segunda-feira, 4 de junho de 2012

Carta do Futuro para Nós!

Por favor, leiam com carinho e atenção, leiam com amor e coragem, que eu preciso repassar uma mensagem importante:




Nós somos de uma geração que nasceu quando uma galera que lutava muito começou a parar de lutar... A gente era muito pequeno, ou nem tinha nascido, e rolou queda de muro em Berlin, queda da estátua de Lênin na URSS. A galera hoje sabe o que é URSS?

Aí meteram na cuca da gente que comunismo não funciona, e que nenhuma tentativa de transformar funciona, e que a melhor transformação é transformar só dentro da gente e deixar o resto como está. E a gente foi acreditando nisso!

Mas o mais grave não é isso... É que a galera que não nasceu junto com a gente (que nasceu antes), e que era grande quando viu cair muro e cair estátua (principalmente quem era adulto quando viu Collor ser levantado e derrubado, quando viu FHC presidente, quando viu a filha da Glória Perez morrer, e o PC Farias, e os Mamonas, e o Senna, e o Chico Science, e viu Raimundos e É o Tchan surgirem e imperarem por anos), essa galera desanimou. Essa galera perdeu esperança, depositou todas as suas esperanças num Lula-lá-zismo, num jeito tão pobre e frágil de acreditar, que qualquer coisinha fragiliza essa crença, essa esperança. E fragilizou.

A gente viu o depositário de todas as esperanças (das esperanças que venceram os medos), se tornar príncipe da desesperança. Tanto que Dilma usou contra Serra o mesmo medo que Serra usara contra Lula oito anos antes: e dessa vez funcionou. Serra tentou fazer uso da desesperança, pra mostrar que os oito anos mágicos foram uma decepção, e que só a volta ao jeito de antes poderia melhorar o que piorou, tentou usar da desesperança pra mostrar que só quem foi comprado com as migalhas petistas estava satisfeito. Só que migalha tem uma vantagem. Não precisa de uma grande quantidade dela pra comprar muita gente, então com mixaria uma parcela você compra com migalhas, e outra você compra com medo. O discurso da desesperança ameaçou dar certo, e os migalhentos ficaram morrendo de medo de perder as migalhas. Dessa vez foi o medo que venceu, mas quem ele venceu foi a desesperança.

Esse é o nosso retrato, o retrato de um tempo em que as gerações antigas se desesperaram, ficaram encurraladas entre as duas únicas alternativas que os olhos deles podiam enxergar: o medo e a desesperança, cada vez mais encurraladas, porque antes era a esperança frágil contra o medo, agora é o medo contra a desesperança, e as três coisas se sustentam na idéia de que só a urna é suficiente pra sermos livres. As gerações antigas, encurraladas cada vez mais entre alternativas para míopes, ensinam a desesperança e o medo para nós, gerações mais novas. Nós crescemos no sonho da frágil esperança lulalazista e urnista, nós perdemos as esperanças junto com nossas velhas e nossos velhos, nós compramos o medo junto com as lições da geração que nos antecedeu, pra não deixar a desesperança venceu.


A desesperança venceu, e nós, hipermétropes (que enxergamos mal de perto mas vemos maravilhosamente bem lá longe), começamos a perceber o que os velhos não viam: que o medo não tá funcionando. A gente começou a ver que tá tudo ruindo e a gente tá fingindo que tá tudo bem só pra não admitir que na verdade a gente se acomodou com o desastre, por desesperança. É isso mesmo: o nosso medo é medo de admitir que também estamos desesperados, é medo de admitir que não tá bom e voltar a antes, como era pior. A geração que era adulta quando viu Senna morrer, não enxerga que sair das migalhas não é um caminho só com a via de volta à falta delas. Podemos sair das migalhas andando pra frente, e nossa geração (que não aprendeu a desesperança na pele, que recebeu ela apenas por transmissão oral), tá conseguindo olhar pra frente, e começando a contar pras velhas e pros velhos que nossos olhos jovens conseguem ver coisas que os olhos velhos não conseguem ver. E o mais legal é que tem coisas que os olhos velhos não enxergam, mas que os ouvidos velhos escutam.

A gente tá reaprendendo a esperança que nossas mães e nossos pais desaprenderam, e a gente tá reensinando isso pra elas e pra eles. 2011 foi o ensaio disso, 2012 tá sendo o primeiro episódio. Viva à nossa hipermetropia, que aprende com a miopia da galera mais antiga, mas também ensina coisas pra ela. Essas duas gerações em briga são igual e diferentemente cegas, mas essas gerações em parceria enxergam tudo o que é necessário pra seguir em frente.

Só que, me desculpem, mas eu tenho escutado muitos velhos que me escutam, e a gente tem visto coisas incríveis que alguns velhos se recusam a ver, ignorando o que nós, jovens, podemos ensinar. Essa velharia, nós PRECISAMOS enfrentar, até pra ver se ela acorda! E precisamos enfrentar também os jovens que acham que enxergam menos que os velhos, e que por isso nós jovens devemos nos calar, e só escutar o que os velhos dizem, e que por isso querem que os jovens que olham pra frente se calem. NÃO NOS CALAREMOS! Agora é a nossa hora! O futuro se abriu diante de nós, como uma bela mulher nua que se deixa mostrar pela primeira vez para adolescentes desconhecedores do amor. Ou talvez não uma bela mulher, um belo homem, uma bela travesti, não sei. Essas e esses adolescentes estão ainda aprendendo a amar e Milton falou que "Qualquer maneira de amor vale a pena". A gente quer o futuro, essa é a nossa oportunidade, a oportunidade que o futuro nos deu! Não a percamos! Não nos calemos! O presente está nos dando uma lição, que quem era adulto quando viu Senna morrer, desaprendeu. Uma lição que por vinte anos ficou escondida, e que agora volta. E a lição é: Lutar vale a pena.

2011 foi um ensaio, 2012 está sendo o primeiro capítulo. O mundo acaba em 2012. E um novo mundo começa: O mundo que acaba é aquele em que a luta não fazia mais sentido, em que precisávamos escolher o menos pior pra não fazer o caminho de volta. O mundo novo é aquele em que avançamos.

O que a gente ainda não descobriu, e que 2012 vai nos mostrar, é que nós podemos duas coisas: uma que nós já sabemos que podemos fazer, e uma que a gente ainda não sabe, mas vai descobrir. A primeira nos fará agüentar até que comecemos a fazer a segunda. A primeira é que nós podemos cantar. A segunda é que nós podemos voar!


"Se arme de amor e coragem
Que a minh'arma eu nunca embainho
Se arme de amor e coragem
Como a rosa se arma no espinho
Na tragédia, poesia, na prosa
Tem picada feroz e carinho
Se arme de amor e coragem

Que a minh'arma eu nunca embainho

Que a minh'arma eu nunca embainho"

(Ednardo)


beijinhos de maracujá!

Um comentário:

  1. A "esperança" realmente é difícil de se encontrar numa conjuntura tão perturbadora na qual vivemos hoje. Não queremos a esperança disfarçada, dissimulada. Queremos a esperança real de que as pessoas e o mundo podem ser mudados. Se não for por isso, nem para isso, a luta se torna em vão.
    Basta também a nós, jovens, termos ciência da força que temos, arrastando os velhos e desesperançados para essa onda que indica a possibilidade da construção de um mundo novo.
    Podemos ser sonhadoras e sonhadores, porém o motivo que nos move é completamente real, e temos os pés no chão quando afirmamos que um novo modo de vida é possível!

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