sábado, 18 de maio de 2013

Felicidade, Destino e uns lindos problemas (ou Sobre o Rock-Protesto de 17 de maio)



Essa noite, costurada pelas mãos do destino, destino que é um trio sapequinha de fiandeiras, aranhas engenhosas que adoram fazer estrepolias, essa noite me fiou felicidade.

Sim, fui a felicidade e até agora não entendi como isso pôde acontecer. Mas eu fui a felicidade, e foi um prazer dar e receber felicidade, para e de tantas pessoas, e de tantas formas diferentes... Naquela multidão saborosa, tinha gente pra quem eu gostaria de ter dado felicidade e não dei, e também gente que gostaria que eu desse felicidade e eu neguei, mas no final das contas, todo tipo de felicidade a gente recebeu uns dos outros, naquela linda celebração da vida que foi essa última madrugada na UFES.

A Administração Central da UFES precisa perceber que nunca proibiu nada, que os rocks na UFES já estavam liberados, e que era apenas questão de a gente pegar e fazer, que eles não iriam conseguir impedir a gente de nada... A gente pode mais do que imagina, estudante não sabe o que pode. E a minha maior felicidade, de verdade, nessa madrugada, foi ver a galera sentindo que pode muito mais do que imagina, que a gente pode, junto, fazer noites incríveis acontecerem, noites de bons encontros, de matar saudades. Não poderia haver noite melhor para o destino me fiar felicidade.

Gostaria de avisar à reitoria que já passou da hora de ela chamar a gente pra negociar, de igual pra igual, sobre os assuntos de segurança e cultura na universidade, assim como sobre os de repressão a movimentos e sobre democracia na universidade. Se continuarem tentando tratar esses quatro assuntos de forma meramente burocrática, em espaços onde a nossa voz soa desigual, onde os interesses conservadores e empresariais falam mais alto que os interesses do povo capixaba e da comunidade universitária, nós estudantes continuaremos IMPONDO a nossa voz de forma MUITO MAL EDUCADA, como fizemos essa madrugada, e como não pararemos de fazer. Abram negociação em pé de igualdade, se não quiserem ter dores de cabeça cada vez maiores. Se querem realmente dormir, parem de tentar nos impedir de sonhar.

A luta é desigual pra vocês, porque se vocês têm o poder da burocracia e da mídia vendida, nós temos o poder da ousadia, e o da felicidade!

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 14 de maio de 2013

Ode ao Ódio!



Eu detesto vocês, seres humanos, seus desprezíveis!

Não tenho compreensão alguma pelos defeitos ignóbeis de nenhum exemplar entre vocês, nem mesmo comigo eu tenho parcimônia. Somos uma espécie mesquinha, detesto profundamente esta espécie. No meu peito não tem lugar para amor, não tem lugar para nenhuma tentativa de dar outro rumo para essa humanidade falida e vergonhosa.

Também não tem lugar para vontade alguma de te beijar, nem para nenhuma vontade de te abraçar apertado, nem para nenhuma vontade de ficar para sempre contigo, montando trilha sonora para a eternidade, nem para nenhuma vontade de te morder deliciosamente e me perder no meio dos teus cachos. Eu te detesto como detesto todos os seres humanos.

Seres humanos fazem guerra, seres humanos matam crianças, seres humanos transformam doença em dinheiro e saúde em privilégio, transformam conhecimento em raridade e desinformação em regra, transformam fome em ponto de partida e vida digna em campo avançado, acessado só por quem tem mérito. Eu odeio todos os seres humanos, sem exceção de nenhuma, de nenhum. Eu me odeio, eu te odeio, eu nos odeio. Odeio seres humanos porque eles não admitem que amam. E porque eles mentem. E porque eles fazem do ódio uma religião, e batem no peito com orgulho dela...

...mas não odeiam tanto assim, a ponto de dormir em paz todo dia.

Todo mundo tem seus demônios, mesmo que não saibam porque estão tão infelizes.

Vamos mudar nosso rumo?

beijinhos de maracujá!

sábado, 11 de maio de 2013

Na luta, tentando e sentindo.



Estou na luta, estou tentando. E gostaria muito de não ter que dizer tudo o que sinto e tudo o que quero, para que as pessoas estabeleçam parcerias comigo baseadas em explicações introspectivas cansativas e sem charme algum. Acho muito mais interessante quando a gente sente, pelo que o outro faz, o que a gente deve fazer. Mas pra isso rolar, a gente tem que fazer coisas que sinalizem o que a gente quer, e eu acho muito desagradável quando minhas insinuações parecem não ser entendidas. Mas nem sempre é isso, acredito que tem vezes em que apenas foram recusadas as propostas que eu insinuei. As pessoas podem estar entendendo o que os meus atos querem dizer, e simplesmente dizendo "não quero compôr esta parceria contigo neste momento", ou podem mesmo não estar entendendo nada.

Eu quero é ser artista, cantar na televisão. Estou na luta, estou tentando. Quero fechar manicômios e quero trazer mais gente pra luta. Tem muita gente boa por aí, completamente tomada pela lógica neoliberal. Vou continuar tentando, "que tenha pressa quem quiser me alcançar, eu também tenho"!

Mas o que mais me incomoda é a falta de entendimento do que já está entendido. Eu me pergunto inclusive por que eu também faço isso. Quase todo mundo faz. Eu entendi, e quero forçar a pessoa a dizer o que eu já entendi, então eu finjo que não entendi e pergunto. Por que fazer isso, Jesus? Por que eu faço isso? Por que vocês fazem isso? Por que a nossa espécie humana ainda faz isso? Estamos realmente, todas e todos nós, tentando!

Eu tenho umas músicas, componho, toco, treino, ensaio, invento arranjos, faço versões de músicas dos outros também. Esses dias alguém chamou de remix, e eu até que gostei bastante. Seria tão bom se eu fosse artista... Queria fazer show, gravar disco, tocar na rádio, cantar na televisão. Como "canções de amor se parecem porque não existe outro amor", precisamos de gente que componha e que cante canções de amor diferentes, porque esse amor que existe aí, hoje, tá foda! Precisa existir outro amor! Precisa existir também outro mundo, eu quero ver os manicômios deste mundo de hoje caindo, e levando ele todo junto, e canto e componho pra que isso aconteça, acho que ser artista nos obriga a escolher de que lado estamos. E eu, que quero ser artista, já escolhi meu lado. Estou tentando, estou na luta. Acho que a música pode sacudir mais gente que, apesar de não estar gostando do que tá rolando hoje, ainda não se jogou na luta pra que outra coisa role. Acho realmente que precisa muita música pra sacudir tanta gente do lugar. E acho realmente que precisa sacudir do lugar essa gente toda.

E a música não precisa explicar racionalmente, verbalizar tudo. Não é apenas a letra da música que pode contribuir para as lutas políticas.  É ela também, não estou desmerecendo as letras incríveis das grandes composições, principalmente as que falam de lutas. Mas uma coisa precisa ser dita: a música faz muito mais do que apenas explicar, e os efeitos da música, ao provocar as pessoas às lutas, vão muito além apenas da sua compreensão, do seu entendimento. Não basta entender, é preciso sentir. As pessoas poderiam se relacionar, fazer parcerias, e inclusive amar, assim como fazem e apreciam música: indo para além da mera técnica e da mera racionalização, indo para além do entendimento e sentindo. Está faltando sentir. Se eu sinto em você os seus incômodos, por que fingir que não senti, e perguntar "algo te incomoda? me conta o que te incomoda?". Por que que a gente é assim? Acho que sentir é o caminho que nos levará além. Viver a vida como fazemos música e como ouvimos música. E que a vida seja uma delícia, uma música boa.

E quando não estiver sendo, que a gente peque instrumentos, e toque em cima do som ruim, pra fazer ficar bom. Práxis! "Ela nem sabe, até pensei em cantar na televisão..."!

beijinhos de maracujá!

domingo, 5 de maio de 2013

Corpinho Violão


Não precisa de muita coisa, basta um violão!

Seria legal se tivesse uma bandinha muito esperta, sagaz e louca, junto, fazendo umas turbinagens, uns funks, uns rock'n'rois... Mas só com um violão, já dá pra fazer um estrago tremendo. Ele é uma arma, e com ele dá pra colocar em xeque muita coisa, e muitas delas em xeque mate.

Em primeiro lugar, ser feliz. Tocar violão é bom, e a vida hoje está uma merda nessa cidade feita pra máquinas que andam sobre rodas, e para moedas e notas. Assim sendo, temperar a vida com canção é sempre bom, colocar os dedos para doerem. Por que é que não se toca violão nas praças públicas? Por que é que não se ocupa as praças públicas com violões? Na fila do banco não dá, mas na do terminal, sim. E acho, de verdade, que isso precisa ser feito. Em primeiro lugar, está faltando música, não só para quem ouve, mas para quem faz. Fazemos música para ser felizes, e sendo felizes, sentimos vontade de espalhar felicidade pelo mundo. Sentimos assim, vontade de transformá-lo. Ser feliz.

Em segundo lugar, amor. Música é amor, quem está fazendo música está amando, e se quem está escutando, também se conecta ao fazer de quem está sendo feliz fazendo música, também está amando. Toda relação mediada pela música é uma relação de amor. Ou de luta, mas isso é daqui a pouco, e além disso, quem disse que amor e luta não têm tudo a ver? Faz sentido viver quando há música por perto, quem nunca quis levar pra cama uma Nara leão, um Sérgio Sampaio, um Paul McCartney ou uma Marisa Monte? De noite na cama, eu fico pensando... Acho apropriado colocar a importância da música nos rituais de acasalamento de seres humanos. Somos como passarinhos, que cantamos para demarcar terreno, e para convidar nossos pares românticos para fazer filhotinhos. Ou ao menos para fazer o que se faz para fazer filhotinhos. E eu acho que tá precisando de muito mais músicas, pra chamar as pessoas pra fazer filhotinhos a dois, a três, a quatro, a cinco. Entendo a importância do sexo a dois, mas não existe outro motivo para uma incidência tão baixa de práticas grupais no sentido carnal do amor, que não seja a falta de mais pessoas musicando seus cotidianos. Quem ama musica.

Em terceiro lugar, luta. Música é agressão. Se eu quero te dar um recado, ou seja, te dar um tapa na cara, eu preciso ter no meu repertório, músicas para dar tapa. Se eu quero destruir um exercito inteiro, preciso lançar mão daquele setor do meu repertório onde estão as músicas que não se toca a todo momento, só nas guerras mais sangrentas. Música é violência. Violência necessária, violência de não passividade. Pessoas passivas não fazem música, pessoas passivas escutam música e reclamam, porque a música provoca nelas uma vontade imensa de sair da passividade, e a resistência à mudança é o principal inimigo de toda e qualquer pessoa humana sobre a face da terra que use as duas mãos e faça acordes. Para fazer a revolução, para tomar o poder, para que o feminismo vire parte fundante de todas as culturas humanas e para que todas as drogas sejam legalizadas, fazer música é urgente e indispensável.

Assim sendo, quero parcerias na luta, no amor e na felicidade. Pessoas que fazem música, saiam dos bueiros, não tenham medo de ser como eu sou e não tenho medo de ser, irmãs. Música, irmãos, música!

beijinhos de maracujá!