quarta-feira, 10 de junho de 2015

Ai!




Diante deste texto do Henrique Vieira, eu só tive uma palavra: Ai!

Depois que eu consegui recobrar a linguagem e pensar com mais de uma palavras, pensei em duas coisas: no sentido místico do amor e na possibilidade de propôr que ele fosse o próximo presidente do Brasil!

Só não proponho porque ele é homem e cis, e até hoje o Brasil só teve uma presidenta e nunca uma pessoa trans! Mas seria inédito um negro revolucionário!

A gente tem que colocar gente perigosa na institucionalidade. Henrique, com toda a não-confiança que tenho com a institucionalidade, me faz achar que vale a pena confiar em tê-lo lá. Ou seja, Henrique vieira é uma pessoa humana que me representa!

Eu já fui católico, de verdade, mas eu era das pessoas católicas que fecham com esse Jesus de Nazaré. Da quebrada! E eu era, nessa época, católico de verdade, da quebrada.

Como diz a Peralta, DEUS É DO GUETO!






Uma mulher trans crucificada na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Escândalo? Ofensa? Ataque mesquinho?

Quero compartilhar minha opinião.
Em primeiro lugar, é lamentável que não exista a possibilidade do diálogo com os fundamentalistas religiosos. Diálogo pressupõe falar e ouvir, se colocar e se abrir, estabelecer o encontro, a troca de olhar e de palavras. Diálogo pressupõe reconhecimento da dignidade do outro, curiosidade e abertura. Diálogo não significa supressão de identidade, mas a possibilidade de colocar a identidade em encontro com outras vozes. Diálogo indica respeito, tolerância e solidariedade. O fundamentalismo religioso não dialoga. Isto significa que não existem imagens pedagógicas que possam abrir uma conversa com o mesmo. O fundamentalismo ama mais a doutrina que o próprio Deus porque acredita que sua doutrina é exatamente igual a Deus. Assim, nega qualquer possibilidade de ouvir e discernir Deus em outras expressões culturais e religiosas; não aceita dúvidas e questionamentos, pois tais posturas revelam falta de maturidade espiritual; nega qualquer diferença enquadrando o pensamento diferente como heresia a ser extirpada. O fundamentalismo religioso considerou Jesus um escândalo e o matou, assim fazendo em nome de Deus. Afirmar que a imagem da mulher trans crucificada impossibilita o diálogo, tomando como referência o fundamentalismo religioso cristão, não procede. Razão simples: não há imagem que possa provocar esta abertura. Só Deus mesmo.

Em segundo lugar, quero registrar que existe uma multiplicidade de cristãos que não são fundamentalistas e desejam entender melhor as pautas libertárias e das minorias. Inclusive, milhares de cristãos que se sentem envergonhados com a brutal e perversa mercantilização, privatização e banalização televisiva, midiática, empresarial e fundamentalista da fé cristã. São cristãos que choram diante do ódio destilado por pastores sensacionalistas; sofrem por ver uma mensagem libertadora sendo usada para enriquecer poucos explorando a muitos, brincando com o sofrimento do povo. São cristãos que desejam converter continuamente sua fé ao amor. São cristãos que querem aprender e ouvir, querem amar e acolher. Com este universo religioso existe a possibilidade de diálogo e de demonstração concreta do quanto os preconceitos estigmatizam, impõem sofrimento e matam. É possível, em um confronto pedagógico com a realidade, evidenciar que o preconceito contra gays, lésbicas, transexuais, bissexuais e travestis é algo brutal, perverso, que realmente mata e que os símbolos cristãos estão lamentavelmente mais associados ao preconceito do que ao amor; à imposição do medo do que ao acolhimento fraterno. Nesse aspecto, poderia até considerar um equívoco metodológico e tático o uso da imagem de uma mulher trans crucificada como forma de transformação da realidade. Isto por causa da dificuldade ainda apresentada pelos cristãos, de forma geral, em entender a contundência da denúncia ali revelada. Contudo, cabe entender a dinâmica do espaço, pois era uma Parada LGBT em que diversas denúncias estavam sendo colocadas, na busca por dar visibilidade a esta importante luta. Em outras palavras, cabe aos cristãos que se sentem incomodados com o fundamentalismo e que desejam romper com a barreira do preconceito, buscar as imagens mais pedagógicas para dialogar com a sociedade e com seu campo religioso. Considero que precisamos articular princípios e métodos para que pedagogicamente possamos vencer os preconceitos e abrir canais de diálogo. A luta é sempre pedagógica.

Portanto, em terceiro e mais importante lugar, quero afirmar que não julgo, não condeno e não me ofendo com a imagem da mulher trans crucificada. Almejo uma espiritualidade que contempla e comporta símbolos, mas que essencialmente vê a natureza essencial dos símbolos e do Deus que vai para além deles. Em outras palavras. Como seria lindo (em meu modo de ver e sentir) se os cristãos percebessem tal imagem não como uma ofensa ou um ataque, mas como uma denúncia visceral, radical e profundamente espiritual. Como seria lindo se os cristãos não se preocupassem em defender a pureza do símbolo, mas conseguissem ir ao encontro da dor ali manifesta, do grito ali colocado para fora. Como seria lindo se os cristãos vissem aquela imagem como um pedido de socorro e um grito de afirmação de dignidade, de humanidade e de igualdade. O incômodo não deveria ser com a imagem, mas com a realidade que ela denuncia. Meu Deus, o Brasil é um país com taxas absurdas de assassinatos motivados pelo ódio a LGBTs. As pessoas perdem casa, família, empregos, círculos afetivos por conta de sua orientação sexual não heteronormativa e de sua identidade de gênero. As pessoas sofrem violências psicológicas, físicas e fatais por conta desse preconceito. Meu Deus, as pessoas são assassinadas por conta deste ambiente de ódio. Olho para Jesus de Nazaré e vejo nele gestos de acolhimento, de rompimento de barreiras étnicas, culturais, religiosas. Vejo que Jesus de Nazaré forçou a readequação da Tradição para que ela se convertesse à vida, ao amor e à dignidade humana. Olho para Jesus de Nazaré e percebo que ele foi perseguido, ameaçado, visto como escandaloso e herege e que ofereceram a ele uma vida peregrina, fugitiva e no final uma cruz. Olho para Jesus de Nazaré na Cruz e com Ele todas as vítimas da terra. Olho para Jesus de Nazaré e vejo o amor de Deus derramado pela humanidade, oferecendo perdão, Graça e um caminho onde a espiritualidade é definida pela verdade absoluta e justa do amor. Jesus sempre conseguiu ver manifestações de Deus nos lugares mais diferentes e tidos como avessos à sua própria Tradição. Curiosamente Jesus teve dificuldade de ver Deus tantas vezes no próprio Templo.

Quero terminar este texto fazendo uma intencional correção. Durante toda argumentação eu usei a expressão uma mulher trans crucificada na parada gay em São Paulo. Percebem nisso uma certa distância e impessoalidade? Eu percebo. Por isso quero dar nome, quero chegar perto, quero olhar nos olhos, quero dar um abraço muito forte, um abraço de iguais. Viviany Beloboni, quero dizer que respeito sua identidade, sua forma de ser, sua dor e sua luta. Viviany Beloboni, quero pedir perdão se os símbolos da minha fé provocam em você medo e rejeição. Viviany Beloboni, quero dizer que fazemos parte da mesma bela e dramática humanidade e que somos alvos de um Amor incondicional. Viviany Beloboni, quero agradecer por sua mensagem que me ensina, me convence me converte. Viviany Beloboni, se um dia tiver chance eu olharei em seus olhos, abrirei meus braços para dar um grande abraço. Viviany Beloboni, sou cristão, tenho Jesus como Salvador e Amigo, sou pastor e estamos juntos. Que venham as pedras, pois já estamos armados com flores nas mãos. Viviany Beloboni, que seu grito ecoe e ajude a corrigir o mundo!

Henrique Vieira


beijinhos de maracujá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário