segunda-feira, 18 de junho de 2012

Divagações de facebook: sobre o silêncio e a solidão




São outros tempos, e eu também sou outro. Não sei o que fazer com os sentimentos que me afogam, estou extremamente inábil, destituído de força pra continuar fingindo pose, pra continuar teatralizando essas ceninhas sociais patéticas. Decidi romper com uma boa parte das mentiras que nutrem nosso cotidiano humano: agora eu me forço a me calar.


É difícil porque, como sabem, sou viciado em falar (e atribuo isso a ser viciado em buscar aceitação social. Falo porque a linguagem me integra e morro de medo da solidão, mas é dela que tenho precisado, volta e meia, nos últimos tempos). Então tenho me calado, com uma certa freqüência, e isso tem incomodado. Até já suspeitaram que eu fosse mafioso por causa disso. Mas não, só estou exercitando o silêncio, tentando me livrar um pouco dessa grande dependência que tenho de vocês, ficando um pouquinho mais só comigo. Ser solitário em alguns momentos tem sido índice de saúde pra mim, ultimamente.

Mas a grande ruptura foi São Paulo. Sem sombra de dúvidas a minha última ida a São Paulo mudou tudo. Fui recebido com o calor às avessas da cidade, vivi nos dias em que estive lá um momento de grandes emoções, que rasgou meu coração, e voltei pra Vitória me sentindo outra pessoa. E é justamente isso que gostaria de anunciar aqui, nesse texto que estou escrevendo neste momento: sou outra pessoa.

A solidão que já vinha buscando, acelerada pela solitária cidade de São Paulo, no meio de um processo político e afetivo traumático, me deixou outra pessoa. Do José Anezio antigo, só tenho os números de CPF e RG. O resto tudo mudou. Tenho hoje uma reflexão mais aguda e mais apressada de tudo, tenho menos sentimentos no peito, e sentimentos mais intensos. Não me congelei, mas sem sombra de dúvidas, estou muito mais sólido.

Desaprendi o que são algumas das palhaçadas do amor. Agora amo com sinceridade, e às vezes, por não achar palavras pra dizer algumas verdades, fico calado. Às vezes fico calado por outro motivo: por achar que as pessoas presentes no mesmo ambiente que eu, naquele determinado momento, não merecem mais que o silêncio. Mas ainda tem isso aí rolando: um silêncio por falta de palavras pra ser sincero. Não sei se estou amando menos, acho até que estou amando mais. Mas meu amor se tornou mais cruel. Não tenho mais dó de substituir pessoas, já que sempre fui substituível por quem sempre achei que jamais eu substituiria. A idéia de que nas relações humanas a fila anda, idéia cruel, hoje me faz sentido mais do que nunca. Estou aberto a boas relações, e desapegado das que não me agradarem. Não serei jamais frio como os paulistas, mesmo porque nunca fui nem nunca serei capaz de ser frio nem como os capixabas... Mas não serei mais tolo de gastar meu calor a toa.

Uma coisa que peguei dos paulistanos é a pressa. Agora não tenho mais aquela lentidão que aprendi em Feu Rosa a minha vida inteira. Estou sempre pensando dez (ou dez mil) passos à frente. Estou sempre calculando friamente, e se estou me fazendo de lento, isso foi calculado. No amor e na morte não tem segunda chance. A segunda chance no amor é um novo amor. Na política não tem segunda chance, porque nem tem primeira. A política é o mais cruel dos amores: um povo que quer mudar seu rumo, nunca tem chances, ele tem que arrombar brechas no destino, porque o destino foi feito pra calar os povos.

Entendi uma coisa da alma dos paulistanos, que preciso contar pra vocês: são seres solitários, e é isso que faz deles tão eficientes. Eles não esperam todo mundo estar preparado pra dar o próximo passo: basta dar oportunidade de todo mundo estar ciente, e quem teve chance e não aproveitou, será atropelado. Essa é a lógica natural de quem consegue viver numa cidade que atropela. Arquitetonicamente, socialmente, afetivamente, artisticamente, de todos os modos. Vitória é uma cidade lenta, a frieza capixaba é frieza de quem tem vergonha de não ser aceito, e então evita contato. Paulistano sabe que sempre será rejeitado se tentar interação. Por isso é que paulistanos não se falam nas ruas. Por isso e por outro motivo: quem busca interação nas ruas, quase que em cem porcento dos casos, quer tirar proveito da interação, tirar proveito do outro. Mas é claro! Se as pessoas que não querem usar outras pessoas, nunca interagem, claro que a interação vai virar arma apenas dos que querem usar outras pessoas. Assim sendo, paulistanos sabem que não podem contar com ninguém, que precisam dar conta de suas tarefas sem ninguém, e que se não derem, não sobreviverão. Então todo mundo aprende a ser eficiente pra sobreviver.

Não sou tão bom, não sou um paulistano. Fiquei apaixonado com a dinâmica incrível dessas almas que desvendei por lá, porque essa gente consegue viver no meio do cinza, de uma forma que chega até a ser muito linda. Por que é que São Paulo é tão amarga e ao mesmo tempo tão amada? Não é um inferno, é só um lugar duro, mas se a vida está sendo possível lá, é porque nós seres humanos somos capazes de superar todo tipo de adversidade.

A energia que faz nossa espécie conseguir suportar a crueldade insana de São Paulo, se dirigida a outras formas de luta, nos levaria muito longe, e é nisso que eu acredito. Eu sempre sofri com a frieza de Vitória, por isso sofri tanto com São Paulo, em Feu Rosa sempre tive calor humano, e é um bairro que perdeu calor ao longo dos anos, mas continua quente. Como feurrosense serrano que sou, me encanto que as pessoas consigam se adaptar a Vitória, mover suas energias a isso, e também que consigam se adaptar a São Paulo. Eu consigo em relação a Vitória. Quanto a São Paulo, fumei infinitos cigarros por dia, e nem sou fumante. Mas experimentar a solidão de lá era uma aula que eu precisava, pra prosseguir no meu curso de solidão e silêncio.

Não sou pro bico de vocês, pouca gente que está lendo isso aqui pôde me conhecer por completo. Pouca gente o quer, e os que não querem, não sabem o que estão perdendo. Eu carrego o segredo do mundo no meu coração.

Carrego como cada uma e cada um de vocês carrega, mas não tenho tempo pra ficar pesquisando o coração de todo mundo, então acho que é por aí mesmo: cada um na sua, e que o amor seja capaz de nos tirar da mais completa solidão, porque ela é um bom refúgio contra as companhias inúteis, que só desolam e nada trazem de novo. Amar é um exercício cruel.

Por fim, acho que seria legal revelar o motivo dessa busca pela solidão e pelo silêncio: quero parar de gastar minha energia e meu amor a tôa. Pra ser uma boa companhia a quem fizer por merecer. Acho que esse amor cruel me deixa mais apto a ajudar a revolucionar o mundo do que aquele amor bobão de cachorro doméstico que eu tinha antes. Sou cadela no cio. Não das ruas de São Paulo, e sim das de Feu Rosa.

beijinhos de maracujá!

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