domingo, 14 de junho de 2015

HEY! (ou Entre as Contribuições Para Uma Teoria dos Abraços e Para Uma dos Atrasos, uma Para Uma Teoria do Fim da Hierarquização Racial)



HEY, NÃO FOI A GENTE QUE CRIOU A SEPARAÇÃO RACIAL NÃO!!!!!!!

Pessoas brancas, se vocês quiserem o fim dessa coisa de separar as raças, não cobrem isso da gente! NUNCA! Foram vocês que criaram isso e isso nunca vai parar se vocês não pararem de reafirmar isso em suas práticas, de reconstruir isso mais profundamente a cada dia, fingindo que não tem nada acontecendo, ou fingindo que são inocentes vítimas das circunstâncias que lhes fizeram racistas.

Vocês protagonizam privilégios nas relações raciais, portanto VOCÊS SÃO RACISTAS, e o primeiro passo pra desconstruir esse racismo é admitir isso entendendo o que implica esse protagonismo implica!

Porque sem isso não dá pra entender a importância de largar o osso, e sem largar o osso NÃO EXISTE DESCONSTRUÇÃO DE OPRESSÃO NENHUMA, só tem RACISMO!

Eu fiz minha parte e fui didático de forma carinhosa, agora diante disso façam bem a parte de vocês e APRENDAM ISSO de forma carinhosa também, ok?

beijinhos de maracujá!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Para uma Teoria dos Abraços (ou Sobre a Alegria de Encontrar Gente Amada que Causa Alegria!)




Sabem o que é começar um dia da pior forma possível e terminá-lo de uma maneira ótima?

A gente é um animal estranho, a dinâmica de funcionamento da gente é alterada por pequenas coisinhas, que vão interferindo nos nossos rumos de forma louca. De forma louca. E tem gente que faz toda diferença na vida da gente só de aparecer! Até dá vontade de fichar Nobert Elias! É como se eu tivesse mandado algum psicoativo que me faz sentir vontade de fazer qualquer coisa, mas eu só vi uma pessoa muito querida, que eu estava há muito tempo querendo muito ver!

Eu acredito no poder do abraço! Um dos primeiros posts deste blog rendia homenagem a esse evento fenomenal da natureza! O abraço humano pode se dar de diversas, infinitas formas, mas eu realmente tenho uma coleção de crenças que podem ser até mesmo consideradas ortodoxas, sobre abraços:

1) Há um abraço correto, e ele é forte, firme, de corpo inteiro, envolvente e no mínimo razoavelmente duradouro. Todas as demais modalidades, abraços meio de lado, com parte do corpo, fracos, distantes, só com o braço, aligeirados, e até mesmo tapinhas nas costas, tudo isso são versões do abraço verdadeiro, não têm o poder que o abraço verdadeiro tem;

2) O abraço correto tem poder, ele transmite energia, ele conecta, ele regula a vibração das pessoas, promove uma maior aproximação e cria uma sintonia entre as pessoas, através da troca de calor, mas também através da proximidade de peles, da intimidade ali envolvida, do encontro de pulsações cardíacas, uma infinidade de outras coisas que são forçadas a se aproximar e a se sintonizar quando ocorre entre duas pessoas um abraço com qualidade plena;

3) O abraço verdadeiro está isento de transmitir energias negativas! É isso! Tudo o que o verdadeiro abraço pode passar é bom, quando as duas pessoas estão entregues àquele momento, a chance de plenitude é maior, mas mesmo quando um dos lados consente sem empolgação e entrega plena, ainda há alguma forma possível de contagiar esta pessoa a partir do desempenho da outra parte envolvida em, com o modo de agir de seu corpo, chamar a outra pessoa à dimensão verdadeira do abraço. Isso quer dizer que mesmo que uma pessoa não ponha força e energia, mas apenas seja abraçada, ela já está recebendo aquilo que ela não está disposta a oferecer, só de ser bem abraçada. E isso implica receber uma energia disposta a oferecer! Bons abraços abrem campo, é como se viesse com um anti-vírus natural embutido!

Gente! Vamos abraçar de verdade, espalhar bons abraços por aí! Abrace alguém assim que terminar de ler esse texto, e quando a pessoa já estiver entre teus braços, avise-a: "Vou te reter aqui por alguns segundos, porque meu abraço tem muitas boas energias e eu vou ficar me sentindo meio desalinhado se eu não passá-la toda pra você, então aguarde um instantinho aqui, nos meus braços!"... Conta até vinte, troca uma ideia, ou mesmo só fica um tempo em silêncio... A coisa ganha contornos mais profundos quando ambas as pessoas buscam sincronizar suas respirações!

Abraços de verdade com três ou mais pessoas costumam ser mais difíceis, mas não conheço na literatura científica sobre o tema nada que comprove a impossibilidade de que isso ocorra! De qualquer forma, os abraços a dois são a forma mais simples e barata de produzir saúde e bem estar, bem estar biopsicossocial, pra deixar a OMS feliz! =)

Vou dormir com a alegria que eu não tinha quando acordei! Tem gente que a gente tem prazer de ter por perto até vendo filme ruim! Tem gente que inspira a gente a redigir teorias sobre o abraço! Tem gente que a gente ama, ama muito, muito muito muito!!!

beijinhos de maracujá!

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Parlamentares de Esquerda: Podem Não Ser A Revolução, mas que Tão Fazendo Falta... Tão!




O objetivo desta postagem é simples, defender a ideia de que o abandono da tática eleitoral por parte de pessoas progressistas, de esquerda, anticapitalistas, mesmo que não se identifiquem com esses nomes, mas que são coerentes com tais posições, contribui para o chamado crescimento do conservadorismo. Ao menos nas coisas aprovadas no congresso.

É isso! A correlação na Câmara dos Deputados e no Senado influencia DE VERDADE na forma como se aplica o controle das vidas da coletividade. O petismo foi por um bom tempo esperança de muita gente, e fez crescer no Brasil a opinião pública progressista, favorável a uma forma mais arejada de ver o país e o mundo. Era um dos principais espaços políticos que reunia pessoas ativamente preocupadas com os direitos de mulheres, LGBT's, pessoas loucas, negras, enfim. O PT ocupa o governo, a subjetividade crítica se sente traída, muita gente passa a pensar de maneira conservadora, muita gente abandona as urnas, é pequeno o grupo de pessoas que procura outros partidos, mais radicais e coerentes com a visão crítica. Há até quem abandone as urnas mas respeita esses partidos radicais.

Pois acho que tá ficando nítido pra todo mundo, que não dá pra gente dizer "deixa esse congresso pra lá e vamos anular nossos votos, e ponto!"... Nós precisamos usar esses partidos críticos, fazer deles nossos instrumentos pra reacender a esperança nas pessoas críticas, no povo pobre, em quem sofre opressões. Precisamos fazer crescer aos olhos do povo brasileiro alguma alternativa de esquerda, verdadeiramente de esquerda, que não seja apenas eleitoral, que esteja no dia-a-dia dos movimentos sociais.

Precisamos convencer a galera que tá abandonando as urnas por ser de esquerda, a vir para as urnas derrotar a direita, a falsa esquerda e a falsa terceira via! Como já disse em outros textos, não há o lado de cima do muro!

Não quero dizer que as pessoas que anulam votos, ou que não vão às urnas, são as culpadas desse cenário. Longe disso! Nem que não é legítima tal posição, acho que a política institucional é ótima em convencer as pessoas a perderem a crença nela! Eu não tenho essa crença! Nas duas últimas eleições presidênciais nem fui votar no segundo turno! Mas se minhas candidatas tivesses ido pro segundo turno eu votaria nelas novamente, mesmo não acreditando na eleição como forma de transformar A ESTRUTURA dessa sociedade. Porque há transformações ocorrendo o tempo inteiro, e precisamos superar a decepção profunda que o PT causou no psiquismo brasileiro, pra conseguir reestruturar alternativas! Não tô pedindo voto no PSOL, tem outros partidos de esquerda que respeito, com quem fecho! Nenhum desses partidos são perfeitos, nem o meu, mas mais importante do que o voto é a unidade na luta, que se faz desde já! Só quero defender essa simples tese: quando além de todas as outras coisas, a gente TAMBÉM vota em boas pessoas de bons partidos, a gente tem MAIS FORÇA no dia-a-dia das lutas do que esse cenário conservador horroroso do primeiro congresso pós Junho de 2013!

Vamos continuar conversando sobre este assunto?

beijinhos de maracujá!

Não Quero Voltar Pra Caverna!




Não quero voltar pra dentro da caverna! Gosto do sol na minha pele! Mas há sentimentos que me guiam, eles são contraditórios e eu não tenho conseguido desobedecê-los, então eu sou uma bolinha de pingue pongue, pingue pongue, pingue pongue, no jogo de meus próprios sentimentos... A autonomização destes fenômenos, que deveriam se dar em mim (e não eu neles) é um desafio pra ciência, mas no momento eu estou tão à mercê que sequer estou sendo capaz de ser cientista! Não estou capaz de ser nada!


A caverna é um convite à ruptura completa e violenta com o mundo e com tudo que ele me pode oferecer, é a negação absoluta, guiada por sentimentos cuja natureza não domino, mas que agem como coquetel, e entre os quais estão a tristeza, o desânimo, a vergonha, a carência, a baixa auto-estima, uma série de outras coisas estranhas. Variam as doses!

Eu não sei muito bem quais são os meus sentimentos! Eu tô me perguntando se eu amo alguém! Até se eu me amo! Qual o caráter que o amor tomou? Será que eu achei esse tempo inteiro que amava e desde dezoito de fevereiro de mil novecentos e oitenta e oito eu nunca na vida soube sequer o que é a sensação verdadeira do amor? Estou em crise também com as minhas escolhas! Mas mesmo quando eu tinha certeza eu estava com essa crise aí, na verdade eu nunca tenho e nem quero saber se tenho certeza das minhas escolhas!

Eu também estou sem vontade alguma de cozinhar! Até roubei uma sardinha duma amiga, mas não sei bem o que fazer pra conseguir operar o fogão! Eu adoro cozinhar, sempre me faz bem, mas eu teria que cozinhar pra me sentir bem a ponto de ter ânimo pra cozinhar!

Eu não quero que o interjogo que me disputa resulte em meu encavernamento! Eu quero ver gente, estar feliz, fazer ciência e dissertação! Eu quero saber o que é o amor, e ser amado, e amar, e fazer amor! Eu quero querer isso! Mas não tô querendo!

Não me sinto mais em casa em Jardim da Penha! Toda vez que ando pelas ruas imagino "como seria essa situação se os justiceiros da patrulha do bairro estivessem aqui"? Me incomoda o modo como pedestres e motoristas reagem à minha existência quando eu passo! Não consigo mais ignorar como fazia antes! O Centro de Vitória tem escrotidões, mas ontem de manhã e no início da tarde dei um rolé por lá, e foi a sensação de "É melhor estar fora da caverna!"... Feu Rosa também não é um lugar perfeito, não tô querendo romantizar Feu Rosa, mas é muito mais gostoso de andar pelas ruas, de ver as pessoas, de ser visto por elas, e as coisas são MUITO MAIS BARATAS! Como é caro viver aqui neste lugar!

E a concentração? Esse Salama, esse Borón, esse Portelli, esse Mandel, esse monte de homem branco que eu tenho que fichar, e a minha mente divaga, viaja! Eu quero escrever poema, eu quero escrever no blog, eu quero fazer vídeos que nem aquela Jout Jout, eu quero ser bajulado e bajular, eu quero trocar carícias e ouvir muita música! Mas eu tenho que me concentrar! O valor em Marx, o controle em Mészáros! E ficar na caverna é lutar contra o TDAH, essa doença inventada! Oh! Tem doença mental que não seja inventada?

Não sei, vamos ver?

Tô entre a maconha e a ritalina! E as pessoas ao meu redor são mais boladas de eu usar ritalina do que cannabis! Mas eu tô sem vontade de música, de fichamento, de sexo, de maconha, de nada! Nem de ficar sem vontade eu tô com vontade! Nem com vontade de caverna eu estou!

ALGUÉM ME TIRE DAQUIIIIIIII!!!!!!! (dizia alguém da TV Colosso)

beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Paródia do Poema Eterno (Parte ZERO e Parte I)


Dia desses fiquei
Vinte minutos
Vendo você dormir,
A minha dúvida era
Se eu ainda te conhecia,
E acabei tendo certeza
Absoluta
De que sim,
E que a dúvida era
Um erro justificável.

Mas um erro.

Duas vezes finquei
Cinco charutos
Vendo você dormir,
Ouvia música brega
Enquanto me conhecia,
E, pondo as cartas na mesa,
minha conduta
Diz que em mim
Você dorme e faz guerra
(A guerra é o sono instável).


Mas faz guerra.


beijinhos de maracujá!

Ai!




Diante deste texto do Henrique Vieira, eu só tive uma palavra: Ai!

Depois que eu consegui recobrar a linguagem e pensar com mais de uma palavras, pensei em duas coisas: no sentido místico do amor e na possibilidade de propôr que ele fosse o próximo presidente do Brasil!

Só não proponho porque ele é homem e cis, e até hoje o Brasil só teve uma presidenta e nunca uma pessoa trans! Mas seria inédito um negro revolucionário!

A gente tem que colocar gente perigosa na institucionalidade. Henrique, com toda a não-confiança que tenho com a institucionalidade, me faz achar que vale a pena confiar em tê-lo lá. Ou seja, Henrique vieira é uma pessoa humana que me representa!

Eu já fui católico, de verdade, mas eu era das pessoas católicas que fecham com esse Jesus de Nazaré. Da quebrada! E eu era, nessa época, católico de verdade, da quebrada.

Como diz a Peralta, DEUS É DO GUETO!






Uma mulher trans crucificada na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Escândalo? Ofensa? Ataque mesquinho?

Quero compartilhar minha opinião.
Em primeiro lugar, é lamentável que não exista a possibilidade do diálogo com os fundamentalistas religiosos. Diálogo pressupõe falar e ouvir, se colocar e se abrir, estabelecer o encontro, a troca de olhar e de palavras. Diálogo pressupõe reconhecimento da dignidade do outro, curiosidade e abertura. Diálogo não significa supressão de identidade, mas a possibilidade de colocar a identidade em encontro com outras vozes. Diálogo indica respeito, tolerância e solidariedade. O fundamentalismo religioso não dialoga. Isto significa que não existem imagens pedagógicas que possam abrir uma conversa com o mesmo. O fundamentalismo ama mais a doutrina que o próprio Deus porque acredita que sua doutrina é exatamente igual a Deus. Assim, nega qualquer possibilidade de ouvir e discernir Deus em outras expressões culturais e religiosas; não aceita dúvidas e questionamentos, pois tais posturas revelam falta de maturidade espiritual; nega qualquer diferença enquadrando o pensamento diferente como heresia a ser extirpada. O fundamentalismo religioso considerou Jesus um escândalo e o matou, assim fazendo em nome de Deus. Afirmar que a imagem da mulher trans crucificada impossibilita o diálogo, tomando como referência o fundamentalismo religioso cristão, não procede. Razão simples: não há imagem que possa provocar esta abertura. Só Deus mesmo.

Em segundo lugar, quero registrar que existe uma multiplicidade de cristãos que não são fundamentalistas e desejam entender melhor as pautas libertárias e das minorias. Inclusive, milhares de cristãos que se sentem envergonhados com a brutal e perversa mercantilização, privatização e banalização televisiva, midiática, empresarial e fundamentalista da fé cristã. São cristãos que choram diante do ódio destilado por pastores sensacionalistas; sofrem por ver uma mensagem libertadora sendo usada para enriquecer poucos explorando a muitos, brincando com o sofrimento do povo. São cristãos que desejam converter continuamente sua fé ao amor. São cristãos que querem aprender e ouvir, querem amar e acolher. Com este universo religioso existe a possibilidade de diálogo e de demonstração concreta do quanto os preconceitos estigmatizam, impõem sofrimento e matam. É possível, em um confronto pedagógico com a realidade, evidenciar que o preconceito contra gays, lésbicas, transexuais, bissexuais e travestis é algo brutal, perverso, que realmente mata e que os símbolos cristãos estão lamentavelmente mais associados ao preconceito do que ao amor; à imposição do medo do que ao acolhimento fraterno. Nesse aspecto, poderia até considerar um equívoco metodológico e tático o uso da imagem de uma mulher trans crucificada como forma de transformação da realidade. Isto por causa da dificuldade ainda apresentada pelos cristãos, de forma geral, em entender a contundência da denúncia ali revelada. Contudo, cabe entender a dinâmica do espaço, pois era uma Parada LGBT em que diversas denúncias estavam sendo colocadas, na busca por dar visibilidade a esta importante luta. Em outras palavras, cabe aos cristãos que se sentem incomodados com o fundamentalismo e que desejam romper com a barreira do preconceito, buscar as imagens mais pedagógicas para dialogar com a sociedade e com seu campo religioso. Considero que precisamos articular princípios e métodos para que pedagogicamente possamos vencer os preconceitos e abrir canais de diálogo. A luta é sempre pedagógica.

Portanto, em terceiro e mais importante lugar, quero afirmar que não julgo, não condeno e não me ofendo com a imagem da mulher trans crucificada. Almejo uma espiritualidade que contempla e comporta símbolos, mas que essencialmente vê a natureza essencial dos símbolos e do Deus que vai para além deles. Em outras palavras. Como seria lindo (em meu modo de ver e sentir) se os cristãos percebessem tal imagem não como uma ofensa ou um ataque, mas como uma denúncia visceral, radical e profundamente espiritual. Como seria lindo se os cristãos não se preocupassem em defender a pureza do símbolo, mas conseguissem ir ao encontro da dor ali manifesta, do grito ali colocado para fora. Como seria lindo se os cristãos vissem aquela imagem como um pedido de socorro e um grito de afirmação de dignidade, de humanidade e de igualdade. O incômodo não deveria ser com a imagem, mas com a realidade que ela denuncia. Meu Deus, o Brasil é um país com taxas absurdas de assassinatos motivados pelo ódio a LGBTs. As pessoas perdem casa, família, empregos, círculos afetivos por conta de sua orientação sexual não heteronormativa e de sua identidade de gênero. As pessoas sofrem violências psicológicas, físicas e fatais por conta desse preconceito. Meu Deus, as pessoas são assassinadas por conta deste ambiente de ódio. Olho para Jesus de Nazaré e vejo nele gestos de acolhimento, de rompimento de barreiras étnicas, culturais, religiosas. Vejo que Jesus de Nazaré forçou a readequação da Tradição para que ela se convertesse à vida, ao amor e à dignidade humana. Olho para Jesus de Nazaré e percebo que ele foi perseguido, ameaçado, visto como escandaloso e herege e que ofereceram a ele uma vida peregrina, fugitiva e no final uma cruz. Olho para Jesus de Nazaré na Cruz e com Ele todas as vítimas da terra. Olho para Jesus de Nazaré e vejo o amor de Deus derramado pela humanidade, oferecendo perdão, Graça e um caminho onde a espiritualidade é definida pela verdade absoluta e justa do amor. Jesus sempre conseguiu ver manifestações de Deus nos lugares mais diferentes e tidos como avessos à sua própria Tradição. Curiosamente Jesus teve dificuldade de ver Deus tantas vezes no próprio Templo.

Quero terminar este texto fazendo uma intencional correção. Durante toda argumentação eu usei a expressão uma mulher trans crucificada na parada gay em São Paulo. Percebem nisso uma certa distância e impessoalidade? Eu percebo. Por isso quero dar nome, quero chegar perto, quero olhar nos olhos, quero dar um abraço muito forte, um abraço de iguais. Viviany Beloboni, quero dizer que respeito sua identidade, sua forma de ser, sua dor e sua luta. Viviany Beloboni, quero pedir perdão se os símbolos da minha fé provocam em você medo e rejeição. Viviany Beloboni, quero dizer que fazemos parte da mesma bela e dramática humanidade e que somos alvos de um Amor incondicional. Viviany Beloboni, quero agradecer por sua mensagem que me ensina, me convence me converte. Viviany Beloboni, se um dia tiver chance eu olharei em seus olhos, abrirei meus braços para dar um grande abraço. Viviany Beloboni, sou cristão, tenho Jesus como Salvador e Amigo, sou pastor e estamos juntos. Que venham as pedras, pois já estamos armados com flores nas mãos. Viviany Beloboni, que seu grito ecoe e ajude a corrigir o mundo!

Henrique Vieira


beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Um Rápido Apelo: AJUDEM A LIBRE AINDA HOJE!



Escrevo este texto, que em breve ficará datado, porque hoje, segunda-feira, 08 de junho de 2015, é o último dia para que a http://benfeitoria.com/libre arrecade valor suficiente pra manter o funcionamento da Libre - Casa Coletiva por mais um ano!


É um espaço mantido pelo Assédio Coletivo, uma organização cultural engajada em uma perspectiva de transformar a vida com arte e beleza, e que tem diversas iniciativas em funcionamento. A Casa Libre era dividida com outra organização que precisou sair de lá, e a benfeitoria foi a estratégia encontrada para não precisarem sair e financiarem os custos do espaço sozinhos por mais um ano.


Basta fazer uma doação de qualquer valor clicando naquele link do primeiro parágrafo. O problema é que existe um prazo limite pra atingir um teto de doações. E hoje é o último dia. Eu tô desesperado, imagino que mais gente esteja, principalmente o pessoal do Assédio, mas venho acompanhando o crescimento de doações ao longo do tempo, e de fato o volume de valor doado foi aumentando mais conforme chegava no final, então eu ainda tenho esperança!


SIM, EU AINDA TENHO ESPERANÇA, por isso estou fazendo este post desesperado aqui no Artifício Socialista!

Eu disse DESESPERADO!

Ajudem a divulgar, tipo, AGORA! É questão de poucas horas! Lembrem do Jack Bauer! Mentalizem que estão salvando o futuro da humanidade, é questão de poucas horas!

Este espaço tem sido utilizado por diversos coletivos, para atividades culturais, organizações coletivas, para dar vazão à exposição da produção artístico-cultural de diversas e diversos artistas que não têm outros lugares, tem sido o QG de intervenções na vida política da cultura capixaba, um espaço vivo pra pensar e mobilizar o combate às opressões! Enfim, se trata de um lugar importante para a juventude capixaba que luta! Para quem ainda não conhece, acho que cabe disponibilizar mais alguns links!

Esse aqui é do evento relacionado ao financiamento colaborativo: https://www.facebook.com/events/1595615210722117/

E esse é o site do Assédio Coletivo (vale a pena passear por ele): http://www.assediocoletivo.com.br/

Nos encontramos lá na Libre, Bauers! ^^

beijinhos de maracujá!

sábado, 6 de junho de 2015

Instantes Reversíveis... Ou Não!




Não... Não vai acabar o mundo nem a vida... Mas também não é irrelevante o que tá rolando agora...

Nem é o tudo, nem é um nada, é um instante, um momento, um eventinho singular, uma treta!

Que que acontece? A gente muitas vezes perde o rumo das coisas, perde o rumo da vida, e se pega numas situações tipo "BRO-THER! SIS-TER! QUE QUE EU TÔ FAZENDO DA MINHA VIDA?", e a resposta é "Não sei, mas seja lá o que eu tô fazendo, tá dando ruim!"... Nestes casos, é sempre bom ter uma precauçãozinha, pode ser que você esteja encaminhando a consagração de um processo irreversível, isso pode resultar em perdas irreparáveis. Vale a pena avaliar se é momento de deixar de relaxar pra evitar esse fato trágico... Ou se nem é tão trágico assim!

Porque sim, é uma possibilidade, talvez tudo não seja tão ruim quanto parece, e é importante, quando nos é possível, conseguir lidar com os momentos difíceis da vida sem se noiar em excesso... Nem sempre isso é possível, mas às vezes é!

Mas por outro lado, tem hora que a gente fica de boas demais, em situações em que NÃO TEMOS NEM MESMO O DIREITO de fazê-lo! Às vezes só a gente vai ter prejuízo com isso, mas às vezes não, às vezes a preocupação que nos falta é, por exemplo, perceber que tá oprimindo, ou prestes a oprimir alguém! Não tem desatenção que justifique manter situação de opressão... Não existe essa de "essa sociedade opressora nos forja pra ser assim", ou "somos efeitos de processos coletivos que..." bla bla bla bla bla! TODO MUNDO SABE que a gente é efeito dos rolês dessa sociedade, mas a gente não pode usar isso como justificativa pra relaxar em situações nas quais nos privilegiamos oprimindo outras pessoas!

Diante disso, queria lançar uma observação, que mais tarde será adendada à teoria geral das opressões que tenho formulado para compor a psicologia do artifício:

Toda situação de opressão é irreversível. Nem o perdão nem o esquecimento revertem a opressão sofrida. São duas saídas diferentes, que podem até se combinar, mas são duas falsas saídas. Toda situação de opressão, em que as pessoas envolvidas são de grupos socialmente legitimados em níveis diferentes de hierarquização, em que um polo detém privilégios, tem efeitos irreversíveis tanto para a pessoa que ocupa o polo oprimido, desprivilegiado, quanto para o conjunto da sociedade, já que são situações que reafirmam e aprofundam a continuidade do caráter opressor desta sociedade.

Essa observação implica em alguns desdobramentos. O primeiro é que a continuidade e o aprofundamento contínuo do caráter opressivo desta sociedade é um problema para a coletividade humana, ou seja: a humanidade perde com a atualidade opressora do seu funcionamento geral. O segundo é que nem mesmo outras saídas para além do esquecimento e do perdão, como o chamado "pensamento positivo", compreensão, ver o lado bom das coisas, é capaz de impedir os danos graves à coletividade, a outras pessoas que não conseguem lançar mão dessas saídas, ou mesmo às pessoas que se ocupam destes escudos psíquicos pra se sentirem menos atingidas. Mesmo que se homogeneizasse o uso de tais dispositivos por todas as pessoas oprimidas, a opressão não é constante e permanente, ela se aprofunda, encontra novos métodos, fura essas barreiras. Isso quer dizer, pra concluir o segundo desdobramento, que a única saída lógica para o sofrimento individual e coletivo causado pelas situações de opressão é O FIM DAS SITUAÇÕES DE OPRESSÃO. O terceiro desdobramento é que se toda situação de opressão é irreversível, o fim das situações de opressão pede uma reinvenção completa (não poder relaxar) do jeito de existir coletivamente acessível às pessoas privilegiadas (homens, pessoas brancas, cis, hetero, ricas, magras, etc.). De todos esses exemplos, o único que tem como desfecho lógico o fim das diferenças é o caso das pessoas ricas, porque não há possibilidade de a humanidade atingir harmonia entre as pessoas ricas e pobres, sem acabar com a desigualdade social, o que implica no fim da existência de pessoas que são ricas e outras que são pobres. Em todos os outros casos, a mudança deve ser nas práticas e nos valores psicossociais, e não na existência das pessoas oprimidas.

Feita essa observação, vamos voltar pra vida, aquela danada sucessão de tretas, nos âmbitos em que podemos relaxar. Eu gostaria de concluir  com a seguinte reflexão: quando a gente não relaxa diante dos problemas, não relaxar é mais um problema que a gente cria; por outro lado quando a gente relaxa demais e se entrega ao desleixo, isso pode ser uma porta de entrada para a criação de mais um monte de problemas. Isso quer dizer que pra lidar com as tretas, é preciso conjugar o sofrimento extremo causado pela sensação de falta de rumo que a vida às vezes nos proporciona, com a sensação de completude, em geral rara, que a gente tem quando parece que tudo está em seu lugar, pra parafrasear Benito di Paula. A nossa tarefa é administrar a oscilação desses dois aspectos, em proporção adequada.

A solidão não é como aparece nos filmes, por mais que eles tenham a capacidade de nos fazer ter empatia pelas situações expostas, e nos gera identificações. A solidão é uma estranha companhia quando a gente sente que não foi capaz tudo o que a gente fez pra ter por perto quem a gente quis. E às vezes a gente precisa da solidão, há momentos da vida em que não cabem as companhias, em que elas vão atrapalhar. Mas ainda assim, o que a gente mais quer é poder trocar ideia sobre aquele capítulo intrigante do Mészáros, ao invés de ter que se trancar das pessoas pra conseguir se atentar pra ele. Eu prefiro mil vezes formular junto com mais gente, em dupla ou em grupo, mas nem sempre a gente combina. Tem vezes que a gente tenta e dá errado, e é melhor saber não ser uma pessoa invasiva nessa busca por parcerias. A solidão às vezes parece uma prova do completo fracasso do rumo tomado na nossa vida. Às vezes é só uma solidão e... Ah! Foda-se!

Fodamo-nos!

(Obviamente sem nenhum tipo de opressão!)

beijinhos de maracujá!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

A Pobretona (ou Sobre a Maior Editora Sem Livros Publicados da América Latina!)




Gente, gostaria de apresentar para vocês a Editora Pobretona:



É uma invenção recente na ação, mas antiga na prévia-ideação! Faz pouco tempos, graças à sugestão de uma querida, a Karen, que é a mais delicinha de todas as pessoas humanas da UNILA, e com a inspiração de um reencontro virtual com outra querida, a Priscila, uma pessoa desde sempre marcante na minha história com a poesia, com a escrita, com os sonhos, que eu decidi criar uma página pra registrar os poemas que eu havia voltado a conseguir fazer sistematicamente algumas semanas antes de criá-la. Uma página pra eu postar os poemas que havia voltado a diariamente escrever. Eu era um adolescente das poesias, e a universidade dilacerou isso em mim. No mestrado, em que eu deveria estar fazendo fichamentos, lendo marxismos e escrevendo dissertação, a sede por fazer poesias volta a se saciar em mim! Vai saber por quê!

Não demorei muitos minutos pra deixar a página pronta depois da sugestão da Karen, porque o nome já existia. A ideia era outra, e ainda não desisti da ideia original! Eu queria fazer uma editora de zines. Seja zines com conteúdos meus ou de outras pessoas, uma editora popular, abaixo da linha da miséria, alvo das tais políticas focalizadas que a galera da Política Social não para de falar. Eu me amarro quando eu vejo a galera que curte a Expressão Popular zoando da Boitempo, que ela é a editora do marxismo ostentação, e tal... É tudo verdade! Mas a Pobretona veio pra relativizar esses parâmetros, pois perto dela é a Expressão que é o marxismo ostentação! A Pobretona é a maior editora sem livros publicados de toda a América Latina! Por enquanto!

Em breve a Editora Pobretona e o blog Artifício Socialista estarão publicando alguns zines em parceria, e eu os estarei vendendo por aí, junto com alguns bombons artesanais, feitos pela dona Zenilda! Bombons muito gostosos, porque tudo que a dona Zenilda faz é gostoso!

A Pobretona tem uma linha editorial muito simples: POESIAS DE AMOR E LUTA! Para quem já conhece o Artifício Socialista, são projetos siameses inclusive na linha editorial, como podem ver. E assim como este blog, a Pobretona é aberta para conteúdos de pessoas colaboradoras, quem tiver poemas pra enviar, conforme aprovação de nosso conselho editorial, publicaremos em nossa página virtual. E quando formos a ex-maior editora sem livros publicados da América Latina, também em nossas páginas impressas (fotocopiadas), por que não?

Pedimos que vocês, pessoas leitoras do blog Artifício Socialista, divulguem a página da Editora Pobretona, convidem as pessoas a curtirem nossa página, a lerem nossos poemas, a manifestar suas opiniões e a disseminar para o mundo nossa poesia subversiva, marginal... E para vocês, pessoas leitoras da Pobretona, pedimos que divulguem o blog Artifício Socialista e sua página https://www.facebook.com/ArtificioSocialista, compartilhando nossas postagens, comentando seus conteúdos e escrevendo textos em seus blogs para que possamos fazer intersecções na blogosfera! Só pra reiterar uma defesa antiga, fica este último link: http://artificiosocialista.blogspot.com.br/2012/04/escrever-em-parceria-e-velha-nova.html

FAZ ARTE E APRECIA!

beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Há Exatos Quatro Anos, Nasci Pela Segunda Vez! (ou Sobre Aquelas Pessoas que Nunca se Esquecerão de 2 de Junho de 2011 em Vitória ES)



Não é exagerado dizer que eu corria risco de vida, mas não é disso que eu estou falando. Era um dia com PM, e qualquer episódio com PM envolve risco de vida, ainda mais quando se trata de um militarismo racista, que funciona dependendo de estereótipos, que estigmatiza pessoas como eu. Nesse caso era mais que um episódio com PM, era um episódio DE UM DIA.

Mas não é disso que eu estou falando. 2 de junho de 2011 não é o dia mais marcante da minha vida porque eu corria risco de vida, não é por isso que eu digo que naquele dia nasci pela segunda vez. Eu tô falando de maldade, de malícia, de inocência, de relação com a realidade, com o mundo, com a institucionalidade, com as leis. Tudo mudou na minha vida desde então, e nem as Jornadas de Junho de 2013 fizeram isso mudar em mim. Nem mesmo o OcupaAles. Quem bate, esquece, quem apanha não!


Uma coisa muito forte nos unificou naqueles dias que se sucederam ao confronto de um dia com o BME de Casagrande (se não me engano, o primeiro confronto de protesto com o BME na Grande Vitória, naquela gestão!), por mais que nem naquele dia éramos um movimento de apenas uma opinião, e por mais que mesmo hoje temos divergências e até mesmo incompatibilidades profundas, rupturas drásticas, há algo que nos unificou naqueles dias como um grupo só de pessoas humanas, e que até hoje nos unifica, algo que temos em comum e que o resto da humanidade não tem.

Não é apenas a lembrança daquele dia. Se nós falarmos daquele dia com outras pessoas que não fazem parte desse nosso grupo, outras pessoas se lembrarão que o dia ocorreu, algumas que até viveram pontualmente uma cena ou outra indiretamente ligada aos conflitos. Estou falando de algo mais forte do que a lembrança, estou falando da lembrança do que vivemos, a lembrança dos momentos que a pele presenciou, dos percursos, das emoções, dos sabores e dos aromas, das dores, das ofegantes doses de adrenalina. É um nível mais profundo de lembrança, a das estratégias, a das opções, a das divergências, dos percursos e das soluções.

Tentando entrar em contato com quem não faz parte do nosso grupo:

Olá, eu me chamo José Anezio e no dia 2 de junho de 2011 participei dos protestos do MCA - Movimento Contra o Aumento - na capital da cidade Vitória-ES.

Havia ocorrido uma sucessão de atos naquele ano, desde o dia 19 de janeiro, data do primeiro ato do MCA, mantivemos três meses com frequência média semanal de atos e assembleias, em algumas semanas mais de uma assembléia ou reunião, em algumas semanas, mais de um ato. Fizemos atos em diversos lugares e com diversos formatos, foram cerca de quinze atos entre janeiro e abril daquele ano. A luta era contra o aumento da passagem, mas também por outro modelo de política de transporte para a Grande Vitória, combatendo a lógica centrada no lucro, para que o Sistema TRANSCOL pudesse se voltar para os interesses da população geral, maioria da sociedade desta regição metropolitana: o chamado "direito de ir e vir".

Fazíamos ato de rua com dois principais objetivos. Abaixar o preço da passagem do Transcol e mudar seu objetivo essencial do lucro das empresas para o direito de ir e vir do povo. Naquele momento nosso modelo de atos de rua era 2005. 2005 estava na memória de militantes do MCA e de parte da população geral. Não vou falar muito de 2005 hoje, mas ainda escreverei nisso aqui no Artifício Socialista. Este texto é o retorno do blog depois de quase sete meses parado, tenho muitos temas engarrafados pra dar vazão aqui, mas hoje é sobre 2011.


(Entre parênteses, preciso dizer que eu tenho um projeto de trilogia, livro e animação, que fale dos atos em Vitória em 2005, 2011 e 2013, porque acredito que os de 2005 e 2011 foram causas relevantes das Jornadas de Junho de 2013, uma tese muito ousada de se afirmar!)


De qualquer forma, 2005 era um marco porque atos da juventude abaixaram a passagem, em uma semana em que a PM de Paulo Hartung sacou arma e reprimiu em frente à UFES. Uma semana de atos com cancelas da Terceira Ponte sendo abertas para os carros passarem sem pagar pedágio, e Paulo Hartung foi obrigado a abaixar a passagem.

2005 provava para nós, nos primeiros meses de 2011, que COM CERTEZA poderíamos intervir nos processos de controle do Sistema Transcol a ponto de revogar o aumento da passagem, se fôssemos às ruas. Em nosso imaginário, entre anarquistas, comunistas e ativistas de diversas outras visões de sociedade, de diversas outras formas de lutar, habitava a questão do conflito com a repressão, a da ponte ocupada com cancelas abertas, a das ruas paradas e a das ruas cheias de manifestantes (ainda não haviam ocorrido as Jornadas de Junho de 2013, então achávamos que 1000 pessoas já era rua muito cheia, para o ES!

(abrindo mais um parênteses, passou de meia noite, então já é dia 3, vai ser na madrugada de 2 para 3 de junho, mas já no dia 3, que esse texto será publicado, mas quando eu o comecei, ainda era dia 2 de junho, juro!)



Pois como eu dizia, em 2011 fizemos intensamente uns bons 15 atos, por aí! Em uma assembleia no mês de abril decidimos que iríamos ficar um tempo sem fazer atos, apenas mobilizando para um grande ato no dia 2, quinta de manhã! A ideia era mobilizar MUITA GENTE e fechar tudo, intransigentemente! Porém nos desmobilizamos, e um grupo muito restrito de pessoas se dedicou a fazer a divulgação do ato, pichações, cartazes colados nos pontos de ônibus, e nem acreditávamos mais que iria acontecer, a maioria de nós do MCA.

Eu mesmo, nesta manhã estava em aula, uma disciplina optativa da graduação. Dois dias antes havíamos feito ato até a porta do Palácio da Fonte Grande. Esse ato pacífico, com muita gente da academia, com muita gente militante dos Direitos Humanos, ocorreu no dia 31 de maio, e o assunto era a desocupação violenta praticada pelo BME de Casagrande em Barra do Riacho, Aracruz (interior do ES) no dia 18 de maio. Neste ato de 31 de maio uma comissão subiu para reunir com o vice-governador, Givaldo Vieira, que apenas apresentou justificativas estapafúrdias, e disse que o BME era "a polícia mais preparada pra lidar com multidão" de que o governo dispunha. Ou seja: lidar com multidão para o governo era saber lançar bombas de gás e atirar balas de borracha; e se não fosse o BME - Batalhão de Missões Especiais -, o povo desalojado em Barra do Riacho teria levado tiro de arma letal.



Pois na manhã de 2 de junho estava em aula, e soube que tudo estava fechado no centro de Vitória. Isso me deixou muito contente, nem fiquei tão insatisfeito por não ter estado lá. Eu já não podia mais ter faltas naquela disciplina e tal, mas o ato, pequeno e ousado, travava o trânsito e representava nossa indignação.

Na hora do almoço, no Restaurante Universitário da UFES, com algumas pessoas da chapa que eu compunha no DCE (Façamos Nós Por Nossas Mãos), descobrimos que o BME havia atacado as pessoas que lá manifestavam. Começamos uma comoção pelo campus de Goiabeiras da UFES. Como poderíamos nos articular com aquela luta, mesmo que à distância? Decidimos que faríamos uma mobilização pela UFES enquanto o grupo do Centro tentava se locomover para junto de nós, e às 14h faríamos assembleia em frente ao RU da UFES pra decidir ações em resposta à repressão.

Nossa mobilização na UFES se encontrou com o grupo que vinha do centro, e muito no espontaneísmo decidimos transferir o local da assembleia para A AVENIDA FERNANDO FERRARI! Fechamos a via e depois de algum tempo aparece o BME... Na atividade da manhã havia cerca de trinta pessoas, nesse momento já tínhamos duzentas. pra gente isso era uma multidão! O BME não chegou a negociar conosco a nossa saída, ameaçou destacar um grupo pra vir em nossa direção negociar, mas logo depois esse grupo recuou e começaram os ataques.

Havia um simbolismo de que estar no campus da Universidade Federal fazia as pessoas estarem protegidas, mas a verdade é que o BME atacou transeuntes, motoristas, pessoas que apenas observavam da calçada, atiraram balas de borracha e bombas de gás pra dentro do campus, inclusive no Reitor, inclusive em crianças que saiam de uma peça infantil no Teatro Universitário. O estacionamento do Teatro estava cheio de ônibus de escolas, isso fez alguma diferença para o BME? Não!



A indignação nos uniu dentro do campus, em frente ao teatro! A polícia nos observava do outro lado da rua, perto do McDonalds, e nós fizemos uma assembleia que já tinha em média mil pessoas! Depois de algumas avaliações e desabafos, decidimos sair correndo loucamente em direção à portaria sul e tomar novamente as ruas, em direção à Terceira Ponte... Resumindo a história, apanhamos novamente do BME na entrada da Terceira Ponte, decidimos terminar o ato voltando para a UFES via Leitão da Silva e ao lado da SEDU sofremos mais um ataque, com cavalaria e muitas prisões.

Nos reunimos no CALPSI depois do ato, todo mundo à flor da pele! Discutíamos sobre usar ou não a tática do contra-ataque à polícia, em um momento em que não se falava ainda sobre a tática black bloc, poucos setores do movimento já haviam acessado esse debate e a mídia não o pautava como fez em 2013. Buscávamos notícias das pessoas camaradas que haviam sido presas, e que demoraram mais do que o comum para ser levadas à delegacia (antes foram levadas para a quadra da sede do BME).

Fui embora da UFES com outra roupa que tinha na blusa, diferente da que usava na manifestação. Chegava em nós a notícia de que estavam parando os ônibus, mandando pessoas descerem e as prendendo. Estávamos entre o terror e a indignação!

Não vou continuar a história, apenas fazer um resumo: um ato foi chamado para o dia seguinte, às 17 horas! O ato deu no mínimo umas cinco mil pessoas, havia quem falava em sete mil, até mais do que isso, não sei dizer quantas pessoas estavam presentes, mas naquele dia o BME não nos atacou! Chegamos até a ponte, abrimos as cancelas, éramos fortes. Fizemos sucessivos atos, cancelaram um evento com o vice-presidente, sobre reforma política, organizado pelo carinha do TJ-ES, o Vals Feu Rosa, só porque fazíamos um ato na portaria do evento no primeiro dia. O mês de junho foi intenso de lutas, e apesar de não termos conseguido que o preço da passagem caísse, conquistamos uma melhora na circulação de ônibus de madrugada (muito menos que a nossa exigência de funcionamento pleno 24 horas, constante em nossa pauta de manifestações, mas avanços que nossa luta produziu), e tivemos repercussão nacional, principalmente entre a juventude de outras cidades que também lutavam por pautas parecidas.

Eu estou retomando o blog Artifício Socialista com este texto porque 2 de junho de 2011 inaugurou este Anezio que eu sou hoje. Você que lê isso e não viveu estas coisas na pele, saiba que existe um grupo de pessoas no mundo hoje que têm em comum uma contaminação incurável. Naquele dia inocularam em nós a certeza de que não temos no Estado burguês um parceiro ou um protetor, a certeza de que apenas a gente se unindo na ousadia é que o rumo das coisas pode mudar.

Eu perdi naquele dia a estrutura ideológica da minha ingenuidade, e gostaria de dedicar este texto a todas as pessoas que foram presas ou agredidas naquele dia! Nós fomos as barricadas de 2 de junho de 2011, mas muitas barricadas ainda virão, nas ruas deste estado do Espírito Santo!

beijinhos de maracujá!