terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sobre esses assuntos de amor livre e a questão do descuido


Será que eu sou conservador ao achar que o amor é indissociável do cuidado? Nem a pau! Se não houver cuidado, como pode haver amor?

Eu já pude, em outras ocasiões, declarar que pra mim amor que não é livre não é amor. Tem gente que acha forte, mas eu acho que amor opressor é qualquer coisa, menos amor. Também já falei que amor ainda não existe, que vivemos a pré-história do amor (assim como Marx disse que vivemos a pré-história da humanidade, e que só começaremos a história da humanidade quando acabarmos com toda e qualquer sociedade de classes). Essa segunda declaração (a de que não existe amor, de que estamos na pré-historia do amor) é ainda mais polêmica do que a primeira, e a Lidiane sempre me chama de idealista quando me ouve falando isso.

Mas essa questão do descuido tem a ver com as duas acima, porque amor descuidado não é livre, logo amor descuidado não é amor, e se estamos numa sociedade onde tudo, inclusive o amor, vira posse, não existe amor livre, logo não existe amor.

Já disse em outras ocasiões também que acho que amor livre é experimentação. Aqui está a minha divergência com a Lidiane. O amor não existe, o amor livre é a experimentação de quem quer acelerar a inauguração da história do amor. Cada vez que experimentamos o amor livre, estamos o inventando um pouquinho, ele vai aos poucos existindo, a gente vai dando contornos à possibilidade da sua plenitude.

Para os experimentos e as experimentações do amor livre, um ingrediente indispensável é o cuidado. Amar é se importar, e quando a gente quer amar livre e não se importa, falta liberdade, falta amor. Essa desimportância é afinada com a lógica do amor mercadoria, ao contrário do que muita gente pensa. Os ciúmes são ingrediente crucial pra mercantilização do amor, pra produção e reprodução do amor opressor. Mas romper com a lógica dos ciúmes não é não se importar.

Também a culpa é um componente externo ao amor opressor, mas que o atravessa. A culpa não é algo exatamente do âmbito do amor, é um assunto mais geral, mas também cabe nesse âmbito. E não devemos sentir culpa nas nossas experimentações, mas o caminho pra não sentir culpa não é pouco se importar. Amor é cuidado.

E como se trata de experimentação, tem sempre chance de dar certo ou errado em cada tentativa, algo que vai indo muito bem pode degringolar num certo momento, e não necessariamente estará tudo perdido. Algo que não vai nada bem pode de repente nos surpreender, "pois tudo que se sabe do amor é que ele gosta mesmo de mudar e pode aparecer onde ninguém ousaria supor". Assim sendo, não dá pra gente se demonizar quando a gente reproduz a culpa, os ciumes, o descuido ou quaisquer desses componentes que devemos combater nas nossas experimentações.

Mas de qualquer forma, senti necessidade de escrever esse texto, combatendo o amor descuidado, que é uma contradição em termos, assim como o amor livre é uma redundância.

O AMOR LIVRE ENSINA!

beijinhos de maracujá!

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