sábado, 29 de setembro de 2012

Ramificações enxadristas da Psicologia do Artifício


Xadrez é um jogo muito bom. A vida é exatamente daquele jeito, só que com muito mais casas, muito mais peças e muito mais enxadristas numa mesma partida. Um xadrez repleto de jogadoras e jogadores tem uma vantagem: você pode escolher parceiras e parceiros, aliadas e aliados, adversárias e adversários, inimigas e inimigos, e nisso fazer pactos de não-agressão com algumas pessoas, pra se unir no ataque a outras, você pode trocar com alguém peças que uma pessoa tenha e a outra precise, o xadrez vira um jogo de equipe, com uma infinidade de casas, uma infinidade de peças que a gente nem sabe que tem, e com o tempo ainda vamos descobrindo peças novas, com formatos engraçados e movimentos que nunca imaginávamos. Do dia em que nascemos até a morte, ficamos descobrindo novas peças, novas casas, novas e novos enxadristas.

Xadrez não é apenas um jogo de tabuleiro, é um jogo de dedução: o que essa pessoa é capaz de prever em meus movimentos? O que ela pode fazer, com sua capacidade de análise? Quais serão seus próximos passos e como devo jogar para que eles não sejam capazes de me aniquilar? Quais são meus equívocos, e como posso evitar que continuem ocorrendo? Depois de algum equívoco, o que fazer para contorná-lo e continuar vivo no jogo? Qual é a hora de admitir que não dá mais, que já perdi? Essas e uma infinidade de outras perguntas, se respondidas, permitem a quem joga uma compreensão do que fazer. Quem se limita a ver o jogo como tabuleiro e peças, está ignorando que elas se movem de acordo com uma certa pessoa, que opera as peças, e assim presentifica sobre o tabuleiro a sua mente em funcionamento. Xadrez é um modo mental de territorialização, em uma determinada situação, controlada.

Na vida, cada ação é um lance em um jogo de xadrez, só que com mais pessoas, mais casas, mais peças, mais movimentos e mais tretas. A vida é uma sucessão de tretas. Assim como um poema é uma sucessão de versos. Treta é um evento que tatua, que cicatriza, no corpo, na retina da memória, uma marca de si. O corpo vai acumulando marcas de tretas, sucessivas, e vai se transformando a cada nova treta, apesar de haver momentos em que resistimos às cicatrizes que a vida nos dá, aos tapas que as ondas da vida dão: tapas são ótimos efeitos das tretas.

Tapa está ligado ao aprendizado que a vida pode promover ao ser vivo, em especial ao ser humano, diante de tretas, principalmente aquelas provocadas por ondas. Onda é um movimento constante de vai-e-vem da vida, categoria facilmente entendida quando paramos diante do mar. As ondas do mar são um exemplo físico do que estamos chamando de onda, mas não se trata disso, há também ondas de épocas, e pode haver também a onda dos alimentos, das substâncias, principalmente daquelas consideradas drogas. Elas põem o organismo num outro estado de funcionamento, e isto é a onda, que pode ter como efeito colateral, um tapa.

Essa teoria das tretas, dos tapas e das ondas, é uma teoria enxadrista sobre as relações humanas, e sobre a vida. Há idéias ainda a serem desenvolvidas neste tema, quaisquer colaborações serão bem vindas. Estamos procurando pessoas dispostas a construir a Psicologia do Artifício conosco, de fato. Pessoas interessadas, se manifestem!

E no mais, tente ver cada pessoa ao seu redor, enxadristas bons e péssimos, e confirme se a hipótese aqui apresentada, sobre a vida como grande e infinito tabuleiro, faz sentido. Talvez nada tenha a ver, e as pessoas não estão vivendo como se estivessem jogando contra alguém, mas sinceramente, eu acho que sim, e a pergunta com a qual eu gostaria de terminar esse texto é: em que toda essa teorização pode ajudar luta pela construção de outra sociedade?

beijinhos de maracujá!

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