A pergunta é simples: onde a gente fica? De que lado ficamos, e com ficamos do lado que optamos? Já a resposta, não é tão simples como parece, e é por isso que eu quero chamar atenção para algumas coisas importantes na introdução deste debate.
Em primeiro lugar, não é óbvio pra todo mundo que a universidade deve ser popular. Há quem ache isso radical e exagerado, há quem ache isso incrível e revolucionário, há quem ache isso pelego e recuado. Portanto, se queremos falar deste assunto, precisamos sair da inocência de que existe um consenso contra ou a favor desta sentença: "Universidade deve ser popular". Tem gente que não acha que a educação deve ser pública, gratuita, laica, de qualidade e socialmente referenciada. Tem gente que nem sabe o que é "socialmente referenciada", e a gente que sabe, ao invés de explicar, fica agindo como se a galera que não sabe fosse burra. Não, isso NÃO É ÓBVIO. Precisamos sair do mito da obviedade (e se alguém que está lendo esse texto quiser saber o que é "educação socialmente referenciada", me mande um e-mail para joseaneziofernandes@gmail.com que eu explicarei com todo prazer! Não é óbvio que a educação pública precisa já do investimento de dez porcento do PIB! Vocês sabiam que tem até gente que os 10% do PIB sejam também para a educação privada, e que nem sejam agora? E você tá achando que é gente pelega, que defende a universidade burguesa? Não necessariamente! Tem gente que defende isso aí e luta pela universidade popular. Então o primeiro passo, repito, é: SAIAMOS DO ÓBVIO!
Em segundo lugar, Precisamos explicar a diferença de universidade pública pra universidade popular. A idéia da universidade pública passa por uma gestão que não seja privada, em que o estado (e não o interesse empresarial) tenha a tarefa de gestão da educação. A universidade popular tem um outro caráter, que vai pra além de ser apenas pública, ela precisa estar a serviço do povo. É paradoxal perguntar se o interesse empresarial é um interesse popular? Afinal, o cidadão que é dono da empresa pode, de acordo com a conveniência, se declarar ou não parte do povo. Pode mudar de posição de acordo com as fases da lua, ou com o que quer tirar do "popular". Mas no grosso modo, o termo popular quer dizer "aquilo que a gente vai lutar, sejamos nós socialistas ou não, para que o povo viva melhor e seja menos oprimido". E eu acho muito legítimo a gente lutar para que a universidade seja popular, ou seja: claro que queremos que a universidade se pinte de povo! Che Guevara e eu queremos muito isso!
Em terceiro lugar, o que é a universidade burguesa? Vou tentar simplificar: estamos no sistema capitalista, a metabolismo da sociedade é todo voltado para a acumulação do capital, e quem dirige (planejada e espontaneamente) esse sociometabolismo é a classe mais interessada nessa acumulação: a burguesia. A universidade privada é uma fonte de lucro pra burguesia, mas mesmo a universidade pública, ainda é gerida pelo estado, que está funcionando dentro do metabolismo que a burguesia compõe e coordena, ou seja, a universidade pública, por mais que tenha uma série de compromissos legais, morais, constitucionais e burocráticos com o povo (afinal, tudo o que é público é do povo!), ainda assim é uma universidade burguesa. Isso quer dizer que investir dinheiro na universidade pública é investir dinheiro em uma universidade burguesa? Isso quer dizer que lutar por melhorias na universidade pública é lutar por melhorias em uma universidade burguesa? SIM!
Adendo ao terceiro lugar: A universidade burguesa, por mais que nós a disputemos em concepção (forma e conteúdo da universidade), continuará sendo atrelada ao estado burguês, e aos interesses de quem dá as cartas neste estado. O modo burguês de fazer ciência, de produzir conhecimento, de formar profissionais e de efetivar extensão, por mais que diminua diante de nossas lutas, continuará forte enquanto a universidade for burguesa, enquanto o estado for burguês. A pergunta é: por causa disso, devemos ABANDONAR a universidade burguesa? E é exatamente aqui que eu quero chegar!
Quarto lugar: universidade popular muitas vezes é entendida como um abandono da universidade burguesa pra fazer uma outra universidade, por fora, feita pelo povo e para o povo. E eu acho muito boa a idéia de uma "universidade feita pelo povo e para o povo", acho isso louvável, e incentivo iniciativas com essa característica, estarei junto sempre que possível, e pretendo poder oferecer meu trabalho como futuro intelectual orgânico e trabalhador braçal. Mas rejeito visceralmente o movimento de abandono da universidade burguesa. e quero terminar este texto com o quinto lugar, que é o lugar onde eu me desnudo por completo e digo o que eu penso.
Quinto lugar (a minha nudez): é um erro crasso abandonar a universidade burguesa, como se ela tivesse sido feita pela burguesia, sem o povo, e só a universidade popular fosse feita pelo povo. A burguesia não teria jamais construído o conhecimento que ela usa pra se manter por cima, se não tivesse se sustentado no suor da classe trabalhadora pra ter condições de acumular esse conhecimento, ou seja, a ciência burguesa é fruto do trabalho da classe trabalhadora. Mas classe trabalhadora é um termo marxista demais, então vamos usar o bom e velho "popular". A universidade burguesa se sustenta nas práticas e atividades populares, para favorecer os interesses burgueses, e se abandonarmos a universidade burguesa, estaremos entregando para a burguesia algo que é nosso. Esse conhecimento que a burguesia acumulou às nossas custas, pode ser muito útil para nós, e além da perda caso deixemos de fazer uso dele, também tem o problema de como o inimigo fica mais forte se tem essa ferramenta toda sozinha para ele. Disputar a universidade burguesa não é mero reformismo, não é apenas um distanciamento da classe, e sim uma disputa tática importante para a transformação da sociedade. Portanto, quando nós lutamos contra o Reuni (que torna a universidade burguesa mais rala de recursos financeiros, professores, técnicos, equipamentos, estrutura, etc.); quando lutamos contra a EBSERH, que finge melhorar a gestão pública dos Hospitais Universitários federais, mas na verdade é um migué pra legalizar a privatização dos mesmos e destruir os avanços do SUS; quando lutamos em greve, contra todo o projeto de educação que o estado burguês tem pra nossa universidade; etc., não estamos lutando para melhorar a universidade burguesa, estamos lutando para que essa universidade não seja apenas burguesa, mas que seja também nossa! Cada vez mais nossa! Trata-se de uma universidade em disputa.
Isso quer dizer que o movimento estudantil, quando compromissado com essa luta, é um movimento social legítimo da classe trabalhadora (ou se preferirem, da luta do povo, da luta popular). Assim como os professores e técnicos, de todos os níveis, nós estudantes também somos um movimento social da educação. E não vamos apenas discutir como inventar outra universidade por fora, já que essa atual é burguesa e não dá certo. Além de inventar outra universidade, vamos reinventar essa! A pergunta era simples, a resposta não! Mas espero que tenha explicado direitinho!
Agora me sinto a vontade então pra repetir a pergunta: universidade popular X universidade burguesa: onde a gente fica? Respondi de que lado eu fico, mas e vocês? O que acham disso tudo? De que lado vocês ficam? Tirem a roupa comigo também!
E pra quem também fica do lado do Movimento Estudantil e dos outros movimentos sociais da educação: quem disse que sumiu?
Adendo ao terceiro lugar: A universidade burguesa, por mais que nós a disputemos em concepção (forma e conteúdo da universidade), continuará sendo atrelada ao estado burguês, e aos interesses de quem dá as cartas neste estado. O modo burguês de fazer ciência, de produzir conhecimento, de formar profissionais e de efetivar extensão, por mais que diminua diante de nossas lutas, continuará forte enquanto a universidade for burguesa, enquanto o estado for burguês. A pergunta é: por causa disso, devemos ABANDONAR a universidade burguesa? E é exatamente aqui que eu quero chegar!
Quarto lugar: universidade popular muitas vezes é entendida como um abandono da universidade burguesa pra fazer uma outra universidade, por fora, feita pelo povo e para o povo. E eu acho muito boa a idéia de uma "universidade feita pelo povo e para o povo", acho isso louvável, e incentivo iniciativas com essa característica, estarei junto sempre que possível, e pretendo poder oferecer meu trabalho como futuro intelectual orgânico e trabalhador braçal. Mas rejeito visceralmente o movimento de abandono da universidade burguesa. e quero terminar este texto com o quinto lugar, que é o lugar onde eu me desnudo por completo e digo o que eu penso.
Quinto lugar (a minha nudez): é um erro crasso abandonar a universidade burguesa, como se ela tivesse sido feita pela burguesia, sem o povo, e só a universidade popular fosse feita pelo povo. A burguesia não teria jamais construído o conhecimento que ela usa pra se manter por cima, se não tivesse se sustentado no suor da classe trabalhadora pra ter condições de acumular esse conhecimento, ou seja, a ciência burguesa é fruto do trabalho da classe trabalhadora. Mas classe trabalhadora é um termo marxista demais, então vamos usar o bom e velho "popular". A universidade burguesa se sustenta nas práticas e atividades populares, para favorecer os interesses burgueses, e se abandonarmos a universidade burguesa, estaremos entregando para a burguesia algo que é nosso. Esse conhecimento que a burguesia acumulou às nossas custas, pode ser muito útil para nós, e além da perda caso deixemos de fazer uso dele, também tem o problema de como o inimigo fica mais forte se tem essa ferramenta toda sozinha para ele. Disputar a universidade burguesa não é mero reformismo, não é apenas um distanciamento da classe, e sim uma disputa tática importante para a transformação da sociedade. Portanto, quando nós lutamos contra o Reuni (que torna a universidade burguesa mais rala de recursos financeiros, professores, técnicos, equipamentos, estrutura, etc.); quando lutamos contra a EBSERH, que finge melhorar a gestão pública dos Hospitais Universitários federais, mas na verdade é um migué pra legalizar a privatização dos mesmos e destruir os avanços do SUS; quando lutamos em greve, contra todo o projeto de educação que o estado burguês tem pra nossa universidade; etc., não estamos lutando para melhorar a universidade burguesa, estamos lutando para que essa universidade não seja apenas burguesa, mas que seja também nossa! Cada vez mais nossa! Trata-se de uma universidade em disputa.
Isso quer dizer que o movimento estudantil, quando compromissado com essa luta, é um movimento social legítimo da classe trabalhadora (ou se preferirem, da luta do povo, da luta popular). Assim como os professores e técnicos, de todos os níveis, nós estudantes também somos um movimento social da educação. E não vamos apenas discutir como inventar outra universidade por fora, já que essa atual é burguesa e não dá certo. Além de inventar outra universidade, vamos reinventar essa! A pergunta era simples, a resposta não! Mas espero que tenha explicado direitinho!
Agora me sinto a vontade então pra repetir a pergunta: universidade popular X universidade burguesa: onde a gente fica? Respondi de que lado eu fico, mas e vocês? O que acham disso tudo? De que lado vocês ficam? Tirem a roupa comigo também!
E pra quem também fica do lado do Movimento Estudantil e dos outros movimentos sociais da educação: quem disse que sumiu?
beijinhos de maracujá!