quarta-feira, 28 de março de 2012

Você vai pensar em mim...


Quando você estiver com saudades, estará pensando em mim. Também quando estiver com vontade, quando estiver com medo e quando estiver aflita. Quando estiver com fome, e sentir saudade do meu tempero e da minha culinária, você vai pensar em mim. Quando vir uma situação indignante, e se lembrar de como eu me indigno com tudo o que é injustiça, vai lembrar de mim. Vai lembrar de mim quando estiver sendo feliz, e se lembrará sobre o como é bom ser feliz ao meu lado, compartilhar momentos felizes, instantes únicos. Vai se lembrar do quanto eu amo ser feliz, e do quanto eu quero que todas as pessoas do mundo o sejam. Vai desejar isso tanto quanto eu, e lembrando de mim. O amor à humanidade te fará lembrar de mim.

Vai se recordar de minha pessoa toda vez que algo estranho ocorrer, porque uma pessoa estranha como eu faz com que a gente aceite com naturalidade que coisas estranhas podem ocorrer ao nosso redor. Você vai se intrigar com o jeito diferente de tudo o que ocorrer de novo, com a curiosidade de um filhote de raposa ou de leão, brincando. E vai lembrar da forma intrigante como eu aconteço, do quão intrigante eu sou para você. E aí você vai pensar em mim pra caralho! Toda vez que você andar de bicicleta vai ser lembrando de mim, toda vez em que você pular uma roleta, eu estarei em sua mente. Os filmes infantis e os mistérios por trás de uma letra de música, o corte e a estampa dos vestidos, assim como os corpos das mulheres que os preenchem. Tudo isso me fará presente em suas lembranças. Você vai lembrar de mim sempre que souber que nos encontraremos daqui a cinco minutos, vai encher o pulmão de ar toda vez que chegar em algum lugar em que haja qualquer chance de nos encontrarmos.

Você vai sentir a palma da mão suando toda vez que estiver caçando palavras pra me dirigir, e sorrirá feliz todas as vezes em que trocarmos palavras. Você vai sair feliz de todas as conversas que tivermos, ou ao menos vai sair mexida ao extremo.

Todas as vezes que você sentir raiva de mim, estará lembrando de mim, pensando em mim, não tem jeito. Todas as vezes em que Jorge Amado falar em Candomblé, ou Guimarães Rosa falar na relação com o animal, eu estarei ali, dizendo pra você em sua imaginação que a literatura brasileira é linda. Toda vez que alguém disser que você é linda, você lembrará de mim. Lembrará o que acho da sua boca, dos teus olhos, do teu sorriso, dos teus vários sorrisos, de cada um deles, do teu braço, da tua barriga, da tua nuca, da maciez da tua pele, da delícia de abocanhar teus seios. Toda vez que alguém segurar o teu quadril, você vai comparar, pra ver se fez melhor ou pior do que eu. Mas nunca igual... Nunca igual.

Perfumes te lembrarão a minha presença. A beira do mar sempre te lembrará de mim. Você se lembrará das tuas mais deliciosas ondas e de suas mais pesadas bad trips, e do quanto fiz parte delas, toda vez que qualquer droga te alterar percepção e consciência, seja um chocolate ou uma carreira de pó. Você sempre se lembrará de mim ao ouvir Blackbird, Strawberry Fields Forever, Hello Goodbye. Você se lembrará de mim ao ouvir a Zélia Duncan. Nunca virá outra pessoa na tua cabeça, antes de mim, quando ouvir o Itamar. Basta ouvir falar do Itamar.

Quando você me ouvir cantar, sempre lembrará de algum momento. Cada música que eu saiba tocar e cantar terá uma história pra você. Algumas músicas te farão gamar, outras te farão pensar, outras te farão querer me matar, algumas farão você sentir tesão em mim. Lembrar de momentos bons, íntimos e escondidos. E você não deixará de demonstrar na sua cara que tá lembrando do que tá lembrando. Ou vai ter que fingir, se a situação te obrigar a não poder me querer.

Pode ser que ocorra, sei lá, de você ter que fingir que eu sou de outra pessoa e que você nunca fez parte de mim. Mas eu ainda estarei ali, dentro de você, não importa o que ocorra. Estarei no teu peito, na tua mente, nos teus sonhos. Você nunca se esquecerá de mim, a não ser pra poder ser lembrada de que eu existi na sua vida. E você saberá sempre, que não importa o que aconteça, eu nunca serei de ninguém, que ninguém me governa e que sou livre como um pássaro. Que eu nunca venda a minha liberdade, e que possamos ser livres juntos. Para que não sejamos ambos escrava e escravo, em um reino de liberdade.

Que tenhamos a liberdade de não pensar um no outro. Boa sorte! Tente não pensar em mim, que eu não consigo parar de pensar em você!

Maracujá te fará pensar em mim!

beijinhos de maracujá!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Roda de Violão autogestionada contra o fascismo na UFES



Criamos um evento no facebook e envio abaixo o link e a descrição:


O blog Artifício Socialista - http://artificiosocialista.blogspot.com.br/ - convida para a roda de violão autogestionada contra o fascismo na UFES.

É simples: Não aguentamos mais!

Na UFES o nível de higienismo, fascismo, repressão e terrorismo é tão grande que a segurança está impedindo rodas de violão, hortas, hippies, bazares (nunca impediriam Santander, alguém já se questionou quanto ao motivo desse tratamento desigual?). A polícia está circulando a qualquer hora do dia na UFES sem explicação alguma, sem nenhuma consulta à comunidade acadêmica, o reitor tá fingindo que não é com ele, fingindo que é tudo culpa do ministério público, e todo mundo tava comendo mosca e deixando passar batido.

MAS CHEGA!!! A partir de agora não vamos nos calar mais!

Por isso o blog Artifício Socialista convida todas e todos para uma roda de violão autogestionada, a ocorrer no gramado em frente ao RU e ao CALPSI, na manhã da terça feira, 03 de abril de 2012.

Convide suas amigas e seus amigos. Mas se você tá em paz com o fascismo crescente nessa UFES e nessa sociedade, não precisa convidar ninguém não. Ame-o e deixe-o crescer, que ele nos odiará cada vez mais e nos deixará viver cada vez menos. 

beijinhos de maracujá!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Beto Science & Internação Zumbi (ou Gilberto Gil Experiença)!


Mas chega de falar de Amor e da nova Tecpix, vamos falar de um assunto mais sério: Ciência.


Gilberto Gil indaga desde sempre sobre o que a ciência é pra humanidade, ou seja, do que ela está sendo, do que ela já foi e do que ela deve ser. É um espinosista, esse Gil (apesar de não ter sido um bom ministro da cultura). Ele acumulou, com seus poucos anos de vida (uma encarnação incompleta!), muitos dados que nos permitem uma análise científica, filosófica, materialista histórico-dialética deste dilema que Gil persegue (ou que persegue Gil?). Quero fazer um recorte, uma abstração (ou para Guattari e Deleuze, um decalque), e retirar do conjunto da obra de Gil essa faceta: o poeta investigador da ciência.

Não é uma ordem cronológica, e sim emocional, porque eu ainda não estou escrevendo a tese definitiva, apenas um diálogo para abrir debates, um aperitivo, então afrouxei a gravata do rigor metodológico e me permiti apenas um comentário informal de blogueiro banguela que sou.

Pra começar, 1997. Disco "Quanta", e a canção é "Pela Internet".

 

Esse homem tá tentando dizer mil coisas, mas entre elas, uma coisa muito simples: A internet tá juntando tudo, tá globalizando todo tipo de gente, até o Gabão, até os contraventores, e a polícia, e apesar de limitada, está promovendo debates que antes não aconteciam. No entanto, ele tá dizendo também que ela está promovendo debates que antes não existiam, mas apesar disso, é limitada. Prestem atenção na forma como ele coloca a internet como uma coisa o tempo inteiro comparada com os hábitos cotidianos e com a tradição. Ele tá se perguntando se a internet consegue chegar ao ponto de ser a vida de troca que se vive fora da internet. A pergunta é: a internet tá aproximando mais, ou tá distanciando mais. Lembrando, facebookers, que em 1997 não existia facebook, twitter nem orkut... Não tinha 9gag, e acho que nem tinha fotolog. Mas o Gil já tava sacando esse movimento, essa mistura da tecnologia com essa parte orgânica do ser humano, com o ser gente. Cultura, história, social, diabo a quatro. Claro que tem muito mais do que isso, mas isso vocês investiguem e achem, que eu já instiguei. Mas pelo menos um ponto do universo que Gil fala, é isso!

E ela ainda foi propaganda do Itau! (Sim, eu sei que é Bad, mas foi assim que eu a conheci!)

Então vamos pra outra?

1996, disco "Barulhinho Bom", de Marisa Monte. A música é "Cérebro Eletrônico", de autoria de Gilberto Gil.


Escolhi a Marisa pra mostrar essa porque foi com quem a conheci, e porque adoro essa versão. Além da sensualidade desengonçada da Marisa Monte, é claro! Maravilhosa, você, Marisa! Se você estiver lendo esse blog, saiba que eu casaria com você e te faria uma mulher muito feliz! Na cama e fora dela!



Recado dado, voltemos pro Gil... O que esse rapaz está dizendo, minha gente? Ele tá dizendo uma coisa muito simples: a máquina mais aperfeiçoada na inteligência artificial nunca será capaz de ir até onde o ser humano foi, a saber, na inteligência natural e cheia de artifícios, o que quer dizer cheia de confusões, emoções, sentimentos, medo da morte, e até o dom e a capacidade de morrer. Sintam a letra dessa música e vejam que mais uma vez ele tá dizendo que é preciso pensar o limite até onde a ciência está acima do homem, e até onde ela está submetida a ele. E reparem que Gil em momento nenhum fala pra abandonar a ciência, em função do homem. Mas reparem também que, mesmo quando ele a exalta, ela e exalta colocando-a no seu devido lugar.

Mas o fidumaboamãe (e de um bom pai) prossegue:

1992, disco e canção de mesmo nome: "Parabolicamará"!



Essa foi trilha de Renascer, novela da Globo, de 1993. Inclusive, essa é a minha novela preferida e quem tiver curiosidade de viajar num enredo rico, curioso e muito divertido e instigante, tem a novela praticamente completa no Youtube. 100 episódios!


Mas voltando mais uma vez pro Gil, aqui o que ele tá dizendo é: O mundo tá ficando cada vez menor. Se uma jangada faz certo percurso em uma eternidade, um saveiro gasta só uma encarnação (o tempo finito de uma vida) pra fazer o mesmo percurso. E é claro, o Avião gasta o tempo de uma saudade. Mas aí Gil tá constatando muito sabidamente esse movimento, quase como um Milton Santos da música brasileira. Ele constata que a globalização tá diminuindo as distâncias e distorcendo o tempo, e atribui às invenções da ciência, às tecnologias, tal fato. Mas ele não apenas constata, mas se pergunta: o que tá sendo feito dessa aceleração toda da vida? Como é que isso se encontra com o ser humano cuja vida a tecnologia acelera? Ele tá humanizando a ciência, perguntando como é que a capoeira encontra a tecnologia da antena parabólica. E aí a pergunta que eu faço é: com a chegada da antena parabólica e da televisão no campo (junto com a eletricidade, em alguns lugares, inclusive) que tipo de cultura, de subjetividade e de ideologia foram sendo forjadas? Quais foram as trocas? Se perguntem isso também, facebookers, que o tio Gil já deu a pergunta mastigadinha no bico da gente, só pra gente pensar nas nossas vidas!

Última da quadrilogia que eu selecionei, tá valendo?

Essa se chama "Queremos Saber", e Cássia Eller a gravou no seu "Acústico MTV", no ano de 2001.

 


Obviamente que eu demorei a entender essa música. Quando eu conheci o Acústico MTV, eu a achava estranha, e até pulava ela (coisa que eu não costumo fazer, eu costumo ouvir os discos do início ao fim, de maneira ritualística até demais pra um aquariano), achava que ela destoava da proposta do resto do disco.


Até que eu entendi o funcionamento da cabeça da Cássia Eller, e aí entendi que tinha um motivo pra essa música estar ali, e fui investigar "Por que a Cássia escolheu logo ESSA do Gil pro seu Acústico MTV, com Sgt. Peppers, De esquina, Todo Amor que Houver Nesta Vida e Top Top, entre outras?", e aí eu entendi o motivo, e entendi qual era a da música, e descobri um mundo novo ali!

É simples, Gil tá falando que tem uma indagação política a fazer, uma reivindicação: a ciência está mesmo a serviço do ser humano? De todos ou só de alguns? Quando a tecnologia e o conhecimento científico serão socializados? O cara que formulou esses questionamentos incríveis, tinha que ter feito melhor no Ministério da Cultura. Mesmo sendo do PV, mesmo sendo ministro do governo Lula.

Mas essa poucas pistas que estão aí em cima sobre essa faceta social-epistemológica do camaleão Gil, não a resumem em quatro canções não. Coloquei aqui só um esboço, uma pista pra investigações futuras (minhas e de quem mais quiser seguir), um pequeno decalque. Quem tem pernas pra seguir tais pistas, que siga!

E pra concluir, sobre o Decalque, uma alfinetada pra galera esquizoanalista: decalcar é um método ótimo, quando depois você reinsere o decalque no conjunto da obra, que é a totalidade, a raiz, a essência, ou o plano de consistência, que Guattari e Deleuze nos ensinaram ser cheio de rizomáticas e arborescências. Decalcar o abstrato do empírico concreto pra depois o devolver ao concreto articulado com a raiz, com a essência, com a totalidade, é um procedimento científico e filosófico que se chama Materialismo Histórico-Dialético.

E sim, Gil, nós usamos o nosso método científico pra tentar socializar pra toda humanidade tudo o que a humanidade inteira faz. Inclusive a própria ciência.


beijinhos de maracujá!

quarta-feira, 14 de março de 2012

O amor é uma coisa que dá medo!



Ontem eu lembrei de uma ocasião em que segurei a mão de uma pessoa e desejei segurá-la para sempre. E hoje nem desejo mais. Outras mãos que hoje fazem meu coração palpitar e as palmas de minhas mãos suarem. O amor que alegra é um avião que voa muito baixo, sobrevoa nossas cabeças (ontem uma amiga e eu meio que percebemos isso), mas nunca cai sobre nós nem pousa onde estamos. Parece que está tão baixo que se esticarmos a mão poderemos tocá-lo. Mas não podemos não.

O amor é uma espécie de amizade mais forte: uma amizade tão grande, tão intensa, tão viva dentro da gente, que a gente até quer levar a consumação da amizade para o nível das carnes e das intimidades. O amor que não é amigo não é amor.

E não existe amor pra sempre, existe amor pelo tempo que durar. Que algum dure para sempre, é ocasião, e não lei natural das coisas. Até que a morte nos separe é uma frase forte, porque amor não é algo que nos gruda e que nos funde. Na verdade o amor é algo que nos funda. A cada momento mais e mais, um novo fundar a cada novo segundo em que o amor existe em nós. E fundar em vários sentidos. No de fazer brotar em nós uma sensação de que podemos ainda mais do que podíamos, mas também no de fazer sentirmos vontade de parar, quando parece que tudo tende a ficar cada vez pior, e até mesmo no sentido de nos fazer querer parar de amar. Amor não é receita certa para o fracasso nem para o sucesso.

Porque amor não é receita, é modo de vida. Tem gente que vive a vida com amor, o que não é garantia de nada, e tem gente que vive a vida sem amor, o que é garantia de que não vai dar em nada. O amor às vezes me faz derreter feito manteiga, e às vezes faz de mim o mais elegante dos príncipes. O amor me faz admirar amores bem amados e sofrer quando vejo gente se machucando e machucando outras pessoas por causa do amor. Eu tô dizendo isso tudo mas nem sei se o "amor" existe. E não tô falando do amor pela militância, nem pela humanidade, pela vida ou pela família. Dessa vez tô falando de algo muito específico: "O corpo quer, a alma entende!".

Talvez nenhuma palavra do que está escrito nos parágrafos acima faça sentido pra nenhum outro ser humano que não seja eu, mas vou contar uma última coisa, que eu queria que todo mundo prestasse atenção e levasse desse texto pra suas vidas:

Amor não é a virtude de saber controlar e dominar com temperos de tesão e roupagem de ternura. Amor não é escravidão, nem prisão, nem vigília, tutela ou tortura. Amor é uma coisa que, machucando ou alegrando, foi feita pra fazer voar: Então não nos prendamos, nem prendamos ninguém, em nome do amor. Que ele seja um exercício de liberdade.

E não prendam o amor nesses seus peitos. Em primeiro lugar, muita cautela, que pôr sentimentos pra fora do peito é algo que sempre pode ferir alguém, então esvaziar o peito com carinho é sempre bom. Mas por outro lado, amor guardado apodrece. Então da próxima vez que sentirem vontade de segurar a mão de alguém pra sempre, não deixem de segurar, mas segurem com amor, e nunca segurem no sentido de prender ninguém pelas mãos. E às vezes a sua companhia vai adorar ouvir o segredo que você tá guardando dentro do seu peito: compartilhe seus amores com seus amores.

Só um conselho bobo... Vejam aí se vale a pena...

beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Bagunça pela cidade é a velha nova ameaça!


Vamos fazer uma baguncinha por aí?


Sair pela cidade, fazendo nossos corpos serem bombardeados por suas paisagens e suas paisagens serem bombardeadas pelos nossos corpos. Um urbanismo que conta com o fator humano, ou mais do que isso, que conta com as vidas humanas, com os corpos humanos. Em movimento. Em alegria. Ou até em tristeza, quem sabe? Um urbanismo que conta com o inusitado, com seres que não apenas transitam pela cidade, mas fazem turismo nela. Que a povoam não apenas como classe alienada indo de suas casas às casas de sua exploração, mas como tentativa de plenitude, que usam a cidade no seu mais louco extremo: seres que passeiam.

Vamos passear por aí? Nos perder um pouquinho, e depois nos encontrar no miolo do mundo. Nas ruas, nas praças, onde está presente o mais intenso de todos os movimentos, onde a vida não é domesticada, e os hábitos não se descrevem em cartilhas de etiqueta. Vamos tocar violão na beira da praia, olhando a lua, vamos degustar a bela formação rochosa do outro lado do canal, com sua vegetação de enfeite, vamos pedalar pelas ruas da cidade, perigosamente despreparadas para qualquer meio de transporte que não seja carro. E por falar em meios de transporte, vamos ficar olhando aviões voar, e não acreditando que algo tão pesado pode estar deslizando nos céus. E pode passar tão perto dos nossos filhotes de arranha-céus.

Hoje é um dia de reinício. Muito movimento humano que havia pausado por instantes, hoje começa a se redelinear. Vamos nos reencontrar, beijinhos no rosto, piadinhas antigas e novas, matar saudades, contar novidades, planejar as nossas farrinhas. E é aí que o bicho pega!

Essa cidade tá tranquila demais. E nossos peitos, profundamente intranquilos. Precisamos nos reanimar, como há anos essa cidade não vê tanta gente do submundo animada. Vamos fazer as ruas se sentirem vivas, desacostumar os olhos acomodados, descansados da alegria que outrora povoou todos os cantos desta urbe. Vamos tomar as ruas, tomar as ruas de alegria, de uma alegria andarilha e pouco convencional. Vamos fazer nossa cidade admitir que fica muito mais sensual quando a estamos fazendo pulsar, quando causamos em suas madrugadas, ou em suas tardes. Ou a qualquer hora do dia.

A qualquer hora, do dia ou da noite, nos encontramos aí, porque estaremos por todo canto, na cidade inteira, fazendo deliciosas bagunças. Desacostumando a idéia de que essa é uma cidade comportada. Porque no fundo essa cidade tem saudade da época em que era natural nos encontrar por aí... Bagunçando...

E como eu já disse outra vez: baratas saiam dos bueiros! Tomemos as praças, tomemos as ruas, e façamos o mais intenso dos movimentos: O movimento da vida livre e prazerosa!


Beijinhos de maracujá!

domingo, 4 de março de 2012

Há certas faxinas que só se faz em solidão!


Eu estava de mudança ontem, e minha sobrinha, que me ajudou na mudança, me inspirou a escrever um livro infantil sobre poeira e flanelas. Mas antes vou escrever um texto bem adulto sobre o tema, e não se trata de pornografia não.

É difícil para um militante socialista entender que não dá pra estar coletivamente organizado em cem porcento dos momentos da vida e nem em cem porcento dos caminhos a seguir. Existem algumas tarefas em nossa vida que precisam ser trilhadas em solidão. Às vezes é preciso quarto vazio, silêncio, ausência de gente. E eu estou tendo que aprender isso na marra.

Há momentos em que é preciso falar com as paredes. Às vezes achamos que estamos enlouquecendo, ou achamos que todas e todos ao redor estão nos perseguindo, e querendo fazer com que acreditemos que estamos enlouquecendo. Às vezes, por mais que amemos a vida, as coisas ficam tão atordoantes e confusas na cabeça da gente, que a gente sente vontade de morrer.


Em certas situações, quando a madrugada é uma tormenta, e choramos na cama sem parar, é bom que haja alguém ao lado que nos possa consolar e segurar a barra. Mas às vezes não há, e é preciso saber lidar com isso. E em outros momentos, é bom que não haja.

É isso: O aquariano com ascendente em peixes, viciado em gente, viciado em roda de amizades, que tem como projeto de vida (inspirado numa canção do "rei") ter um milhão de amigos, às vezes descobre (à força), que às vezes o Renato Russo é que tava certo, quando falava do efeito necessário da solidão. O aquariano com ascendente em peixes descobrindo que tem horas em que o melhor a fazer é andar por aí SEM NINGUÉM, pra ver se a cabeça volta pro lugar.

E a cabeça não volta... Não volta mesmo!

É a hora da faxina interna, é a hora de avaliar a própria vida, e ver se estou realmente conseguindo ser aquela pessoa que eu desejo e tenho me esforçado para me tornar: alguém que luta por um mundo de igualdade e respeito, de prazer e liberdade, e que faz de sua vida um testemunho de como este mundo deverá ser. É hora de avaliar se estou fazendo da minha vida um laboratório da emancipação coletiva e fraterna, ou se estou demolindo isso tudo em meus atos. É hora de ficar trancado sozinho no quarto, ou de pedalar sozinho pelas ruas e avenidas da cidade, e refletir se está valendo a pena viver, se vale a pena continuar vivo.

Um militante socialista, materialista histórico-dialético, um revolucionário radical, só afirma com tanto vigor suas opiniões porque se permitiu duvidar de si mesmo, e viu até mesmo as suas convicções mais profundas sendo alvo do pensamento crítico. Só afirma com vigor o que sobreviveu ao exercício da crítica. E só luta por transformar o mundo, por socializar as riquezas, a humanidade, o prazer e a liberdade, porque isso torna a vida mais plena. Ou seja, só faz sentido a luta revolucionária se há uma certeza de que a vida vale a pena ser vivida. Mas como afirmar com vigor essa opinião se não me permito duvidar disso?

Por isso, estou dentro de mim mesmo, arrumando a casa interna, vendo se a vida vale a pena ser vivida, vendo se a minha vida vale a pena, se eu mereço estar pisando sobre a face da terra. Por isso, estou sofrendo a dor de não ver sentido na vida, de querer até morrer, de chorar sem motivo, e de não querer olhar pra cara de ninguém. E depois isso passa, e eu vou ver todo mundo e sorrir!

Sorrir um sorriso delicioso, porque eu adoro gente! Adoro a vida, adoro a minha vida, adoro os seres humanos, e adoro minhas amigas e meus amigos! Gosto do que faço, gosto do lugar onde vivo, e das coisas bacanas que temos inventado por aí... Coletivamente. Mas hoje eu estou com uma dor dentro do peito, achando que tudo vai sair dos trilhos, e querendo distância de tudo o que respira, fala e pensa.

Daqui a pouco eu vou ficar melhor...

beijinhos de maracujá!