Não estamos ganhando. Estamos perdendo. Mas não paramos de lutar, e se tem lutadora nossa e lutador nosso morrendo, tem gente nascendo pra ser lutadora nossa e lutador nosso.
No meio do caminho entre esses dois mistérios, nascimento e morte, temos uma luta a reorganizar. Não estamos ganhando, estamos perdendo, mas ainda estamos lutando, e é apenas por isso, que essa gente nascendo poderá retomar a luta, hoje tão combalida, para tempos melhores.
Eu gostaria ter nascido no auge de uma revolução, mas "sou só um compositor popular", não posso fazer mais do que o impossível. Mas sou de uma geração que tem feito o possível. Nossa tarefa é ir para além e fazer o impossível, para que aquelas e aqueles que ainda virão possam fazer o que a gente não pode. Que o futuro possa ir além do impossível.
Se ainda não ficou claro, me explico: nós só podemos ir até o impossível, mas se ficarmos no possível, aquelas e aqueles que ainda virão só poderão ir até o impossível. Se a gente vai para além do presente, o futuro poderá mais. E se a gente for para além do presente, no futuro certamente as nossas lutadoras e os nossos lutadores quererão mais.
Juventude, vamos apagar da nossa memória as lembranças de pessimismo, vamos deletar dos últimos vinte anos essa mania de aceitar, de se conformar, de sedimentar. Vamos segurar entre os dentes a primavera, regar as flores do deserto, sabendo que daí um amanhã brotará.
Toda a minha esperança no futuro se concentra no presente. E o presente precisa querer não apenas um futuro melhor, mas também um presente melhor.
Não pode haver socialismo construído por infelizes. Hoje a gente vive a ascese: infelicidade presente para lutar por felicidade futura. Amor opressor no presente para lutar pelo amor livre futuro. Não, minhas amadas e meus amados. Não somos donas nem donos de ninguém. Nem de nada. Precisamos ser donas e donos apenas de nossas armas, porque essa vontade de não perder o que temos é o que mais nos faz feliz. Ter apenas o necessário para lutar e para viver com prazer.
Socializar o prazer não pode ser tarefa pós-revolucionária, precisamos de prazer agora. No campo e na cidade, nas favelas e no senado, por todo lado. Corpos que não sentem prazer têm menos condições de converter a derrota em vitória, de inventar a contramola que resiste.
Por isso escrevi esse manifesto! Pelo prazer.
Militantes comunistas, eu lhes imploro: vivam suas vidas com prazer! Pelo avanço da nossa luta, por um futuro mais potende para a Classe Trabalhadora, não se afundem apenas na ascese, não reproduzam em suas vidas aquilo que queremos combater, amem amores livres, apreciem a beleza do mundo em contradição em que vivemos. Essa beleza é a nossa inspiração maior para superar o que ainda não há de belo.
Que as nossas lutadoras e os nossos lutadores que estão morrendo, e aquelas e aqueles que estão nascendo para ver grandes lutas, e com isso querer fazer lutas ainda maiores, nos tenham no meio do caminho: travando grandes lutas, e vivenciando o prazer e a liberdade.
AO PRAZER LUTADOR E À LUTA PRAZEROSA!
beijinhos de maracujá!