terça-feira, 10 de julho de 2012

Chega de Raspa do Tacho (ou Cinco Tarefas para Avançarmos na Luta Grevista da UFES)



Nós temos alguns desafios diante de nós, e devemos seguir adiante para enfrentá-los, com postura firme e combativa.



Nós precisamos consultar, através das vias mais comuns e das mais criativas de trabalho de base, as bases. Como fazer para saber como os estudantes esperam que o movimento seja? Como saber a opinião que aquele estudante que nunca aparece nas atividades da greve, ou que aparece pouco, ou que ainda não apareceu, tem sobre a greve? Como esses estudantes acham que a greve deveria ser, para que eles participassem? Não é ser basista, é construir a partir disso sínteses, para que tenhamos uma formulação baseada nas conversas com as bases, mas formulada de forma madura e consistente através da experiência de quem tá ativo no cotidiano do movimento estudantil. Essa experiência ensina muitíssimo e não pode ser descartada. Porém achar que ela define em si alguma coisa, e que ela pode dispensar a opinião das bases é cair no oposto do basismo, o chamado vanguardismo. Nem basismo nem vanguardismo: precisamos de bases que referendem as vanguardas e de vanguardas que ajudem as bases a cada vez terem mais autonomia. E essa greve é uma ótima oportunidade pra exercitarmos isso.



Nós precisamos também colocar a vanguarda em atividade. Fizemos toda essa discussão: quando podemos dizer que determinado setor é vanguarda? Se não há uma base que legitime esse setor, ele pode se considerar vanguarda? Mas acho que nesse momento, questionar se somos vanguarda ou não é um falso problema. Não se trata de uma base que não legitime, se trata de uma vanguarda escondida, que não tenta conquistar mais e mais a referência das bases, como dito no parágrafo acima. Mas para além disso, essa vanguarda está escondida no cotidiano repetitivo de uma militância pra cumprir tabela, que está longe de ter condições de cativar quaisquer bases. Para cumprir a primeira tarefa, é fundamental que simultaneamente cumpramos esta segunda: cativar a nós mesmos. Precisamos parar de achar que o que fizemos até aqui está bom e que manter a linha que tocamos até aqui vai nos levar a condições melhores. Guinadas nos levarão a melhores conjunturas. E não podemos ficar esperando a correlação de forças mudar, devemos tentar provocar essa mudança, e ao mesmo tempo devemos nos fortalecer para saber como agir quando o acaso da conjuntura nos oferecer alegres surpresas de correlações em mudança. Devemos preparar nosso corpo para a luta, e fazer a luta crescer.



Um terceiro desafio é criar cada vez mais um sentimento geral de "essa greve é nossa", o que é um sentimento verdadeiro. Essa greve é dos docentes, que estão lutando por seus direitos trabalhistas, também é dos técnicos-administrativos, que têm suas outras reivindicações de categoria. Essa greve é também dos trabalhadores dos institutos fererais, tanto docentes quanto técnicos, é também nossa, dos estudantes, porque é o nosso ensino que melhora se a greve tem vitórias. Mas a greve é também da população como um todo, porque a universidade pela qual estamos lutando é pra ela. Essa greve não é só do estudante que faz parte do DCE ou que faz parte de um ou outro CA ou DA. Também não é só do estudante do partido x ou do coletivo y. Essa greve é de toda e todo estudante, de todos os períodos, de todos os campi, de todas as religiões, orientações sexuais e opções políticas. Ser vanguarda neste momento é conseguir transmitir este sentimento. Nossa tarefa nas próximas três semanas é fazer esse sentimento se proliferar como um bom vírus. Se você sentiu no peito uma pontada de "essa tarefa é minha! É comigo que ele tá falando!", preste atenção que você pode ser vanguarda, ou estar se tornando.



Um quarto desafio, que virá daqui a umas três semanas, é o de encher a universidade. Precisamos fazer uso dos mecanismos virtuais de comunicação pra dizer para cada estudante, de cada curso, de cada campi, de cada período, que todas e todos são cada vez mais importantes. Uma greve como há muito não se via, e que pode ficar ainda maior: vamos fazer essa greve de fato existir, cada vez mais e mais. Vamos ir para os atos, para os debates, para as atividades culturais, reuniões locais e nacionais, estudantis e unificadas. Vamos ler e conhecer as nossas pautas e as pautas das outras categorias. Pautas locais e nacionais. Vamos repassar essas tais pautas de reivindicações para que mais gente conheça (e cada vez mais gente sai da condição de base e se torna vanguarda [quando a vanguarda for multidão, quando não fizermos mais distinção entre vanguarda e base, aí sim estaremos fortes!]). Precisamos de espaços de discussão (formulação e formação política) e de espaços deliberativos: Conselhos de Entidades de Base, Assembléias Gerais, talvez até assembléias unificadas, e quem sabe até um congresso de estudantes da universidade, e se for possível, por que não um congresso Estatuinte da universidade? Mas voltando pros espaços de discussão (formulação e formação política), isso precisa acontecer em outros formatos (usar e abusar da cultura, da arte, da ludicidade, da diversão, que são ótimas vias para diálogos produtivos. Precisamos passar o mês de agosto inteiro fazendo da greve um grande laboratório de política, onde formularemos cada pedacinho do nosso projeto alternativo para a universidade. Encher a universidade, para fazer da universidade cheia o laboratório onde formularemos nosso projeto. Ser contra-hegemônicos, disputar hegemonia. Isso não se faz sendo nanicos, precisamos ser grandes, precisamos ter vigor na nossa luta.



Há muitos outros desafios, mas vou finalizar num quinto e espero contribuições em resposta a essa, que me levem a escrever outra lista de desafios e continuar o debate. O quinto desafio é a unidade da esquerda. A esquerda precisa se unificar: quando um coletivo da esquerda diminui, os outros coletivos da esquerda não ficam mais fortes, eles não ganham mais espaço (pensamento medíocre), e sim perdem força aliada. Quanto mais a esquerda diminuí, mais difícil fica para toda a esquerda, e mais fácil fica para a direita e a pelegada, para o governismo e afins. Mas é claro que para chegarmos neste nível de problemas (um coletivo da esquerda diminuindo ser igual ao enfraquecimento de todos), é preciso que nós, coletivos da esquerda, possamos contar uns com os outros como força aliada. Se nem chegarmos a esse patamar, a coisa é pior ainda. Não tem como tocar nenhuma das quatro tarefas acima: nem a referência às demandas das bases, nem o norteamento da direção, nem a construção de identidade geral com a greve, nem a massificação da greve para formulação de um projeto, se não houver unidade da esquerda. Aqui cada setor, ciente de ter a melhor formulação política possível para nosso atual cenário, precisa estar disposto a ceder e abrir mão na construção coletiva com outros setores. Precisamos nos ajudar, compartilhar vitórias e derrotas, precisamos conviver e coexistir, superar o sectarísmo, a auto-construção e a auto-suficiência, superar o imobilismo, a desorganização e a falta de vigor na luta, para que a esquerda produza sínteses sustentadas nas quatro outras tarefas. Esta tarefa se sustenta nas outras quatro e sustenta todas elas. Claro que eu, psicólogo do artifício, não deixaria de levantar desafios a ser superados pela via de uma perspectiva dialética. Isso é previsível, e a dialética permeia essas angústias do início ao fim.



Essas contribuições em parte são minhas, mas em parte não. São de meu coletivo, mas são também de militantes de diversos coletivos, de diversas entidades, e de militantes independentes. São contribuições formuladas também a partir da consulta às bases. E espero que elas sejam vistas não apenas como uma posição disputando contra as posições de outros setores da esquerda, e sim como uma contribuição para que críticas sejam feitas em resposta, me ajudando a repensar posições, assim como espero que as pessoas que critiquem esta contribuição também se deixem criticar por elas. Sem o exercício mútuo da crítica, a esquerda estará eternamente fadada ao fracasso.



E eu insisto: não temos o direito de nos dar ao luxo de fracassar na luta revolucionária, seja ela socialista, anarquista, anti-capitalista, ou só grevista, como queiram. Não estamos lutando apenas por cada um de nós, estamos lutando por uma transformação que é urgente.

Nós temos alguns desafios diante de nós, e devemos seguir adiante para enfrentá-los, com postura firme e combativa.

beijinhos de maracujá!

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