiquiatria conservadora, das comunidades terapêuticas e do proibicionismo), a Luta Antimanicomial às vezes se acomoda na "luta de gabinete", nos enfrentamentos meramente burocráticos e institucionais, que uma vez ou outra até incomodam à Manicomialidade, mas no geral a fazem rir.

E é justamente pra ajudar a Luta Antimanicomial, minha grande amiga, minha grande companheira, minha grande amada, nesta sua luta sangrenta, que eu apresento uma parceira que pode ser a arma de guerra à altura, que a Luta Antimanicomial precisa pra derrotar a Manicomialidade!

ORGANIZAÇÃO POPULAR REVOLUCIONÁRIA

Se a Burocratização da Luta Antimanicomial é a Kriptonita que a enfraquece, o seu antídoto está aqui: os ricos dizem que ela é feia, que ela é baderna, que ela é uma monstra, mas ela é na verdade uma linda guerreira, quase uma Xena das causas sociais. É difícil entender de onde vem tanto poder, mesmo porque existem muitas sósias dela por aí, que lhe tiram todo o crédito! Mas quem já a viu lutando fala que não tem nada igual no mundo das lutas, e eu acho que só ela pode trazer a vitória para o nosso time, para o time da Luta Antimanicomial. Vamos entender o mecanismo das suas estratégias de luta:

A Organização Popular Revolucionária é, em primeiro lugar, uma organização, e isso é um resgate do que a Luta Antimanicomial já tem em si, durante toda a sua história. É gente se organizando pra desorganizar a manicomialidade, porque um preconceito que mantém interesses economico-políticos tão poderosos só pode ser derrotado se as pessoas se juntam, se suas diferentes experiências de vida são analisadas de maneira organizada, e se as forças de cada pessoa são organizadamente unidas, pra terem o poder de enfrentar a esmagadora de cabeças.

Em segundo lugar, ela é popular. Porque a manicomialidade atinge gente de todas as classes sociais, mas é muito mais fácil resolver os problemas dela quando você tem dinheiro. O problema é que a grande maioria das pessoas que a manicomialidade quer decapitar, são pobres, vivem em periferias, não têm condição de pagar pela assistência que lhes é negada, e mesmo as pessoas ricas cujas cabeças a manicomialidade aperta,  ela aperta mais não esmaga... Se não ficou claro, a Manicomialidade é amiga dos ricos, e os ajuda a ficar ainda mais ricos, então sua inimiga precisa ser popular. A organização popular é aquela que ajuda às pessoas que a ordem vigente desorganiza, e que é feita por essas pessoas. A ordem capitalista quer o povo desorganizado, então se o povo encontra formas de se organizar, pode começar a ter forças para enfrentar essa ordem. Se a ordem capitalista é manicomial, se essa ordem faz com que vários indivíduos sofram nos seus cotidianos as exclusões e os problemas causados pela manicomialidade, a Luta Antimanicomial precisa dialogar com cada uma dessas experiências, traduzir suas contradições pra que todos esses indivíduos falem a mesma língua, e se reconheçam como um só e mesmo grupo, como uma só e mesma voz, que se reconheçam como povo, que pode lutar contra os interesses manicomiais elitistas, e por interesses antimanicomiais populares. No cotidiano dos bairros, das comunidades, das famílias e ruas, dos lares, no cotidiano dos serviços de saúde, dos CAPS, das residências terapêuticas, das escolas e praças, as diversas experiências populares vão se unificando e se organizando, a partir das diferenças e das igualdades, para lutar pelo direito de ser diferente, sem ser calado, trancafiado, excluído, desumanizado. Precisa ser uma organização popular, por entender que algo unifica os loucos e drogados com suas famílias, com os profissionais de saúde mental e com os estudantes que também se apaixonam por esta luta: o que nos unifica é a luta contra o caráter elitista da manicomialidade, que coloca acima do povo os interesses econômicos e de poder.

E diante disso, nossa guerreira é, em terceiro lugar, revolucionária. Ela é revolucionária em seu horizonte, em sua perspectiva, porque é impossível que a Luta Antimanicomial faça uma revolução dentro da saúde mental, sem que se acabe com o capitalismo. E é justamente por isso que a Luta Antimanicomial deve ser revolucionária, e não meramente reformista. Me explico: a manicomialidade é uma peça do quebra-cabeça capitalista que não pode ser substituída por uma peça antimanicomial, o próprio sistema tratará de fazer a nova peça funcionar dentro da lógica maior do sistema. Não tem como acabar com a máquina capitalista quebrando uma ou outra de suas engrenagens, é preciso romper de uma vez com o sistema. Lutas reformistas são inevitáveis, quando acompanhadas da luta por revolução e pelo fim do capitalismo, mas enquanto a Luta Antimanicomial priorizar uma "sociedade sem manicômios" que seja um capitalismo reformado, um capitalismo sem manicômios, o capitalismo continuará rindo da cara da Luta Antimanicomial, assim como o noivo que promete o casamento para a noiva ingênua, dizendo que ama pra levá-la pra cama. Quando a Luta Antimanicomial aceita o funcionamento burocrático, e se restringe a disputar por dentro do estado o fim dos manicômios e da manicomialidade, está agindo como se a virgindade fosse uma moeda de troca, ou algo do tipo. Acredite, Luta Antimanicomial, o Capitalismo não te ama, ele só quer te comer. A organização popular da Luta Antimanicomial PRECISA ser revolucionária, para que ela possa fazer frente a esse sistema de exploração e exclusão em que vivemos.

Com isso, quero dizer que as contradições individuais, do cotidiano de cada pessoa que a Manicomialidade tortura, têm a ver com um só e mesmo sistema, e que esse sistema e essa tortura só podem cair se cada uma dessas pessoas se juntarem, se debaterem os problemas de seus bairros, se lutarem por democracia na gestão do SUS, por mais verba para os serviços públicos de saúde, pela criação de mais serviços substitutivos, mais vagas e leitos com atendimento digno, melhores salários e condições de trabalho para os profissionais de saúde, formação de qualidade nas universidades, voltada para o pensamento crítico e não para a aceitação passiva, por escuta séria à vos dos usuários nos serviços de saúde, para que eles não sejam mais pacientes, e sim agentes de seu atendimento, por espaços de trabalho e estudo para os ditos loucos e drogados, por assistência farmacêutica digna, sem a influência das empresas oportunistas dos remédios, por legalização das drogas (não para incentivar mais uso, mas para que os usuários não se sintam criminosos, e possam buscar atendimento nos serviços de saúde, quando necessário), pelo fim do lucro sobre a venda das drogas lícitas e ilícitas (desde a maconha e o crack até o cigarro, a cerveja e os remédios, já que tudo isso pode ser produzido por empresas estatais, sem lucro e sem publicidade, sem incentivo ao consumo, para atender aos usuários, e com a verba da venda revertida para custear o atendimento no SUS), por espaços de lazer e de cultura nas comunidades, para que as pessoas adoeçam menos da mente, e para que a loucura e o uso de drogas sejam cada vez menos problemas, e cada vez mais características e escolhas de cidadãs e cidadãos livres, em uma sociedade sem manicômios e sem exploração.

São muitas as bandeiras de luta, e a luta também precisa ser muita, mas ou a gente sai dos gabinetes e da burocracia e faz a Luta Antimanicomial ser uma Organização Popular Revolucionária, ou continuaremos caminhando para a barbárie que esmaga as nossas cabeças, através da Manicomialidade, do Racismo, da Homofobia, do Machismo e de tantos outros braços e tentáculos desse grande inimigo que se chama Capital!

Toda luta antimanicomial deve ser anticapitalisma e toda luta anticapitalista deve ser antimanicomial! Quem é que vem conosco pra essa luta?

beijinhos de maracujá!


Ex-amor (ou Não te reconheço mais)



Eu te amava, e te achava incrível! Te admirava como admirei a poucas pessoas no mundo. Te admirava como admirei apenas às pessoas que eu já amei. Todas as vezes que eu queria inventar algo diferente dessa atualidade desconcertante, em que a liberdade precisa ser reinventada a toda hora e disputada com garras afiadas, na luta contra o cotidiano que nos quer prender e devorar, eu queria inventar essa liberdade plena pra mim, pra tudo mundo, mas pra algumas pessoas em especial, e entre elas pra você. Porque eu te amei um dia, e de certa forma, continuava amando um pouquinho, como a gente sempre continua amando um pouquinho às pessoas que a gente já amou, mas continua admirando. Você fez parte da minha história, se nós não tivéssemos passado um dia pela vida um do outro, eu não estaria aqui, e tem certas músicas que quando eu ouço, me lembram você, e quando eu as escutava, eu lembrava de você como aquela menina incrível, que eu admirei, que me inspirou, que me acompanhou em um momento inesquecível da minha vida. Eu tinha uma lembrança sensacional de você.

Mas você está mudada, ou eu te conheci mal. Hoje você quer poder, e pisa nas pessoas pra crescer, o que faz com que eu não consiga de amar. Mas sofro com isso, porque você parece ser, quando eu olho, aquela pessoa que eu amei, e de certa forma ainda amo, e apesar disso, é alguém que eu de jeito nenhum amaria. O que aconteceu contigo?

Eu não consigo ter amor, minha cara, por alguém que aceita ser engrenagem dessa ordem que eu odeio. Meus amores são, impreterivelmente, engrenagens da desordem que se chama liberdade. Não quero nenhum tipo de amor que seja conivente com a prisão, nenhum tipo de amor cúmplice dessa barbárie na qual estamos nos sufocando. Por isso, minha cara, não consigo mais te amar.

Continuo procurando amores livres, e isso não se restringe à liberdade no amor, um coração comunista também busca o amor na liberdade. E até meus ex-amores, que tanto me ensinaram, se não são hoje marcos de uma sede por revolução, se se transformaram em vontade de crescer fazendo os outros de degraus, se no presente são apenas estandartes do individualismo, então só cabem na memória como saudoso passado, cujo presente eu faço questão de lamentar. E quanto a você, só tenho uma coisa a dizer: que bom que eu tenho outros amores para lembrar com saudades.

beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Uma oração ignorável


Deus,

Não é religiosamente que faço esta oração. Não estou orando para você, porque não te vejo como um tipo de humanóide superpoderoso que possa estar do outro lado de uma linha telefônica, ou lendo um blog. Não acho que você seja uma consciência superior, consciência é coisa de ser humano. Estou orando sem religiosidade, porque não acredito em possibilidade de eu estar desligado de você, pra precisar de uma re-ligação religiosa: sei que sou parte de você e você parte de mim. Como se eu fosse uma gota e você fosse o mar, e mesmo que eu evapore, não estou desligado de você. Estou orando racionalmente, muito racionalmente. E performaticamente, orando para ser lido. Estou orando para quem pode estar do outro lado: orando para que seres humanos me leiam.

Como orar é pedir favores, pedir perdões e agradecer pelos favores e perdões concedidos, gostaria de te pedir, Deus, que me dê força para a luta contra essa ordem cruel em que vivemos, e que dê inspiração a mais pessoas, para que mais e mais pessoas entrem na luta contra esta ordem. Gostaria de pedir olhos atentos e abertos, pra entender essa ordem, e entender cada uma de suas brechas, quero poder abrir buracos nela. Para minhas companheiras e meus companheiros de luta, assim como pra mim, peço o discernimento de mediar as nossas contradições e produzir sínteses na luta. Assim sendo, me ajude a ceder naquilo em que me equivoco, e assim também as demais pessoas, para que possamos construir um projeto alternativo de sociedade que derrube esta ordem. Peço também que acabe com essa hegemonia maldita do individualismo neoliberal e do irracionalismo pós-moderno, pra que a gente consiga fazer críticas de verdade, e não apenas essas pseudo-críticas que ajudam a calar as lutas e defendem a ordem cruel. Gostaria de pedir amor, para que eu consiga respeitar minhas compnheiras e meus companheiros, sem praticar opressões e sem aceitá-las, lutando contra elas. Nos ajude, Deus, a acabar com o racismo, com o falso amor possessivo, com o machismo, com os preconceitos fascistas, com a homofobia, e assim construir o respeito à diferença que é indispensável para que exista igualdade.

Gostaria de pedir perdão pela minha desorganização, pelas vezes em que sou incompetente e pelas vezes que sou descuidado. Gostaria de pedir perdão pela minha ineficiência em lidar com seres humanos, e pelos momentos em que, graças a essa ineficiência, machuco as pessoas. Me perdoa, por favor, pelos momentos em que eu deveria bater e não bati. Perdão pela passividade, perdão pela submissão. Me ajuda a não ser mais assim. Perdão por ser tão prolixo, e por não saber a hora certa de ficar na minha. Perdão pela desatenção. Por fim, perdão por não apreciar mais a natureza. Me inspire a fazê-lo, por favor.

E gostaria de agradecer pelo corpo que tenho, pelo mundo que tenho a transformar, pelas companhias que tenho na luta, pela história que tenho comigo, pra levar adiante, e pelas alegrias e tristezas que pude ter até aqui, e que me dão condições de criar novas alegrias e novas tristezas.

"C'est le temps des grandes métamorphoses".

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Doutor Noel, Psicólogo



Papai noel passou por aqui... A gente bateu um papo sobre bons e maus comportamentos.

Mas antes, só desfazer alguns mitos... Ele nem tem barba, nem trenó, nem gorrinho... Usa uma roupa engraçada, tipo entregador do Ponto Frio. Ele pediu pra chamar ele de Noel, inclusive. Disse que não é meu pai, e que nem tem filho, e não sabe porque essa palhaçada de todo mundo ficar chamando ele de Papai. "Papai! Papai! Papai meu cu!!!", disse ele.

Ele veio dizendo que meu presente não estava com ele, e que a galera lá da empresa que ele trabalha estava avaliando o meu caso. Ele me explicou como funciona o esquema dos pedidos e eu fiquei bolado. Não é essa babaquice de cartinha, que todo mundo fala! Papai noel tem mais o que fazer, do que ficar lendo cartinha e conferindo a caixa de correios dele.

Ele disse que eles têm um sistema de computadores super velozes, conectados com o vitral do céu, aí de vez em quando eles mandam umas estrelas cadentes, pra gente fazer pedido. Aí eles avaliam estatísticamente a média dos pedidos feitos durante o ano, e escolhem o que presentear baseado em critérios científicos. Daí ficaram em dúvida se me dariam o violão ou o menage.

Daí ele explicou a segunda etapa do processo, que é pra decidir se a pessoa merece ou não o prêmio. Ele falou que não é uma questão de castigo, é que nem emprego: na crise não tem presente pra todo mundo, aí tem que selecionar quem vai ganhar e quem não vai. Como violão e menage são coisas muito pedidas, em qualquer dos dois casos eu teria que disputar a vaga com outros concorrentes, mas ele disse que a concorrência pro menage é maior. Fiquei surpreso. Daí ele disse que o processo seletivo não seria meramente quantitativo, que na verdade uma avaliação psicológica não consiste apenas no resultado dos testes, mas no parecer de um profissional qualificado. Neste caso, ele. Me aplicou uma bateria de testes de inteligência, de personalidade e de atenção. Depois abriu o meu prontuário e leu minha retrospectiva de 2012. Essa foi a parte mais interessante, porque ele permitiu que eu comentasse cada episódio e refutasse cada comentário dele. Eles classificaram meus momentos em 2012 em grandes categorias, que por sua vez tinham algumas subcategorias (nem todas). Eu não lembro nem as categorias todas de cor, mas tinha algumas tipo: "uso de drogas", "vida amorosa", "carreira acadêmica", "atuação política", "administração financeira", "produção artística", "interações sociais"... Acho que tinha mais umas três ou quatro. Acho que baseado na bateria de testes e nesta intervenção clínica, ele vai fazer um parecer pro setor de gestão de pessoas, digo, de presentes da empresa, pra eles decidirem se me darão o presente ou não.

Eu dei doce de jaca pra ele. Ele elogiou os dotes culinários da minha mãe, e depois nos despedimos!

Acho que o menage eu não ganho não, mas o violão eu tenho chance!

beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Viajaram e largaram o cachorro sozinho (ou Assovio e iniciativa)



Eu sou um cachorrinho que você assovia e eu vou atrás! Não importa o que aconteça, você assovia e eu vou! E todo mundo fica só assoviando, esperando que eu corra! Eu penso em assoviar pra ver se alguém vem, mas toda vez que eu assovio, as pessoas no máximo assoviam de volta... Acho que pensam o seguinte: "já que ele assoviou, talvez se eu assoviar, ele venha". É mais cômodo assoviar, e acho que vocês têm o direito a essa comodidade. Mas e eu?

Uma das coisas que mais me incomoda no funcionamento machista da sociedade (não no sentido de uma solidariedade com as mulheres pela opressão sofrida por elas, mas no sentido mesmo de me sentir oprimido pelo machismo, neste caso), é que nos educaram, geração após geração, para que as mulheres insinuem e os homens tomem iniciativa. Eu gostaria de poder insinuar e receber a iniciativa de uma mulher, acho isso tão bonito. Mas ou eu respondo ao assovio e vou, ou não rola nada entre a gente. O destino dos homens que insinuam é a solidão.

O que me faz pensar no meu funcionamento. Eu sinto vontade de gritar e não grito, com medo de incomodar a vizinhança. Quando eu tinha um violão, ainda escapava muita angústia ali, mas desde que me roubaram ele, eu só sinto um desespero maior no peito. O acesso regular e confortável à internet ainda me dá condições de escrever aqui neste blog, e muita angústia vira escrito também, mas eu tô com um acesso zoado à internet, e eis que se acumula mais esse bagulho no peito! Esses dias escrevi aqui sobre isso! A (?)! Inplacável sensação de vazio no peito, ou algo parecido com isso!

Mas os cachorrinhos priorizam o assovio de seus donos, e eu já disse há meses aqui que descobri que precisava ficar mais felino. Então, vou seguir a trilha hedonista dos assovios, e ver se acho gente felina ou canina, mas que venha quando eu assovie.

Ou será que sou eu que não sei assoviar?

beijinhos de maracujá!


Doutor Almeida, fonoaudiólogo



Esses dias esbarrei contigo num ponto de ônibus, meu coração disparou. Se por um lado, rezo pra te encontrar a todo momento, em todo e qualquer lugar, por outro lado, rezo o tempo inteiro pra nunca te encontrar, devido à forma como meu coração acelera perigosamente. Tem gente que morre com essas coisas de coração, você me põe risco de vida! Além disso, eu fico querendo olhar na sua direção o tempo todo, se sei que você está no recinto. Mas acaba que você só aparece quando eu não estou rezando, quando eu estou distraído e não estou pensando em você. Só de lembrar, já dói o peito! Palma da mão suada, gagueira. Sabia que a primeira vez que a gente conversou, eu gaguejei sem parar? Como era a primeira vez que tínhamos uma oportunidade como aquela, conversar pessoalmente num banquinho de praça, eu imagino que você nem tenha percebido que aquele não era o meu normal, e deve ter pensado "ih! o menino é gaguinho!". Mas não, era paixão mesmo! Das brabas, como diria meu finado e sábio avô! Gaguejava e tentava não falar besteira, e de perto você é tão mais bonita. Eu queria ficar te olhando o dia inteiro, sua cara de séria, seu ar esnobe com o mundo, seus olhinhos tímidos, seu sorriso iluminado, sua voz teimosa. Se eu pudesse, todo dia eu encontrava contigo por acidente, num ponto de ônibus, e te convidava pra bater papo comigo, numa praça qualquer...

Mas como eu dizia, dia desses esbarrei contigo num ponto de ônibus, e meu coração disparou! Depois (me certifiquei que você não percebesse) fiquei olhando de longe, guardando cada segundo da sua visão na memória da minha retina. Acho mesmo que retina tem memória, e comigo funciona! Fiquei tanto tempo contigo aqui guardada, depois que embarquei. Por mim, eu esbarrava contigo todo dia. De vez em quando eu sinto vontade de te ligar. Esses dias fiz isso, liguei sem motivo e falei que liguei só pra dizer oi. Me achei meio idiota e gaguejei, não sei se você se lembra. Acho que preciso fazer isso mais vezes: ser sincero, eu não tenho nada pra dizer, só quero escutar a tua voz. Não tem gente que gosta de ouvir a gargalhada dos outros? Pois neste caso, eu gosto de gaguejar. O Noel Rosa fez uma música sobre isso, ou quase sobre isso. O nome dela pelo menos me descreve muito bem.

Qualquer dia desses eu te ligo, nem que eu finja que errei o número, e pergunte se neste número eu consigo falar com o doutor Almeida, e depois diga, desculpa, foi engano, ah! é você quem tá falando!, igual quando a gente "esbarra por acidente" de propósito com alguém, em algum lugar que a gente finge que não sabia que esbarraria com a pessoa. Por telefone isso é mais difícil, a estratégia é fingir que ligou errado e não deixar terminar fácil com um "ah! foi engano, desculpa, tchau!". Isso equivaleria a encontrar alguém no ponto de ônibus e apenas acenar com a cabeça e um sorriso, ao invés de "faz tempo que a gente não se fala, vamos ali naquela pracinha, pra eu escutar sua voz bonita um pouco e você me escutar gaguejar um pouco".

Mas então, eu tô fazendo tantos planos de acidentes, e rezando tanto pra te encontrar por acidente, que às vezes eu rezo pra você passar coincidentemente num daqueles lugares que você tem certeza de que vai me achar. Então caso não queira falar com o doutor Almeida, o número dele não é 97383966.

beijinhos de maracujá!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Meditar pra fora



Esse foi o meu terceiro fim de mundo, quantos mais vocês estão esperando? Se não ficou claro, me explicarei melhor:

Eu não tenho nada a lhes dizer. Digo por incapacidade de ficar calado.

O ideal seria que eu fizesse silêncio, e que todo mundo o fizesse, e que ficássemos todas e todos em silêncio contemplando nosso interior, em meditação. E eu posso até fazê-lo, seria muito prazeroso pra mim, encontrar essa paz. Mas enquanto isso, há milhares e milhões e bilhões de pessoa que não podem fazê-lo porque estão sendo exploradas e lutando pra sobreviver, e no meio disso tudo, pessoas infelizes mas poderosas, que estão presas na obrigação de explorar as demais, lucrando em cima da necessidade que estas têm de sobreviver. Se nós conseguíssemos partilhar tudo o que inventamos nesses tantos anos e séculos e milênios em que estamos sobre a face da terra, todas e todos poderíamos meditar e procurar a paz. Mas com tanta injustiça e com tanta gente flagelada por isso tudo, eu não conseguiria jamais meditar no interior do meu coração, degustando uma paz de espírito que se cala diante das injustiças concretas e materiais deste mundo.

Já que o mundo não acabou, é hora de a gente acordar, descobrir: (1) em que mundo estamos hoje; (2) o que ele tem do mundo de ontem; e (3) o que podemos fazer com isso pra construir o mundo de amanhã. É óbvio, não estou falando nada de novo. Digo por incapacidade de ficar calado, enquanto o mundo de amanhã ameaça, na esteira do mundo de hoje e do que ele acumula do mundo de ontem, ser ainda pior do que o de ontem e o de hoje. Se alguém de vocês consegue meditar apenas para dentro, parabéns. Eu me recuso. A minha meditação é também para fora, e assim sendo, ela se chama luta, e quer construir transformação. Eu me junto com outras pessoas que, assim como eu, meditam para fora, e a gente tenta juntar mais gente nessa meditação coletiva, pra construir revolução. Se alguém tem alguma dúvida, é normal, porque esse mundo é tão complicado, que mudá-lo não é algo simples de fazer nem de explicar, mas vou tentar contar como essa meditação pra fora pode dar certo:

Hoje existe no mundo muitas relações humanas, e por causa delas, muitos interesses diferentes entre os seres humanos. Destes, dois são inconciliáveis, e como tais, se tornam polos magnéticos em torno dos quais todos os outros gravitam. Um interesse é o de acumular mais poder e mais valor explorando o trabalho de outras pessoas (esse é o interesse de quem não trabalha). O outro interesse (o de quem trabalha), é o de não sofrer mais a exploração. Existe uma coisa chamada ideologia, que visa a manter os que não trabalham interessados em explorar, e a manter os que trabalham sendo explorados. O principal exemplo disso é o que faz alguns explorados que trabalham desejarem que o trabalho deles continue sendo fonte de poder e valor que eles não podem usufruir senão na forma de migalha. Há quem diga que a ideologia não exista, mas basta olharmos para o mundo de hoje, ao nosso redor, e veremos exatamente o que eu falei.

Esses interesses opostos estão em conflito, e quem tem o poder tem a vantagem no conflito, a vantagem que mantém o mundo como está. O outro time (o meu time), quer que essa situação acabe, e alguns de nós reparamos que o único caminho para isso acabar, é acabar com a existência dos times. Por isso os socialistas lutam por uma sociedade sem classes. No meio desse bagulho, existe uma máquina social de manter os explorados obedecendo os exploradores, e o nome dessa máquina é Estado. Há quem ache que revolução é tomar o estado, mas eu acho que revolução é acabar com as classes e com o Estado.

Mas uma coisa importante precisa ser dita: acabar com o estado não é privatizar tudo, como os liberais e neoliberais defendem. Eles defendem isso, mas as empresas deles são salvas com dinheiro do estado toda vez que alguma crise pega eles. E o dinheiro que salva as empresas deles na crise, vem dos trabalhadores que se ferram na crise ainda mais do que já se ferram normalmente.

Por fim, a questão é: como acabar com as classes e com o estado? Como fazer a revolução? A resposta não está pronta, mas já temos muitas idéias, nos unimos, pensamos sobre isso, agimos para construir isso, e já acumulamos muita boa experiência a partir destes pensamentos e destas ações. Inventamos movimentos sociais, inventamos partidos, inventamos teorias, e tudo isso funciona como ferramenta para a revolução. Funciona com problemas, mas estamos precisando de mais pessoas para arrumar os problemas destas ferramentas. Se você puder nos ajudar meditando pra dentro, reze por favor para nossas lutas construirem revolução, para nossos partidos, nossas teorias e nossos movimentos sociais funcionarem cada vez melhor.

Mas se você quiser também meditar para fora, saia de cima do muro, tome partido, lute.

Ou espere o próximo fim do mundo!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A (?)


O que fazer diante deste abismo impiedoso que é A (?). Ela está dentro de mim, cruel, dilacerante, engolindo minhas entranhas em forma de aflição, ou está fora de mim, dilacerando coisas tão fundamentais que eu sinto como se algo fosse corroído dentro de mim? Não sei, mas sem sombra de dúvidas é algo fundamental que está sendo corroído. Ou será que não é uma corrosão? Só sei que algo acontece, mas não sei o que é! Na dúvida, digo que é A (?).

Eu a chamo de A (?), e não O (?), apenas por tentativa de compreender o que isso seria. Age em mim como se eu estivesse apaixonado, me deixa desnorteado como minhas paixões me deixam desnorteado. Mas nada impede que eu esteja apaixonado por algo que seja um O. Eu, que costumo me apaixonar por moças, inventei essa ficção de que A (?) é uma A, porque nem mesmo sei se é algo que tem gênero, mas pra expressar em palavras, preciso de um artigo, seja definido ou indefinido. Seria injusto que eu, que faço questão das distinções de gênero em quase tudo que é texto que escrevo, escolhesse um artigo masculino para algo cujo gênero eu não sei, então decidi chamar de A (?).

E porque ela é A (?)? Porque (?). Justamente porque eu não acho palavras pra descrevê-la, mas achei essa imagem perfeita: um ponto de interrogação entre parênteses. um espaço vazio, cheio de dúvidas. Lembra a matemática do primário? O conjunto vazio? Pois eu descobri que ele é meio vazio e meio unitário. Dentro do meu peito tem um vazio, mas tem um único elemento dentro deste vazio, uma dúvida. É vazio? É unitário? Não sei dizer, então digo que é A (?).

Mas na verdade eu nem sei se é no meu peito que A (?) está. Pode ser um vazio em qualquer lugar ou em lugar nenhum. Pode ser uma dúvida física, ou sem corpo algum. Eu não sei que porra é essa, eu só sinto. Mas às vezes eu me pergunto se realmente estou sentindo isso. Quando eu me drogo, A (?) fica muito diferente do que costuma ser na minha sobriedade. Drogado de cerveja, A (?) é diferente de quando estou drogado de vodka ou cachaça. Drogado de chocolate, A (?) fica diferente de quando estou drogado de maconha ou maracujá. Drogado de sono, A (?) fica diferente de quando estou drogado de cogumelos ou alface com tomate. Isso já me fez cogitar a hipótese de A (?) ter algo a ver com a drogadicção. Mas eu não sei se sim nem se não.

Ela me provoca, como uma namorada sacana. Me causa tesão às vezes, e às vezes me causa raiva. Me deixa humilhado, depois me deixa eufórico, depois confuso, depois acelerado, depois sonolento. Eu queria me declarar pra ela, dizer "(?), minha querida, você é o amor da minha vida, eu sempre te quis, eu te desejo todas as noites antes de dormir, e acordo todos os dias querendo te abraçar apertado, eu ando nas ruas olhando pra todas as mulheres e até pra todos os homens, procurando por você, até nos prédios, nos carros, nas árvores e nos postes, eu procuro por você. Eu te quero tanto que nem tenho palavras pra descrever, te amo como se você fosse a única coisa do mundo que faz sentido pra mim, mas é um amor que dói, porque na verdade nada faz sentido, e eu só quero que você também me queira, e quero também não fazer sentido pra você, e também ser um vazio no seu peito (se é que você é um vazio no meu), e saber vaidoso que você também me ama muito, e que você também me quer antes de dormir e depois de acordar, e também me vê nos postes e todas essas baboseiras. Eu te quero nua e coberta com leite condensado, eu te quero com os dedos entrelaçados nos meus pelas ruas de alguma capital européia com paisagens cheias de água e monumentos, eu te quero no quarto escuro de alguma festa promíscua, eu te quero me dando colo quando eu estiver febril, e no meu colo quando você estiver febril. (?), você tem o sorriso mais lindo e os olhos mais excitantes que eu já pude ver, e sua boca me deixa com água na boca, e seu abraço é a coisa mais gostosa que eu já senti, e acho que ficaria muito melhor se nos abraçássemos nus e meu membro ereto estivesse lhe acariciando até o útero. (?), eu te amo tanto que eu até deixaria de herança pra você todas as conchinhas que eu catei em beiras de praia nos meus últimos vinte e tantos anos de vida, e se eu pudesse, te daria até as que eu catei nas minhas outras encarnações, que talvez sejam mais bonitas do que as conchas mais bonitas que eu catei nesta. (?), por você eu até faria uma revolução socialista hoje, e acabaria com a alienação e com a exploração do homem pelo homem, e com a opressão da mulher pelo homem, e com todas essas coisas que fazem desse mundo aquilo que a gente não quer, só pra você viver comigo a plenitude que nosso amor merece. (?) quer casar comigo e passar a lua de mel lá na Jamaica, tocando Reggae na rede e fazendo amor e fumando maconha? (?), vamos ter uma penca de filhos, todos lindos como você e eu? (?), eu não podia mais guardar isso: eu te amo, sempre te amei, te procuro desde que nasci, te procuro em meus sonhos, antes de nascer já te procurava, você é a parte que sempre me foi ininteligível em todos os meus problemas de pesquisa, nos versos de todos os meus poemas, e em todas as minhas partidas de xadrez. (?), minha delícia, eu te amo e te quero coberta de chocolate, feito foundie, pra gente fundir nossos corpos e nossas almas, e eu nunca mais não saber quem eu sou! (?), foge comigo pras estrelas?", mas eu não sei se ela é algo amável. Acho que amar A (?) é uma forma de tentar segurá-la, transformá-la em algo sólido, em algo palpável, em algo objetável, objetivável e desejável. Mas ela o é? Não sei. Não sei se eu a amo. Não sei se eu a sinto. Nem sei se ela existe, ou se estou delirando (o fator da relação com as drogas colabora pra corroborar esta tese). Pode ser apenas um devaneio literário.

Mas a verdade é que eu escrevi tudo isso, todos esses cinco parágrafos, tentando pôr pra fora do meu peito um sofrimento que eu nem sei se tá dentro do meu peito, que eu nem sei se é sofrimento, que eu não sei se é aflição ou se é a causa dela, que eu nem sei se existe, e apesar disso tudo, continuo aflito, continuo achando que não tem como terminar esse texto, porque um texto destinado a traduzir, verbalizar ou amenizar a aflição causada por ela, tem o destino de ser eterno, e eu vou ficar pra sempre aqui, na frente deste computador, ignorando todo o resto do universo, e apenas digitando e digitando mais e mais, como um solitário que abre e fecha o facebook, procurando um amor on-line. Um amor que nunca entra, um amor que nem mesmo existe com certeza, um amor que nem mesmo tem conta no facebook, nem em nenhum outro lugar, um amor que nem se sabe o nome. E eu serei eternamente solitário, e escreverei eternamente um texto que, portanto, nunca poderei postar. Se você está lendo esse texto, é porque eu desisti de encontrá-la dessa vez, e de chamar pra Jamaica comigo. Quem é ela, gente? Quem é ela?

Eu preciso terminar, escolher uma foto bonita pra postar lá no topo deste texto, pintar tudo de azul, justificar o corpo do texto, negritar de cima a baixo, escrever "beijinhos de maracujá", apertar o botãozinho laranja lá do topo, compartilhar a postagem como quem coloca uma garrafa no mar, esperando que alguém leia e venha me resgatar dessa ilha deserta e cruel que é não saber quem é A (?), não saber de onde ela veio, no que isso vai dar, qual é o meu futuro com esse sentimento sem nome, e o que fazer com tudo isso. Como aquela música do Police. Talvez eu descubra que cada humanozinho neste planeta tenha sua (?), sem nome ou com outro nome inventado, talvez eu descubra que só eu sofro desta grave doença mental. Talvez eu poste o texto e emita contra mim a prova necessária para que me internem. De preferência lá na Santa Isabel, talvez seja o único lugar que possa me curar deste "vazio no peito" (sic). E eu não sei que imagem postar lá em cima. Talvez a imagem de garrafas boiando no mar com bilhetes dentro, talvez a imagem de um foundie, talvez um coraçãozinho com um vazio dentro, talvez um ponto de interrogação entre parênteses, talvez um dreadlock fumando maconha numa rede. Qualquer coisa que eu escolha será insuficiente pra completar esse vazio no meu peito. Eu queria dizer pra ela que, onde quer que ela esteja, eu a amo e quero que ela venha ser feliz nos meus braços, mas eu continuo como o Sérgio Sampaio: na captura!

beijinhos de maracujá!


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Poucas e Boas


Poucas coisas são tão boas como bolo macio que esfarela na mordida, frutas azedinhas, acariciar com as mãos as curvas do corpo de alguém, ou ter as mãos de alguém acariciando as curvas do nosso corpo, ler um livro que dá vontade de parar toda hora pra ligar pra alguém e comentar o que acabou de ler, mas não conseguir parar a leitura, beber um bom vinho ouvindo uma boa música com um bom grupo de amigos e um bom e enfumaçado papo, deixar na areia da praia, com um sol gostoso na pele, pra escrever ou desenhar ouvindo o barulho do mar, conhecer alguma pessoa nova e sentir aquele frio na barriga de quanto a gente tem quase certeza de que a pessoa também tá querendo, tomar banho de cachoeira, escorregar no limo e cair dentro da água sem se ralar, levantar uma criança pequena e ver ela rindo de gargalhar, brincar de correr com cachorros em um pasto muito grande, descer ladeira de bicicleta, ver São Paulo ou Brasilia (ou Feu Rosa ♥) de noite da janela do avião, encontrar aquela pessoa on-line, na hora que você já tinha desistido e ia desconectar, aprender uma música nova e boa no violão, comer cogumelo, o encontro de duas línguas famintas, o encontro de uma língua faminta com um corpo apetitoso, um abraço apertado, uma partida de xadrez que, independente do final, faz vibrarem os dois jogadores e as pessoas que pararam pra assistir, atraídas pela emoção disfarçada de monotonia, mordida no pescoço, entrar em um quarto cheio até o teto de balões de ar cheios. E aí a gente pensa bem e vê que, na verdade, muitas coisas na vida são boas.

beijinhos de maracujá

sábado, 8 de dezembro de 2012

Vazio e tardes de sol



O vazio. Uma tarde linda e vazia, uma internet vazia e pessoas mais cheias do que ela, mas agindo nela como se também estivessem vazias. Eu não estou tão vazio quanto pareço estar, quando tento me ver a partir de minhas postagens e conversas no facebook. Eu não sou esse teatro barato, minhas encenações são muito mais verdadeiras. Lá fora tem um sol que merece areia de praia, e eu não sei por que não ir lá fora, me sentir cheio.

Por sorte, não consigo abrir praticamente nada no computador em que estou agora (digito este texto com um certo sofrimento, porque o teclado tem teclas duras, algumas não funcionam, o mouse não vai lá muito bem, os softwares não querem colaborar, e a internet não me permite fazer download do arquivo no qual pretendo trabalhar. Por algum motivo o facebook tá carregando melhor do que meu e-mail, não tenho música, não sei como tenho essa página de postagem do blog. Decidi deixar pra fazer as coisas que preciso quando conseguir sentar em um computador que funcione mais do que me canse. Mas me pego de repente envolvido no vazio.

Aí paro pra pensar no porquê disso. No meio da tarde vazia, me aparece gente que me enche, não o saco, mas o peito de alegria. Essa máquina azul maldita me dá esperança de encontrar com pessoas que, na verdade, eu queria encontrar pessoalmente. E eu tenho visto muita gente caçando interação agradável no oco do facebook. Tô fora desse circuito, apesar dos presentes ocasionais que ganho nele. A gente fica achando que esses presentes ocasionais podem se tornar recorrentes, e não podem. A regra do facebook é vazio, vazio, vazio, e pessoas presas ao vazio na esperança de tornar recorrentes alguns presentes ocasionais. Antes do facebook, como você buscava por essas ocasionais alegrias? Você se lembra? Acho que está aqui o nosso desafio.

Vamos encher as ensolaradas tardes de sábado, assim como as nubladas madrugadas de quarta, assim como cada mínimo momento da vida. Encher a vida de vigor, de alegria e até mesmo de tristezas, encher a vida de conflitos e tensões, de alívios e esperanças, encher a vida de vida. Vida vazia é morte.

beijinhos de maracujá!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Eu Tenho Tesão em Mim


Eu fiz uma música chamada "Eu Tenho Tesão em Mim". Fiz batucando numa lata de bombons, mas gostei da letra, e já que a felicidade às vésperas do fim do mundo é arrancar curtidas, comentadas (como é possível!) e até compartilhadas (nível Mousse de Maracujá!), vou postar a letra aqui pra ser feliz (espero a caridade de vocês, pessoas felizes!).

Eu tenho tesão
No cara que anda por aí
Olhando a beleza de tudo

(repetir mais três vezes o refrão acima)

Olhando a beleza
Das luzes da cidade
Olhando a beleza
Das moça bonita
Olhando a beleza
Da diversidade
De caminhos da vida

Olhando a beleza
Das luzes da cidade
Olhando a beleza
Das moça bonita
Olhando a beleza
Da diversidade
Dos caminhos da vida

Eu tenho tesão
No cara que anda por aí
Olhando a beleza de tudo

(repetir mais três vezes o refrão acima)

Olhando a beleza
Da estrela cadente
Olhando a beleza
De cores e sons
Olhando a beleza
De poder finalmente
Almejar tempos bons

(Repetir mais uma vez a estrofe acima)

Olhando a beleza da pressa
Olhando a beleza da reza
Olhando a beleza de tudo
Olhando a beleza dos prédios
Olhando a beleza do tédio
Olhando a beleza de tudo

Olhando a beleza das cores
Olhando a beleza dos sons
Olhando a beleza de tudo
Olhando a beleza das dores
Olhando a beleza dos dons
Olhando a beleza de tudo

Olhando a beleza
De quem ladra e morde
Olhando a beleza
De lutar por mel
Olhando a beleza
De apagar os postes
Ver estrelas no céu

(repetir mais uma vez a estrofe acima)

Olhando a beleza da pressa
Olhando a beleza da reza
Olhando a beleza de tudo
Olhando a beleza dos prédios
Olhando a beleza do tédio
Olhando a beleza de tudo

Olhando a beleza das cores
Olhando a beleza dos sons
Olhando a beleza de tudo
Olhando a beleza das dores
Olhando a beleza dos dons
Olhando a beleza de tudo

(repetir as duas estrofes acima algumas vezes, enquanto a percussão quebra tudo e o volume da música vai baixando).
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beijinhos de maracujá!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Salada de Pétalas


Você é a flor que eu nunca ousei colher

Tem um cheiro gostoso
Uma cor radiante,
Uma pele macia

De pétala aberta
E logo eu, tão teimoso,
temo ir adiante,
Pois quem sabe um dia
Colha-te, qual flor certa.

E enquanto isso, vou sonhando com você...


beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Presentes que me farão feliz (favor ler com atenção!)


Olá você, que está lendo o blog Artifício Socialista! Estou escrevendo este texto para tornar pública uma vontade minha, que há de se sustentar na possível vontade que vocês tenham de me agradar.

Caso alguém de vocês esteja pensando em me dar um presente (se não estava, que agora esteja), eu tenho uma ótima sugestão: imprimam cifras de músicas e me dêem. Escolham músicas que vocês gostariam de me ver tocando no violão, procurem a cifra na internet, imprimam e me entreguem. Isso me fará muito feliz, e espero que também faça a vocês, porque eu vou tentar aprender cada uma das músicas que me forem presenteadas.

Se você quer muito me sugerir um som, e não tem como me dar a cifra impressa, me manda um link pela internet. Se não conseguiu a cifra em lugar nenhum, me manda a música, ou um link dela. Na medida do possível, damos um jeito pra tudo. meu e-mail é joseaneziofernandes@gmail.com e meu facebook é http://www.facebook.com/joseaneziofernandes, além do twitter @aneziofernandes.

Eu gostaria de ser músico, e não sei se serei, mas gostaria. Estou tentando arranjar meu instrumento. Enquanto isso, por favor, me abarrotem de cifras, de todas as músicas que vocês gostariam que eu aprendesse. Quero misturar meu repertório com os repertórios de vocês.

Porque cantar parece com não morrer!

beijinhos de maracujá!

sábado, 1 de dezembro de 2012

Acerca do amor livre: uma distinção importante


Defendemos a idéia do amor livre, como idéia de que o status quo dos relacionamentos afetivos "heterossexualidade monogâmica possessiva/ciumenta" é uma imposição que tira a liberdade das pessoas que querem viver outras formas de sexualidade e de relação afetiva. No entanto, nenhuma verdade é revolucionária se não desmente os enganos que porventura tentem acompanhá-la. Sendo inconiventes com as mentiras e injustiças que acompanham a luta pelo amor livre, vimos através deste fazer uma importante distinção acerca do amor livre.

Nem a monogamia é uma condição inevitavelmente aprisionante, nem a poligamia é garantia de liberdade. Um relacionamento poligâmico pode ser extremamente possessivo, cheio de dominação, corpos sendo tratados como propriedades. É como se a poligamia fosse uma condição de "propriedade de mais de um corpo". Assim também, um relacionamento monogâmico pode estar destituído de qualquer propriedade, de maneira que duas pessoas podem decidir que, apesar de livres para o que bem quiserem, querem apenas uma à outra. Só quem já viveu ou vive uma experiência poligâmica, sabe o quão é difícil administrar o relacionamento afetivo com mais de um ser humano. Afinal, é normal ter dificuldade pra lidar com um animalzinho tão complexo e surpreendente quanto o ser humano. Assim sendo, se fulana/fulano decide que não quer ninguém além de beltrana/beltrano, e vice-e-versa, isso pode não ser uma prisão, e sim uma opção compartilhada.

O acordo entre duas pessoas pode ser monogâmico ou poligâmico, e isso não é uma garantia de liberdade ou opressão.

Então distinguímos o eixo monogamia-poligamia do eixo perpendicular amor livre-amor possessivo, ok? Por favor, não prossiga a leitura antes de entender tudo o que está acima. Se preciso, releia antes de prosseguir.

Antes de apresentar a nossa tese, é preciso trazer mais um elemento: enquanto o eixo mono/poli diz respeito meramente à quantidade de pessoas que o pacto do casal permite de relacionamento (uma questão de acordo, de aliança, de pacto e respeito entre dois ou mais humanos), a questão do amor livre e do amor possessivo diz respeito exatamente ao que nos é inegociável. Somos radicalmente discordantes da possessividade no amor. Uma de nossas palavras de ordem é "Se não é livre, não é amor!". A idéia do amor livre é: Quem decide o que fazer com seu corpo é você, e não eu. Se você quiser fazer sexo com mais de uma pessoa, eu não posso fazer nada para impedir. Pode parecer surpreendente, mas essa idéia não é incompatível com um relacionamento monogâmico, o que dissemos acima já explica isso: se eu quero fazer com meu corpo apenas sexo contigo e você quer fazer do teu corpo apenas sexo comigo, nós podemos ter um amor livre monogâmico. Se um de nós dois quer outros corpos, e isso não acontece por causa da vontade do outro, essa monogamia já não tem mais tantos ares de liberdade. Assim sendo, a monogamia e o amor livre são compatíveis, apesar de contraditórios. A isso é preciso acrescentar que nem a poligamia nem o amor livre são garantias de liberdade. Nós, defensoras e defensores do amor livre, sabemos disso, e aquelas e aqueles que entre nós, não sabem, deveriam perder a ingenuidade e saber: a quem tenta deslegitimar o amor livre e a poligamia dizendo que não são garantias de liberdade, eu tenho uma triste notícia sobre o mundo real para lhes contar: não existe em canto algum garantia de liberdade, porque liberdade não se garante, liberdade se inventa e se reinventa a cada momento!

Estou dizendo tudo isso porque, apesar de pessoalmente não simpatizar mais com a monogamia como já simpatizei antes, e apesar de não querê-la mais de forma alguma em minha vida, acho que cada um tem o direito de fazer o que quiser de seu próprio corpo, inclusive monogamia. Se for uma monogamia de amor livre, melhor ainda, afinal, isso é possível. Mas é incoerente querer obrigar as pessoas ao amor livre: cada um tem seu tempo, o corpo tem a cronologia de sua pedagogia, e a gente aprende a conquistar a nossa própria liberdade. Caso contrário, é liberdade imposta, e aí não é mais liberdade.

Apesar disso tudo, acho que a poligamia é o terreno onde a liberdade do amor tem mais sentido de obter sucesso. Mas isso tudo é tentativa, e o tempo inteiro erramos, tentando viver a liberdade. É preciso estar preparada ou preparado para errar, lidar com o erro, levantar e tentar fazer diferente. Liberdade se constrói assim. No amor e em qualquer outra coisa da vida. Podendo exprimir livremente o desejo de amar quantos corpos queiramos, temos mais chance de viver de fato amores livres. ´por isso não sou entusiasta da monogamia, mas ainda assim escrevo este texto como colaboração para o movimento de luta pelo amor livre: a falsa verdade de que toda poligamia é livre, não é uma verdade revolucionária. Precisamos saber que a poligamia também pode acolher amores opressores, e assim teremos condições de lutar contra isso.

Agora posso apresentar a tese que sintetiza este redundante e importante texto: Apesar de a poligamia ser mais fértil para o amor livre do que a monogamia, tanto o amor livre quanto o amor possessivo podem ocorrer em ambos os terrenos, tanto no da poligamia quanto no da monogamia, e o critério básico e fundante de toda e qualquer liberdade (incluindo aí o amor livre) é o de que não sou dona ou dono do corpo de ninguém além do meu próprio, e de que ninguém é dona ou dono de meu corpo, a não ser eu mesma ou mesmo.

Mas é claro que tudo isso pode ser um grande delírio, portanto, peço comentários e críticas de quem tem teses diferentes ou semelhantes. O blog Artifício Socialista quer ser um grande laboratório de invenções do Amor Livre. Desde já agradecemos a sua colaboração.

beijinhos de maracujá!