segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Baratas, saiam dos bueiros!


 
Em homenagem à Banda Beck Power! Dedicada a Maria Fernanda e Maria Joana!

Estão querendo higienizar esse mundo, tal qual o conhecemos, e pra nós, pra vocês, habitantes dos esgotos deste mundo, se trata de um risco de vida. E até podemos sofrer extermínio, mas não tô falando de morrer, e sim de uma obrigação de submissão à vida limpa! Querem desfazer os ambientes que hoje podemos habitar, e se ficarmos apenas nos defendendo desses ataques, a tendência é termos que nos ternoegravatizar, e nos enquadrar por completo à ordem social vigente.

Então o recado aqui é para as baratas, para as habitantes da fumaça, para as companheiras e companheiros de latrina: ocupemos as ruas, ocupemos as praças, ocupemos a cidade, ocupemos o mundo que é nossa casa!

Precisamos sair dos bueiros, conquistar novos territórios, sair da defensiva e partir para o ataque. E não se trata de obrigar os domesticados a viverem como baratas, se trata apenas de fazê-los entender que terão de coexistir conosco, com as mensageiras da imundície humana, no melhor dos sentidos.

Querem que sejamos domesticadas, nos querem encoleiradas, lavadas pela água benta da moralidade dominante, mas somos nós, as baratas, que damos ao mundo a condição de não ficar como está. É por isso que incomodamos tanto. Porque dançamos não a dança do salão, mas o hard core e a dança da vida. Porque o nosso amor não é familiar, não é apenas depois do casamento, nem usa vestido branco, porque o nosso amr é o amor das ruas. Porque nos drogamos, porque nos alimentamos dos alimentos que a cidade nos oferece. Porque a nossa dieta é balanceada não por nutricionistas, mas pelos hábitos de toda a sociedade. Nós nos alimentamos do que resta, nós demovoramos a moral deles, e a devolvemos contaminada de liberdade. Nós, baratas da Serra, de Vitória, da Grande Vitória, de todos os cantos do mundo, somos a engrenagem que faz a vida ainda fazer sentido. Se formos derrotadas, esse mundo perderá a razão de ser, porque a razão de ser desse mundo é correr o risco de se tornar outro mundo.

Os animais domesticados, que nos querem pisadas e dedetizadas, precisam de nós para que suas vidas façam sentido, mas a nossa presença causa um tremendo mal estar. Se eles pudessem, nos trancariam nos bueiros. Mas nós estamos com tanto medo, com tanto asco ao contrário, estamos tão conformados com a higienização promovida pelos domesticadores, que nem precisamos que alguém nos tranque. Introjetamos a voz do opressor e dizemos pra nós mesmas que não é hora de sair. Mas é!

Vamos encontrar a luz do dia, ou mesmo a luz da lua. Talvez até a dos trovões. Mas saiamos do submundo, e façamos submundo no mundo inteiro. Se não ficou claro ainda, essa é a nossa missão. Enfumaçar o mundo inteiro, já que moramos na fumaça.

Venham para a luz, vamos iluminar a cidade inteira com o brilho de nossa imunda asa. Vamos percorrer com nossas patas peludas todas as esquinas e todas as loucuras que esse mundo nos reserva.

Acreditem ou não: Somos nós, na nossa insana desobediência, que vamos fazer deste mundo um mundo novo.

NÃO À REPRESSÃO FASCISTA! VIVA O DIREITO AO FUNDO DO POÇO!

ENGENDREMOS A LIBERDADE!

beijinhos de maracujá!

2 comentários:

  1. Não gosto muito dessa coisa de "querem", "eles x nós" por causa daquele papo da relação - que eu boto total fé.
    Mas nesse caso eu concordo.

    Tive, certa vez, uma conversa com Ernesto do porque temos nojo das baratas (os animais, não a metáfora). A resposta é simples: elas são sujas, ora!
    Sujas porque? Porque andam pelos esgotos. E pq os esgotos são sujos de quê? São sujos de humanos!
    Então as baratas são sujas de nós mesmos!

    As baratas metafóricas (o "nós") também são sujas "deles".
    "Nós" estamos cheios da imundice que "eles" mesmos produziram mas acham que não servem (não pelo esgoto, mas por outra produção).

    Agora tem uma dúvida filosófica:
    Vamos trazer a fumaça pras cidades (explodir a caixa de gordura e furar o esgoto) ou vamos "nos" limpar da sujeira deles e construir um mundo que não produza esgoto?

    No primeiro, "nós" vamos pra cidade com cheios de dejetos de "cidadãos de bens", sujar a cidade toda.
    No segundo, vamos chegar limpos: sem o dejetos e sem a máquina que produz dejetos. Daí é só reconfiguramos a máquina.

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  2. viajei no texto
    viajei mais ainda no comentário

    foda!

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