quinta-feira, 15 de março de 2012

Beto Science & Internação Zumbi (ou Gilberto Gil Experiença)!


Mas chega de falar de Amor e da nova Tecpix, vamos falar de um assunto mais sério: Ciência.


Gilberto Gil indaga desde sempre sobre o que a ciência é pra humanidade, ou seja, do que ela está sendo, do que ela já foi e do que ela deve ser. É um espinosista, esse Gil (apesar de não ter sido um bom ministro da cultura). Ele acumulou, com seus poucos anos de vida (uma encarnação incompleta!), muitos dados que nos permitem uma análise científica, filosófica, materialista histórico-dialética deste dilema que Gil persegue (ou que persegue Gil?). Quero fazer um recorte, uma abstração (ou para Guattari e Deleuze, um decalque), e retirar do conjunto da obra de Gil essa faceta: o poeta investigador da ciência.

Não é uma ordem cronológica, e sim emocional, porque eu ainda não estou escrevendo a tese definitiva, apenas um diálogo para abrir debates, um aperitivo, então afrouxei a gravata do rigor metodológico e me permiti apenas um comentário informal de blogueiro banguela que sou.

Pra começar, 1997. Disco "Quanta", e a canção é "Pela Internet".

 

Esse homem tá tentando dizer mil coisas, mas entre elas, uma coisa muito simples: A internet tá juntando tudo, tá globalizando todo tipo de gente, até o Gabão, até os contraventores, e a polícia, e apesar de limitada, está promovendo debates que antes não aconteciam. No entanto, ele tá dizendo também que ela está promovendo debates que antes não existiam, mas apesar disso, é limitada. Prestem atenção na forma como ele coloca a internet como uma coisa o tempo inteiro comparada com os hábitos cotidianos e com a tradição. Ele tá se perguntando se a internet consegue chegar ao ponto de ser a vida de troca que se vive fora da internet. A pergunta é: a internet tá aproximando mais, ou tá distanciando mais. Lembrando, facebookers, que em 1997 não existia facebook, twitter nem orkut... Não tinha 9gag, e acho que nem tinha fotolog. Mas o Gil já tava sacando esse movimento, essa mistura da tecnologia com essa parte orgânica do ser humano, com o ser gente. Cultura, história, social, diabo a quatro. Claro que tem muito mais do que isso, mas isso vocês investiguem e achem, que eu já instiguei. Mas pelo menos um ponto do universo que Gil fala, é isso!

E ela ainda foi propaganda do Itau! (Sim, eu sei que é Bad, mas foi assim que eu a conheci!)

Então vamos pra outra?

1996, disco "Barulhinho Bom", de Marisa Monte. A música é "Cérebro Eletrônico", de autoria de Gilberto Gil.


Escolhi a Marisa pra mostrar essa porque foi com quem a conheci, e porque adoro essa versão. Além da sensualidade desengonçada da Marisa Monte, é claro! Maravilhosa, você, Marisa! Se você estiver lendo esse blog, saiba que eu casaria com você e te faria uma mulher muito feliz! Na cama e fora dela!



Recado dado, voltemos pro Gil... O que esse rapaz está dizendo, minha gente? Ele tá dizendo uma coisa muito simples: a máquina mais aperfeiçoada na inteligência artificial nunca será capaz de ir até onde o ser humano foi, a saber, na inteligência natural e cheia de artifícios, o que quer dizer cheia de confusões, emoções, sentimentos, medo da morte, e até o dom e a capacidade de morrer. Sintam a letra dessa música e vejam que mais uma vez ele tá dizendo que é preciso pensar o limite até onde a ciência está acima do homem, e até onde ela está submetida a ele. E reparem que Gil em momento nenhum fala pra abandonar a ciência, em função do homem. Mas reparem também que, mesmo quando ele a exalta, ela e exalta colocando-a no seu devido lugar.

Mas o fidumaboamãe (e de um bom pai) prossegue:

1992, disco e canção de mesmo nome: "Parabolicamará"!



Essa foi trilha de Renascer, novela da Globo, de 1993. Inclusive, essa é a minha novela preferida e quem tiver curiosidade de viajar num enredo rico, curioso e muito divertido e instigante, tem a novela praticamente completa no Youtube. 100 episódios!


Mas voltando mais uma vez pro Gil, aqui o que ele tá dizendo é: O mundo tá ficando cada vez menor. Se uma jangada faz certo percurso em uma eternidade, um saveiro gasta só uma encarnação (o tempo finito de uma vida) pra fazer o mesmo percurso. E é claro, o Avião gasta o tempo de uma saudade. Mas aí Gil tá constatando muito sabidamente esse movimento, quase como um Milton Santos da música brasileira. Ele constata que a globalização tá diminuindo as distâncias e distorcendo o tempo, e atribui às invenções da ciência, às tecnologias, tal fato. Mas ele não apenas constata, mas se pergunta: o que tá sendo feito dessa aceleração toda da vida? Como é que isso se encontra com o ser humano cuja vida a tecnologia acelera? Ele tá humanizando a ciência, perguntando como é que a capoeira encontra a tecnologia da antena parabólica. E aí a pergunta que eu faço é: com a chegada da antena parabólica e da televisão no campo (junto com a eletricidade, em alguns lugares, inclusive) que tipo de cultura, de subjetividade e de ideologia foram sendo forjadas? Quais foram as trocas? Se perguntem isso também, facebookers, que o tio Gil já deu a pergunta mastigadinha no bico da gente, só pra gente pensar nas nossas vidas!

Última da quadrilogia que eu selecionei, tá valendo?

Essa se chama "Queremos Saber", e Cássia Eller a gravou no seu "Acústico MTV", no ano de 2001.

 


Obviamente que eu demorei a entender essa música. Quando eu conheci o Acústico MTV, eu a achava estranha, e até pulava ela (coisa que eu não costumo fazer, eu costumo ouvir os discos do início ao fim, de maneira ritualística até demais pra um aquariano), achava que ela destoava da proposta do resto do disco.


Até que eu entendi o funcionamento da cabeça da Cássia Eller, e aí entendi que tinha um motivo pra essa música estar ali, e fui investigar "Por que a Cássia escolheu logo ESSA do Gil pro seu Acústico MTV, com Sgt. Peppers, De esquina, Todo Amor que Houver Nesta Vida e Top Top, entre outras?", e aí eu entendi o motivo, e entendi qual era a da música, e descobri um mundo novo ali!

É simples, Gil tá falando que tem uma indagação política a fazer, uma reivindicação: a ciência está mesmo a serviço do ser humano? De todos ou só de alguns? Quando a tecnologia e o conhecimento científico serão socializados? O cara que formulou esses questionamentos incríveis, tinha que ter feito melhor no Ministério da Cultura. Mesmo sendo do PV, mesmo sendo ministro do governo Lula.

Mas essa poucas pistas que estão aí em cima sobre essa faceta social-epistemológica do camaleão Gil, não a resumem em quatro canções não. Coloquei aqui só um esboço, uma pista pra investigações futuras (minhas e de quem mais quiser seguir), um pequeno decalque. Quem tem pernas pra seguir tais pistas, que siga!

E pra concluir, sobre o Decalque, uma alfinetada pra galera esquizoanalista: decalcar é um método ótimo, quando depois você reinsere o decalque no conjunto da obra, que é a totalidade, a raiz, a essência, ou o plano de consistência, que Guattari e Deleuze nos ensinaram ser cheio de rizomáticas e arborescências. Decalcar o abstrato do empírico concreto pra depois o devolver ao concreto articulado com a raiz, com a essência, com a totalidade, é um procedimento científico e filosófico que se chama Materialismo Histórico-Dialético.

E sim, Gil, nós usamos o nosso método científico pra tentar socializar pra toda humanidade tudo o que a humanidade inteira faz. Inclusive a própria ciência.


beijinhos de maracujá!

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