Não... Não vai acabar o mundo nem a vida... Mas também não é irrelevante o que tá rolando agora...
Nem é o tudo, nem é um nada, é um instante, um momento, um eventinho singular, uma treta!
Que que acontece? A gente muitas vezes perde o rumo das coisas, perde o rumo da vida, e se pega numas situações tipo "BRO-THER! SIS-TER! QUE QUE EU TÔ FAZENDO DA MINHA VIDA?", e a resposta é "Não sei, mas seja lá o que eu tô fazendo, tá dando ruim!"... Nestes casos, é sempre bom ter uma precauçãozinha, pode ser que você esteja encaminhando a consagração de um processo irreversível, isso pode resultar em perdas irreparáveis. Vale a pena avaliar se é momento de deixar de relaxar pra evitar esse fato trágico... Ou se nem é tão trágico assim!
Porque sim, é uma possibilidade, talvez tudo não seja tão ruim quanto parece, e é importante, quando nos é possível, conseguir lidar com os momentos difíceis da vida sem se noiar em excesso... Nem sempre isso é possível, mas às vezes é!
Mas por outro lado, tem hora que a gente fica de boas demais, em situações em que NÃO TEMOS NEM MESMO O DIREITO de fazê-lo! Às vezes só a gente vai ter prejuízo com isso, mas às vezes não, às vezes a preocupação que nos falta é, por exemplo, perceber que tá oprimindo, ou prestes a oprimir alguém! Não tem desatenção que justifique manter situação de opressão... Não existe essa de "essa sociedade opressora nos forja pra ser assim", ou "somos efeitos de processos coletivos que..." bla bla bla bla bla! TODO MUNDO SABE que a gente é efeito dos rolês dessa sociedade, mas a gente não pode usar isso como justificativa pra relaxar em situações nas quais nos privilegiamos oprimindo outras pessoas!
Diante disso, queria lançar uma observação, que mais tarde será adendada à teoria geral das opressões que tenho formulado para compor a psicologia do artifício:
Toda situação de opressão é irreversível. Nem o perdão nem o esquecimento revertem a opressão sofrida. São duas saídas diferentes, que podem até se combinar, mas são duas falsas saídas. Toda situação de opressão, em que as pessoas envolvidas são de grupos socialmente legitimados em níveis diferentes de hierarquização, em que um polo detém privilégios, tem efeitos irreversíveis tanto para a pessoa que ocupa o polo oprimido, desprivilegiado, quanto para o conjunto da sociedade, já que são situações que reafirmam e aprofundam a continuidade do caráter opressor desta sociedade.
Essa observação implica em alguns desdobramentos. O primeiro é que a continuidade e o aprofundamento contínuo do caráter opressivo desta sociedade é um problema para a coletividade humana, ou seja: a humanidade perde com a atualidade opressora do seu funcionamento geral. O segundo é que nem mesmo outras saídas para além do esquecimento e do perdão, como o chamado "pensamento positivo", compreensão, ver o lado bom das coisas, é capaz de impedir os danos graves à coletividade, a outras pessoas que não conseguem lançar mão dessas saídas, ou mesmo às pessoas que se ocupam destes escudos psíquicos pra se sentirem menos atingidas. Mesmo que se homogeneizasse o uso de tais dispositivos por todas as pessoas oprimidas, a opressão não é constante e permanente, ela se aprofunda, encontra novos métodos, fura essas barreiras. Isso quer dizer, pra concluir o segundo desdobramento, que a única saída lógica para o sofrimento individual e coletivo causado pelas situações de opressão é O FIM DAS SITUAÇÕES DE OPRESSÃO. O terceiro desdobramento é que se toda situação de opressão é irreversível, o fim das situações de opressão pede uma reinvenção completa (não poder relaxar) do jeito de existir coletivamente acessível às pessoas privilegiadas (homens, pessoas brancas, cis, hetero, ricas, magras, etc.). De todos esses exemplos, o único que tem como desfecho lógico o fim das diferenças é o caso das pessoas ricas, porque não há possibilidade de a humanidade atingir harmonia entre as pessoas ricas e pobres, sem acabar com a desigualdade social, o que implica no fim da existência de pessoas que são ricas e outras que são pobres. Em todos os outros casos, a mudança deve ser nas práticas e nos valores psicossociais, e não na existência das pessoas oprimidas.
Feita essa observação, vamos voltar pra vida, aquela danada sucessão de tretas, nos âmbitos em que podemos relaxar. Eu gostaria de concluir com a seguinte reflexão: quando a gente não relaxa diante dos problemas, não relaxar é mais um problema que a gente cria; por outro lado quando a gente relaxa demais e se entrega ao desleixo, isso pode ser uma porta de entrada para a criação de mais um monte de problemas. Isso quer dizer que pra lidar com as tretas, é preciso conjugar o sofrimento extremo causado pela sensação de falta de rumo que a vida às vezes nos proporciona, com a sensação de completude, em geral rara, que a gente tem quando parece que tudo está em seu lugar, pra parafrasear Benito di Paula. A nossa tarefa é administrar a oscilação desses dois aspectos, em proporção adequada.
A solidão não é como aparece nos filmes, por mais que eles tenham a capacidade de nos fazer ter empatia pelas situações expostas, e nos gera identificações. A solidão é uma estranha companhia quando a gente sente que não foi capaz tudo o que a gente fez pra ter por perto quem a gente quis. E às vezes a gente precisa da solidão, há momentos da vida em que não cabem as companhias, em que elas vão atrapalhar. Mas ainda assim, o que a gente mais quer é poder trocar ideia sobre aquele capítulo intrigante do Mészáros, ao invés de ter que se trancar das pessoas pra conseguir se atentar pra ele. Eu prefiro mil vezes formular junto com mais gente, em dupla ou em grupo, mas nem sempre a gente combina. Tem vezes que a gente tenta e dá errado, e é melhor saber não ser uma pessoa invasiva nessa busca por parcerias. A solidão às vezes parece uma prova do completo fracasso do rumo tomado na nossa vida. Às vezes é só uma solidão e... Ah! Foda-se!
Fodamo-nos!
(Obviamente sem nenhum tipo de opressão!)
beijinhos de maracujá!
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