terça-feira, 23 de julho de 2013

A psicologia da UFES está dormindo?



Primeiro, quando eu ouvi pela primeira vez "O Gigante Acordou", achei babaca, mas vi tanta gente se empolgando com isso, e se animando a ir para as ruas, que até simpatizei um pouquinho... Mas achei tão artificial... Depois descobri que foi um termo utilizado pelos "anti-comunistas" (na verdade pelo gado de manobra, classe média conservadora, ou termo que o valha), no período pré-golpe de 64. Ou seja, o gigante que acordou na década de sessenta. Me perguntei quem foi que ressuscitou este termo. Como eu via as lutas deste ano como um desdobramento das lutas que vínhamos tocando há anos (aqui em Vitória desde 2005), achei apropriado entrar no coro dos que diziam: "se vocês acordaram, nós nunca dormimos".

E digo mais, eu me identifico com o Quilombo dos Palmares, acho que já estava acordado lá, por exemplo, então quem foi em um ato pela primeira vez em 2013 pode se considerar parte deste mesmo sujeito coletivo que tá acordado na luta há tanto tempo.

Dito isso, segundo: defendo o direito de todo mundo de se manifestar, inclusive o meu de me manifestar quando me incomodo com a manifestação de alguém. Tinha um cartaz ontem na teia de intervenções do Coletivo Planta, lá no CEMUNI VI, Psicologia UFES, falando que a graduação da UFES dormia. Eu me perguntei "DORME ONDE?".

Estamos acordadíssimas e acordadíssimos, em efervessência, fomos às ruas, às assembléias populares do movimento, moramos na assembléia legislativa do início ao fim da ocupação, estamos lutando contra o HEAC/Adauto Botelho, contra a Rede Abraço, contra a Clínica Santa Isabel, por segurança, cultura e vivência na universidade, construindo o movimento estudantil estadual e nacional de psicologia. Se tinha alguém dormindo, convido a se juntar à gente, tem gente acordada há muito tempo neste curso.

Estamos há meses pautando a questão da contratação de professores, a questão dos dois currículos do curso, estamos vendo o currículo novo vivendo as dificuldades de uma transição em que se inventa um curso novo, um novo projeto de curso completamente desconhecido, mal se sabe o que é estágio básico, e quem está vivendo isso está sofrendo, e temos um currículo velho deixado de lado, não temos optativas nem estágio, os mesmos problemas se repetem semestre após semestre. E não conseguimos fazer assembleias nas últimas semanas, pra discutir currículos e eleger novas e novos representantes discentes nos departamentos, porque as atividades acadêmicas são mais importantes do que as atividades do CALPSI. Qual é a graduação que está dormindo?

Convido todas e todos a participarem da reunião do CALPSI nesta quarta feira, 18:30 horas, na sede do Centro Acadêmico. Tem uma galera acordada lá! Talvez funcione a gente parar de resolver apenas nossos problemas pessoais ou de turma, quando eles emergem, e depois de resolvidos os problemas, voltar ao nosso cotidiano, como se fosse verdade essa farsa pós-moderna de "tudo é militância". Talvez funcione se a gente fortalecer os espaços coletivos que existem para dar mais força às demandas estudantis. Se nós temos professoras e professores que se recusam a participar de seus sindicatos e esvaziam os espaços de luta, eu acho que, nesse sentido, eles são o melhor exemplo do que não seguir.

beijinhos de maracujá!

domingo, 7 de julho de 2013

Por que o Governo trata a Luta como Crime?


GOSTARIA QUE TODAS E TODOS LESSEM ESSE TEXTO!

1) A polícia não é um instrumento de segurança da população, e sim de segurança das elites contra a população. Isso porque os interesses da população são diferentes dos interesses das elites. Para uma elite continuar sendo elite e ter cada vez mais poder, é preciso ter uma população cada vez mais explorada, com cada vez menos direitos, e em alguns casos é preciso calar a boca dessa população, através da violência. Para isso serve a polícia. A segurança das pessoas é uma função meramente ilusória, para que as pessoas aceitem pagar para que funcione a polícia que vai calar a sua própria boca.

2) Não temos hoje uma democracia. Temos um sistema político em que as pessoas "escolhem" políticos através das urnas, e esses políticos participam das decisões sobre a vida das pessoas que os elegeram. Porém quem escolhe esses políticos na verdade não é a população que vota, e sim a elite que financia as campanhas. As campanhas com mais dinheiros mobilizam mais massas de votos. As elites ocupam os executivos (Prefeituras, Governos e Presidência da República) e têm maioria absoluta nos legislativos (maioria de Vereadores, Deputados e Senadores), no Judiciário, as elites têm ainda mais facilidade em colocar seus nomes. O modelo eleitoral não é suficiente para a população decidir como vai funcionar a sociedade, o país, suas vidas. Não estou defendendo o fim das eleições, nem a volta de uma ditadura militar. Mas quero propôr uma verdadeira democracia, e falarei sobre isso no tópico três.

3) Acho que precisamos urgentemente começar a EXERCER UMA VERDADEIRA DEMOCRACIA, baseada em núcleos de base que se articulem em forma de rede. Como assim? Exemplo. Cada bairro terá um núcleo que se reúne, para discutir assuntos relativos ao bairro, e relativos também à cidade, ao estado, ao país. Nas ruas terão sub-núcleos para pensar coisas mais específicas de uma vizinhança. Esses vários núcleos de bairros se reunirão para pensar uma mesma cidade. Essas várias plenárias de cidade se reunirão em núcleos estaduais, e assim sucessivamente. Ao invés de cada cidadão ir na urna de dois em dois anos pra votar em quem tem poder de decidir, cada cidadão passará a decidir cotidianamente. Essa idéia é perigosa, e eu apenas fiz um esboço caricatural aqui. Mas eu quero que essa caricatura fique como um fantasma na cabeça das pessoas que estão lendo isso aqui, pensem nisso. Esses núcleos podem ser por locais de moradia (como bairros, ruas, prédios, etc.), por locais de trabalho (fábricas, repartições, categorias sindicais, etc.), por locais de estudo, (grêmios, Centros e diretórios acadêmicos, DCE's, etc.) por condições de existência (mulheres, lgbt's, negras e negros, pessoas com deficiência, usuárias e usuários de drogas, loucas e loucos, usuárias e usuários dos serviços de saúde e assistência, etc.).

4) Já passamos da hora de DESMILITARIZAR A POLÍCIA. Sugiro até a leitura de um texto pra iniciar o debate: http://blogueirasnegras.wordpress.com/2013/07/04/a-desmilitarizacao-da-policia-nao-pode-ser-racista-machista-e-cissexista/ O Brasil é um dos poucos países no mundo que ainda têm polícia militar. Militares são aqueles que protegem o país contra os inimigos da nação. Quando a polícia militar reprime manifestação, o recado que estão nos dando subliminarmente é que os manifestantes são inimigos da nação. Quando a polícia dá batida numa pessoa por suspeita de portar drogas, a mensagem subliminar é que uma pessoa, por fumar maconha, seria uma inimiga da nação. Como já disse Marcelo Yuca, "Resquício de Ditadura". Precisamos apagar esse resquício de ditadura, por uma polícia cujos profissionais tenham direito de pensar criticamente sobre sua própria prática.

5) Esse sistema capitalista desigual, cruel, explorador e opressor, sistema que favorece as elites, precisa acabar. A polícia se torna "necessária" quando a desigualdade produz a violência. E a gente ao invés de acabar com a desigualdade que causa a violência social que temos hoje, prefere interferir com a polícia sobre a consequência, sobre a violência. A gente não, quem prefere isso são as elites. Precisamos combater essas elites, a existência delas. Não matando burgueses, mas sim acabando com a desigualdade de classes. Pelo fim dessa divisão em que poucos são elites e onde a grande maioria da população não tem direito ao que essas elites têm. TUDO PARA TODAS E TODOS, sem exploração, sem opressão. Eu defendo que a luta pelo socialismo, por um sistema democrático, como descrito no tópico três, deve ser nosso objetivo. Mas precisamos saber que pra alcançar isso, teremos que lutar contra muitas polícias, sofreremos muitas violências por parte do estado que obedece às elites. Vou fazer uma pergunta só pra saber se posso me sentir sozinho ou se posso me sentir bem acompanhado: quem está na mesma luta que eu?

beijinhos de maracujá!

terça-feira, 2 de julho de 2013

Pequeno exemplo de carta não enviável


Minha querida,

eu não deveria estar aqui, escrevendo esta carta. Há tantas coisas a fazer, e no entanto essa é uma forma que eu tenho de me sentir um pouquinho mais junto de você, depois que a gente se separa. É como se ao te escrever, eu ainda estivesse falando comigo, e como se ao final desta carta, uma resposta tua fosse vir de bate pronto. Não deveria estar escrevendo esta carta, mas ultimamente eu tenho feito tantas coisas que não deveria fazer, que essa carta é grão de areia no deserto.

Você está me fazendo fazer tudo errado. Cada vez que uma moça bonita como você passa diante de meus olhos, eles ardem. A beleza faz meus olhos arderem, de tanto que incomoda ver a beleza, desejá-la e não tê-la. Mas é um ardor que passa tão rápido, afinal, são tantas as belas deste mundo, que se meus olhos ardessem ardentemente por todas, eu viveria o tempo inteiro a chorar de tanto ardor.

São pequenos ardores, mas ardores que distraem. E é tanta coisa que eu tenho a fazer, que as distrações não são bem vindas. Ainda mais essas belas e admiráveis, essas que falam e causam vontade de a gente ouvir o que está sendo falado. Cada pessoa tem seu estilo, e eu não acho que haja estilo melhor que estilo, mas é claro que há os estilos que me agradam mais.

E de repente, me vem uma moça de estilo inquietante. Bela, muito bela, irritantemente bela, apaixonantemente bela, estonteantemente bela. E chata, muito chata, irritantemente chata, apaixonantemente chata, estonteantemente chata. Não é uma chatice como outra qualquer. Gente chata no mundo tem aos montes também, e ao contrário da beleza, a chatice não é normalmente vista como qualidade, e sim o contrário disso. Mas quando a personalidade de uma pessoa se apresenta temperada pela chatice de não abaixar a cabeça, de não aceitar passivamente as idéias, de colocá-las sob o crivo da crítica, dá até um medinho, mas um medinho intrigado. Na verdade dá vontade de muito mais.

Preciso me explicar melhor: a primeira vez em que nos dirigimos a palavra, eu gaguejava como se tivesse nascido gago. Eu estava era impressionado com a sua presença. Parecia uma divindade dessas do panteão africano, uma daquelas bem guerreiras, mas numa embalagem de mocinha acanhada. Isso que mais me intrigou, e muito ainda me faz os olhos arderem. Arderem muito!

Mas eu deveria era estar fugindo de você, como um operário que foge do aguardente que tem atrapalhado no seu desempenho na obra. Ou melhor, como um operário apaixonado, que tem suspirado tanto sem resposta, que isso até tem atrapalhado seu desempenho na obra. Suspiros sem resposta... Quando essas respostas vêm?

Se eu pudesse, eu parava tudo e ficava o resto da vida te escrevendo cartas. É o mais perto de você que eu posso chegar neste momento. Mas eu não escreveria carta nenhuma, se eu pudesse chegar mais perto. Na verdade, eu até escreveria mil cartas na tua pele, como naquele livro do Chico, te cobriria o corpo todo de versos, de frases soltas, de divagações e desabafos de amor. Histórias de amor são sempre tortas. O melhor seria que elas nunca acontecessem. Mas a gente não escolhe entrar em uma delas, algo nos destina a isso. Que seja o acaso, Deus, as leis da física. Algo nos destina às histórias de amor que vivemos.

Mas como todo esse magnetismo que você provoca em mim, toda essa inexplicável atração, pode acabar de uma vez por todas? Cansei de ficar morrendo de vontade de te procurar, de correr atrás de ti, de largar tudo o que eu deveria estar cuidando pra cuidar de te encantar, no mínimo o tanto que você me encanta. Cansei desse encanto, quero o antídoto, quero a cura. E no entanto, quando eu te pergunto, você me diz que não me dará a chave dessa gaiola, que algum hedonismo ou algum egoísmo te fará me segurar. A pergunta que eu tenho a fazer é: já que é assim, por que é que é que você não entra nessa gaiola junto comigo? Acredite, com o tanto de bem querer que eu tenho sentido, a vida aqui dentro dessa gaiola, comigo, vai ser muito mais interessante do que aí, do lado de fora, sem mim.

Mas eu gostaria de terminar dizendo que essa não é uma carta de amor. Poderia até ser, pode ser que um dia se torne, mas é apenas uma carta de admiração, e eu vou terminar esse parágrafo, pra voltar ao meu ofício. Operário que sou, não posso continuar suspirando por você... Não sem respostas.

Como se eu tivesse escolha! Não posso suspirar, mas as respostas não vêm... E eu suspiro!

beijinhos de maracujá!