terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Por que "Artifício Socialista"?



Vou tentar explicar o motivo deste blog ter este nome. Vai ser uma tarefa difícil, mas eu vou tentar! E vai ser uma tarefa difícil justamente porque a origem do nome é profundamente conceitual, afundada nos campos teóricos da psicologia e do marxismo. Mas como a intenção do blog é exatamente a de ser o quarto de motel em que a arte e a ciência fazem amor, vou tentar um esforço poético de explicar este nome com bastante literatura! Só que vai ser uma literatura científica, ok?

Em primeiro lugar, o motivo do nome é o motivo do blog: ser um artifício para a construção do socialismo! Então vamos lá na tal da ontologia do ser social:

O humano é um bicho diferente, porque o que os outros animais fazem para a sua vida (ou seja, sua atividade vital) se resume à sobrevivência, no entanto o ser humano pode fazer mais do que apenas trabalhar pela sua sobrevivência, ou seja, a atividade vital humana pode ser muito mais plena do que a de qualquer outro ser vivo. É por isso que os marxistas insistem tanto no tema do trabalho: não é só porque querem ganhar eleições em sindicatos e organizar a classe trabalhadora para a luta socialista. Na verdade isso é consequência, e a raiz da coisa é que todo ser vivo tem que trabalhar de alguma forma pra viver, e o trabalho humano é diferente de todos os outros seres vivos, uma coisa muito rica que surgiu na natureza, porque ao contrário do trabalho de outros animais, o trabalho humano é previamente ideado, e é isso que faz dos seres humanos seres humanos.

Mas que diacho de trabalho previamente ideado é esse? Simples, é aquele que não é impulsionado meramente pelo repertório comportamental que a carga genética nos deu, mas que pode ser planejado antes da ação. O ser humano é o único animalzinho da natureza que, diante da realidade concreta, entende como os objetos dessa realidade funcionam, depois planeja mudar esse funcionamento, e só depois trabalha sobre ele. O trabalho humano põe idéia no objeto trabalhado, aí o objeto que o homem trabalhou fica cheio de humanidade. E aqui tem uma coisa muito louca, que se alguém que ler esse texto conseguir entender, vai pirar tanto quanto eu pirei quando eu entendi isso: o ser humano é uma parte da natureza que, quando mexe na natureza, deixa ela alterada de um jeito tão louco, que põe a natureza numa outra condição! Digamos assim, cada vez que o homem trabalha sobre um objeto da natureza, ele coloca um pouco de si no objeto, mas também coloca o objeto no mundo dos seres humanos!

Aí eu vou dizer que ele tira o objeto da natureza pra colocar no mundo dos seres humanos? NÃO! O mundo dos seres humanos faz parte do mundo da natureza, é feito de matéria e energia retirada da natureza, funciona de acordo com as leis que as ciências naturais estudam, gravidade, inércia, magnetismo, genética, respiração celular. O mundo dos seres humanos é apenas a invenção de novas leis dentro de uma parcela desse mundo maior que é a natureza, e essas novas leis são as leis sociais, são as leis históricas. Porque quando uma pessoa trabalha e põe no objeto uma parte de si, quem usa aquele objeto encontra ali um pouco de quem trabalhou, e quando trabalha sobre outro objeto, ou se relaciona com outra pessoa, deixa um pouco de si e também um pouco do que recebeu de outras pessoas nos outros objetos que já usou ou trabalhou. Isso quer dizer que o ser humano se transforma e transforma outros seres humanos o tempo inteiro através do trabalho, e esse processo biológico, psicológico e, acima de tudo, social, de transformação ininterrupta, se chama história. História é uma coisa que só é possível com o trabalho dos seres humanos, que é aquele trabalho diferente, cheio de idéias, lembra? Então existe uma parcela da natureza que, por ter sofrido o trabalho do homem, é cheia de história, faz parte da história, faz parte do mundo dos seres humanos, ok?

Então vamos falar rapidinho sobre o trabalho dos seres humanos de novo: esse trabalho é diferente dos outros trabalhos, basicamente por três coisas: uma é que esse trabalho é feito pelo corpo humano, que é diferente do corpo de outros animais, e que por isso pode fazer coisas que outros animais não podem (por exemplo, o corpo humano pode dançar, e outro animal só dança se antes for adestrado através do trabalho humano, através do trabalho de um corpo humano); outra coisa é que o corpo humano pode ter idéias, então o trabalho humano é previamente ideado, como eu já expliquei agorinha mesmo, é um trabalho que injeta idéia, história, humanidade, sociedade, nas coisas; e a terceira coisa é que o corpo humano pode usar instrumentos, de um jeito que nenhum outro animal consegue usar.

Sobre os instrumentos, outra idéia terrível, que mudou minha vida depois que eu entendi: alguns animais, como os macacos, até conseguem usar um instrumento uma vez ou outra, mas o ser humano é um ser profundamente instrumental, usa instrumentos o tempo inteiro. A sua atividade vital só tem um poder tão maior do que a atividade vital dos outros seres vivos porque, em algum momento do percurso da natureza, o corpo humano adquiriu essa capacidade de dominar tão bem os instrumentos. No trabalho o ser humano se põe diante de um objeto, depois tenta entender o funcionamento deste objeto, em terceiro lugar tem uma idéia de como transformar esse objeto em instrumento, em quarto lugar tenta pôr a idéia em prática (e aí põe sua idéia e sua história no objeto até que ele vire instrumento), e em sexto lugar vai usar esse instrumento pra colocar suas idéias e suas histórias em outros objetos, para que eles sejam usados como novos instrumentos, ou mesmo apenas como objetos de consumo, para que a vida humana possa continuar. Tira do homem o trabalho, que ele morre e a história acaba. Mas enquanto o homem tem um corpo, tem idéias, e produz instrumentos, ainda há história, e ainda há vida humana. Mesmo que precária.

Depois eu falo da precariedade, agora eu só vou explicar uma coisa simples: O homem faz história através de instrumentos, e os instrumentos mediam a relação entre o corpo humano e o objeto que será transformado. Por mediar essa relação em que alguma coisa nova será produzida, podemos chamar o instrumento de meio de produção (quem já ouviu falar em marxismo vai entender o que eu disse agora). Mas podemos chamar também o instrumento de dispositivo, porque é algo de que dispomos com a finalidade de produzir, ou seja, com a finalidade de transformar a natureza. E podemos chamar esse dispositivo de dispositivo artificial, porque estamos usando de uma estratégia, de um meio, de um artifício, para produzir e transformar a natureza. O dispositivo, o meio de produção, foi retirado da natureza, e ainda é parte dela, mas foi inserido nesse mundo mais novo, que é o mundo humano, histórico e social. Por isso, o dispositivo não é puramente natural, mas é um dispositivo artificial. Agora decorem a próxima frase que eu vou falar, que ela é muito importante: O artificial não é o oposto da natureza, o artificial é a natureza enriquecida pelo trabalho humano. E artifício é aquilo que usamos em um trabalho transformador. Artifício é o instrumento através do qual o ser humano escreve a sua história.

Agora vamos falar de precariedade? A história humana é a mistura dialética (ou seja, uma mistura incerta, contraditória, que pode seguir vários caminhos, e que terá seu destino decidido pela mistura das ações de cada corpo humano, com suas idéias e seus artifícios). A história humana é a mistura dialética da história de cada indivíduo, de cada grupo social, de cada produto e instrumento trabalhados por cada indivíduo e cada grupo social. Ou seja: nós não temos como controlar a história sozinhas e sozinhos, só em grupo, só coletivamente, só nos unindo com essa intenção. Idear previamente a idéia de trabalhar sobre a história da sociedade humana, depois escolher instrumentos para aplicar essa idéia, e depois executar o trabalho de transformar a sociedade. A revolução é um processo de trabalho! O produto deste processo de trabalho é uma sociedade diferente da atual, e é por isso que desde o início da vida humana na terra, as sociedades já sofreram tantas mudanças, porque a história é fruto do trabalho dos indivíduos, e também do trabalho da sociedade, que faz esses indivíduos e é feita por eles. Mas como a mistura dialética é uma mistura incerta, contraditória e que pode seguir vários caminhos, aconteceu que em algum momento da história humana, inventamos a precariedade planejada. É diferente da precariedade por falta de recursos naturais, que os seres humanos sofreram na savana, eras geológicas atrás. É a precariedade que é fruto dialético do trabalho humano, e do planejamento de uma sociedade em que um grupo humano vai ter certos privilégios às custas de outro grupo humano, que trabalhará para produzir as riquezas, mas não poderá fazer uso dessas riquezas. A precariedade é uma invenção humana, e podemos desinventar a precariedade, inventando uma coisa melhor que isso!

A atualidade humana, a sociedade capitalista, é o extremo da precariedade já inventada pelo ser humano, mas dialeticamente é também o extremo da possibilidade de superar essa precariedade e substituí-la pela plenitude. É a dialética entre precariedade e plenitude, ou seja, o fato de as duas coisas estarem, contraditóriamente, presentes ao mesmo tempo da potência dos corpos humanos, de suas idéias e de seus artifícios, o que nos faz achar que vale a pena lutar.

Se fosse certo que o ser humano vai ser pleno, não precisaríamos lutar porque com luta ou sem luta, chegaremos à plenitude humana. Se fosse certo que o ser humano vai ser pra sempre precário, não valeria a pena lutar, porque com luta ou sem luta, nunca sairíamos da precariedade humana. Mas o fato de termos em nós, dialeticamente, tanto plenitude quanto precariedade, é o que torna a luta algo que faça sentido! E a classe que tem privilégios com a precariedade luta contra a plenitude, enquanto a classe que é privada da plenitude luta contra a precariedade. Os marxistas adquiriram o hábito de chamar essa situação conflituosa de luta de classes.

A luta de classes é a luta entre a classe que quer mais plenitude e a classe que quer mais precariedade. Nós somos da classe que luta por plenitude, e ao longo da história humana as classes mudaram muito, mas na atualidade capitalista a classe que luta por plenitude se chama classe trabalhadora.

Então vou explicar o que é plenitude, já que já falei um pouco sobre a precariedade. A plenitude é mais ou menos assim: todo ser humano tem direito e condição de acesso pleno à história humana inteira e a tudo o que ela produziu. Por exemplo: numa sociedade plena faz sentido que um navio balance no mar, porque o navio é produto de trabalho humano, mas o mar não, então o navio desliza numa substância que é naturalmente movente. Mas numa sociedade plena não faz sentido algum que um ônibus balance sobre uma estrada de asfalto, porque tanto o ônibus quanto o asfalto são produtos do trabalho humano, e ao longo de nossa história já desenvolvemos tecnologia tanto pra fazer o ônibus andar bem regulado e sem tremer, tanto pra fazer o asfalto ser bem feito e não esburacado, quanto pra levar essa tecnologia de ônibus e asfalto pra qualquer ser humano que dela precise e que a queira utilizar. Quando o objetivo do trabalho não é o lucro de uma das classes (que depende da precariedade da outra classe), mas o prazer de todas as pessoas, sem distinção de classes, o nome disso é plenitude. Quando o trabalho deixa de ser suor em troca de salários baixos, e se torna novamente aquilo que faz do ser humano um ser pleno, quando o produto do trabalho (de todas e todos, e não do trabalho apenas de uma classe) não é privatizado, não vira propriedade de alguns, mas está a serviço de todas e todos. temos uma sociedade plena. Quando o trabalho não tem a função de produzir riqueza pra virar propriedade privada, a serviço do capital, mas sim de produzir riqueza pra ser compartilhada plenamente com todas e todos, de ser socializada e tornada comum, estamos saindo do capitalismo e indo pro socialismo.

Artifício socialista é um instrumento para o processo de trabalho revolucionário, ou seja, para o processo de trabalho que vai produzir uma sociedade plena e socialista. E um blog que quer contribuir para que nossos corpos tenham idéias de como usar artifícios na construção do socialismo, não poderia ter outro nome que não fosse ARTIFÍCIO SOCIALISTA!

beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A dança e o que os corpos podem!


A dança! Nada pode ser mais sensual que a dança! O corpo dança, que delícia... As palavras dança e delícia devem ter se conhecido de outras encarnações, quando eram outras palavras, mas já tinham as mesmas almas (talvez em alguma outra língua que já morreu, como uma encarnação passada, em uma civilização antiga)! E com certeza, em todas as línguas em que as almas dessas duas palavras se enamoraram, dança e delícia, elas sempre tiveram o mesmo significado: sensualidade!

Quando digito a palavra sensualidade, as letras aparecem na tela do computador como se na progressão dos segundos, no tempo da música, fossem mudando as posições do corpo da bailarina, no ritmo da dança... Sensualidade é uma palavra dançarina, que em uma literatura, dança ao som da música das teclas... foi assim na máquina de escrever, e ainda é assim nas teclas de um blog! Tô pra dizer que foi assim quando em infância riscávamos o lápis no papel (e até a pausa da borracha), e também com o som do riscar de pedras, de utensilhos (de artifícios) nas paredes das cavernas... A literatura, a pintura, a alegria e o prazer, assim como todas as artes, são danças...

Não se irritem por eu estar buscando uma origem, não se ofendam, nem me zoem antirrizomático, por favor! Estou me permitindo uma licença poética, então me dêem licença um instante, que preciso passar com uma idéia, com uma dolorosa idéia: A origem de todas as artes é a dança! O corpo é a raiz de toda mente, pra apresentar uma idéia bem dialética através das palavras do clássico e inperdoável dualismo cartesiano! E saindo do cartesianismo, é isso que um corpo pode, porque o extremo do que um corpo pode é a arte, e o extremo da arte não poderia deixar de ser, então, a arte mais corpórea de todas!

É sempre com o corpo (e com artifícios) que o ser humano faz arte! Aliás, o ser humano é sempre um corpo, então seria melhor se eu dissesse que é sempre com o corpo que um corpo humano faz arte! Com o próprio corpo e com o dos outros, que acabam sendo artifícios tão úteis pra cumprir essa tarefa urgente que é a arte quanto o próprio corpo! O blog é apenas uma forma incipiente de tentativa de dançar, já que com meu tão artificial corpo, não sou tão capaz da dança, teclo palavras dançantes!

Por isso disse que traria a idéia dolorosa: me dói saber que meu corpo é desinteligente pra dança! Saber que o ser humano inventou tanta inteligência, ao longo das gerações que, desde as cavernas e desde as savanas, vêm dançando e fazendo outros tipos de arte, e inventou tanta tecnologia pra transferir essa inteligência através de uma pedagogia libertadora dos corpos, mas ainda assim essa humanidade escolheu, ainda está escolhendo (esperamos que por enquanto!), usar a inteligência burra da tecnologia pedagógica da coerção, que faz do corpo algo tão limitado, tão alienado (estranhado) do prazer e da liberdade de dançar, que a gente tem que privatizar o acesso à inteligência do corpo! Esperamos que por enquanto!

A dança é a mais livre das artes, acho que é por isso que eu lhe dediquei tão original papel! O que pode um corpo? Pode ser Bob Marley, pode ser Pina Bausch, pode ser Rosa Luxemburgo, pode ser Elis Regina, pode ser Jorge Amado! Se um corpo pode ser coisas assim, se um corpo pode ser gente assim, um corpo pode fazer muita coisa livre! E se um corpo pode inventar a liberdade, exercitemos isso ao estremo, e isso seria o comunismo!

O comunismo é uma grande obra de arte, como se tivéssemos socializado tudo! Os alimentos, a terra, os meios de produção e o poder de gerir o trabalho e toda a vida, como se tivéssemos socializado a saúde, a educação, o amor, as tecnologias, inclusive as tecnologias pedagógicas, e inclusive (através das tecnologias pedagógicas mais livres que já pudemos inventar), as inteligências do corpo! O comunismo não pode haver se não houve socialização de tudo, inclusive da inteligência e do auto-conhecimento acerca do próprio corpo e dos corpos humanos no geral! Quando a ciência que as poetizas e os poetas do corpo inventaram for de livre acesso a todas e todos que quiserem, inclusive as ciências do respeito ao próprio corpo e ao corpo alheio, o respeito ao direito individual de decidir sobre o próprio corpo, com respeito aos corpos alheios, o direito de ter prazer como quiser e de fazer arte como quiser, o direito de degustar as cidades, as paisagens, os lugares, os territórios com o corpo, o direito de desfrutar de outros corpos e de se deixar desfrutar pelos mesmos, o direito de relacionar corpo e natureza e de, em harmonia com tudo o que o corpo tem de artificial, ter o corpo como parte integrante da natureza! Dá pra se perder nas palavras, só de sonhar com o quão livre um corpo pode ser!


A dança nos diz isso, quando é uma dança livre! Ela diz que um corpo pode, que os corpos podem ser livres! Mas é importante também que haja danças que digam da opressão, que nos contem, que nos lembrem, que um corpo pode também ser oprimido, ou oprimir! Para nós, que queremos fazer dos corpos experiências de liberdade, laboratórios do prazer, para nós é fundamental nunca apagar da memória essa verdade (dura, mas que um dia haveremos de, enquanto classe, superar), a verdade de que um corpo pode praticar e sofrer opressão e exploração! E é essa verdade maldita que nos faz querer tanto optar pela outra verdade, a verdade que a dança pretende efetivar como invenção, efetivar como arte...

...a verdade de que todo corpo pede por plenitude, por prazer e liberdade!


Que a dança nos ensine a saborear o mundo, e a fazer do mundo algo que valha a pena saborear! E cujo sabor todos os corpos tenham o direito de saborear!


Nada pode ser mais sensual que a dança!



beijinhos de maracujá!

Em breve, a mais nova novela do blog Artifício Socialista!


Pessoal, vou começar a escrever uma novela, e gostaria com este texto de convidá-las e convidá-los a seguir o enredo emocionante que será apresentado nas páginas deste fanzine bolchevique que agora estão a ler! Esta obra literária que postarei aqui em fascículos, é uma síntese de muito trabalho observativo e pesquisa no campo de atuação profissional que tenho interesse, tanto como psicólogo prático quanto como pesquisador... O campo das Drogas!

Por isso contaremos a história de duas auto-biografias, completamente distintas, mas que se cruzam em algum momento bem humorado do destino, construindo uma trama envolvente e instigante que levará a leitora e o leitor ofegantes até a última página!

Convide suas amigas e seus amigos a conhecer esta espetacular novela, com lançamento exclusivo do blog Artifício Socialista, em fevereiro de 2012:

"É COMO SE PROIBISSEM UMA PINTURA!"

Uma novela-manifesto!

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Nós, Intelectuais da Favela...


Serra, ES, 20 de fevereiro de 2012

Nós, intelectuais da favela, temos uma coisa a dizer pra vocês, intelectuais de esquerda filhas e filhos da burguesia. Tanto uma coisa pra quem quer fazer revolução, quanto uma coisa pra quem quer continuar praticando as opressões brancas, masculinas, hetero, sãs, sóbrias, falantes, ouvintes, videntes, andantes, motoristas, motoqueiras, capistas, elitistas, catolico-calvinistas e burguesas que são possíveis a alguém que se diga intelectual de esquerda. Aos primeiros: venham conosco! Aos segundos: tenham medo de nós, pois demoliremos seus planos! Ou venham conosco!


Nós somos um perigo sem precedentes, porque nós não temos rabo preso, e nós somos inteligentes, eruditas e eruditos pra caralho! Nós não comemos às custas da exploração, nós somos legítimas filhas e filhos da Classe Trabalhadora, por isso podemos odiar a exploração capitalista (que não nos alimenta, mas nos rouba)! Vocês são incapazes disso, porque não romperam com os benefícios elitistas,  por isso nunca terão a competência nem serão capazes de fazer a ciência crítica que fazemos! Nosso materialismo é muito mais histórico-dialético, já nasce mais apto a compreender a concretude da relação capital-trabalho do que o de vocês! Ou vocês lêem os textos que estamos escrevendo nas favelas (de madrugada, conciliando estudos, doideiras e turnos de trabalho), ou nunca serão capazes de fazer filosofia, ciência ou teoria de verdade!


E outra coisa, aprendemos com o Pessoal do Ceará que amar e mudar as coisas nos interessa mais, mas somos SIM interessadas em teorias, em poesias e no algo mais! Nós somos poetisas e poetas, nós somos artistas, nós somos as flores do asfalto, um tipo de mato que o cinza não mata! Somos criativas e criativos como cadelas no cio! Seduzimos e atraímos as idéias! Nós, intelectuais da favela, somos o cio das cadelas da favela! E vocês, como cães domesticados, precisam se deixar levar pelo cio e vir conosco, com as cadelas sedutoras, ou ficarão pra sempre ladrando a intelectualidade pelega de uma esquerda conservadora e boçal! A favela é a vanguarda agora, nós já estamos no comando do processo revolucionário! Nós já temos um exército armado em cada favela, ou mais de um, precisando apenas do comando de uma vanguarda intelectual e proletária! E toda favela tem um cenário, ou mais de um, cheio de coisas e arte a dizer! Se nós, intelectuais da favela, fizermos uma rede que una todos os cenários, tiraremos todas as baratas dos bueiros, teremos o maior megafone do mundo, que derrubará todas as liturgias com o grito de todas as favelas do mundo todo! Os batuques do terreiro imenso, de nosso quilombo internacionalista, derrubarão toda a etiqueta opressora da missa em latim! Educar a favela pra fazer arte e apreciar é o nosso imperativo!


Nós, intelectuais da favela, não somos intelectuais pé de chinela, pelo fato de não sermos europeizadas e europeizados! Muito pelo contrário, é isso o que nos dá mais propriedade, porque somos pessoas conectadas com o mundo todo, mas somos pessoas feurrozeadas, ou algo que a isso equivalha! Nós somos fodas! Cadelas em cio e baratas, das mais dignas e valorosas que a luta socialista já viu e já pôde gestar! Nós somos capazes de tudo o que vocês fazem, somos quartistas, lemos Demerval Saviani, lemos Mészáros e Lukács, lemos Marini e manjamos muito de método, somos capazes de entender Hegel, Einstein e Espinosa! Mas vocês nunca entenderão Marx como nós, e nunca saberão criticar Nietzsche como nós, porque somos feministas, somos quilombolas, somos antimanicomiais! Nós temos muito a ensinar pra vocês! E o que for pra construir unidade e parceria no seio da classe, fecha co' nóis, que nóis é o certo! A gente não tá lutando por legalização só porque a gente quer fumar um na paz e curtir nossa comunidade! É isso também, mas não é só isso! A gente quer legalizar porque o tráfico tá acorrentando a favela no comércio de armas e delícias, mas no dia em que for legal, a favela estará livre e armada, pronta pra fazer a revolução! Então, intelectuais de esquerda filhas e filhos da burguesia, venham conosco, aprendam conosco, e nos deixem aprender com vocês também! Seremos uma mesma classe, apesar de nossas origens diversas, e faremos uma mesma revolução! Pelo seio da favela sereis vós adotadas e adotados!

Intelectuais das favelas de todo o mundo, uni-vos!


beijinhos de maracujá!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Fantasiado de Criança Brincando!


Ontem fiz vinte e quatro anos! Vivi momentos incríveis, com pessoas incríveis, em lugares incríveis, que adoro, e fazendo coisas incríveis! Me dei conta de que esse carnaval, que começou com meu aniversário, veio pra que eu viesse fantasiado de uma coisa, o carnaval inteiro: vim fantasiado de criança brincando!

Criança brincando! Isso mesmo! E é apenas fantasia, porque me dei conta de que eu estou agora, finalmente, adulto! Antes estava me guardando para quando o carnaval chegasse... E agora que ele chegou, estou brincando de ser criança brincando, só pra relembrar todos esses vinte e quatro anos, e constatar que já tenho chão pisado e bagagem suficientes pra poder viver com classe e compostura a vida adulta!

É isso! O Zé tá adulto! O Junior tá adulto! Tá adulto o Jururu! Tá adulto o Sauros Picareta! E ainda fazendo poesia underground como em 2003, na adolescência!

Já fui deliciosamente adolescente, achando que estava saindo dela! Mas agora tenho certeza: estou adultos, estamos adultas e adultos e, mais do que tudo, estou pronto pra vida, pronto pro mundo, pronto pra luta!

E descobri que quando criança, eu brincaria de super-herói! Eu seria o Super Zé, e minha bicicleta Maria Fernanda teria sua identidade secreta, a Super Dori, em homenagem àquela peixinha maconheira do Procurando Nemo! Aquele filme nos ensinou que uma mulher maconheira poderia ser protagonista e heroína de um filme de cinema, de um filme da Disney... Há quem diga que são só boatos, há quem diga que é mensagem subliminar! Mas de uma coisa eu tenho certeza ABSOLUTA!

Aquela peixinha é aquariana!


“Tempo é criança brincando, jogando; de criança o reinado” (Heráclito)

beijinhos de maracujá!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Carta aos meus amores!



A todas, todos e tudo que amo, às minhas paixões, às minhas amizades, à luta revolucionária, à humanidade inteira, ao belo mundo que temos (e que precisamos transformar), à arte e todas as suas nuances (belezas que só a humanidade faz), à ciência crítica, que é nossa arma contra as mentiras da burguesia, ao prazer de estarmos vivos e de, mesmo diante de tudo o que há de mais contraditório neste mundo, inventarmos alegrias e prazeres durante a luta pra construir um outro mundo, onde ninguém seja privado de nenhuma invenção humana: onde ninguém passe fome de comida, nem de saúde, nem de direitos, nem de saber, nem de poder de decidir sobre a própria vida, nem de decidirmos juntos sobre a vida da pólis, nem de alegrias, nem de prazeres!

Esta é uma carta a tudo o que um revolucionário ama, no dia em que fica mais velho, aniversário de um militante apaixonado. E eu só queria agradecer a todas e todos que são minhas paixões! Às minhas companheiras e companheiros de luta, e a todos os coletivos nos quais não me sinto sozinho pra lutar, muito obrigado por estarem comigo, e assim me darem força para chegarmos até aqui! Que hoje seja um dia incrível, um dia de praias, um dia de sorrisos, um dia de conspírações pra fortalecer a luta! Que hoje a minha alegria, e a nossa alegria, sejam do tamanho do amor explosivo que sinto por vocês!

Eu acredito que o amor transforma e é liberdade! Que neste envelhecedor carnaval o meu presente seja um mundo com amores mais livres, que nos soltemos das amarras que nos fazem "amar" entre aspas, amar o amor que prende, que nem pode ser chamado amor, o amor entre grades. Que nesta festa da carne, não façamos nem o amor moralista que não se expressa livremente, nem o amor "descontrolado" que oprime e faz sofrer em nome do "amor". Se o amor oprime, ele não é "descontrolado", ele é controle. Se o amor agride, se ele submete, hierarquiza, se ele se aproveita do outro e o usa, se ele trata o humano como coisa, ele não é amor. Todo amor é livre e só amamos quando somos livres para amar e receber amor.

Que não deixemos de lutar nunca, por um mundo em que sejamos plenamente livres para viver e amar o mundo, por um trabalho em que sejamos plenamente livres para viver e amar o trabalho, por dias em que sejamos plenamente livres para viver e amar os dias. Nós fazemos a nossa história, então que a façamos cada vez mais prazerosa de ser vivida!

Esses são meus votos a todas e todos que me amam e que eu amo, neste meu dia de aniversário! Aos dias dezoito de fevereiro desta louca dois mil e doze, agora com vinte e quatro anos, eu digo obrigado a todo mundo que me deseja parabéns, e redireciono essas felicitações à minha tão grande e amada gangue: Parabéns a todas e todos que vivem a luta prazerosa e o prazer lutador, que lutam por igualdade e alegria para todas e todos! Eu me sinto parabenizado se parabenizarem a minha gangue, se parabenizarem os meus amores!

Lutadoras e lutadores, obrigado por existirem, e existam cada vez mais! Vocês são o maior presente que eu poderia receber! E são o presente que eu quero!

beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Carta ao povo de Feu Rosa!


Serra, 15 de fevereiro de 2012


Eu sou morador de Feu Rosa e sou estudante de Psicologia da UFES. Não são duas coisas comuns de se encontrar ao mesmo tempo em uma mesma pessoa e, na boa, não foi porque eu fiz por merecer, nem porque eu sou melhor, nem porque eu batalhei por isso. É porque deveria ter vaga pra todo mundo e não tem, então só alguns são privilegiados, e eu não tenho orgulho de usufruir de algo que é privilégio de poucos.

Mas eu entrei lá na UFES, então vou usar isso não apenas em proveito próprio, mas para todas e todos que financiam aquela Universidade e que precisam dos conhecimentos e serviços que ela produz. Aquilo é de todas e todos, então todo deveria ter direito de usar. E já que eu tô tendo esse direito, então vou me colocar à disposição do que for para todas e todos, não é lógico, isso?

Lá eu participo do Centro Acadêmico, o CALPSI-UFES. É um grupo de estudantes de psicologia, que se juntam para pensar como o curso pode ser melhor pra quem estuda lá, e também pra quem não estuda lá. A gente sente na pele uma série de coisas, e por isso quer lutar pra mudá-las, e acaba querendo também mudar aquelas que a gente não sente na pele, mas sabe que outras pessoas sentem, e que a gente pode estar junto com essas outras pessoas. Afinal, a UFES não é só nossa, não é só de quem passou no vestibular, então o que aprendemos lá dentro não deve servir só pra gente lutar pelos nossos direitos de estudantes, e sim pelos de todas e todos.

Mas o que me incomoda demais, e que hoje conversando com um amigo, também de Feu Rosa, me fez querer desabafar em vocês, é que eu estudo na UFES só a 4 anos, frequento ela a no máximo 7 anos, e tó junto com outras pessoas de lá de dentro, unido e lutando organizado pra melhorar as coisas que eu e essas pessoas de lá de dentro achamos justo mudar. Mas porque é que eu não estou unido e lutando organizado com outras pessoas que, assim como eu, moram em Feu Rosa, estudam em Feu Rosa, trabalham em Feu Rosa, vivem em Feu Rosa, o bairro em que moro praticamente desde que nasci? Vou fazer vinte e quatro anos, e moro neste bairro há vinte e três. Mas eu não vejo as pessoas se juntando. Vejo no máximo umas duas dúzias de gatos pingados brigando pela associação de moradores, se acusando mutuamente, trocando de cargos e fazendo pouca diferença pra vida efetiva das pessoas que moram neste bairro. Será que todo mundo tá satisfeita e satisfeito em Feu Rosa? Será que lá tá tudo bem, tá tudo bom, tá tudo muito justo, belo e em paz?

Feu Rosa é um bairro grande, rico em criatividade, com muita gente artista, muita gente inovadora, muita gente inteligente. Mas infelizmente é também um bairro cheio de desigualdades: gente que vive com muito e gente que vive com nada. Gente que tem que ralar pra viver, e gente que faz aliança com corrupto pra manter privilégio. E tem gente que tá fora de Feu Rosa, lucrando em cima dessa gente toda daqui. E a minha pergunta é: porque é que o povo de Feu Rosa não se junta? Tá mesmo todo mundo satisfeito?

Não tá! Não tem satisfação! Não se trata de um povo "alienado", não é um povo que "acha que tá tudo bom" nem um povo que "não vê os problemas ao seu redor". Quem vive em Feu Rosa sabe, e é só observar pra constatar: as pessoas sabem que não está bom, sabem que tem gente em situação melhor, sabem que do jeito que está, tá errado, e sabem que tem como mudar (mesmo que achem muito difícil, o que de fato é!). As pessoas estão incomodadas. Elas estão MUITO incomodadas. Mas o problema é que esse incômodo ainda está acomodado, e o que falta é transformar esse incômodo em movimento.

Então estou escrevendo essa carta pra chamar todas as pessoas incomodadas de Feu Rosa a se movimentarem. Quero lançar um movimento pela construção de uma nova Feu Rosa. Não é uma chapa pra associação de moradores (nada contra, mas não acho que a vida do bairro se resuma a isso), nem se trata de uma nova sorveteria ou de uma nova igreja. Se trata apenas de a gente juntar quem não tá feliz com essa situação do jeito que tá, e quer se unir pra lutar por mudanças.

Se os nossos jovens, muitas vezes negros, morrem assassinados (seja por tiro da polícia ou de outros jovens negros), não dá pra gente continuar colocando a culpa no jovem que morreu, ou apenas culpando quem matou. Um sistema que leva as pessoas a viverem a vida assim, um sistema que transforma seres humanos em marginais, pessoas que devem se esconder, que devem ter vergonha da vida que levam, tem algo muito errado aí, que vai para além de nossos jovens. Se falta cultura, se falta lazer, se falta diversão e prazer pra gente. Se quando estamos andando na rua, é normal que a polícia nos pare, nos ponha na parede, nos trate como bandidos, nos constranja (com ou sem truculência, pouco importa!) baseada na cor da nossa pele, ou no modo como nos vestimos, e isso nunca acontece com quem mora na Ilha do Frade. Se a gente se acostumou, mesmo que ainda sentindo humilhação, a ouvir piadas preconceituosas contra nosso bairro e quem mora nele. Se é normal que a natureza seja destruída nos arredores de nossa terra, e tenha gente lucrando com isso, e que quando um evento cultural aparece por aqui, o jornal diz que foi "próximo a Jacaraípe", mas quando uma morte é não tão perto daqui, o mesmo jornal diz que foi "nas imediações de Feu Rosa". Se apesar disso tudo, as pessoas ainda não se uniram pra lutar por mudanças, então que tal nos unirmos agora?

Não dá pra gente ficar só cuidando do nosso próprio salário, do nosso próprio quintal e do nosso próprio arroz com feijão. Hoje a gente tem, e ignora que haja quem não tem. E se amanhã tomam isso da gente, quem é que vai lutar por nós? Feu Rosa não é uma selva, não é a terra do "cada um por si". Feu Rosa é um bairro de gente criativa, e se essa criatividade se junta à fraternidade, ninguém pode com a gente! Então precisamos de solidariedade e companheirismo. Vejam o que está acontecendo no mundo todo. As pessoas cansaram de aguentar caladas, estão fazendo greve, estão ocupando praças, estão fechando ruas, estão fazendo manifestações de todo tipo. Cada vez tem menos pessoas caladas, cada vez mais gente grita. E a voz de Feu Rosa está sendo aguardada por todas e todos. E é claro, temida por quem tem poder às custas do nosso silêncio.

Não é uma urna que vai resolver nossos problemas. Não é o povo de Feu Rosa votando em alguém, que as coisas vão mudar. Não temos que dar a outra pessoa um poder que é nosso. A gente tem é que se unir e lutar por mudança. E aí verão que estamos vivas e vivos, antes de mais nada!



Por fim, eu gostaria de deixar uma música, que eu fiz em janeiro de 2010. É uma gravação caseira, o som tá baixo, faltam instrumentos, mas é de muito coração. E fala exatamente sobre a maior riqueza que existe em Feu Rosa e Vila Nova de Colares: seu povo.




E repito mais uma vez o apelo: vamos fazer nossos incômodos virarem movimento! E vamos nos movimentar! O convite já está feito!

beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Baratas, saiam dos bueiros!


 
Em homenagem à Banda Beck Power! Dedicada a Maria Fernanda e Maria Joana!

Estão querendo higienizar esse mundo, tal qual o conhecemos, e pra nós, pra vocês, habitantes dos esgotos deste mundo, se trata de um risco de vida. E até podemos sofrer extermínio, mas não tô falando de morrer, e sim de uma obrigação de submissão à vida limpa! Querem desfazer os ambientes que hoje podemos habitar, e se ficarmos apenas nos defendendo desses ataques, a tendência é termos que nos ternoegravatizar, e nos enquadrar por completo à ordem social vigente.

Então o recado aqui é para as baratas, para as habitantes da fumaça, para as companheiras e companheiros de latrina: ocupemos as ruas, ocupemos as praças, ocupemos a cidade, ocupemos o mundo que é nossa casa!

Precisamos sair dos bueiros, conquistar novos territórios, sair da defensiva e partir para o ataque. E não se trata de obrigar os domesticados a viverem como baratas, se trata apenas de fazê-los entender que terão de coexistir conosco, com as mensageiras da imundície humana, no melhor dos sentidos.

Querem que sejamos domesticadas, nos querem encoleiradas, lavadas pela água benta da moralidade dominante, mas somos nós, as baratas, que damos ao mundo a condição de não ficar como está. É por isso que incomodamos tanto. Porque dançamos não a dança do salão, mas o hard core e a dança da vida. Porque o nosso amor não é familiar, não é apenas depois do casamento, nem usa vestido branco, porque o nosso amr é o amor das ruas. Porque nos drogamos, porque nos alimentamos dos alimentos que a cidade nos oferece. Porque a nossa dieta é balanceada não por nutricionistas, mas pelos hábitos de toda a sociedade. Nós nos alimentamos do que resta, nós demovoramos a moral deles, e a devolvemos contaminada de liberdade. Nós, baratas da Serra, de Vitória, da Grande Vitória, de todos os cantos do mundo, somos a engrenagem que faz a vida ainda fazer sentido. Se formos derrotadas, esse mundo perderá a razão de ser, porque a razão de ser desse mundo é correr o risco de se tornar outro mundo.

Os animais domesticados, que nos querem pisadas e dedetizadas, precisam de nós para que suas vidas façam sentido, mas a nossa presença causa um tremendo mal estar. Se eles pudessem, nos trancariam nos bueiros. Mas nós estamos com tanto medo, com tanto asco ao contrário, estamos tão conformados com a higienização promovida pelos domesticadores, que nem precisamos que alguém nos tranque. Introjetamos a voz do opressor e dizemos pra nós mesmas que não é hora de sair. Mas é!

Vamos encontrar a luz do dia, ou mesmo a luz da lua. Talvez até a dos trovões. Mas saiamos do submundo, e façamos submundo no mundo inteiro. Se não ficou claro ainda, essa é a nossa missão. Enfumaçar o mundo inteiro, já que moramos na fumaça.

Venham para a luz, vamos iluminar a cidade inteira com o brilho de nossa imunda asa. Vamos percorrer com nossas patas peludas todas as esquinas e todas as loucuras que esse mundo nos reserva.

Acreditem ou não: Somos nós, na nossa insana desobediência, que vamos fazer deste mundo um mundo novo.

NÃO À REPRESSÃO FASCISTA! VIVA O DIREITO AO FUNDO DO POÇO!

ENGENDREMOS A LIBERDADE!

beijinhos de maracujá!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Arqueólogos encontram registros de antigas civilizações... Especialistas questionam veracidade do artefato...



Vitória, 12 de fevereiro de 102012 - Anezio Fernandes, da redação

Encontrado artefato arqueológico que pode reescrever por completo a história da espécie humana sobre a face da terra, ao nos contar como viviam nossos ancestrais 100.000 anos atrás.

Uma técnica rudimentar de registro de informações, chamada popularmente de filmagem, foi utilizada para registrar um suposto humanóide banguela e cabeludo, fazendo a leitura de um documento que eles constumavam chamar de site. O que há de mais espantoso é que, se o conteúdo for verdadeiro, este site teria provas conclusivas de que, no ano de 2012, a classe extinta chamada de burguesia de fato controlava a vida das trabalhadoras e dos trabalhadores. Segundo mostra o artefato arqueológico, o humanóide lê o site de uma ong que reúnia empresas do estado do Espírito Santo, e também internacionais, na formulação de projetos que eram diretamente aplicados pelo governo do estado. Governo era uma forma arcaica de organização social, que alguns historiadores dizem que era utilizada há mais de 100.000 anos para que a classe burguesa dominasse a classe trabalhadora.

Diante do vídeo, especialistas dizem que se trata de uma montagem, que nunca existiu tal ong, que a burguesia nunca se organizou pra dominar a vida de ninguém, e que nunca existiu classe burguesa. Segundo os mesmos, nunca houve empresas como Gazeta, Fibria, UCL, Tribuna, São Bernardo Saúde, ArcelorMittal, TV Vitória (que não era dona do Shopping Vitória), TV Capixaba (que não era do grupo Sá Cavalcante, nem era dona dos Shopping's Mestre Álvaro e Praia da Costa), Vale, EDP Escelsa e etc. Aparentemente, o "mito da burguesia" foi criado por devotos de uma religião primitiva chamada Marxismo.

Ao que parece, sendo simulação ou realidade, a filmagem mostra um devoto desta religião, que costumava acreditar que a tal classe burguesa era uma conspiração de inimigos que se reunião em torno de ong's como a citada no vídeo, vulgarmente chamada de Espírito Santo em Ação http://es-acao.org.br/



Para quem quiser conferir o suposto achado arqueológico, está anexado à presente matéria.

beijinhos de maracujá!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Sobre o conceito de radicalidade (ou O que é ser radical?)...



Quem me conhece, com certeza, sabe o que penso sobre radicalidade, mas talvez não saiba o que eu acho que a radicalidade NÃO É... Mas como eu acredito que este blog está fazendo algum sucesso junto a pessoas desconhecidas, vou dizer primeiro o que a radicalidade não é, e depois termino dizendo o que é radicalidade, para quem não me conhece e nunca me ouviu falando sobre isso!

1 - Radicalidade não é agressão, violência, destruição, vandalismo ou atitude criminosa.

As pessoas costumam dizer que um movimento vai radicalizar quando ele vai quebrar coisas, ou prejudicar pessoas. Essas atitudes não são necessariamente radicais, radicalidade não é sinônimo de crime, ou atitude condenável pela opinião pública.

É importante deixar claro que eu não condeno em si a violência contra a propriedade privada. Acho que a propriedade privada sim é que é uma violência, e acho que apesar de poder ser evitada em situação usual, a destruição de propriedade privada pode ser necessária em casos extremos. Quando é o único jeito de escapar da violência policial do estado, quando o nível de crime da burguesia contra o povo excede até mesmo o nível comum de crimes que a burguesia costuma cometer, pode ser que a violência contra a propriedade privada seja necessária. Assim também vale para a violência contra a polícia e contra o exército em casos de conflito extremo entre classes: é CLARO que queremos fazer revolução sem derramamento de sangue, mas a partir do momento em que conquistarmos a hegemonia política, ou seja, em que tivermos mais poder no nível formal, a burguesia vai querer COM CERTEZA lançar mão de sua hegemonia militar. Quando estamos sendo agredidos pela polícia e pelo exército da burguesia, pode ser que precisemos reagir. Não acho que o movimento que não é pacífico é em si descartável. Acho que em muitos momentos e inclusive na atual conjuntura, é necessário evitar a violência contra os militares e a propriedade privada, inclusive para a NOSSA preservação.

Mas essas duas atitudes: Violência contra a burguesia e a polícia burguesa (que são coisas diferentes, mas vale a mesma lógica); e violência contra a propriedade privada (principalmente a da burguesia), mesmo que sendo atitudes necessárias em caso extremos, ainda não são atitudes RADICAIS.

2 - Radicalidade não é loucura, descontrole, falta de inteligência.

Quando uma decisão põe em risco um movimento, seja ele um movimento científico-intelectual ou um movimento social e político, essa decisão não é radical, muito pelo contrário.

Em alguns casos, também extremos, é necessário tomar atitudes que nos colocam em risco. Mas se o movimento estiver correndo perigo de perder muita força ao nos perder, esse risco não é a tática mais inteligente. Só devemos nos arriscar em nome do movimento se soubermos que o movimento sobreviverá sem nós. Se eu farei falta para o movimento, e ele tem chances de acabar caso me perca, e eu me coloco em grande risco em nome do movimento, essa atitude é impensada, desinteligente, e não tem NADA de radical. Radicalidade não é burrice nem descontrole.

Mas é bom afirmar mais uma vez: há momentos em que é necessário que façamos sacrifícios. Muitas vezes eu posso morrer numa ação, mas o movimento sobrevive sem mim e o resultado da minha ação vai agregar força para o movimento, e neste caso, neste caso extremo, pôr a vida em risco é uma atitude que vale a pena. Mas hoje precisamos de cada pessoinha presente em nossos movimentos, então sacrifícios agora não seriam nenhum pouquinho inteligentes.

3 - Radicalidade não é dogmatismo, intransigência, engessamento.

Radicalidade não é falta de diálogo. É preciso haver sempre diálogo, é preciso que eu saiba submeter as minhas idéias e opiniões às críticas que vêm de outras idéias e opiniões. Minha idéia só é válida se ela sobrevive ao crivo das críticas. Se eu me nego a permitir que as minhas idéias sejam criticadas, se eu ignoro todas as críticas, se eu acho que minha idéia é uma verdade absoluta, e nunca faço o teste de submetê-la às críticas alheias, eu não estou sendo radical, eu estou sendo intransigente, dogmático. E isso NÃO É radicalidade.

É claro que não adianta nada eu ter idéias inconsistentes, não ser capaz de defendê-las. Não estou defendendo a falta de idéias. A crítica só é útil porque me ajuda a ver quais idéias devo abandonar e quais idéias vale a pena defender! Então a troca da verdade absoluta pela verdade relativa não melhora nada! O erro de achar que radicalidade é verdade absoluta faz as pessoas "combaterem o radicalismo" aderindo à verdade relativa, ou seja: tudo é verdade, nada é verdade, não existe verdade, todas as opiniões valem, ou todas as opiniões são apenas versões, pontos de vista, níveis de análise, e nada mais.

Se eu defendo minha idéia, é porque eu PERMITI que ela sofresse críticas, e as críticas não foram suficientes para me provar que minha idéia era equivocada. Toda vez que a crítica mostra o equívoco da minha idéia, eu mudo de idéia, e isso é muito bom! Mas só será completamente bom se eu, diante de críticas que não mostrem equívoco em minha idéia, CONTINUAR DEFENDENDO a minha idéia. Afinal, ela sofreu ao crivo da crítica.

4 - Então o que é a radicalidade?

Para responder a esta pergunta, vou reivindicar exatamente o que disse acima: a crítica! A crítica é um método para chegar à verdade, e verdade é a idéia menos equivocada possível sobre a realidade. A crítica se faz no diálogo, e é através do diálogo que idéias verdadeiras são construídas, e idéias equivocadas são superadas. Radicalidade não é dogmatismo, nem violência, nem burrice. Então o que é a radicalidade?

Radicalidade é ir à raiz das questões. Radicalidade é não ficar apenas na superfície, nas aparências, mas chegar, através da crítica, á raiz. Mas aí vocês vão pensar: radicalidade é cavar até chegar na raiz, no que está enterrado, no que está no centro da terra, abaixo da superfície?

Aí eu vou dizer: NÃO. A raiz é a essência, a raiz é o centro, mas essas três palavras não dizem respeito a um núcleo, nem a uma origem de processo linear. A raiz não é o começo, a raiz é TUDO. Raiz é a totalidade, entender a essência de uma questão é entender a questão em sua totalidade, articulada com tudo o que há. Por isso mesmo, aparência não é superfície no sentido da membrana de uma célula, por exemplo. Aparência é UM RECORTE da totalidade, ou seja, um recorte da essência. Essência é tudo e aparência é uma parte. Central não é aquilo em torno do qual tudo gira e constela. Central é o que atravessa todas as coisas, porque é essencial, porque está na totalidade das coisas. Radical é quem vai à raiz, ou seja, quem não entende as questões RECORTADAS da realidade como um todo. Radical é quem age a partir de um pensamento que compreende a totalidade das questões.

A radicalidade é a arma que temos para transformar o mundo, é a arma que temos para compreendê-lo, compreender como ele É, como ele PODE SER, o que PRECISA ser mudado e o que PODEMOS mudar. E o mais importante? COMO mudar.

Mas como radicalidade é totalidade, ela não fica só no entendimento de como mudar, ela precisa ter uma AÇÃO transformadora. E quem tenta entender o mundo na sua totalidade, tenta entender como transformar o mundo na sua totalidade, e tenta transformar o mundo em sua totalidade, pode receber a alcunha de RADICAL.

E este texto é um convite à radicalidade!

beijinhos de maracujá!

P.S.: Alini, companheirinha amada, obrigado por chamar a atenção no equivoco de digitação, já está corrigido. Agora a aparência e a essência voltaram aos seus devidos lugares!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Carta a Repórteres, Jornalistas, Policiais, etc...

Vitória, quinta-feira, 09 de fevereiro de 2012, o Dia D

Olá, vocês, operárias e operários da indústria da criminalização de protestos! Nós sabemos que vocês não são as empresas de vocês, sabemos que vocês trabalham nelas pra se sustentar na vida, como toda operária e operário, mas que não necessariamente vocês concordam com o produto dessa indústra...

Uma parte de vocês é explorada pelas empresas das comunicações, empresas que LUCRAM ABSURDAMENTE em função do trabalho de vocês, e que defendem os interesses de todos os absurdamente lucradores, de toda a burguesia, de todas as empresas que LUCRAM ABSURDAMENTE em função de trabalho da grande maioria dos seres humanos deste planeta, deste país, deste estado, desta cidade! Empresas de todo o tipo, que se organizam em ong's como a Espírito Santo em Ação (curiosas e curiosos visitem http://es-acao.org.br/ e digam o que acharam, ok?) pra defender os interesses de lucro delas e decidir como tudo nas nossas vidas vai funcionar, inclusive quando a polícia bate, como o governo vai gerir a saúde, a educação, a segurança, o transporte, a moradia, a alimentação, a natureza, tudo!

Outra parte de vocês é explorada e oprimida pelo estado, lacaio dos empresários, e pela hierarquia da corporação! A humilhação, o assédio moral, o salário baixo, a sensação de que tô defendendo os interesses de gente rica, e não os interesses do povo, a sensação de que tô batendo em gente que tá lutando por meus direitos, e não em criminosas e criminosos... A humilhação e o assédio moral são maiores ainda quando são mulheres... Na hierarquia, em uma corporação machista, a mulher sofre coisas, e tem que engolir coisas, que fazem qualquer pessoa adoecer... Mas não pode nunca discordar da ordem superior... Se fizer greve é bandido, se pedir salário maior é bandido, se se cansar de ser explorado, é bandido... E o pior, você tem que proteger o projeto daquelas empresas que eu falei lá em cima, as da ong Espírito Santo em Ação! Tô batendo em trabalhadoras e trabalhadores, desempregadas, desempregados e estudantes, pra não atrapalhar os ricos a LUCRAREM ABSURDAMENTE!

E é por isso que eu estou escrevendo essa carta pra vocês! Vocês, assim como nós, são absurdamente exploradas e explorados, oprimidas e oprimidos, para que os ricos LUCREM ABSURDAMENTE... Sabe porque a burguesia, a galera lá da ong, tem tanto medo da gente, a ponto de botar vocês, operárias e operários da indústria da criminalização do protesto, pra trabalhar? Sabe porque eles colocam vocês pra nos tratarem ou nos pintarem como criminosas e criminosos?

É porque eles morrem de medo de uma parcela dessas operárias e operários que são absurdamente exploradas e oprimidas: a parcela dos que se unem, se organizam e LUTAM ABSURDAMENTE... Essas e esses somos nós, manifestantes, geradoras de protestos, e pelos protestos educadas... O medo deles é que QUANTO MAIS A GENTE LUTA, mais perigo eles têm de não lucrar tanto assim... E é por isso que eles morrem de medo e precisam de vocês...



Mas sabe qual é o problema? É que eles não sujam as mãos... Pra que eles possam fazer esse trabalho sujo, eles precisam de operárias e operários, já que eles não trabalham... E aí, usam operárias e operários para criminalizar a luta de outras operárias e outros operários... Só que a luta na verdade é DE TODAS AS OPERÁRIAS E DE TODOS OS OPERÁRIOS! A luta é pra acabar com essa máfia que junta todo o empresariado a favor do seu lucro e contra a nossa liberdade e plenitude... Vamos acabar com o lucro dessa gente, e no fundo toda luta esconde esse risco!

Portanto, vocês, policiais, deveriam ter DIREITO DE MANIFESTAÇÃO, deveriam ter DIREITO DE ORGANIZAÇÃO, ter direito de se unir pra lutar por um trabalho mais digno na polícia, e que dê mais condições de vocês oferecerem segurança de fato pra população... É claro que um estado que quer favorecer o lucro não vai querer uma polícia assim, autônoma pra decidir a favor de quem quer lutar... Por isso a hierarquia que lhes humilha e oprime é a mesma que nos humilha e oprime, e nós queremos vocês livres, tanto quanto vocês querem...

Portanto, vocês, profissionais da comunicação, podem procurar AS MÍDIAS LIVRES e podem fortalecer AS MÍDIAS INDEPENDENTES, podem se organizar com outras pessoas, dentro de suas empresas, que discordam da linha editorial MENTIROSA E CORROMPIDA das mídias burguesas, e fazer um movimento de Jornalistas, Repórteres, Cinegrafistas, Fotógrafas e Fotógrafos, etc. pela DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO, e contra as MENTIRAS CRIMINOSAS da mídia burguesa...

Nós sempre estaremos à disposição pra apoiar vocês em QUALQUER COISA que vocês precisarem... Vocês sabem que podem contar com nosso apoio, sabem como nos encontrar, e podem pedir ajuda e parceria quando quiserem... Só a luta do povo que tem poder de transformar o nosso mundo, e a esperança é a nossa arma contra eles!


beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Leia o Blog Artifício Socialista!

Adira à mais nova campanha deste blog faminto e adicto...
















Se você também concorda, curta, compartilhe, e não levante a bunda da cadeira!

beijinhos de maracujá!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Faz Arte e Aprecia!, um manifesto faminto...


Galera, vamo lá, tô aqui pra pedir pra vocês uma coisa que não é só pra mim, que é pro povo capixaba todo, e gostaria muito que vocês atendessem e repassassem esse pedido, porque o que eu tô verbalizando é uma necessidade que já tá ardendo dentro do peito de cada pessoa nessa nossa Grande Vitória do Espírito Santo, e que a gente precisa aprender a verbalizar, ou a dizer de outra maneira que não seja com palavras...

A gente tá com fome de arte, a gente tá com fome de cultura, a gente tá com fome de música, de criatividade, de alegria... E a gente tá com fome de fazer arte, de fazer cultura, música, criatividade e alegria... Juntando a fome com a vontade de comer, eu tenho um grande pedido a fazer: Façam arte!

Façam arte! Façam arte! Façam arte! Façam arte! Façam arte! Façam arte! Façam arte! É tudo o que eu tenho a pedir... O resto a gente vê depois... Eu não tô aqui pra pedir às pessoas talentosas que pintem, toquem, cantem, dancem, escrevam, atuem, filmem, dirijam, concebam, criem... Eu tô aqui pra pedir a todas as pessoas capixabas, POR FAVOR: pintem, toquem, cantem, dancem, escrevam, atuem, filmem, dirijam, concebam, criem!!!

Faz alguma coisa que você gosta de fazer, faça arte no meio da rua, faça arte com seu corpo, faça arte na internet, faça arte nas paredes, faça arte no seu trabalho, na sala de aula, na sala de espera da unidade de saúde... Mas faça arte com prazer, faça o que você gosta e o que você quer... Não tenha medo de ficar ruim, se ficar ruim, pelo menos você sentiu prazer em fazer... Solte a sua voz, diga o que você tá sentindo, diga o que você pensa do mundo ao teu redor, bote pra fora o que você quiser botar pra fora...

Nem tudo que é arte é bom, mas a carência nutricional de arte do capixaba é tão grande que a gente não pode ficar balanceando a dieta, a gente tem que comer tudo que passa pela frente, que o nosso metabolismo vai digerir, absorver o que for bom e defecar o que for ruim... Mas pelo menos quem fez o que foi defecado foi feliz quando fez, porque fez com prazer...

O que não dá é pra gente ficar mantendo a produção da arte capixaba no gueto às avessas das grandes elites, e dizer que só quem é bom pode pôr a mão na massa... Se a gente seleciona só a arte da elite pra comer, o risco é de a gente comer uma grande e seleta salada de coisa ruim, enviesada e agrotoxicadamente cheia de ideologia alheia...

É UM GRITO DESESPERADO: Se vocês acreditam em Deus, PELO AMOR DE DEUS, façam arte do jeito que lhes der prazer, ponham no mundo, encham o saco de todo mundo, mostrem pra todo mundo, e devorem tudo o que mostrarem pra vocês... Vamos trocar prazeres, sentir prazer em fazer arte, sentir prazer em saborear a arte que outras pessoas sentiram prazer em fazer... Isso vai nos levar para além desse lugarzinho que estamos agora...

Você que já é artista, faz a arte que te dá prazer, mais do que a arte que te dá dinheiro... Vale mais a pena ralar pra conseguir garimpar espaço com a arte mais difícil e a arte mais prazerosa pra você, do que percorrer o caminho mais fácil, se satisfazendo com pouco! Vamos bater de porta em porta, arranjando lugar pra gente... Um povo que canta e dança, um povo que escreve e lê, um povo que troca belezas e tristezas, é um povo mais forte e mais livre!

E vocês, suas DESGRAÇAS, abram espaço pros artistas de tua terra, e até pros artistas de fora também, mas abram espaços pra arte que tá começando a pipocar por todo canto por aqui... Daqui a pouco a arte capixaba vai começar a dar muito dinheiro, e todo mundo vai pular em cima, mas enquanto ela tá mansa e pobre de repercussão, todas as portas estão fechadas... Então se tu tem um botequinho, deixa a meninada do teu bairro fazer um som lá, chama a galera que dança, faz evento, faz encontro, faz cultura... Coloca os poeminhas de cordel e as pinturas da galera do teu bairro pra vender... Acolhe na tua casa quem tá precisando de teto pra inventar, pra ensaiar, pra pintar, pra treinar... Abre espaço pra isso tudo existir... Faz isso ferver aí, faz isso ferver por todo canto... Isso pode até te dar dinheiro, e pode até não te dar, mas acredite, os bons frutos que você e eu e nós vamos colher são muito maiores do que a grana que vai circular...

E, artistaiada mulambenta do meu estado do Espírito Santo, amém!, se as portas estiverem fechadas, arrombemos!

Tá feito o primeiro convite, espero que ninguém fique esperando acontecer... Vamos pegar nossos instrumentos, nossas ferramentas, nossas matérias primas e vamos fazer esse movimento acontecer?

beijinhos de maracujá!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Psicologia em Movimento é a velha nova ameaça...

“Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem” – Rosa Luxemburgo


PARTE I -  O autor apresenta os conceitos de conforto, incômodo, acomodação e movimento, e tenta fazer com que eles fiquem claros para só então prosseguir

Essa semana um camarada meu disse que, apesar de suas desilusões com o sistema, apesar de suas desilusões com a mudança do sistema, apesar de achar que não dá pra fazer nada pra mudar, ele vê importância em uma intervenção: incomodar...

A palavra ficou na minha cabeça: é isso que podemos fazer pra mudar as coisas? Podemos incomodar? E sem dúvida o incômodo é importante... Então é sobre ele que eu vou falar agora...

As pessoas estão muito mais incomodadas do que a gente imagina... Por todo canto as pessoas sentem na pele as contradições da vida toda... Tudo na vida tá impregnado, pregnante, grávido de contradições... E o fato de a gente sentir na pele essas contradições, é algo que causa incômodo... Muita gente tá incomodada e a gente acha que não... A gente acha que essas pessoas estão confortáveis... Mas será que não estão?

Então eu queria propôr uma diferenciação: vamos fazer um acordo? Vamos acordar que conforto e acomodação são situações diferentes? O que me incomoda não me deixa confortável, mas eu posso me acomodar com um incômodo, correto? Percebem que pode ter muita gente que a gente tá achando que tá confortável diante das contradições, mas que na verdade tá só acomodada, mas impregnada de incômodo com as contradições?

Pois é... Eu achei que todo mundo achasse normal, que as pessoas estivessem confortáveis com o machismo nos trotes, e vi tanta gente compartilhando uma imagem que eu fiz sobre esse assunto, no tal do facebook, que aí eu me perguntei: se tanta gente tá compartilhando isso, é sinal de que as pessoas estão incomodadas, não estão confortáveis com isso, a crítica a isso tem aceitação mas, porque não fazem ser diferente, então?

Fazer ser diferente: é isso o nosso desafio! Há o conforto, e há o desconforto, o incômodo... Mas há o incômodo que se move na cadeira e não levanta, o incômodo que não sai da acomodação... E há o incômodo que se levanta da cadeira, que deixa de se sustentar na situação contraditória e se move pra fazer diferente... Posso chamar isso de movimento?

Assim sendo, eu gostaria de compartilhar com vocês algumas coisas da minha vida pessoal, e que são ao mesmo tempo da vida pessoal de muita gente, e em outro sentido, da vida pessoal de todo ser humano que habita a face desta Terra... Pode ser?

PARTE II - O autor fala de sua futura profissão, de sua crise com a mesma, e da superação desta, no sentido simultâneamente afirmativo e negativo que a palavra "superação" possiu dentro da tradição marxista

Eu sou estudante de psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo e sempre achei que o mundo não tava bom e que precisava ser mudado... Quando eu era católico, aprendi com uns católicos metidos a comunistas que o reino dos céus precisava ser construído aqui agora, um reino de justiça e paz na Terra, sem desigualdades, para que pudéssemos alcançar esse reino de justiça e paz no céu... Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no céu... Assim diz a versão católica dessa oração... Não há fé sem obras... Mas eu ainda nem era comunista, só era um católico sob influência de católicos metidos a comunistas... Depois eu acabei virando estudante de psicologia... E sempre ouvia falar da necessidade de desconstruir... Antropólogos e Esquizoanalistas me convenceram da necessidade de desconstruir, eu até conheci bem de perto o cabo do martelo iconoclasta nietzschiano, aprendi a demolir ídolos... Mas ainda tinha resquícios e manias de católico, e achava que não bastava desconstruir, precisava construir alguma coisa, que fosse um reino de justiça e paz na terra, sei lá... Mas precisava desconstruir pra reconstruir algo... Nietzsche, os esquizoanalistas e boa parte dos antropólogos se frustrariam comigo, afinal, quanta moral cristã! Mas eu não sabia porque era, mas algo na contradição entre meu nietzshiano-esquizoanalismo e o meu comunisto-cristianismo me fazia sentir a falta de alguma coisa... E também a presença indesejada de alguma outra coisa... Era como se tivesse algo mais me incomodando...

Eu tive uma crise no meu quarto período de curso... Larguei disciplinas do curso, larguei pessoas da minha vida, larguei certas idéias que estavam estranhas pra mim... Mas não sabia o que me incomodava, nem do que sentia falta... Mas comecei a achar que minha futura profissão tinha um problema, e cheguei a - mesmo que apenas por frações de segundos - cogitar a possibilidade de largar meu curso de psicologia...

Era mais ou menos o seguinte: Eu comecei a perceber que meu curso tinha uma missão... Não era uma missão homogênea, que todo mundo ligado a essa profissão defende, pratica, aprende a defender e a praticar... Mas era sim uma missão hegemônica, que muita gente, a grande maioria ligada a essa profissão defende, pratica, aprende a defender ou a praticar... Uma missão que não era homogênea, mas era hegemônica... E qual era essa missão? Vou contar pra vocês...

A missão hegemônica de minha futura profissão era, e é, a de tentar confortar os incomodados, para que eles se acomodem... É fazer com que as pessoas se sintam felizes, do jeito que estão, apesar das contradições que incomodam... Que se acomodem a elas... Que se adaptem, que aprendam a lidar com cada situação, que aprendam a se adaptar a cada contradição, que aprendam a se acomodar pra ser feliz... Que tenham a autonomia de ser felizes apesar das contradições e a seguir suas vidas adiante, como se estivessem confortáveis, como se o incômodo não existisse...

Mas o incômodo existe, e minha profissão, para meu azar ou para minha sorte, não foi eficiente o suficiente pra me fazer me acomodar com esse meu incômodo... E eu percebi que essa missão, que esse projeto, era hegemônico, mas não homogêneo, na minha profissão... Ou seja, que poderia haver, e/ou que poderia ser formulado, outro projeto para esta profissão... Que eu poderia inventar, ou ajudar a inventar, uma outra missão... Uma missão contra-hegemônica...

Mas foi uma crise que durou muito tempo... Eu passei um ano e meio fazendo o quarto período... Um ano e meio de crise... E saí dela na vontade de construir esse projeto contra-hegemônico... Mas eu só expliquei qual é o projeto hegemônico, que já está sendo bem construído... Como eu vou colaborar na construção de um projeto que eu desconheço, ou que não sei explicar? Qual é o projeto contra-hegemônico? Assim sendo, me senti intimidado a tentar explicar sobre ele, vocês me permitem?

PARTE III - O autor apresenta aquilo que entende ser a raiz do projeto contra-hegemônico para a sua profissão, e fala sobre a importância da radicalidade

Psicologia Social é um nome que atrai militantes de esquerda que não são psicólogos ou estudantes de psicologia... Porque o problema da psicologia, alguns pensam, é o individualismo... Logo, se a psicologia abandona o indivíduo e estuda a sociedade, ela ajuda a fazer ser diferente, ela ajuda a transformar a sociedade... Portanto, a óbvia lógica nos diz que a Psicologia Social é o ramo da psicologia que vai ajudar a militância a avançar nas lutas... Ai, que ledo engano...

Não basta estudar o social... Eu posso estudar o social pra entender como ajudar o indivíduo a aprender a ser mais feliz nesse social, e uma boa parte deste ramo, psicologia social, tem esse projeto específico: aprender como a sociedade é pra adaptar os incomodados, pra que eles aprendam a se acomodar e, portanto, ser mais autônomos e mais felizes nessa sociedade, que a gente entendeu tão bem como funciona, psicologicamente... E por isso, essa missão tão nobre pede que publiquemos muitos artigos, coletemos muitos dados e façamos muitas pesquisas... Afinal é cientificamente comprovado que sociedades que estudam mais como se adaptar, se adaptam melhor... Se isso não é cientificamente comprovado, pode ser, basta achar alguém que te oriente e que seja especializado nessa área...

Não basta estudar o social... É preciso uma outra coisa... Era a coisa que eu sentia falta, e que acho que é a raiz do projeto contra-hegemônico que precisa ser construído para a minha profissão... O que me incomodava era esse projeto adaptativo, acomodativo, projeto que tenta convencer que autonomia, felicidade e conforto são "o que é possível fazer agora", ou seja: já que eu sozinho não posso mudar o mundo, posso fazer alguém ser feliz nele do jeito que ele é, porque pelo menos eu mudei um pouquinho... Mas se esse projeto adaptativo me incomodava, qual era o projeto contra-hegemônico que me fazia falta?

Muito simples: a missão contra-hegemônica para a minha profissão era, e é, ajudar as pessoas a transformarem seu incômodo em movimento... Ajudar as pessoas incomodadas com a cadeira das contradições a se levantarem do berço esplêndido do incômodo acomodado, e partirem para o incômodo em movimento, para o incômodo que transforma... A minha psicologia poderia estudar as pessoas pra perceber que nem todas as pessoas viveram assim, e que portanto, as pessoas que sozinhas não podem mudar o mundo, quando se juntam podem mudar o rumo de suas histórias... Eu estava em crise quando eu descobri que tinha gente pensando a psicologia assim, que tinha psicólogo cientista comprovando cientificamente que o ser humano escreve sua história junto com outros seres humanos, e que seres humanos juntos podem escrever sua própria história... Essa psicologia não transformaria os incômodos das pessoas em movimento, ela apenas ajudaria as pessoas a transformarem em movimento seus próprios incômodos... Ao invés da autonomia de se adaptar ao mundo, potencializariamos a autonomia de lutar pra transformar o mundo...

Ai, Anezio... Que arrogante... Você realmente tá achando que é Deus, né?

Pior que não... Quando eu era católico, eu lembro que Deus dizia que não havia fé sem obras e que deveríamos construir um reino de justiça e paz na terra, assim como no céu... Faz de conta que eu continuei respeitando Deus como respeitava quando era católico... Quero o lugar dele não... Quero só ser mais um ser humano que aprendeu que pode escrever a própria história, e que juntos podemos escrever a própria história... O nome disso não é psicologia social, é psicologia social radical...

Por que radical? Porque vai à raiz... A raiz do funcionamento da sociedade e do social como fenômeno psicológico é: a sociedade é feita pelos humanos, pela atividade dos humanos, pelas ferramentas das quais os humanos dispõem, pelos dispositivos artifíciais, pelos artifícios dos humanos... A raiz do fenômeno que a psicologia social estuda, a essência desse fenômeno, é essa: mais do que ser natural, a sociedade é uma natureza artificial, e portanto, podemos transformar... Qualquer psicologia que se contenta em adaptar indivíduos ou grupos à sociedade que incomoda, é uma psicologia carente de radicalidade... Radicalidade é fazer a psicologia pôr às pessoas a possibilidade de transformar incômodo em movimento... Esse é o nosso projeto contra-hegemônico, essa é a nossa missão radical! Nosso projeto é o nosso artifício, a nossa ferramenta, o nosso instrumento, o nosso dispositivo pra ajudar a transformar o mundo...

Eu não sou mais católico, não sei se esse nosso instrumento ajuda na construção do reino dos céus, mas com certeza ele nos arma para a luta transformadora aqui na terra...

beijinhos de maracujá!

dedicado à camarada Fabiane Sabadine, à CONEP, que talvez seja a minha maior ou segunda maior escola, e aos camaradas já formados, que foram do Barricadas Psicologia Curitiba, e que me ensinaram sem querer que Vigotski não é "um Piaget que enfatiza o fator social"!