segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A dança e o que os corpos podem!


A dança! Nada pode ser mais sensual que a dança! O corpo dança, que delícia... As palavras dança e delícia devem ter se conhecido de outras encarnações, quando eram outras palavras, mas já tinham as mesmas almas (talvez em alguma outra língua que já morreu, como uma encarnação passada, em uma civilização antiga)! E com certeza, em todas as línguas em que as almas dessas duas palavras se enamoraram, dança e delícia, elas sempre tiveram o mesmo significado: sensualidade!

Quando digito a palavra sensualidade, as letras aparecem na tela do computador como se na progressão dos segundos, no tempo da música, fossem mudando as posições do corpo da bailarina, no ritmo da dança... Sensualidade é uma palavra dançarina, que em uma literatura, dança ao som da música das teclas... foi assim na máquina de escrever, e ainda é assim nas teclas de um blog! Tô pra dizer que foi assim quando em infância riscávamos o lápis no papel (e até a pausa da borracha), e também com o som do riscar de pedras, de utensilhos (de artifícios) nas paredes das cavernas... A literatura, a pintura, a alegria e o prazer, assim como todas as artes, são danças...

Não se irritem por eu estar buscando uma origem, não se ofendam, nem me zoem antirrizomático, por favor! Estou me permitindo uma licença poética, então me dêem licença um instante, que preciso passar com uma idéia, com uma dolorosa idéia: A origem de todas as artes é a dança! O corpo é a raiz de toda mente, pra apresentar uma idéia bem dialética através das palavras do clássico e inperdoável dualismo cartesiano! E saindo do cartesianismo, é isso que um corpo pode, porque o extremo do que um corpo pode é a arte, e o extremo da arte não poderia deixar de ser, então, a arte mais corpórea de todas!

É sempre com o corpo (e com artifícios) que o ser humano faz arte! Aliás, o ser humano é sempre um corpo, então seria melhor se eu dissesse que é sempre com o corpo que um corpo humano faz arte! Com o próprio corpo e com o dos outros, que acabam sendo artifícios tão úteis pra cumprir essa tarefa urgente que é a arte quanto o próprio corpo! O blog é apenas uma forma incipiente de tentativa de dançar, já que com meu tão artificial corpo, não sou tão capaz da dança, teclo palavras dançantes!

Por isso disse que traria a idéia dolorosa: me dói saber que meu corpo é desinteligente pra dança! Saber que o ser humano inventou tanta inteligência, ao longo das gerações que, desde as cavernas e desde as savanas, vêm dançando e fazendo outros tipos de arte, e inventou tanta tecnologia pra transferir essa inteligência através de uma pedagogia libertadora dos corpos, mas ainda assim essa humanidade escolheu, ainda está escolhendo (esperamos que por enquanto!), usar a inteligência burra da tecnologia pedagógica da coerção, que faz do corpo algo tão limitado, tão alienado (estranhado) do prazer e da liberdade de dançar, que a gente tem que privatizar o acesso à inteligência do corpo! Esperamos que por enquanto!

A dança é a mais livre das artes, acho que é por isso que eu lhe dediquei tão original papel! O que pode um corpo? Pode ser Bob Marley, pode ser Pina Bausch, pode ser Rosa Luxemburgo, pode ser Elis Regina, pode ser Jorge Amado! Se um corpo pode ser coisas assim, se um corpo pode ser gente assim, um corpo pode fazer muita coisa livre! E se um corpo pode inventar a liberdade, exercitemos isso ao estremo, e isso seria o comunismo!

O comunismo é uma grande obra de arte, como se tivéssemos socializado tudo! Os alimentos, a terra, os meios de produção e o poder de gerir o trabalho e toda a vida, como se tivéssemos socializado a saúde, a educação, o amor, as tecnologias, inclusive as tecnologias pedagógicas, e inclusive (através das tecnologias pedagógicas mais livres que já pudemos inventar), as inteligências do corpo! O comunismo não pode haver se não houve socialização de tudo, inclusive da inteligência e do auto-conhecimento acerca do próprio corpo e dos corpos humanos no geral! Quando a ciência que as poetizas e os poetas do corpo inventaram for de livre acesso a todas e todos que quiserem, inclusive as ciências do respeito ao próprio corpo e ao corpo alheio, o respeito ao direito individual de decidir sobre o próprio corpo, com respeito aos corpos alheios, o direito de ter prazer como quiser e de fazer arte como quiser, o direito de degustar as cidades, as paisagens, os lugares, os territórios com o corpo, o direito de desfrutar de outros corpos e de se deixar desfrutar pelos mesmos, o direito de relacionar corpo e natureza e de, em harmonia com tudo o que o corpo tem de artificial, ter o corpo como parte integrante da natureza! Dá pra se perder nas palavras, só de sonhar com o quão livre um corpo pode ser!


A dança nos diz isso, quando é uma dança livre! Ela diz que um corpo pode, que os corpos podem ser livres! Mas é importante também que haja danças que digam da opressão, que nos contem, que nos lembrem, que um corpo pode também ser oprimido, ou oprimir! Para nós, que queremos fazer dos corpos experiências de liberdade, laboratórios do prazer, para nós é fundamental nunca apagar da memória essa verdade (dura, mas que um dia haveremos de, enquanto classe, superar), a verdade de que um corpo pode praticar e sofrer opressão e exploração! E é essa verdade maldita que nos faz querer tanto optar pela outra verdade, a verdade que a dança pretende efetivar como invenção, efetivar como arte...

...a verdade de que todo corpo pede por plenitude, por prazer e liberdade!


Que a dança nos ensine a saborear o mundo, e a fazer do mundo algo que valha a pena saborear! E cujo sabor todos os corpos tenham o direito de saborear!


Nada pode ser mais sensual que a dança!



beijinhos de maracujá!

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