sábado, 1 de setembro de 2012

Sobre sedução e luta de classes



A diferença entre a paranormalidade e a sedução: quando vários talheres voam em sua direção, você não está seduzindo os talheres, você é paranormal.

Preciso fazer urgentemente uma distinção: entre o marxismo acadêmico e o marxismo malandro. A diferença está basicamente na concepção de Consciêcia de Classes, que dialeticamente influi em todo o resto da cmpreensão da realidade. Enquanto o marxismo acadêmico compreende a consciência de classes como um empoderamento (foucaultianos morrem, afinal, é heresia dizer que alguém dá poder pra alguém, já que poder não é objeto nem posse, poder é relação), e coloca a consciência como algo que o militante ou o intelectual tem e, portanto pode dar a alguém ou nele inocular, o marxismo malandro a compreende como um modo de agir que permite, a quem tenha condições e esteja afim, sacar que nesse mundo tem gente que tem maldade. Sacar isso é ter maldade.

Não se trata de uma estratégia suja e manipuladora, nem de hipocrisia. Se trata estar a postos para o que um ser humano pode oferecer. Até mesmo risco. Saber do que qualquer ser humano é capaz, e assim saber que cada ser humano é capaz do que qualquer ser humano é capaz. Considerando que qualquer ser humano pode oferecer até mesmo risco, mas nenhum ser humano pode oferecer apenas risco, ficam postos dois limites: até onde se confia no ser humano e até onde se desconfia do ser humano. Apesar de os nomes destes dois limites darem a entender que são o mesmo (um começa onde o outro termina), não se trata disso, e sim de dois limites distintos, que falam da mesma coisa de formas diferentes. Cruzando esses dois limiares, podemos entender tanto o quanto achamos que o ser humano é capaz de manter as coisas neste sistema ruim de funcionamento, quanto o quanto achamos que ele é capaz de mudar as coisas. E isso vale também para nós mesmos. Quando eu me dou conta de que o grupo social do qual faço parte, de acordo com minhas condições materiais, objetivas e econômicas de existência (grupo esse chamado de classe), pode continuar se fodendo neste modo de funcionamento ou parar de se foder num sistema sem classes (sem privilégios de condição material, objetiva e econômica), e sei do que qualquer ser humano é capaz, tenho condições de agir para fortalecer o bonde dos seres humanos que apostam na capacidade humana de mudar esse sistema. Eu sei que não é uma questão de ser do bem ou do mal, e que nem é uma questão de ser bom ou mau, é uma questão de que não dá pra continuar se fodendo no sistema atual, portanto é preciso demoli-lo. E como esse projeto de demolição depende dos seres humanos que são capazes desta obra e que tomaram partido por ela, a sedução é indispensável.

Mas não é apenas para a sedução que a maldade é importante, tem maldade no coração aqui é sinônimo de ter malícia, de saber como jogar fora das regras do jogo, sem que os juízes percebam que se está fugindo ao seu juízo. Maldade também é importante para a destruição de quem paga o salário do juiz, e se protege com as regras por ele apitadas. Não se trata de ser do bem ou ser do mal. Não estou dizendo que a burguesia é má e que a classe proletária é boa. Quem está falando isso é vocês. É uma questão de inimizades e queremos destruí-los tanto quanto eles nos querem. E não ache que tem chance de o "bonde dos neutros" influenciar nessa luta de classes. Se você tira o corpo fora dessa luta, você tá do lado deles, e a maldade é indispensável pra saber isso. E ficar em cima do muro fortalece a classe inimiga, então quem tem maldade do lado de cá pode não ter paciência com o bonde dos neutros. Aqui nós temos uma pequena divergência interna: alguns como eu, acham que o "bonde dos neutros" pode ser seduzido, e sair de cima do "muro que é o lado de lá", outros já acham que "subiu no muro, é inimigo", e vira caça aos patos, paredão, etc. Eu prefiro a sedução, mas tenho maldade o suficiente pra saber cada caso em que eu tenho chance de seduzir ou não. Porque ter maldade é isso, é saber exatamente quando dá, quando não dá e quando tem que arriscar. E os casos em que tem que arriscar são a maioria pra quem não sabe exatamente quando dá e quando não dá, porque a exatidão no saber é uma característica de quem tem maldade. Quem tem malícia, raramente cai no espontaneísmo do "tem que arriscar". Tem gente que tá em cima do muro, que a gente arrisca se dá ou não dá pra seduzir, mas tem gente que a gente sabe exatamente que dá, e tem gente que a gente sabe exatamente que não dá. Nesses dois casos, a gente NÃO TEM que arriscar.

Malícia se ganha em tapa, assim como drogado que aprende com a droga quando a onda "dá um tapa", ou como barata que fica mais esperta depois de se recuperar de um. Consciência de Classe é o insight de tomar um tapa, e com ele aprender que ninguém tá nesse mundo a passeio e que a vida, enfim, não é recreio, é sucessão de tretas, sucessão de tapas. Consciência de Classe é se dar conta de onde você está. Ter a maldade de saber exatamente quem é cada pessoa em cada lugar onde você está.

Bonde dos neutros, torça pro bonde dos sedutores ser maioria, do lado de cá! A gente ainda aposta em vocês. Mas não abuse da nossa paciência, eu disse AINDA.

beijinhos de maracujá!

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