sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

ABC - Atitude, Burocracia e Cigarro



Eu não consigo sair daqui...

Preso por esse medo das irresistíveis novidades, eu não tenho coragem de dizer que te amo, e não tenho coragem de largar tudo e sumir no mundo. Eu continuo indo todos os dias nos mesmos lugares, batendo os mesmos carimbos, ignorando desconhecidos nas calçadas do mesmo jeitinho, tomando café na mesma padaria, fumando cigarros nas mesmas janelas, lendo os mesmos livros, já lidos tantas vezes. Às vezes leio algum livro novo, pra matar um pouco a vontade de fugir, mas em geral eu leio sempre os mesmos, pra saber citar bem os "Segundo Fulano (1984)" e os "De acordo com Beltrano (1917, p. 112)". E também porque ler muita novidade me faz pensar demais em você.

Hoje fui a uma floricultura, comprei uns amores-perfeitos. Um bom trocadilho botânico. Vou colocar na janela do meu quarto, e cuidar como se fosse um filho. Tenho me sentido tão sozinho, que flores são bem vindas. Eu gostaria de um dia te trazer pra conhecer a minha casa, acho a decoração de bom gosto, nem muito descuidada, nem muito estravagante. Acho que iria te causar boa impressão. Mas eu não tenho coragem de dizer mais do que "oi, oi!", na mesinha do café. Já tive vontade de ir contigo pra janela do escritório, quando você vai fumar, ter a sua companhia durante um cigarro já me alegraria demais, mas nem isso eu tenho coragem. Morro de medo de você apagar o cigarro no início e se retirar, enojada da minha presença. Não acho que tenha assim tanto nojo de mim, mas por mais que eu fique com mais vontade de fumar toda vez que te vejo levantar de sua mesa pra ir até a janela, abaixo a cabeça e digito mais, e carimbo mais.

Tenho vontade de te tirar pra dançar. A vida é um grande baile colegial, como se dizia antigamente. As menininhas e os menininhos vão sonhando com seus romances, alguns com seus primeiros beijos, outros com suas primeiras transas, outros com suas primeiras danças. Eu gostaria de dançar contigo, corpo colado, rosto colado, sentindo a sua respiração e querendo parar de respirar, com medo de que você sinta a minha e me ache afobado demais. Mas nem esse medo eu sinto. No transtornado baile da vida, não tenho coragem sequer de te tirar para dançar. Mas posso sentir na palma de minha mão direita a maciez de suas costas, e do tecido do seu vestido, enquanto sinto na esquerda a maciez da pele da tua mão. Se você sussurrar qualquer coisa, eu ouço, e minha respiração fica ainda mais descontrolada, e eu agradeço a Deus por não estar vendo seus olhos, nem seu sorriso. E só de pensar nisso, lembro deles, com o rosto colado no seu, e posso perder o ar. E você vai se arrepender de ter aceitado o meu convite. É melhor não tentar.

Eu queria colocar uma mochila nas costas, ter um violão pra tocar nas estações de metro, nas ruas movimentadas, e sair sem destino, sem calcular minha viagem pelas moedas e notas que levo. Ir de cidade em cidade, conversando com pessoas desconhecidas, fazendo amizades, vendendo poemas e inventando novos amores. "Um amor em cada porto", como disse certa vez a menina Adriana, com seus belos olhos marítimos. Viver sem tantas certezas, sem tantas garantias, sem tanta estabilidade. Afinal, quais são as certezas que eu tenho hoje? Todas elas, a não ser as certezas do meu cotidiano, são ilusões de que eu estou no controle. Não estou, e não estaria menos no controle se perdesse o rumo. Aqui, repetindo o caminho diário de minha casa até meu trabalho, não estou livre das vontades do destino, não estou mais ao sabor do vento do que viajando por aí. Mas sinto no meu peito que tenho o controle. E continuo fugindo descontroladamente, e mentindo pra mim mesmo que cair no mundo é que seria fugir.

Quando eu era jovem, tinha uma banda. Todos éramos punks e viramos burocratas. Nós achávamos que iríamos mudar o mundo, mimeografando fanzines e berrando contra o preconceito e a injustiça. A gente xingava a polícia, bebia Vodka barata e Cantina da Serra, fazia sexo na rua e pichava paredes por toda a cidade. Hoje eu vejo, da janela do ônibus, a cidade rabiscada por pessoas inconformadas, e me pergunto o que essas pessoas serão no futuro. Será mesmo que o destino de toda alma indignada é se acomodar? Será mesmo que é natural, esse discurso tardio de "estou fazendo a minha parte por um mundo melhor, aqui no meu trabalho"? Quando foi que a filosofia virou burocracia? Quando foi que o pensamento virou adoração a nomes com gordos lattes, e a criticidade virou adequação às normas de publicação? Eu fazia fanzines, hoje eu tenho medo até de amar.

Hoje, eu vim pro escritório decidido, vou ficar com o cigarro na orelha, e com o isqueiro no bolso da camisa. Quando eu te vir levantando e caminhando em direção à janela, vou levantar sem contar até três, pra não ter tempo de desistir. Vou fingir que não lembro o seu nome, e depois vou falar do seu signo, e a gente marca de se encontrar de novo ali, na janela, no próximo cigarro. Vou voltar pra minha mesa e ficar morrendo de vontade de fumar. Não pelo cigarro, por você. Depois de uma semana, vou soltar no ar que escrevo, pra você insistir e tentar me convencer a te mostrar algum de meus poemas não publicados. E depois a gente vai ter a idéia casual de sair pra tomar um suco, tomar uma cerveja, tomar um taxi, e depois de não-sei-quantos-anos-sem-coragem, finalmente eu vou poder chupar seus seios e você fazer carinho na minha nuca, e no dia seguinte você vai rir pra mim de longe, e eu vou rir de volta, e pegar meu cigarro e ir correndo pra janela.

Vou pichar seu nome nas paredes da cidade, vou escrever por todo canto "Eu te amo, e morte ao capital!", vou mimeografar um poema com seu nome, e distribuir nos terminais. E a gente vai dançar um rock'n'roll da Rita Lee... Tô só esperando você levantar daí, preu ir pra janela! E depois, a gente vai cair no mundo!

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Vontade é uma coisa que dá e passa!



Hoje eu acordei com uma certa vontade de te comer. Te comer embaixo do chuveiro, em cima da cama, em cima da mesa, em pé no guarda-roupas, com você escorada na janela, na beira do fogão, na varanda da frente, na varanda da área de serviços, no corredor, na escada, em cima do telhado, no gramado do quintal, em cima da mesa de bilhar, de quatro, de ladinho, de cavalgada, de cabeça pra baixo, acrobaticamente, geriatricamente, com a cabecinha roçando na entrada, com sua genitália sendo esfregada na minha cada, mastigando e chupando seus peitos, te puxando pelos cabelos, você puxando os meus, aquela perigosa chupada de testículos, em frente ao espelho, no encosto do sofá, na punheta ciclística, na beira da praia, atrás da igreja, no banheiro do shopping, no provador da C&A, num beco escuro, numa rua deserta, no meio da festa, meia nove tortuoso no cinema, mordendo a sua nuca enquanto te puxo pela cintura e meto, te fazendo gemer, e depois você me fazendo gemer, e rindo, e depois eu te fazendo tremer, e depois a gente dormir, e no outro dia eu te acordar te chupando, e depois a gente ir tomar banho, pra começar tudo de novo, e inventar alguma coisa a mais.

beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Resposta a uma carta pertinente (uma contribuição teórica ao debate sobre a militância paranóica)



Olá, caro blog http://molotovaluzdevelas.blogspot.com.br, o blog Artifício Socialista ficou tocado pela sua última postagem, uma muito pertinente carta aos paranóicos, e vem dar continuidade a este debate, por conta de sua importância crucial na atual conjuntura que vivemos.

Em primeiro lugar. Nós, paranóicos, temos a tarefa histórica, o desafio irrepreensível, de explicar ao mundo o nosso funcionamento, em certo grau, sim, para que possam compreender em que tal funcionamento nos faz sofrer, tendo assim mais compreensão com nossos excessos e talvez até nos apoiando nos momentos difíceis, mas também, e talvez até mais importante, para que entendam o que tem de mais instrumentalizador e potente neste funcionamento, como a paranóia nos leva adiante e nos transforma em armas de guerrilha perigosíssimas. Talvez possam até mesmo aprender conosco, imitar algumas de nossas estratégias, adaptá-las a suas estruturas psíquicas monocogitáveis.

Sim, porque o que mais distingue essa personagem fascínora, que é o paranóico, em relação às demais pessoas, é que essa singular espécie cogita sempre duas possibilidades. Uma é a possibilidade cogitada por toda a massa populacional da sociedade, sejam cidadãos-de-bem, sejam os bons-rebeldes. A outra, é a possibilidade de haver uma conspiração do universo contra mim, ou contra nós, ou contra você, ou vocês, ou contra toda a humanidade, ou da humanidade toda contra nós, ou dos iluminatis contra nós, ou da reitoria, da dilma, da burguesia, da máfia chinesa, da raça ariana, contra nós.

Os bons-rebeldes sabem exatamente o que estão fazendo, sabem exatamente o que está acontecendo. Os cidadãos-de-bem sabem exatamente quais regras cumprir e quais rebeldias evitar. Tudo está óbvio e claro. NÃO! PARA NÓS, NADA É ÓBVIO, e Claro é uma operadora de celular! Para nós tudo é misterioso, e o fascinante terror é justamente não ter certeza de qual o destino a que esse rumo nos leva. Por haver uma segunda possibilidade, por haver uma ambicogitabilidade, sempre estamos nos colocando em questão.



É óbvio que 2013 vai ser melhor que 2012. NÃO, não é óbvio. E não ficamos acomodados! É óbvio que 2013 vai ser uma merda. Não, não é obvio, e temos esperança de que podemos fazer algo diferente. É mais ou menos assim que funciona.

Dentro de uma organização marxista-revolucionária, conspirações para mudar a correlação de forças, tomar o poder, instaurar a ditadura do proletariado, construir o poder popular e a socialização da gestão de todas as esferas da sociedade, destruir o estado, o patriarcado, o amor possessivo e construir uma sociedade comunista de amor livre. A auto-crítica, virtude de qualquer organização revolucionária, tantas vezes proclamada aos gritos e escritos, nunca será completamente capaz de pôr de fato em questão os rumos já instituídos de sua linha política, se em seu seio não houver militantes, ou ao menos um militante, doentiamente paranoico. A paranóia pode iniciar uma polarização que acumule diversas angústias e divergências, e redunde em um racha, mas essa é apenas uma possibilidade, e não há na história do movimento socialista, racha em que todos os paranóicos ficaram de um só lado. É uma lei natural dos rachas: os paranóicos inevitavelmente se dividem e se espalham em todas as novas organizações, para que nenhuma delas fique órfã de ambicogitabilidade. Caso essa lei falhe, as consequências podem ser graves para toda a Classe. Mas além de polarizar, a paranóia também pode agregar. Muitas vezes o paranóico é aquele que sente algo errado quando a polarização ainda está velada. Tudo está óbvio, é claro e indiscutível que temos unidade, somos uma organização coesa, com a linha mais justa para ser a vanguarda da luta de classes no planeja hoje. Eis que o paranóico se inscreve, levanta a mão, faz anotações. Claro é uma operadora de celular, não há nada claro aqui... "Pode parecer que eu tô viajando, mas será que não tem uma pequena divergência se instaurando? Será que o lado de cá não tá certo quando aponta o risco de fazer tal coisa, que o lado de lá tá fazendo, e será que o lado de lá não tá certíssimo ao chamar o lado de cá a fazer mais aquela outra coisa, importantíssima para nosso caráter combativo?". Pronto, uma muralha de certezas foi convidada à demolição. Basta que se saiba apreciar uma boa intervenção paranóica.

Este é um exemplo leve. Não posso falar aqui em eventos pesados, porque a burguesia também pode usar nossas armas contra nós. Acha que só a classe trabalhadora acorda de madrugada pensando nos riscos de um monstro imaginário? São os paranóicos da burguesia que tentam ajudá-la a não nos menosprezar enquanto classe trabalhadora. E eu acho que tem gente vigiando meu blog, então só exemplos leves, ok?

E por fim, não é o propósito deste texto, mas é preciso dizer: Não se trata de uma apologia à paranóia pura e simplesmente. Nós sofremos, nós pensamos que pode ser que tudo esteja errado e que nada faz sentido. Nós às vezes pensamos em abandonar o barco, em virar donos de casa e nunca mais fazer um esforço fora da cozinha e da área de serviço, em botar uma mochila nas costas e sair pelo mundo sem destino, em nunca mais fazer uma pergunta em sala de aula e obedecer a tudo que os padres, professores e policiais disserem. Muitas vezes abandonamos o óbvio pra descobrir depois que ele se confirma. Sempre que isso acontece, perdemos crédito, se não com os outros, ao menos com nós mesmos. E aí a auto-estima do paranóico reflete essa imagem que o senso comum tem de nós. Pessoas que fantasiam fora da realidade, mentalidades doentias, alucinadas, no mínimo em proto-alucinação. Cogitando algo que obviamente destoa da realidade.

Acontece que Claro é uma operadora de celular, e seria impossível deixar de agradecer ao blog Molotov a Luz de Velas por, FINALMENTE, dar à luz esta importante epístola à categoria mais perigosa de todo o movimento revolucionário.

SEM A PARANÓIA, NÃO HÁ XEQUE-MATE!
QUANDO UM PARANÓICO AVANÇA, NENHUM MONO RETROCEDE!
PARANÓIA OU BARBÁRIE!
CIDADE DORME!

beijinhos de maracujá!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Convite ao Vereador Delandi Macedo, sobre a Clínica Santa Isabel



Caro vereador Delandi Macedo, de Cachoeiro de Itapemirim.

Estou escrevendo este texto para te fazer um convite, mas antes preciso me explicar, e para isso, preciso me apresentar.

Meu nome é José Anezio Fernandes do Vale, sou estudante de psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, militante do Movimento Estudantil (que luta por uma educação e por uma universidade que estejam a serviço do povo trabalhador e da emancipação e liberdade humana) e também militante da Luta Antimanicomial (que luta por uma sociedade sem manicômios, que quer acabar com os serviços de saúde que maltratam e criar serviços de saúde que acolham, cuidem, ajudem a mudar a situação de sofrimento e dar autonomia para quem sofre de transtorno mental, ou de uso problemático de drogas, para que essas pessoas possam viver suas vidas junto à sociedade, sem exclusão, sem preconceito e sem abandono). 

Pois bem, eu acabei de ler em sua página na rede social facebook um texto chamado "ESCLARECIMENTO - CLÍNICA SANTA ISABEL", e o motivo de eu estar te escrevendo esse convite é justamente por causa do que eu senti ao ler seu texto, como futuro profissional da saúde mental e militante de um movimento social desta área.

Não sei se você sabe que a Clínica Santa Isabel é internacionalmente conhecida como um exemplo de tratamento desumano na área da saúde mental. Militantes e estudiosos de todo o mundo, movimentos de direitos humanos e órgãos oficiais já manifestaram repúdio ao fato de esta clínica ainda não ter sido fechada, e de receber um percentual altíssimo da verba pública do ES voltada para essa modalidade de atenção em saúde mental chamada "internação".

Acho que a sua atuação como legislador vai ficar muito mais potente para ajudar a população, se você souber também que o Movimento da Luta Antimanicomial conquistou, com as lutas do povo, uma lei chamada Lei da Reforma Psiquiátrica , que pode ser lida no link http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10216.htm
que diz no parágrafo terceiro de seu artigo terceiro que "É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares". A Clínica Santa Isabel já foi notificada pelo Ministério Público, como pude perceber que o senhor foi posteriormente informado, porque se enquadra nesse perfil de instituição com característica asilar.

Outra informação importante para o convite que quero te fazer: uma mulher internou a filha na clínica a alguns anos e avisou de uma alergia a remédio controlado que a moça tinha, e dias depois teve que ir nesta clínica retirar o corpo da filha, que morreu sob efeito do remédio e ainda tinha no corpo marcas de agressão física. Essa mulher escreveu uma carta para uma associação da qual um dos donos da clínica fazia parte, e foi processada por este homem, tendo que pagar do próprio bolso os custos pra se defender deste processo. Outra mulher foi internada involuntariamente por uma "amiga" que desejava seu esposo, e depois de dias tentando convencer familiares de que não deveria estar internada, saiu e ficou dez anos com pânico social, como consequência dos poucos dias de internação. Depois disso escreveu um blog contando seu caso e denunciando a clínica, e por citar o nome do dono da clínica, foi igualmente processada. Esses são apenas os dois casos mais famosos, entre tantas histórias de morte e adoecimento que a Clínica Santa Isabel possui.

Além disso, o caput do artigo quarto da lei já citada diz que "A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes". Por isso mesmo o Movimento da Luta Antimanicomial luta por serviços de saúde extra-hispitalares, que substituam as instituições com caracteristas asilares, e também por serviços de saúde hospitalares que não tenham características asilares. Essas duas coisas juntas recebem o nome de "Serviços Substitutivos". Por isso mesmo, o nosso lema, lema da Luta Antimanicomial, é "Por uma sociedade sem manicômios". E esse lema representa dois movimentos, um é o fechamento das instituições com características asilares (achamos que uma sociedade em que elas existem é uma sociedade doente, e as "pessoas normais" que consentem com isso também estão doentes, uma sociedade com manicômios é cem porcento doente na nossa opinião) e o segundo movimento, complementar ao primeiro, é a criação e o aumento de serviços substitutivos para que as pessoas que antes estavam nos manicômios não fiquem abandonadas. Infelizmente as pessoas que nos caluniam, falam que queremos abandonar os loucos e drogados nas ruas, isso não é verdade. Quem quer abandonar os doentes mentais é o estado, quando não investe o suficiente na saúde.

Fiquei muito feliz de saber que você estava pedindo mais investimento pra saúde mental, mas acho que esse investimento pode acontecer de uma forma melhor, e se você deixar que nós, da Luta Antimanicomial, façamos algumas sugestões, sua luta por mais verba para a saúde mental pode ficar ainda melhor. Se quiser saber um pouco mais sobre Serviços Substitutivos, sugiro pra começar um texto simples que escrevi no meu blog. Depois você vai encontrar mais coisa: http://artificiosocialista.blogspot.com.br/2012/09/substituir-sociedade-manicomial-e-velha.html


Uma última informação antes de fazer o convite. Vários conselhos profissionais, como os de Medicina, Enfermagem, Psicologia, Serviço Social, etc, além do Conselho Estadual de Direitos Humanos, fizeram visitas à clínica e constataram irregularidades gravíssimas, tanto no exercício dos profissionais de suas áreas, quanto na violação de direitos humanos, e no atendimento inadequado em saúde mental. Os donos da clínica não se dispuseram a receber estes conselhos. Fizemos uma manifestação em frente à clínica, que foi até a praça da Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, e neste dia estavam presentes a Coordenação Nacional de Estudantes de Psicologia, estudantes de psicologia da UFES e do Centru Universitário São Camilo, militantes do Núcleo da Luta Antimanicomial do ES, o Conselho Regional de Psicologia do ES, além de jovens moradores do bairro do Amaral, que aderiram ao movimento durante a manifestação. Neste dia mais uma vez não fomos recebidos. Não existe nenhum diálogo com os movimentos que fazem críticas à forma como a clínica atende às pessoas. Nós estamos procurando formas de fazer todas as nossas idéias e propostas serem consideradas, porque um movimento de repercussão internacional não pode continuar sendo ignorado. Como você pode ver diante de tudo o que eu disse aqui, temos propostas concretas, de uma rede de atenção em saúde mental, tecnicamente mais eficiente, mais humana, que promova saúde, cuide das pessoas, e todas essas preocupações que pude notar que você também tem, pelo que você escreveu em seu texto de esclarecimento. E uma proposta tão boa como a nossa precisa ter mais inserção nos órgãos públicos. O Ministério Público por muito tempo ignorou o assunto e agora se torna mais sensível. E é por isso que venho te fazer o convite que prometi desde o início do texto:

1) Caso você se interesse em conhecer melhor nossas propostas e nossas idéias, e apresentar as suas, acho que seria muito bom. Seria uma oportunidade de você nos explicar coisas novas, pra aperfeiçoar nossa luta, mas também teria o sentido inverso, nós poderíamos te ensinar muita coisa que acumulamos ao longo de décadas de Luta Antimanicmial, e aperfeiçoar a tua atuação como vereador. Se quiser marcar uma conversa, com caráter de formação, eu estou me colocando à disposição. Apesar de morar na Serra, me disponho até a tentar um encontro presencial, se for o caso.

2) Gostaria de solicitar que você providenciasse uma oportunidade para que eu ou outra pessoa, militante da Luta Antimanicomial, pudéssemos falar sobre nossas propostas de Serviços Substitutivos, e sobre a nossa perspectiva da problemática da Clínica Santa Isabel na tribuna da Câmara de Vereadores de Cachoeiro de Itapemirim, já que os donos da Clínica sempre tiveram contato com vereadores muito mais facilitado do que nós do movimento da Luta Antimanicomial. Nós prezamos pela nossa autonomia em relação a representantes políticos, mas como você pode ver, isso não nos torna intransigentes ao diálogo. Se você tiver compromisso com a saúde mental que cuida, acolhe, não maltrata, não oprime, e que busca dar autonomia e promover a vida, e puder garantir para o nosso movimento esse espaço para dialogar com os demais vereadores durante uma sessão da Câmara, estará prestando um bom serviço como vereador. Aguardo resposta.

3) Gostaria que repassasse essa mensagem para os demais vereadores da cidade, e para demais autoridades competentes, do executivo, do legislativo e do judiciário, assim como demais pessoas e grupos que você julgue conveniente.

Agradeço a atenção. Não entendemos mal o trabalho que vocês estão fazendo, apenas não temos espaço para divulgar o outro lado da idéia, diferente do lado da clínica que diz que os problemas se resumem a falta de mais verbas pra eles. E se de fato o trabalho de vocês não tem um compromisso com esse lucro desumano, estamos buscando o diálogo, e fazendo este convite. Aguardamos. Se quiser pode responder no e-mail joseaneziofernandes@gmail.com ou por outro meio que julgar o mais conveniente.

POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS!
ABAIXO À CLÍNICA SANTA ISABEL!

beijinhos de maracujá!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Por que somos CALPSI? Por que fazemos movimento estudantil?



Por que somos CALPSI? Por que fazemos movimento estudantil? Sei que muitas pessoas se fazem essas perguntas, a primeira lá onde eu estudo, e a segunda no mundo inteiro. Como o movimento estudantil tem agitado o mundo inteiro já faz muito tempo, e não vai parar de agitar, pensei em escrever um texto pra ajudar as pessoas que querem, no mínimo, entender porque eu e outras pessoas participamos do CALPSI-UFES, e acho que a melhor forma de responder a essas perguntas é buscando o que nós, que participamos do CALPSI, temos em comum:



- Somos estudantes de psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo
- Achamos que somos mais fortes quando nos juntamos do que se cada pessoa fizer a sua parte em separado, e achamos que as nossas idéias fazem cada vez mais sentido e ajudam a solucionar os problemas que enfrentamos com cada vez mais coerência, se compartilharmos nossas idéias e nos posicionarmos junto. 
- Achamos que a posição de um grupo tem mais voz do que várias posições fragmentadas, e achamos que esse grupo fica ainda mais forte quando sua posição não nasce do silenciamento das várias vozes de seus membros, e sim da construção em unidade, respeitando as diferenças, às vezes por consenso, às vezes por uma fraterna disputa de idéias, na qual cada pessoa pode aprender com as posições diferentes das suas, e todo mundo avança junto.
- Achamos que a liberdade é importante, e que vale a pena lutar por ela. Somos contra qualquer forma de racismo, de machismo e de homofobia. Queremos que todas as pessoas, no curso de psicologia da UFES e em toda a sociedade, tenham direitos iguais, e tenham suas diferenças respeitadas.
- Lutamos por uma educação que não sirva apenas para nos dar diplomas de psicologia e para nos colocar no mercado de trabalho, repetindo o que nos foi ensinado em sala de aula. Lutamos por uma educação que forme seres humanos críticos, ativos e transformadores, por uma educação que emancipe, que nos ajude a entender a sociedade em que vivemos, a questionar o que parece óbvio nela, e a mudar o que causa a desigualdade, o desrespeito às diferenças e a limitação das liberdades.
- Achamos que a cultura é importante, assim como o lazer, o prazer, a alegria, a arte, a criatividade, e outras atividades deste tipo, e queremos que, dentro da UFES e em toda a sociedade, essas coisas sejam garantidas. Queremos criar territórios de liberdade, e lutamos por condições de vida que incentivem mais a invenção, e não apenas a mera repetição do que já está dado.
- Somos contra as regras que retiram liberdades, que oprimem, e que não abrem espaço para discussão, como se fossem óbvias e não pudessem ser mudadas. Gostamos de mudar regras deste tipo.
- Erramos muito, e não temos medo de errar, assim como não temos medo de admitir que erramos, quando percebemos isso, e de tentar de novo, depois de aprender as lições que o erro nos deixa. Não concordamos com a leitura moral do erro como algo a ser punido, nem com a perseguição a quem erra. Defendemos o direito de errar, e por sermos um coletivo, nos ajudamos mutuamente a perceber quando erramos, porque essa é a melhor forma de não permanecer no erro.
- Achamos que universidade não é professor que sabe e aluno que obedece. Estudante, para nós, é protagonista do ensino, junto com o corpo docente, e sabemos que qualquer educação que ignora a voz estudantil já está fracassada antes de mais nada.
- Por causa de tudo que foi dito acima, achamos importante o movimento estudantil, e fazemos parte dele. Queremos que ele seja forte e livre, não só na psicologia da UFES, mas em todo lugar, e tentamos sempre que possível lutar em unidade com outros grupos que também querem construir um movimento estudantil assim.
- Queremos que cada estudante do curso de psicologia da UFES possa opinar em nossas reuniões, em nossas assembléias, em nossa sede, em nossos eventos, em nossos meios de comunicação. Achamos que o movimento estudantil deve sempre buscar a base, ou seja, os indivíduos que são básicos para que nosso grupo tenha motivo de existir, os estudantes. Buscamos cada vez mais, mesmo que algumas vezes com erros, outras vezes com dificuldades e limitações das nossas condições, aproximar todas e todos no nosso curso, e nos demais cursos de psicologia do Espírito Santo e do Brasil, e nos demais cursos da UFES e de todas as universidades.
- Por causa de tudo isso aí, militamos no movimento estudantil, mas também nos unimos por outros motivos, também explicados acima, como a amizade, a diversão e a troca de conhecimento.



Aposto que muita gente tinha certeza que conhecia bem o CALPSI, mas não sabia essas coisas. Mas aposto também que todo mundo que participa dele, sabe muito bem e diria tudo isso que eu disse de forma muito melhor!

Para quem estuda na psicologia da UFES, faço um convite pra se aproximar do CA e ir descobrindo aos poucos essas e outras coisas, viver essa experiência coletiva conosco.

Para quem estuda em outros lugares, convido a procurar os CA's ou DA's de seus cursos e: 1) se eles também forem assim, fortalecer ainda mais essa luta; 2) se eles não forem assim, lutar com outros colegas para que se tornem assim e venham pra luta; 3) se eles ainda não existirem, criar uma entidade de base, um CA ou DA, e aumentar esse importante movimento social que é o movimento estudantil.
Para quem não estuda (e também para quem estuda), faço outro convite: fortalecer a luta popular e os movimentos sociais. O movimento estudantil é apenas um deles, mas há muitos outros, e todos eles podem se unir, porque há um interesse comum a todos eles, que é acabar com essa sociedade de opressão e desigualdade, e construir uma sociedade de liberdade. Espero que esse convite reverbere, ecoe, e que toque muita gente!

"Nas ruas, nas praças
Da luta não fugiu!
Aqui está presente
O movimento estudantil!"


beijinhos de maracujá!