sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fila de suicidas



O reformismo é um cinismo desesperançoso. O que é o projeto petista de nação?

Eu espero não ser agressivo na sinceridade da explicação, mas me dói falar da condição fétida de algo no qual eu acreditei, e do quanto é decepcionante ver pessoas que já foram exemplos pra mim, acreditando até hoje nesse projeto humilhante. Eu criança de colo fui em comício do Lula cantando rimas que chamavam o nome dele, e em 2006 fiz campanha pra candidatura do atual vice-governador. Que foi quem autorizou o tiro do BME que eu levei em 2 de junho do ano passado. E os vários tiros que minha geração tomou, inclusive o meu cínico reitor. Pra mim tem um lado triste em pensar que o projeto petista poderia caminhar em outras direções, não fosse seu destino de transformar o democrático e o popular em sinônimos de gabinetismo e governismo. O destino de um projeto importante para um episódio da história de um país, episódio esse que já acabou. E o projeto que perdeu a validade continua crescendo feito câncer e vira um grande constrangimento. Condição fétida.

É divertido ver as pessoas no facebook zoando o Lula por pegar na mão do Maluf? E Angeli falando de petistas em fila se matando? É um complô do PSDB no facebook contra o PT? Será então que todos os grevistas são esquerdistas alucinados de cogumelo querendo derrubar a grande obra petista em curso, vitimados por uma grande paranóia, por uma doença infantil? Será que as greves do ABC do final da década de setenta eram a união de um bando de esquerdistas alucinados de cogumelo querendo derrubar a grande obra revolucionária democrática militar em curso, vitimados por uma grande paranóia, por uma doença infantil? Ai!

Eu já senti raiva do projeto petista, hoje eu sinto dó... Dó de nós, porque ele está sendo efetivado, está destruindo as nossas conquistas históricas. E dó dele, do projeto, porque eu me sentiria constrangido de saber que tenho certeza de que o único jeito possível é esse, e de que se não for assim, não tem outro jeito. O problema que esse jeito é sinônimo de reformar o sistema inimigo, e que eu acho humilhante viver a vida apostando no projeto de que a melhor forma de derrotar o sistema inimigo é o reformando. Simples assim. No entanto, há quem diga que nenhum sistema é inimigo, que não dá pra fazer juízo de valor do sistema. Eu fico com medo dos momentos em que transvalorar vira sinônimo de ficar em cima do muro, e Nietzsche vira arauto da neutralidade. Está nos sinais dos céus, está escrito nas estrelas, que ou é esse sistema, ou somos nós. E a gente vai continuar achando que investir no sistema é investir em nós? Que o sistema é produto de nossas ações também, e por isso temos que aceitá-lo do jeito que ele é e só fazer o que é possível pra reformá-lo? Gente, é mais justo assumir que não existe lado de cima do muro, só o lado de lá e o de cá, e admitir que preferiu se posicionar a favor do reformismo. Não acho que acontece com todo mundo, mas sei que tem gente que acaba caindo nessa: envelhece, perde a esperança e finge que reformar é lutar pra vestir a roupa da esperança na reforma.

A minha tese é simples: essa roupa de "esperança na reforma" é uma falsa esperança. Serve só pra vestir e revestir de forma cínica o mais desesperançoso reformismo. E a indignação que está calada e escondida por trás do reformismo, ou diluida na maquiagem de "luta pela via que era possível", não pode acordar jamais. Quem deixa o cinismo desesperançoso ser superado pela indignação, acabou de romper o limite entre a normalidade e a loucura, caiu na paranóia, no surto de cogumelo: uma doença infantil. Nós, que rompemos o hímen moral do cinismo desesperançoso, e fomos invadidos pela indignação e pela esperança, somos um perigo adormecido. Não se trata de um surto, se trata de formular outro projeto, se trata de semear a velha nova ameaça. Eu já senti raiva do protesto petista, hoje eu acho patético, e sinto dó de ver meus outrora exemplos, hoje cheios de razão e argumento pra defender e praticar o projeto que no fundo eles sabem que são humilhantes, fracassados na transformação, cínicos e desesperançosos. Que uma galera continue fingindo que acredita que está contribuindo pra revolução quando trabalha pra esvaziar a nossa greve nas federais, eu até entendo. Mas me pergunto como eles conseguem conviver com a humilhação de internamente saber que é a mais pura preguiça de romper, o mais profundo medo de dizer não pro hábito. O hábito é fazer sempre igual, pra repetir o mesmo sistema, e achar que isso vai fazer revolução. Romper com o hábito é abandonar a "única via possível", e inventar urgentes novas vias.

Somos nós, os artistas, que vamos revolucionar o jeito de fazer revolução. E viva o socialismo, baby! =)

beijinhos de maracujá!

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