domingo, 4 de março de 2012

Há certas faxinas que só se faz em solidão!


Eu estava de mudança ontem, e minha sobrinha, que me ajudou na mudança, me inspirou a escrever um livro infantil sobre poeira e flanelas. Mas antes vou escrever um texto bem adulto sobre o tema, e não se trata de pornografia não.

É difícil para um militante socialista entender que não dá pra estar coletivamente organizado em cem porcento dos momentos da vida e nem em cem porcento dos caminhos a seguir. Existem algumas tarefas em nossa vida que precisam ser trilhadas em solidão. Às vezes é preciso quarto vazio, silêncio, ausência de gente. E eu estou tendo que aprender isso na marra.

Há momentos em que é preciso falar com as paredes. Às vezes achamos que estamos enlouquecendo, ou achamos que todas e todos ao redor estão nos perseguindo, e querendo fazer com que acreditemos que estamos enlouquecendo. Às vezes, por mais que amemos a vida, as coisas ficam tão atordoantes e confusas na cabeça da gente, que a gente sente vontade de morrer.


Em certas situações, quando a madrugada é uma tormenta, e choramos na cama sem parar, é bom que haja alguém ao lado que nos possa consolar e segurar a barra. Mas às vezes não há, e é preciso saber lidar com isso. E em outros momentos, é bom que não haja.

É isso: O aquariano com ascendente em peixes, viciado em gente, viciado em roda de amizades, que tem como projeto de vida (inspirado numa canção do "rei") ter um milhão de amigos, às vezes descobre (à força), que às vezes o Renato Russo é que tava certo, quando falava do efeito necessário da solidão. O aquariano com ascendente em peixes descobrindo que tem horas em que o melhor a fazer é andar por aí SEM NINGUÉM, pra ver se a cabeça volta pro lugar.

E a cabeça não volta... Não volta mesmo!

É a hora da faxina interna, é a hora de avaliar a própria vida, e ver se estou realmente conseguindo ser aquela pessoa que eu desejo e tenho me esforçado para me tornar: alguém que luta por um mundo de igualdade e respeito, de prazer e liberdade, e que faz de sua vida um testemunho de como este mundo deverá ser. É hora de avaliar se estou fazendo da minha vida um laboratório da emancipação coletiva e fraterna, ou se estou demolindo isso tudo em meus atos. É hora de ficar trancado sozinho no quarto, ou de pedalar sozinho pelas ruas e avenidas da cidade, e refletir se está valendo a pena viver, se vale a pena continuar vivo.

Um militante socialista, materialista histórico-dialético, um revolucionário radical, só afirma com tanto vigor suas opiniões porque se permitiu duvidar de si mesmo, e viu até mesmo as suas convicções mais profundas sendo alvo do pensamento crítico. Só afirma com vigor o que sobreviveu ao exercício da crítica. E só luta por transformar o mundo, por socializar as riquezas, a humanidade, o prazer e a liberdade, porque isso torna a vida mais plena. Ou seja, só faz sentido a luta revolucionária se há uma certeza de que a vida vale a pena ser vivida. Mas como afirmar com vigor essa opinião se não me permito duvidar disso?

Por isso, estou dentro de mim mesmo, arrumando a casa interna, vendo se a vida vale a pena ser vivida, vendo se a minha vida vale a pena, se eu mereço estar pisando sobre a face da terra. Por isso, estou sofrendo a dor de não ver sentido na vida, de querer até morrer, de chorar sem motivo, e de não querer olhar pra cara de ninguém. E depois isso passa, e eu vou ver todo mundo e sorrir!

Sorrir um sorriso delicioso, porque eu adoro gente! Adoro a vida, adoro a minha vida, adoro os seres humanos, e adoro minhas amigas e meus amigos! Gosto do que faço, gosto do lugar onde vivo, e das coisas bacanas que temos inventado por aí... Coletivamente. Mas hoje eu estou com uma dor dentro do peito, achando que tudo vai sair dos trilhos, e querendo distância de tudo o que respira, fala e pensa.

Daqui a pouco eu vou ficar melhor...

beijinhos de maracujá!

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