segunda-feira, 14 de maio de 2012

Convite a um passeio (ou Sobre os meus livros de poesia)



Como todas e todos devem saber, estou escrevendo um livro de poesia. Na verdade será um livro-trilogia, porque será composto por três livros. Seu nome será "Esforço Absurdo - O Livro", e será composto pelos livros "Esforço Absurdo", "Bicicletário Nacional Brasileiro" e "Poemas com nome de mulher". O primeiro livro falará sobre militância, e sobre como é militar sendo um ser humano (e não um super-herói); o segundo falará sobre adolescência e maturidade, será um livro vigotskiano ao extremo; o terceiro, por fim, será sobre o desafio de ser urbano no século vinte e um, e sobre a necessidade de os seres humanos se perceberem uns aos outros, para sobreviverem à loucura que é a vida na cidade.

É um projeto ambicioso, mas acho que estou pronto para executá-lo. Tenho uma trilogia adolescente (só publiquei o segundo dos três livros, e só virtualmente!), e agora vou arriscar uma trilogia adulta, mas tudo de uma vez. Sei lá como é essa coisa de ser poeta, escrever um livro e vê-lo virar papel. Deveria fazer isso com os livros que já escrevi, mas sempre tive muito medo de tentar, e acho que agora tenho mais perna pra isso do que nunca. Entre 2003 e 2005, não me recordo exatamente quando, escrevi "O Clube dos Corações Solitários". Uma clara referência aos Beatles, o livro tratava de uma imatura síntese de sentimentos afetivos e de resistência social, mas era uma coisa muito confusa, declaração inocente e ainda pouco formada de opiniões enfáticas sobre o mundo. Ao mesmo tempo que tinha uma marca profunda da insatisfação, o livro marcava uma tournée pela vida, tentativa de registrar alegria com a música. Formatei, enviei para uma amiga e perdi o e-mail e o computador em que ele estava. Por sorte, essa amiga possivelmente ainda tem este livro (que é mais dela do que meu! Ambos sabemos disso!). Em 2006 escrevi o "Depois da Chuva". A capa do livro é uma foto linda do Ricardo Koctus (baixista do Pato Fu, e ser humano lindo!), e o nome é inspirado em uma música super deliciosa do Karnak. Estava afundado num universo musical cheio de experimentalidades, nessa época, e ao mesmo tempo, antenado na musica pop, no popular brasileiro, e numa crise pesada, que resultou em uma coletânea cheia de poemas horríveis, e outros maravilhosos! Cheio de sonetos e hai-kais, com uma proposta conceitual e experimental pesada, esse livro falava sobre ritos de passagem, sobre a transitoriedade da vida, e a intenção era questionar a coisa da autoria, da propriedade privada, dos direitos autorais. Fiz um blog para divulgar esse livro, http://manguerestinga.blogspot.com.br/. Acreditem, eu sou uma pessoa tímida, e tive que tomar MUITA coragem pra divulgar poemas tão antigos meus! Mas há pérolas aí, e uma declaração de ódio/amor linda por Vitória. Por fim, o terceiro livro tá no HD de um computador meu que parou de funcionar, e espero ainda recuperá-lo. Tinha uma capa com fotos de galinhas e espelhos, e o nome dele era algo como "Agora que você morreu". Era um livro mais sério, mais duro, mais pragmático e marcado do que os anteriores. Fechava a trilogia exatamente com o "advento da maturidade". Eu era adolescente, jovem adulto, e falava de forma adolescente. Revisitar esses três livros pode me dar coisas incríveis! Reli a segunda parte do "Depois da Chuva", há poucos dias, e salvo poucas exceções, tudo era bom ali. A primeira parte tem mais coisas ruins! Eu gostaria de revisitar "O Clube dos Corações Solitários" e o "Agora que você morreu", e talvez até tentar revisar pra publicar os três, quem sabe?



Agora, 2012, Esforço Absurdo. Do que se trata? Vou explicar com um poema, o que dará nome ao livro. Não é um poema que escrevi agora, para o livro. Escrevi em 2009, quando decidimos que o 23º Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia (ENEP) seria em Belém. Fala sobre o drama de ser Comissão Organizadora de um ENEP, fala sobre o drama de construir algo em coletividade, ainda mais algo que reuna o Brasil inteiro. Eis:



ESFORÇO ABSURDO


Vocês vão me ferir,

Me machucar,

Em muitos momentos vou ficar com muita raiva de vocês
Vou querer deixar pra lá,
Ir cuidar de outra coisa
Arranjar outra missão...
Junto com vocês eu vou sofrer como um cão...

Desde já eu sei,
É sempre assim...
Eu derevia então largar tudo?
Não arriscar o esforço absurdo
Que essa empreitada exigirá de mim?

Nós teremos motivos
Pra matar uns aos outros
Pra não querer saber uns dos outros
Nunca mais...

Pra que, então, querer isso tudo?
Pra que o esforço absurdo?
Pra que abortar a própria paz?

O que vamos ganhar fazendo isso,
Tendo que tolerar opiniões,
Tendo que tolerar exigências e exigir,
Divergir,
Juntar idéias tão diversas
E dividir?

Pra que querer juntar uma nação
Que não é sõ uma,
Que não pensa igual,
Que não tem as mesmas chances e vontades?
Pra que juntar se depois que separa dá saudade?
E porque essa saudade vem
Se há tantas adversidades?

É porque o filho é nosso,
E vai sair,
Mesmo feridos, vamos continuar a juntar
Caquinhos,
Problemas
E carinhos,
E poemas,
e canções...

Vamos fazer juntos
Também,
Algumas revoluções...

E eu, sinceramente, acredito em vocês...

Eu sei que vou ser magoado, sair ferido...
Mas sei que voltarei
(não tem sentido)
Com o rabinho entre as pernas,
Querendo continuar...

Sei que ferirei vocês, iremos chorar,
Vai ter horas que parece que não vai dar certo...
Mas vai ter horas em que quererei ter vocês por perto...
Vai ter horas em que a gente vai se amar...

E vai ter cansaço que virará satisfação,
E vai ter momento em que veremos de nossas mãos
Sair um fruto...

É que sempre dói engendrar obras de arte...
Voando contra o vento, o olho sempre arde...
E só quem já voou sabe do que estou falando...

Esse esforço absurdo é o que nos redimirá,
Porque veremos que faz sentido continuar,
Que após cada tijolo e suor,
Vem outra dor, e outra chance de tudo ficar melhor...

Esse esforço absurdo é o que dará o tom...
E quando tudo estiver pronto, será bom?
Não sei, mas quando a gente se encontrar,
A gente decide se valeu a pena
Deixar esse sonho nos guiar...

Temos um mundo grande pedindo nossas mãos,
E quanto a esse esforço absurdo,
Sei que é burrice dizer sim,
Mas não nos foi dado o direito ao não!

Esse poema data de 14 de setembro de 2009, e é uma mensagem de esperança. É essa mesma mensagem que, quase três anos depois, quero passar com esse livro "maduro" que estou escrevendo. Como o Bicicletário Nacional Brasileiro pretenderá mostrar, não é uma questão de maturidade, é uma questão de luta mesmo. A estratégia é fazer da poesia uma arma, e com ela guerrear uma guerra das boas, daquelas de sair esfolado, mas feliz com a vitória. Poesia é coisa de adolescente, adulto escreve artigo científico! É o flerte com a adolescência que me faz voltar a querer escrever livros de poesia. Espero ter vocês comigo neste processo de escrita, nenhum desses livros foram escritos com o auxílio de nada parecido com o Blog Artifício Socialista. Então pra vocês que lêem esse blog, peço que comentem o "Depois da Chuva", mas que também acompanhem o engendramento deste "Esforço Absurdo - O Livro", que espero em breve poder compartilhar com vocês, pronto. E como é bom voltar à adolescência, termino com um poema de anteontem, 12 de maio de 2012. Mais adolescente, impossível!



CONVITE A UM PASSEIO



E no meio de tanta neblina

Quero conhecer esse caminho que me chama

Quero passear por cada canto desses cantos

Ir, voltar, passar de novo por lugares novos,
Decorar caminhos, saber de olhos fechados
E ter olhos abertos ao passar pelos lugares
Que meus olhos antes nunca tinham explorado.



Quero descobrir tudo o que guarda essa paisagem

Todos os olhares que teus olhos podem ter
Todos os mistérios que tua boca acoberta
Quero cada som, cada suspiro e pedaço
Ir, voltar, passar de novo por pedaços novos
Decorar teus beijos, saber de olhos fechados,
E ter peito aberto ao provar outros suspiros
Que meus lábios antes nunca tinham explorado.



E depois de tudo, descansar por quanto tempo...

Todo o necessário pra pegar outro caminho,
Quero passear pelo teu corpo, qual turista
Quero conhecer cada paisagem de você...



E depois de tudo, nada será como antes...

Cada nova vez, outra viagem, outro encontro,

Não serei o mesmo, nem você será, garanto
Como se todas as vezes fossem a primeira,
E cada estação será um pouco primavera
E cada canção será um pouco a mais bonita
E tudo será exatamente como eu quero
E como tu queres, pois o que eu mais quero, enfim:


Que sejas turista e venhas passear em mim!





beijinhos de maracujá!

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